sexta-feira, 11 de junho de 2021

ZUCA SARDAN & FLORIANO MARTINS | As sete tragédias de Sardanelo & Martinico [Parte 2]

 


3.
SUBMARINO MARELO | Tragédia no fundo do mar

 

PAPAGAIO PIRALDO

(sottovoce) Estamos a bordo do Submarino Marelo do Capitão Pirelli. Entra na cabine-mor o marujo Grilo Seco, e procura reanimar o Chefe, que está em grave crise de depressão, ameaçando se suicidar explodindo o Submarino dum tiro hara-kiri … com torpedo virado às avessas.

 

GRILO SECO

Curta as carpas do dia, Capitão Pirelli… Por boas que sejam as entrevistas, não podem ser comparadas com nossas sereias. Curta as carpas do dia…

 

CAPITÃO

Pois vamos às carpas do dia, com fritas e vinho.

 

PAPAGAIO

(sottovoce) Saiu o Grilo Seco… esse mal fedido puxa-saco … a mim não me engana. Fui papagaio do Doutor Xalaxar, conheço as manhas de chancelaria.

 

CAPITÃO

Vou ligar o rádio para saber se já há notícias sobre meu suicídio. A imprensa, neste século 21, sabe de tudo na véspera. Giro o botão e… PLAFF!!! PREK!!! KAPUT!!! Fooong …

 

RADIO

A rádio Cacimba da Glória abre seus microfones para o tão esperado encontro entre Sardanelo e Martinico, em especial porque não sabem exatamente sobre o que vão conversar. Por outro lado, ainda não temos notícias frescas do iminente suicídio do Capitão Pimenta no seu submarino. Já expedimos para o local o repórter-escafandrista Gastone para ir colher os últimos bafos do tresloucado Capitão antes que ele cumpra o seu fatal destino. Gastone tem grande experiência em entrevistar proto-suicidas poucos minutos antes de seu gesto treslocado e fatal. Gastone leva um microfone dentro de seu capacete. Nosso genial repórter-escafandrista já entrevistou o Sargeant Pepper e todos os Beatles a bordo do famoso Yellow Submarine. Era uma nave super-psicodélica, a mais espetacular do Planeta, nada a ver com essa fedida lata velha do Capitão Pirelli.

 

GASTONE

Alô ouvintas e ouvintos da vossa fiel Rádio Cacimba, da ilha Brocoió, a melhor emissora do País, ora transmitindo do fundo do mar para todo o litoral, da Lagoa dos Patos até o Aracaju… Eis que o marujo Grilo me abriu a porta e já estou dentro do submarino. Tenho o prazer de entrevistar, o renomado oceanografista Giuseppe Cascavelli, despedido da Sarbonne, e hoje trabalhando de contramestre do Capitão Pirelli. Diga-me lá, Doutor Cascavelli qualquer coisa sobre o iminente hara-kiri naval do heroico Capitão Pimenta, em prol do aprimoramento da nossa sociedade de elite …

 

CASCAVELLI

Ou a elite da nossa sociedade?…

 

GASTONE

Qual é a diferença, Doutor Cascavelli?…

 

CASCAVELLI

Entre o ovo da galinha e a galinha do ovo?…

 

GASTONE

Ora, pare lá de ensebar, homem! Está bem que as diferenças definem melhor o mundo do que as igualdades, estas sim, um rolo mais indecifrável do que aqueles do mar Mortinho da Silva. Mas minha questão é sobre o iminente suicídio do Capitão Pirelli.

 

CASCAVELLI
Essa questão do suicídio do Capitão, só será grave se houver uma quebra de hierarquia a bordo do submarino Marelo A hierarquia é a Lei Suprema do Cosmos. Sem hierarquia começa a bagunça de se meterem uns safados marujos contra o Capitão Pirelli. Nossos torpedos, por exemplo, são os maiores furadores dos transatlânticos de luxo, e os marujos vivem a querer se imiscuir no meio das belas hawaianas.

