quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

LUÍS DELFINO (1834-1910)

 


Luiz Delfino dos Santos nasceu em 25 de agosto de 1834, em Desterro, hoje, Florianópolis, e morreu em 31 de janeiro de 1910, no Rio de Janeiro. Foi médico, político e escritor. […] Jovem, foi morar no Rio de Janeiro, não sendo possível precisar o ano em que chegou à cidade, entretanto, fez seus estudos superiores na Academia Imperial de Medicina, concluídos em 1857. Sua vida foi dedicada à medicina e à vida literária. Somente em 1891, com mais de 50 anos, ingressou na vida política, elegendo-se senador pelo estado de Santa Catarina. Seu mandato foi de 1891 até 1983.

Colaborou com várias publicações, entre elas a Revista Popular. […] Luiz Delfino teve seus poemas publicados também em Vida Moderna, A Semana, Brazil moderno, O Paiz, e Revista Brazileira, entre outros periódicos. Em A Estação: Jornal Illustrado para a Família, o soneto O Forte é dedicado a Machado de Assis.

Foi consagrado pelo periódico A Manhã, em seu suplemente literário intitulado Autores & Livros de maio de 1942. Em 1898, a revista Vera-Cruz deu a ele o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros, por ocasião dos festejos comemorativos do primeiro aniversário do periódico. Ocupou a cadeira de n. 7 da Academia de Letras de Biguaçu. A Academia Catarinense de Letras, fundada em 2003, escolheu-o como patrono da cadeira de n. 20.

Três de seus livros foram editados postumamente: em 1927, Algas e Musgos, em 1935, Íntimas e Aspásias e Imortalidades, em 1941.

O crítico literário Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992), faz referência aos poemas de Delfino, intuindo que ostentam caráter parnasiano, mas de um parnasianismo algo diverso do praticado pelos maiores da corrente em nosso meio: é, com efeito, plástico e sonoro, por vezes até com complicações sinestésicas que poderiam dar-lhe laivos simbolistas.

Em 1984, Ubiratan Machado (1941) escreveu o livro Vida de Luiz Delfino, publicado pela Editora UFSC, em comemoração ao sesquicentenário do nascimento do poeta, obra que também está no acervo da Biblioteca Nacional.

 

MARIA DO SAMEIRO FANGUEIRO

[BNDigital Brasil]

 

 

 

SANGUÍNEA

 

A Alberto de Oliveira

 

Longe… vasto horizonte retalhado

De serras cor de um glauco-azul, distantes;

Brumas por cima, como véus flutuantes;

Perto… o fragor das músicas do prado.

 

O acre, o intenso bálsamo exalado

Da mata, onde andam Faunos, como dantes;

Rochedos ideias, e as espumantes

Águas do rio às cristas pendurado.

 

Um cheiro bom das cousas, que embriaga;

A luz que sobe, sobe, embebe, alaga

O azul enorme; a gárrula manhã,

 

Correndo a oiro e pérolas as nuvens…

Ora!… Deus plagiando um quadro a Rubens?!…

Quando isto vir, o que dirá Rembrandt?!

 

 

OS REBELDES

 

Tenho ouvido dizer que desde o homem primeiro

Houve o medo de Deus, o Deus bom da Escritura;

E sempre viu-se em todo o tempo a criatura

Ter o terror, que preso, acusa o prisioneiro.

 

Ante a dor um rebelde uivou um dia inteiro;

Perguntou: – Por que à dor a vida se mistura?

E um audaz Prometeu, grande, como um argueiro,

Foi, e mediu com Deus sua própria estatura.

 

Como fundo o céu todo, o céu todo e o horizonte…

Assim sondando o espaço, e olhando fronte a fronte,

Deus heróis devem ser, antes de um batalha.

 

Talvez trema a montanha ao pé de um grão de areia,

Porque se ela ainda agora o enorme dorso alteia,

Pode ser amanhã pó, que o vento ergue e espalha…

 

 

CADÁVER DE VIRGEM

 

Estava no caixão como num leito,

Palidamente fria e adormecida;

As mãos cruzadas sobre o casto peito,

E em cada olhar sem luz um Sol sem vida.

 

Pés atados com fita em nó perfeito,

De roupas alvas de cetim vestida;

O tronco duro, rígido, direito,

A face calma, lânguida, dorida...

 

O diadema das virgens sobre a testa,

Níveo lírio entre as mãos, toda enfeitada,

Mas como noiva, que cansou na festa.

 

Por seis cavalos brancos arrancada...

Onde irás tu passar a longa sesta

Na mole cama, em que te vi deitada?!...

 

 

O CRISTO E A ADÚLTERA

(Mármore de Bernardelli)

 

VII

 

Tenho em frente de mim um deus: que importa o resto?

Vai fazer um milagre... Olhai, vede o seu gesto.

Uma pobre mulher corrida e quase nua,

Deita-te aos pés, Jesus, o clarão de uma lua.

Ela acolheu-se a ti e nela a formosura!

Que abismos nessa carne, e que luz nessa alvura!

Canta invisível nela um sol; ouço-lhe o trilo.

Não é Vênus de Cos, não é Vênus de Milo:

É vênus doutro mar, é deusa doutra espuma.

Bela, não se parece enfim com deusa alguma:

É o belo-ideal fundido de outra idéia:

Prometeu desta vez roubando a luz divina

Coalhou-a, como pode e ninguém imagina,

E fez dela o ideal da mulher da Judéia...

 

VIII

 

Olha a pobre mulher: esta mulher amante

Esta manhã ainda, ao aço rutilante,

Reviu seu rosto belo, enrolou seus cabelos,

Perfumou-os de mirra, untou-os de mamono,

Cacheou-os na testa em múltiplos novelos,

Enquanto lhe dormia ainda um pouco o sono

Entre os cílios; enquanto em sua face linda

Com um longo beijo o sol não a acordara ainda.

