segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

AGULHA REVISTA DE CULTURA # 165 – fevereiro de 2021

  

• EDITORIAL – ESQUECIDOS E DESCONHECIDOS DE PINDORAMA

 


A história política em Pindorama sempre se configurou nos moldes de uma única estratégia: cada novo governo proposto combate a república velha e postula ser uma Nova República até que assume o poder e se revela ainda mais velhaco que o anterior e logo cria margens para o anúncio de um novo pleito que se apresenta como república nova. Moto perpétuo da paralisia social, cujos vícios muitos e virtudes poucas permanecem inalterados desde o princípio. Seguramente por falta de princípios, os bastidores da República se prestaram sempre a desafiar os limites do humor e da indignação. Como os traços de indignação até hoje persistem alheios às suas vitais responsabilidades, coube ao humor tomar sua cota de proveito das aberrações de nossas instituições políticas. Há muitos tipos de humor, por vezes tanto quanto de humoristas.

Pìndomara é o lugar de eleição de uma tragicomédia anunciada. Nessa comarca de dissabores a duras penas convertidos em piada, sua gente acaba dragada pelo absurdo. Terra do Nunca Ainda, os cacoetes da história se mostram sempre antecipados. Talvez seja esta a razão que passou a borracha na existência de muitos de seus artistas, em especial aqueles que souberam as negligências da razão. Contudo, uma galhofa geral e sádica sempre retorquia: Este é o melhor mundo possível. Na medida em que os historiadores passarem o pente fino em Pindorama, certamente darão pelo imperativo de evocar os nomes de Aníbal Machado, Zuca Sardan e o Barão de Itararé. A eles daremos a nossa ajuda, anotando aqui algumas valiosas recordações críticas e biográficas desses três brasileiros que souberam lapidar o humor ao ponto de traçar uma fisionomia beirando o real da história sagaz de Pindorama.

Ivan Junqueira e Isabel Lustosa recordam respectivamente Aníbal e o Barão, enquanto que aqui no editorial colamos uma síntese do humor em Zuca traçada por Pedro K. em uma de minhas quase diárias conversas com Zuca, ele recorda Aníbal: Aníbal Machado era duma gentileza supina. Lá no finzinho de Ipanema, quase no canal que separa este bairro do Leblon, tinha Anibal uma aprazível casa onde oferecia, nos 50s, todo sábado, boca livre pr'os intelectuais e turmas variadas do bairro… Sempre com amável sorriso, e um copo de batida de limão, conversava com centenas de convivas, que se revezavam à sua volta, com amável intimidade, tudo sempre personalizado, ele sacava instantaneamente quem era o interlocutor, mesmo que o jamais tivesse visto. Este mesmo charme ele transportava pros seus contos admiráveis.

Agregando mais alguns ingredientes no caldeirão do humor, trazemos para a presente edição 45 das 120 ilustrações de François Despréz para o gigante Pantagruel de Rabelais, a edição de Les Songes Drolatiques de Pantagruel, de 1565, que séculos depois inspiraria outro mestre do humor, Salvador Dalí, ao criar 25 litografias em diálogo com Despréz.

A edição se completa dando sequência ao desbravamento da tradição lírica na América Hispânica já amplamente em curso em três outros projetos: Atlas Lírico da América Hispânica, Conexão Hispânica e Escritura Conquistada – Poesía hispanoamericana; o primeiro deles de circulação exclusiva pela revista Acrobata, e os dois outros integrados ao plano editorial da Agulha Revista de Cultura. Cumpre agradecer a cumplicidade de Aleyda Quevedo Rojas, Delia Quiñónez, Gabriel Jiménez Emán, Javier Payeras, Juana M. Ramos, Manuel F. Medina, Omar Castillo e Rosa Emilia del Pilar Alcayaga Toro, que assinam as matérias dedicadas a autores e circunstâncias em alguns países hispano-americanos.

Pindorama, no que depender de nós, não será tragada pelo lamaçal do esquecimento intencional. Impedir que os esquecidos se tornem desconhecidos é uma de nossas empenhadas façanhas. E a fazemos com as tintas mais vibrantes do humor, a nossa incondicional alegria de viver.