 

CAPITÂO PIRELLI

(entra, com sua bela voz cantante de tenor dramático) O cravo brigou com a rosa … debaixo da … da?… plec! plec!… enfim, continue, Cascavelli!…

 

CASCAVELLI
Primorosa declamação, Capitão Pirelli!… Tendes uma tonalidade profunda e melancólica, que lembra a de Dante, recitando a Divina Commedia!… (discretamente enxugo, com lenço de brim, uma furtí…valá crimaaa …) Coff-Coff-Coff!!… Perdoem-se se me engasguei da emoção… mas voltemos à vaca velha… Quanto à briga do cravo com a Rosa, talvez saiba alguma novidade o informadíssimo locutor Gastone, este novo astro ascendente na plêiade de locutores da Rádio Cacimba!…

 

GASTONE

Capitão Pirelli, oh, Bravo dos Bravos!!! Para quando, afinal, o vosso heroico suicídio? Já vamos atrasados com o programa …

 

PIRELLI

A vaca-marinha não deixou sobrar um bigode de camarão. Há muito nossos marujos me acusam de girar manivelas que nos levam cada vez mais fundos, ficamos no fundo do oceano, roçando a barriga do submarino na areia do fundo, girando-girando. Dois marujos já foram beber o vinho salgado de Netuno no cemitério submarinho, lançados pelo tubo de escape. Dia desses teremos que fazer rifa de nossos aparelhos de som. Tudo porque não conseguimos mais acertar com as preferências da Rita Parada. Esse, Gastone, espero que seja nosso último vexame. Grilo Seco, meu assistente, já vem trazendo minha cicuta e notícias de que Sardanelo e Martinico poderão estar conosco ainda nesta última viagem. Virão por batiscafo.

 

GRILO SECO

(entra, rodopiando na ponta do dedo a bandeja) Cá está sua cicuta, meu Capitão, e seu cálice do Xerez Era una Vez.

 

CAPITÃO

Meu xerez impagável sempre me pede uma sereia em cuja cauda sedosa eu possa deixar correr o meu palpite contra os males do infortúnio. Grilo, cadê ela, aquela Justine que me atendeu outra noite. Vem correndo, vem ligeiro, meu canapé florido… Ah como aquela noite teve seu dia de boa prosa. Tenho pensado em me aposentar, Grilo. Já puxei a caneta, mas desanimei com o que ela me mostrou. Aqui ao menos a gente ainda tem essas sereias, o xerez e umas viagens pelas profundezas marinhas, para fazer aquelas entrevistas horrendas…

 


GRILO SECO

Curta as carpas do dia, Capitão Pirelli… Por boas que sejam as entrevistas, não se podem comparar com essas sereias. Curta as carpas do dia…

 

CAPITÃO

Eu bem as curtia, porém agora me sinto um pouco funesto. Cadê o meu chá de algas? Ou talvez eu deva consultar o oráculo da perna quebrada, quem sabe ele me diz qual a menos dolorida forma de suicídio. Não quero sofrer mais essa dor ao me desapegar dessa carcaça combalida. Por precaução ponho no bolso uma fotinha de meu submarino, para os dias de saudade…

 

GASTONE

Mas acaso já não tens tudo premeditado, Capitão?

 

CAPITÃO

A vida pode até gostar de uma arrumação de espantos, mas com a morte é diferente. Ela prefere que tudo seja um atolado de surpresas.

 

GASTONE

Mas afinal, o senhor vai ou não vai se matar?

 

CAPITÃO

Ah as notícias hoje em dia, querem logo saber como o inesperado se sente e invadem o jogo de cartas do acaso para inquerir sobre o momento preciso em que ele atenderá o chamado de suas vítimas! Graças às notícias o mundo perdeu o impacto de seus gestos impensados.

 

GASTONE

A rádio Cacimba da Glória sempre se orgulha de manter a sua fiel audiência informada de tudo antes mesmo que ocorra.

