quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

AUGUSTO MEYER (1902-1970)

 


Augusto Meyer, poeta e ensaísta, nasceu em Porto Alegre, RS, em 24 de janeiro de 1902 e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 10 de julho de 1970. Em 1926 fundou com Teodomiro Tostes, Azevedo Cavalcante, João Santana e Miranda Neto a revista Madrugada. Foi diretor da Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, de 1930 a 1936. Transferiu-se para o Rio e com o grupo de intelectuais gaúchos trazido por Getúlio Vargas organizou o Instituto Nacional do Livro, em 1937, tendo sido seu diretor por cerca de trinta anos. Detentor do Prêmio Filipe de Oliveira (memórias) em 1947 e do Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 1950, pelo conjunto da obra literária. Dirigiu a cadeira de Estudos Brasileiros na Universidade de Hamburgo, Alemanha, e foi adido cultural do Brasil na Espanha.

Augusto Meyer é parte do modernismo gaúcho, introduzindo uma feição regionalista na poesia. Há também em seus versos uma linha lírica, quando evoca a infância, num misto de memória e autobiografia. Completa com Raul Bopp e Mário Quintana a trindade modernista do Rio Grande do Sul.

Como ensaísta, deixou estudo sobre Machado de Assis, um dos trabalhos exegéticos mais importantes sobre o escritor maior das letras brasileiras, que tanto admirava. Sua obra de crítico abrange uma vasta gama de interpretações, de autores nacionais e estrangeiros, que divulgou no Brasil.

Sobre sua ensaística, observou João Alexandre Barbosa: Sabendo jogar com equilíbrio entre a erudição de lastro germânico e a intuição de poeta, Meyer foi um mestre na arte da prosa em surdina: seus textos revelam sempre um amplo conhecimento da história literária que é fisgada na leitura criativa dos autores, obras e temas sobre os quais se debruça. Um dos seus traços mais cativantes é, sem dúvida, o jeito à vontade com que se move entre os tópicos tradicionais de literatura e a literatura brasileira e regional. Sem desprezar o rigor das análises e o juízo nele fundado, a sua prosa nada tem de aborrecida: há sempre uma pitada de ironia que matiza a seriedade do erudito da Estilística, leitor de Leo Spitzer e Erich Auerbach, e o apaixonado pelos topoi, à moda de um Ernst Robert Curtius (cuja obra monumental, Literatura Europeia e Idade Média Latina, foi ele quem fez traduzir e editar pelo INL em 1957, quando diretor da instituição).

Ele próprio dirá, acerca de leitura e criação: Ler um livro é desinteressar-se a gente desse mundo comum e objetivo para viver noutro mundo. A janela iluminada noite adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro da vida subjetiva. Árvores ramalham. De vez em quando passam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra dimensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há lugar para dois passageiros: leitor e autor.

 

 

IRONIA SENTIMENTAL

 

Coaxar dos sapos, quando a noite é calma,

sem jardins simbolistas, nem repuxos cantantes,

nem rosas místicas na sombra, nem dor em verso...

 

Coaxar dos sapos, longamente,

quando o céu palpita na moldura da janela,

num mistério doce, num mistério infinito,

e em cada estrela há um lábio, um lábio puro que treme,

e um segredo na luz que palpita, palpita...

 

 

DISTÂNCIA

 

Há uma várzea no meu sonho,

Mas não sei onde será...

Em vão, cismando, transponho

Coxilhas enluaradas,

Cristas serrilhadas,

Solidões do Caverá.

 

Leito do trevo e flechilha,

Várzea azul, da luz da lua,

Verde várzea - onde será?

No ar da tarde flutua

Fino aroma de espinilho

E de flor de maricá.

 

Era além do azul da serra,

Era sempre noutra terra,

Era do lado de lá...

Em vão, cismando, transponho

Poentes e madrugadas,

Intermináveis estradas

Perdidas ao deus-dará.

 

Há uma várzea no meu sonho,

Mas não sei onde será.

 

 

A PALETA DO POETA

 

Tortura do desenho! Horas a fio,

seguindo o risco ideal de um vivo traço

que está dentro de mim, faço e desfaço,

e sinto-o cada vez mais fugidio...

 

A cor e a luz! Encher de vida o espaço

nu da tela, retângulo vazio,

sol interior que o visionário viu

e o pincel torna cada vez mais baço...

 

Fecho os olhos; no escuro tumultua

todo um formigamento furta-cor:

arco-íris, aureolado astro violeta...

 

E tudo o que eu não pus na tela nua

vejo-o de novo em luz, em linha, em cor,

nas manchas coloridas da paleta!

 

 

CHUVA DE PEDRA

 

Tombam gotas duras sobre a terra, saltam

como seixos pequeninos, saltam,

cada folha é um toldo que ressoa, soa

pela terra o canto da saraiva boa.

