quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

PAULO EIRÓ (1836-1871)

 


Paulo Eiró (1836-1871) foi um poeta e dramaturgo brasileiro do Romantismo, nascido em Santo Amaro, São Paulo. Ele é uma figura importante na história cultural paulista, embora tenha morrido jovem, aos 35 anos, em condições de desilusão e depressão. Eiró era professor por formação e, como artista, destacou-se como poeta e dramaturgo, alinhado aos ideais do movimento romântico brasileiro. Ele era um abolicionista fervoroso e crítico do Império, defendendo a liberdade e a democracia. Sua musa inspiradora foi sua prima, Cherubina Angélica de Salles, e sua vida foi marcada por tristezas e desilusões, o que influenciou sua obra, que inclui poesia e teatro, como o drama Sangue Limpo. Sua produção literária é vista como representativa da segunda geração romântica no Brasil, caracterizada por temas como a melancolia e o idealismo amoroso. 

 

 

AMOR E ESQUECIMENTO

 

Fatalidade! Um bárbaro destino

Meu tão curto viver de trevas enche!

Já no celeste livro está lavrado

O aresto irrevogável!

 

Tu, força que no peito latejavas,

Seiva divina que à profunda chaga

Os lábios me soldava, para sempre

Serás amortecida.

 

Tu, braço que te erguias para o Eterno,

Como oração a desviar coriscos,

Penderás para a terra, sem valer-te

Nem orgulho, nem crença.

 

Que é feito dos troféus de glória, vate?

Onde param os louros sempre verdes?

Caíste, gladiador, no pó do circo,

Prostrado antes da luta.

 

Soltarás neste mundo voz sem eco:

Como os da aurora boreal, os raios

Que te abrasam a fronte hão de extinguir-se

Em crepúsculo eterno.

 

E teus versos, poeta, murchas flores,

Que as únicas talvez foram da vida,

Irão desabrochar na vil cabeça

Da mediocridade.

 

Elisa, tu mal sabes que amargura

Derrama na alma aos filhos da harmonia

Só esta ideia de lançar ao nada

Lira, visões e mágoas!

 

Este pesar pungente quem o adoça?

O amor. Ama-me, pois, oh cara Elisa:

Seja este afeto estremecido e puro

Nossa imortalidade.

 

Se das flores de tua primavera

Fores lançar-me alguma sobre a campa,

Se conservares na alma cristalina

Minha saudosa imagem,

 

Eu dormirei o sono derradeiro

Entoando algum cântico amoroso:

Hei de zombar de ti, parto da morte,

Gelado esquecimento!

 

 

NINGUÉM

 

Vai, meia encoberta, a lua,

Vela absorta que flutua

Em mar trevoso e agitado.

Esse pórtico elevado

Abafa os astros fiéis,

Como o infante que, de enfado,

Desestima os ouropéis.

 

Ah destronada rainha!

Quando eras formosa, vinha

A terra em peso adorar-te:

Reina hoje por toda parte

Silêncio mortal… Ninguém!

Quem há de sorrir e amar-te?

Eu que aqui’stou só também.

 

Eu que, neste ermo infinito,

Lanço em torno o olhar aflito,

Para ver se encontro objeto

Em que empregue tanto afeto.

Mas quem a, pedir-m’o vem?

Sobre o meu jazigo abjeto

Quem irá chorar? Ninguém.

 

E vivo na terra a custo,

Como no areal o arbusto

Ou nos mares o penedo;

Dissiparem-se vi cedo

Os sonhos que alimentei.

Nem mais quero amar — hei medo

De achar o prêmio que achei.

 

Porque não fui entendido?

Porque nem ouço o ruído

Da fonte que aos mais sacia?

Para eles corre à porfia,

Só para mim é que não.

Pois que! Será poesia

O mesmo que solidão?

 

 

VOLTA A DEUS

 

Na aluvião do mundo arrebatado,

Oh lembrança de Deus, não te perdi!

Quando uma luz procuro no passado,

Essa luz vem de ti…

 

De ti, astro da fé, brando luzeiro

Multiplicado no espumoso mar;

De ti, que em minhas trevas um fagueiro

Raio sabes lançar.

 

A ti, só, deve o espírito inquieto

Esta sede sem fim de amor e paz,

Estas fundas tristezas sem objeto,

Que só Deus satisfaz.

 

Se de sonhos formosos se destouca

Minha cabeça ainda juvenil,

Que julgava possível (pobre louca!)

