Augusto Meyer é parte do modernismo gaúcho, introduzindo uma feição regionalista
na poesia. Há também em seus versos uma linha lírica, quando evoca a infância, num
misto de memória e autobiografia. Completa com Raul Bopp e Mário Quintana a trindade
modernista do Rio Grande do Sul.
Como ensaísta, deixou estudo sobre Machado de Assis, um dos trabalhos
exegéticos mais importantes sobre o escritor maior das letras brasileiras, que tanto
admirava. Sua obra de crítico abrange uma vasta gama de interpretações, de autores
nacionais e estrangeiros, que divulgou no Brasil.
Sobre sua ensaística, observou João Alexandre Barbosa: Sabendo jogar com equilíbrio entre a erudição de lastro
germânico e a intuição de poeta, Meyer foi um mestre na arte da prosa em surdina:
seus textos revelam sempre um amplo conhecimento da história literária que é fisgada
na leitura criativa dos autores, obras e temas sobre os quais se debruça. Um dos
seus traços mais cativantes é, sem dúvida, o jeito à vontade com que se move entre
os tópicos tradicionais de literatura e a literatura brasileira e regional. Sem
desprezar o rigor das análises e o juízo nele fundado, a sua prosa nada tem de aborrecida:
há sempre uma pitada de ironia que matiza a seriedade do erudito da Estilística,
leitor de Leo Spitzer e Erich Auerbach, e o apaixonado pelos topoi, à moda de um
Ernst Robert Curtius (cuja obra monumental, Literatura Europeia e Idade Média Latina, foi ele quem fez traduzir e editar pelo INL
em 1957, quando diretor da instituição).
Ele próprio dirá,
acerca de leitura e criação: Ler um livro é desinteressar-se a gente desse mundo
comum e objetivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noite adentro isola
o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro da vida subjetiva. Árvores ramalham.
De vez em quando passam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente
a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado
a este mundo pela fatalidade vegetativa do seu corpo, está suspenso no ponto ideal
de uma outra dimensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há lugar para
dois passageiros: leitor e autor.
IRONIA SENTIMENTAL
Coaxar dos sapos,
quando a noite é calma,
sem jardins simbolistas,
nem repuxos cantantes,
nem rosas místicas
na sombra, nem dor em verso...
Coaxar dos sapos,
longamente,
quando o céu
palpita na moldura da janela,
num mistério
doce, num mistério infinito,
e em cada estrela
há um lábio, um lábio puro que treme,
e um segredo
na luz que palpita, palpita...
DISTÂNCIA
Há uma várzea
no meu sonho,
Mas não sei onde
será...
Em vão, cismando,
transponho
Coxilhas enluaradas,
Cristas serrilhadas,
Solidões do Caverá.
Leito do trevo
e flechilha,
Várzea azul,
da luz da lua,
Verde várzea
- onde será?
No ar da tarde
flutua
Fino aroma de
espinilho
E de flor de
maricá.
Era além do azul
da serra,
Era sempre noutra
terra,
Era do lado de
lá...
Em vão, cismando,
transponho
Poentes e madrugadas,
Intermináveis
estradas
Perdidas ao deus-dará.
Há uma várzea
no meu sonho,
Mas não sei onde
será.
A PALETA DO POETA
Tortura do desenho! Horas a fio,
seguindo o risco ideal de um vivo traço
que está dentro de mim, faço e desfaço,
e sinto-o cada vez mais fugidio...
A cor e a luz! Encher de vida o espaço
nu da tela, retângulo vazio,
sol interior que o visionário viu
e o pincel torna cada vez mais baço...
Fecho os olhos; no escuro tumultua
todo um formigamento furta-cor:
arco-íris, aureolado astro violeta...
E tudo o que eu não pus na tela nua
vejo-o de novo em luz, em linha, em cor,
nas manchas coloridas da paleta!
CHUVA DE PEDRA
Tombam gotas
duras sobre a terra, saltam
como seixos pequeninos,
saltam,
cada folha é
um toldo que ressoa, soa
pela terra o
canto da saraiva boa.
Cada rosa meiga
é uma humildade mansa
Na carícia bruta.
E canta a saraiva
clara
sobre a terra
enxuta, sobre a terra boa.
Pedras, pingos
pulam de alegria
como vidro moído,
numa dança louca.
Ouve como soa
sobre a terra
o baque da saraiva clara,
fria, fria, fria,
numa chuva boa...