Cada rosa meiga é uma humildade mansa

Na carícia bruta.

 

E canta a saraiva clara

sobre a terra enxuta, sobre a terra boa.

 

Pedras, pingos pulam de alegria

como vidro moído, numa dança louca.

 

Ouve como soa

sobre a terra o baque da saraiva clara,

fria, fria, fria, numa chuva boa...

 

 

 

MINUANO

 

Ao Liberato

 

Este vento faz pensar no campo, meus amigos,

Este vento vem de longe vem do pampa e do céu.

 

Olá compadre, levanta a poeira em corrupios,

assobia e zune encanado na aba do chapéu.

 

Curvo, o chorão arrepia a grenha fofa,

giram na dança de roda as folhas mortas,

chaminés botam fumaça horizontal ao sopro louco

e a vaia fina fura a frincha das portas.

 

Olá compadre, mais alto mais alto!

 

As ondas roxas do rio rolando a espuma

batem nas pedras da praia o tapa claro...

 

Esfarrapadas, nuvens nuvens galopeiam

no céu gelado, altura azul.

 

Este vento macho é um batismo de orgulho:

quando passa lava a cara enfuna o peito,

varre a cidade onde eu nasci sobre a coxilha.

 

Não sou daqui, sou lá de fora...

Ouço o meu grito gritar na voz do vento

- Mano Poeta, se enganche na minha garupa!

 

Comedor de horizontes,

meu compadre andarengo, entra!

 

Que bem me faz o teu galope de três dias

quando se atufa zunindo na noite gelada...

 

Ó mano

Minuano

upa upa

na garupa!

 

Casuarinas cinamonos pinhais

largo lamento gemido imenso, vento!

Minha infância tem a voz do vento virgem:

ele ventava sobre o rancho onde morei.

 

Todas as vozes numa voz, todas as dores numa dor,

todas as raivas na raiva do meu vento!

Que bem me faz! mais alto compadre!

derruba a casa! me leva junto! eu quero o longe!

não sou daqui, sou lá de fora, ouve o meu grito!

 

Eu sou o irmão das solidões sem sentido...

Upa upa sobre o pampa e sobre o mar...

 

 

CANÇÃO ENCRENCADA

 

Eu sou o filóis Bilu,

Malabarista metafísico,

Grão tapeador parabólico.

 

Sofro de uma simbolite

Que me estraga as evidências.

Quem pensa pensa que pensa,

O besouro também ronca,

Vai-se ver...não é ninguém.

 

Reduzo tudo a mim-mesmo,

Não há nada que me resista:

Pois o caminho mais curto

Entre dois pontos, meu bem,

Se chama ponto de vista.

 

 

 

 


BRIANDA ZARETH HUITRÓN (México, 1990). Originaria de Temascalcingo de José María Velasco, México. Artista plástica y pintora surrealista. Realizó sus estudios de pintura en la Academia de San Carlos en Ciudad de México. Sus múltiples facetas artísticas y personalidad curiosa la llevaron a descubrir el surrealismo, corriente en la que encontraría una manera de comunicarse con el mundo. Plasma interpretaciones poéticas donde lo cotidiano es transformado en una realidad fantástica y onírica. Pinturas mágicas que señalan los deseos de la vida por salir en un cuadro. Ha expuesto individualmente y de manera colectiva en México y en el extranjero. Exposiciones individuales: Museo Leonora Carrington de Xilitla, ENCUENTROS ONÍRICOS en el año 2025. Museo de la Mujer, REVELACIONES ONÍRICAS, en el año 2022. PAISAJES ONÍRICOS para el Festival Temascalcingo Honra a Velasco, en el Año 2021. VENTANA A MUNDOS ONÍRICOS, en el Centro Cultural Futurama, Ciudad de México, en el año 2020. Exposiciones Colectivas Col-art en la Galería Oscar Román año 2025 Muestra pictórica EL OFICIO DEL PINTOR, de la Academia de San Carlos, Año 2019. DIMENSIONS, Festival Wave Gotik Treffen, celebrado en Leipzig, Alemania, en el año 2018. Ha participado en la Cátedra por los 100 años del surrealismo, en la Facultad de Filosofía y Letras de la UNAM, impartiendo conferencia sobre surrealismo femenino. Recientemente su obra ha sido publicada en el libro Mujeres Mexicanas en el Arte, de la editorial Agueda y en THE ROOM SURREALIST MAGAZINE, revista de surrealismo internacional. Brianda Zareth Huitrón es la artista invitada de esta edición de Agulha Revista de Cultura.

 



Agulha Revista de Cultura

Número 263 | dezembro de 2025

Artista convidada: Brianda Zareth Huitrón (México, 1990)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2025


∞ contatos

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