Mas se à festa do leão não resiste a leoa,

Caiu esta, que é bela, e além de tudo é boa.

Deus, que os sóis pelo céu andar em luta veda,

Deu-lhe a beleza — o abismo, e deu-lhe o amor — a queda.

Que dorso! Aquele branco e luminoso dorso!...

Aquele seio, aonde as pomas rutilantes

Vão nas asas fugir, sem fazer um esforço,

Vão fugir, adejar por esses céus distantes,

Ai! tão perto do céu! ai! tão fora do ninho!

Vejo-as quase a saltar do transparente linho:

Quero-os em pé, a luz, quero ver tudo isto...

O teu vasto linhol 'stá-m'a escondendo, ó Cristo.

O irradiar do torso esplêndido da adúltera

Vale o linhol de um deus, vale a inconsútil púrpura.

Caiu? — Quero alteada essa cabeça fina,

Ver um colo que ondula e como flor se inclina

Na haste flexível: sim, quero ver como rola

Na pequenina orelha a egipciana argola;

E erguida e a mover-se, a andar, a rir, sim! vê-la:

Ver se a estrela é que a vence, ou se ela vence a estrela.

Mas enquanto ela jaz a tua sombra santa,

Enquanto esta mulher gentil não se levanta,

E espera em tua força, ó Jesus, certo abrigo...

Ficarei junto dela, ó mármore, e contigo.

 

 

O MAL DA VIDA

 

Amor, pois, é a esplêndida loucura,

E a miséria de um sol que nos invade?

Caiu alguém aos pés da formosura

Que lhe não deixe aos pés razão, vontade?

 

Este delírio vem da eternidade,

Vem de mais longe, eu sei: - quem o procura

Acha-o mais velho do que Deus: quem há-de

Fugir do mal da vida por ventura?

 

E o amor é o mal que acaba em paraíso;

E para dar-nos céus num só lampejo

Basta-lhe um pouco, um nada é-lhe preciso:

 

De sonhos d'oiro e luz calça o desejo:

E então, de dia, em rosa abre o seu riso,

E em ampla estrela, à noite, abre o seu beijo...

 

 

OS SEIOS

 

Nunca te vejo o peito arfar de enleio,

Quando de amor, ou de prazer te ebrias,

Que não ouça lá dentro as fugidias

Aves, baixo alternando algum gorjeio...

 

Aves são, e são duas aves, creio,

Que em ti mesma nasceram, e em ti crias,

Ao arrulhar de castas melodias,

No aroma quente e ebúrneo do teu seio;

 

Têm de uns astros irmãos o movimento,

Ou de dois lírios, que balouça o vento,

O giro doce, o lânguido vaivém.

 

Oh! quem me dera ver no próprio ninho

Se brancas são, como o mais branco arminho,

Ou se asas, como as outras pombas, têm...

 

 

A POESIA

 

O que é poesia, Helena? O céu invade,

E tudo une e desune e tudo enfeixa;

E tudo mete em sonorosa endeixa,

E tudo quanto foi, e inda ser há de.

 

É a voz de Deus, o som da tempestade:

Dá músicas ao mar, amor à queixa:

E ela em seu manto embrulha os sóis, e deixa

A ira enleá-la, e é cheia de bondade.

 

Embala o berço, e faz dançar a boda:

Mesmo ao trágico empresta os seus encantos:

Dá voz sublime à ventania douda.

 

É de existência dor, sorriso, prantos:

E a grande, a rica natureza toda

Luz, freme, goza, sofre, haure em seus cantos...

 

 

 

 


BRIANDA ZARETH HUITRÓN (México, 1990). Originaria de Temascalcingo de José María Velasco, México. Artista plástica y pintora surrealista. Realizó sus estudios de pintura en la Academia de San Carlos en Ciudad de México. Sus múltiples facetas artísticas y personalidad curiosa la llevaron a descubrir el surrealismo, corriente en la que encontraría una manera de comunicarse con el mundo. Plasma interpretaciones poéticas donde lo cotidiano es transformado en una realidad fantástica y onírica. Pinturas mágicas que señalan los deseos de la vida por salir en un cuadro. Ha expuesto individualmente y de manera colectiva en México y en el extranjero. Exposiciones individuales: Museo Leonora Carrington de Xilitla, ENCUENTROS ONÍRICOS en el año 2025. Museo de la Mujer, REVELACIONES ONÍRICAS, en el año 2022. PAISAJES ONÍRICOS para el Festival Temascalcingo Honra a Velasco, en el Año 2021. VENTANA A MUNDOS ONÍRICOS, en el Centro Cultural Futurama, Ciudad de México, en el año 2020. Exposiciones Colectivas Col-art en la Galería Oscar Román año 2025 Muestra pictórica EL OFICIO DEL PINTOR, de la Academia de San Carlos, Año 2019. DIMENSIONS, Festival Wave Gotik Treffen, celebrado en Leipzig, Alemania, en el año 2018. Ha participado en la Cátedra por los 100 años del surrealismo, en la Facultad de Filosofía y Letras de la UNAM, impartiendo conferencia sobre surrealismo femenino. Recientemente su obra ha sido publicada en el libro Mujeres Mexicanas en el Arte, de la editorial Agueda y en THE ROOM SURREALIST MAGAZINE, revista de surrealismo internacional. Brianda Zareth Huitrón es la artista invitada de esta edición de Agulha Revista de Cultura.

 



Agulha Revista de Cultura

Número 263 | dezembro de 2025

Artista convidada: Brianda Zareth Huitrón (México, 1990)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2025


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