 

Os Editores

 

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PEDRO K | Verbete: o desenho de Zuca Sardan

 


Mise au point et au carré

Zuca Sardan reposiciona a alça de mira e o raio de alcance da fórmula renascentista de repartição entre desenho interno e desenho externo.

 

Figura e forma

O desenho externo é dotado por Sardan de um duplo movimento. Pelo eixo norte-sul, a linha circunscriptora comanda esquemas transcendentais de agregação de formas. Pelo leste-oeste, opera-se uma pulverização quintessencial dos repertórios figurais, evocando padrões de um atomismo democriteano.

 

Escala e difusão

O traçado de ZS introduz um magistral senso de escala que intensifica tanto a função projetiva da imagem quanto seu potencial reprodutivo.

 

Nexo estrutural

Zuca participa historicamente de um movimento de desfibrilação da unidade tripartida por novas técnicas de programação visual que abrem caminho para procedimentos compósitos de baixa definição, integrando um projeto de ocupação urbe et orbi.

Os marcos das idas e vindas entre a face interna e exterior dessa fita moebiana são o título, o desenho e a série, cujo movimento coreográfico evolutivo produz o imbroglio. Este passa depois por uma etapa de maturação na caixa de correio até chegar ao ponto de se converter em spholheto, descolando-se de seu fundo épico e folhetinesco.

 

O desenho como desígnio

O disegno interno se configura como empreendimento titânico que se volatiza, ao mesmo tempo em que conjura forças supranaturais e transistóricas.

Indicações oraculares são postas em execução com as armas da prestidigitação e da ideia, de que seguem dois exemplos históricos.

 

Salão Japão

Um discreto funcionário do Ministério das Relações Exteriores (o próprio Zuca ou um acólito), infiltra obras dissidentes na pilha de envios apadrinhados para a Bienal de Tóquio.

 

Exposição Rex

Participação maquiavélica de Sardan, que concebe o desvio do público burguês para o transporte de monumentos idealizados pelos demais integrantes do grupo.

 

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• ÍNDICE

 

ALEYDA QUEVEDO ROJAS | Eduardo Chirinos, escribir para olvidar el furioso embate del cuerpo

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/aleyda-quevedo-rojas-eduardo-chirinos.html

 

DELIA QUIÑÓNEZ | Luz Méndez de la Vega: cuando su vida sigue siendo la vida

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/delia-quinonez-luz-mendez-de-la-vega.html

 

GABRIEL JIMÉNEZ EMÁN | Los fantasmas fieles de Francisco Pérez Perdomo

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/gabriel-jimenez-eman-los-fantasmas.html

 

ISABEL LUSTOSA | Três considerações sobre Aparício Torelly, o Barão de Itararé

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/isabel-lustosa-tres-consideracoes-sobre.html

 

IVAN JUNQUEIRA | Aníbal e ternura (sobre Aníbal Machado)

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/ivan-junqueira-anibal-e-ternura-sobre.html

 

JAVIER PAYERAS | Poesía modernista (escala Guatemala)

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/javier-payeras-poesia-modernista-escala.html

 

JUANA M. RAMOS | De José Luis Rodríguez El Puma a Rodrigo Díaz de Vivar: la figura fallida del héroe en “Sin ambages” y otros relatos

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/juana-m-ramos-de-jose-luis-rodriguez-el.html

 

MANUEL F. MEDINA | Identidad territorial y postmemorias en Manzanilla del insomnio (2002) de Ivonne Gordon

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/manuel-f-medina-identidad-territorial-y.html

 

OMAR CASTILLO | La vastedad de José Lezama Lima

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/omar-castillo-la-vastedad-de-jose.html

 

ROSA EMILIA DEL PILAR ALCAYAGA TORO | Pinceladas acerca de la vida y obra de Stella Díaz Varín

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/rosa-emilia-del-pilar-alcayaga-toro.html

 

 

 


 

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Agulha Revista de Cultura

UMA AGULHA NA MESA O MUNDO NO PRATO

Número 165 | fevereiro de 2021

Artista convidado: François Despréz (França, 1530-1587, aproximadamente)

editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com

logo & design | FLORIANO MARTINS

revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES

ARC Edições © 2021

 

Visitem também:

Atlas Lírico da América Hispânica

Conexão Hispânica

Escritura Conquistada

 


 

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