 

CAPITÃO

Pois essa tal falcatrua de acidentes tornou a realidade o menos aprazível dos estados da alma.

 

CASCAVELLI

(precipita-se ao órgão espremido nos fundilhos do submarino) Sebastian Bach!… Para um final grandioso da… Tragédia Submarina!… E agora… sento-me solene na banqueta diante do painel de comando do órgão milenar, com teclas, alavancas e botões… e após esbater as abas da casaca, ergo os braços, e agito as mãos magras e agito os dedos aduncos tentaculares… lançando sombras de aranhas e morcegos e … FROOOOMMMMMM FONNNN FONNNNNNNNNNN!… Ah, diga-me se não está digno de um gran finale? FANN NON FROOOOMMMMMM FONNNN FONNNNNNNNNNN!… As teclas começam a despetalar de alegria, aquela alegria trágica que põe o mundo de ponta-cabeça. Gira-gira, carrapeta azul! (a cortina em seu aveludado púrpura solta-se de seus cordames e envolve Cascevelli.) A realidade naufraga nas mãos da melodia…

 

 

4. DAS EIRAS E BEIRAS | Tragédia dos mundos esquecidos

 

João Texugo, especialista em buracos, por vezes se deslocava de uma reserva indígena para outra fazendo as vezes de tropeiro, guia de armeiros empenhados em fazer fortuna à custa de tacapes e flechas de ponta de sílex. Em uma área de pastos de kambiwás, na serra negra pernambucana, João Texugo amotinava mistérios que muitos diziam não passar de pura invenção, um trote, farsa endiabrada, recurso que ele percebeu causar polvorosa suficiente, como uma cortina de fumaça, enquanto ele roubava as cuias lenhosas com que atravessava o país, indo vendê-las nos pampas como relíquias de uma tribo inexistente e dizimada. O Chefe do bando de tropeiros, Capitão Furabuxo, reúne seus cangaceiros para apresentar o novo Plano de Ação. Carbuxim, seu fiel escudeiro, é o mais atento.

 

FURABUXO

Vamos aproveitar das velhacarias e badulaques de Texugo e vende-las a turistas e mascates… Ele tem um baú colossal empilhado de arrobas de badulaques que ele não consegue vender. Então, para escaparmos dos jagunços da polícia, que se nos pegam vão querer fuçar nosso precioso paiol de drogas, santos ocos e relíquias… O plano é escondermos todo nosso botim debaixo das tralhas do Texugo, que não vai perceber nada, e, sempre que precisarmos vamos lá durante sua ausência, e trazemos apenas poucas coisas para vendermos, e quando acabar o estoque que guardávamos, tornamos a ir buscar novo material nos fundos do baú do Texugo, e o paspalho nada vai perceber.

 

CARBUXIM

(se coçando de tanto rir) Esse Texugo não sabe o que lhe espera. Ele tem mesmo cara de paspalho, embora por aí o mundo esteja repleto de salafras com cara de virgens arrependidas. Talvez por sermos daqui, mas como alguém pode se deixar engabelar por essas cuias mofadas que ele vende lá nos pampas. Não será nos pântanos? Talvez a tribo das palafitas ou mesmo a hoje rara gente das monções, as velhas ratazanas da lagoa dos gamburás, não seja essa a clientela do diabo jocoso. Seja como for, eu vi em seu esconderijo uns baús cujos fundos falsos podem ser o lugar ideal para nosso botim.

 


FORABUXO

Vá lá, Carbuxim, e enfie nesses fundos uma primeira soma de latas de sardinha e pentes de osso de tartaruga, as peças menos valiosas de nosso estoque, para um primeiro teste.