MINUANO
Ao Liberato
Este vento faz
pensar no campo, meus amigos,
Este vento vem
de longe vem do pampa e do céu.
Olá compadre,
levanta a poeira em corrupios,
assobia e zune
encanado na aba do chapéu.
Curvo, o chorão
arrepia a grenha fofa,
giram na dança
de roda as folhas mortas,
chaminés botam
fumaça horizontal ao sopro louco
e a vaia fina
fura a frincha das portas.
Olá compadre,
mais alto mais alto!
As ondas roxas
do rio rolando a espuma
batem nas pedras
da praia o tapa claro...
Esfarrapadas,
nuvens nuvens galopeiam
no céu gelado,
altura azul.
Este vento macho
é um batismo de orgulho:
quando passa
lava a cara enfuna o peito,
varre a cidade
onde eu nasci sobre a coxilha.
Não sou daqui,
sou lá de fora...
Ouço o meu grito
gritar na voz do vento
- Mano Poeta,
se enganche na minha garupa!
Comedor de horizontes,
meu compadre
andarengo, entra!
Que bem me faz
o teu galope de três dias
quando se atufa
zunindo na noite gelada...
Ó mano
Minuano
upa upa
na garupa!
Casuarinas cinamonos
pinhais
largo lamento
gemido imenso, vento!
Minha infância
tem a voz do vento virgem:
ele ventava sobre
o rancho onde morei.
Todas as vozes
numa voz, todas as dores numa dor,
todas as raivas
na raiva do meu vento!
Que bem me faz!
mais alto compadre!
derruba a casa!
me leva junto! eu quero o longe!
não sou daqui,
sou lá de fora, ouve o meu grito!
Eu sou o irmão
das solidões sem sentido...
Upa upa sobre
o pampa e sobre o mar...
CANÇÃO ENCRENCADA
Eu sou
o filóis Bilu,
Malabarista
metafísico,
Grão tapeador
parabólico.
Sofro de
uma simbolite
Que me
estraga as evidências.
Quem pensa
pensa que pensa,
O besouro
também ronca,
Vai-se
ver...não é ninguém.
Reduzo
tudo a mim-mesmo,
Não há
nada que me resista:
Pois o
caminho mais curto
Entre dois
pontos, meu bem,
Se chama
ponto de vista.
BRIANDA ZARETH HUITRÓN (México, 1990). Originaria de Temascalcingo de José María Velasco, México. Artista plástica y pintora surrealista. Realizó sus estudios de pintura en la Academia de San Carlos en Ciudad de México. Sus múltiples facetas artísticas y personalidad curiosa la llevaron a descubrir el surrealismo, corriente en la que encontraría una manera de comunicarse con el mundo. Plasma interpretaciones poéticas donde lo cotidiano es transformado en una realidad fantástica y onírica. Pinturas mágicas que señalan los deseos de la vida por salir en un cuadro. Ha expuesto individualmente y de manera colectiva en México y en el extranjero. Exposiciones individuales: Museo Leonora Carrington de Xilitla, ENCUENTROS ONÍRICOS en el año 2025. Museo de la Mujer, REVELACIONES ONÍRICAS, en el año 2022. PAISAJES ONÍRICOS para el Festival Temascalcingo Honra a Velasco, en el Año 2021. VENTANA A MUNDOS ONÍRICOS, en el Centro Cultural Futurama, Ciudad de México, en el año 2020. Exposiciones Colectivas Col-art en la Galería Oscar Román año 2025 Muestra pictórica EL OFICIO DEL PINTOR, de la Academia de San Carlos, Año 2019. DIMENSIONS, Festival Wave Gotik Treffen, celebrado en Leipzig, Alemania, en el año 2018. Ha participado en la Cátedra por los 100 años del surrealismo, en la Facultad de Filosofía y Letras de la UNAM, impartiendo conferencia sobre surrealismo femenino. Recientemente su obra ha sido publicada en el libro Mujeres Mexicanas en el Arte, de la editorial Agueda y en THE ROOM SURREALIST MAGAZINE, revista de surrealismo internacional. Brianda Zareth Huitrón es la artista invitada de esta edición de Agulha Revista de Cultura.
Agulha Revista de Cultura
Número 263 | dezembro de 2025
Artista convidada: Brianda Zareth Huitrón (México, 1990)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2025
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
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