Da vida eterno o abril;

 

Se do pesar os dentes peçonhentos

(Serpe desta aprazível solidão),

Para perpetuar meus sofrimentos,

Poupam-me o coração,

 

Sigo, gemendo, na fatal voragem,

Sem à descrença levantar troféus;

Sombras não há, nem pérfida celagem,

Que me encubram os céus.

 

É lá que o Pai supremo vela e aguarda,

Braços abertos, riso sempre em flor,

O filho errante, que talvez não tarda

Ao convite do amor.

 

Não te apagues, faísca de esperança!

Aquece-me o engelhado coração,

Que em seu lento pulsar inda balança

Uma tíbia oração.

 

Um dia, pelos anjos incendida,

Hás de atear um ânimo fiel,

Que, nos exaustos cálices da vida,

Achou somente fel.

 

Esta orgulhosa inspiração mundana,

Que as crenças infantis veio toldar,

Como nuvem de incenso quando empana

As luzes de um altar,

 

Há de se esvaecer e o longo encanto

Deste mundo falaz que me seduz;

Contrito e nu, hei de tomar por manto

A penumbra da cruz.

 

Assim, quando o pampeiro sibilante

Das maretas azuis montanhas faz,

E da ressaca o rolo fumegante

Deixa as ribas atrás,

 

Alteroso baixel, soltando as velas,

Foge à terra almejada, e, no alto mar,

Onde reina o tumulto das procelas,

Vai, arfando, pairar,

 

Até que a luta dos bulcões fraqueia,

No céu puro reluz cerúlea cor,

E a vaga, apaziguada, a lisa areia

Oscula, com amor.

 

O sol brilha maior e esconde os lumes

Em nuvens arraiadas de carmim,

E nos ares, sutis, passam perfumes

De acácias, de jasmim;

 

Então singra o navio empavesado,

E, quando a noite desenrola o véu,

Lança ferros no porto, alumiado

Pelos faróis do céu!

 

 

FATALIDADE

 

Que vista! O sangue se afervora e escalda!

Por que impulso fatal fui hoje à igreja?

Quer meu destino que, ao entrar, lá veja

Noiva gentil de cândida grinalda.

 

Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda,

Lume de estrelas, plácido, lampeja:

Seu branco seio de ventura arqueja;

Louros cabelos rolam-lhe da espalda.

 

Hora de perdição! Sim, adorei-a;

Não tive horror, não tive sequer medo

De cobiçar uma mulher alheia.

 

Unem as mãos; o órgão reboa ledo;

Em alvas espirais, o incenso ondeia...

E eu só, longe do altar, choro em segredo!

 

 

 

 

 


BRIANDA ZARETH HUITRÓN (México, 1990). Originaria de Temascalcingo de José María Velasco, México. Artista plástica y pintora surrealista. Realizó sus estudios de pintura en la Academia de San Carlos en Ciudad de México. Sus múltiples facetas artísticas y personalidad curiosa la llevaron a descubrir el surrealismo, corriente en la que encontraría una manera de comunicarse con el mundo. Plasma interpretaciones poéticas donde lo cotidiano es transformado en una realidad fantástica y onírica. Pinturas mágicas que señalan los deseos de la vida por salir en un cuadro. Ha expuesto individualmente y de manera colectiva en México y en el extranjero. Exposiciones individuales: Museo Leonora Carrington de Xilitla, ENCUENTROS ONÍRICOS en el año 2025. Museo de la Mujer, REVELACIONES ONÍRICAS, en el año 2022. PAISAJES ONÍRICOS para el Festival Temascalcingo Honra a Velasco, en el Año 2021. VENTANA A MUNDOS ONÍRICOS, en el Centro Cultural Futurama, Ciudad de México, en el año 2020. Exposiciones Colectivas Col-art en la Galería Oscar Román año 2025 Muestra pictórica EL OFICIO DEL PINTOR, de la Academia de San Carlos, Año 2019. DIMENSIONS, Festival Wave Gotik Treffen, celebrado en Leipzig, Alemania, en el año 2018. Ha participado en la Cátedra por los 100 años del surrealismo, en la Facultad de Filosofía y Letras de la UNAM, impartiendo conferencia sobre surrealismo femenino. Recientemente su obra ha sido publicada en el libro Mujeres Mexicanas en el Arte, de la editorial Agueda y en THE ROOM SURREALIST MAGAZINE, revista de surrealismo internacional. Brianda Zareth Huitrón es la artista invitada de esta edición de Agulha Revista de Cultura.

 



Agulha Revista de Cultura

Número 263 | dezembro de 2025

Artista convidada: Brianda Zareth Huitrón (México, 1990)

Editores:

Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com

Elys Regina Zils | elysre@gmail.com

ARC Edições © 2025


∞ contatos

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FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

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