 

[Mudança de cena]

 

ARAUTO ABELARDO

(bate o bastão) PAFF-PAFF-PAFF!!! Siii-lênnn-cio!!! Estamos agora… onde mesmo??? Ah!!! Sim, estamos de volta à palhoça do… do… como se chama mesmo? Esqueci o nome do trambiqueiro… Enfim, diga lá, Bedel …


BEDEL
O trapeiro chama-se… João Texugo, um incompetente, sua palhoça é um pardieiro, onde pelo menos ele não consegue achar nada, e leva então outra coisa.

 

[Mudança de cena: de volta à palhoça do Texugo. Ele arruma umas pequenas caixas velhas com alguns tacapes, lacra tudo e mete a mão numa cumbuca repleta de pontas de flechas, revolve tudo com satisfação criminal.]

 

JOÃO TEXUGO

Desta vez consegui reunir uma boa feira. Se eu pego a barca Bacião e com ela cruzo o Atlântico farei um bolso farto em terras portugas… [Falava sozinho quando alguém bate à porta de sua caverna. Ao abrir, sem que reconheça quem ali está, indaga:] Quem vem dar em minhas terras?

 

CARBUXIM

Sou discípulo de kambiwás, em meu assentamento muito se fala de seus feitos arqueológicos, que ninguém no mundo fareja melhor um tesouro – dizem – do que o grande Texugo.

 

JOÃO TEXUGO

Que isto seja verdade, é coisa que não me importuna. Posso encontrar lagartixas congeladas sob a casca de árvores e decifrar em seu buxo papelotes com pistas para botins milenares.

 

CARBUXIM

Não carece de se gabar, pois sua fama corre ligeira. O que procuro pode ser de boa monta suficiente para nós dois. Certa vez um Caçarola, que vivia da venda de pequenos delitos, me trouxe uma caixeta em cujo interior encontrei, coladas ao fundo, umas folhas enxovalhadas contendo uns escritos que nada me dizem, mas que devem certamente conter informações sobre algum tesouro. Se o mestre Texugo decifrar essas folhas, não precisará mais ludibriar os pampeiros.

 

JOÃO TEXUGO

Não faço nada por precisão, mas sim por diversão. Vamos ver o que me dizem essas folhas. [Passa a vista num rasante.] Cá escrito está: a pátria chora seu besta seu bosta seu busto

 

CARBUXIM

Seu besta, seu bosta é o rosquel da tua velha, velho safado, já te passo a peixeira…

JOÃO TEXUGO

Tenha calma, Carbuxim!, eu só estava lendo o que estava escrito!!! Quem sabe poderá nos dizer se as galinhas do vizinho botam mais ovos que as minhas?

 

CARBUXIM
Tens galinhas, Texugo?


JOÃO TEXUGO

Tão só uma velha d’angola, bota ovo preto e um só por semana, na sexta-feira. E gosta de sentar num pinico de alguidar, que eu trouxe das terras do muito além.

 

[Mudança de cena]

 

ARAUTO ABELARDO

(risca o chão com o bastão) SHINNN-SHHHI-ZÁSS!!! Não é que o diabo do trapeiro está tomando conversa com o Carbuxim! Acho que assim ele acaba ganhando confiança e de uma hora para outra enfia as peças do Furabuxo no fundo falso das sacolas…


BEDEL
Não são sacolas, e sim umas caixas amarronzadas. Se o truque der certo teremos pela primeira vez a trapaça de um tesouro dentro de outro. Como as verdades que andam contando por aí, que a gente desfia e dentro delas encontra outras tantas, algumas em desacordo, aí fica difícil saber com quantos atalhos se faz um caminho novo.

 

[Mudança de cena: Furabuxo conta seus dobrões, lustrando alguns com uma boa cuspida e uma passada de mangas de seu camisão. Sabrina Leitosa ajoelhada a seu lado conta outros mistérios dentro da roupa do amante.]

 

FURABUXO

Sabrina, assim um dia vamos ter umas posses tão crescidas que a ilha toda virá nos ver, ai minha ratazana de salão.

 

SABRINA LEITOSA

Diz assim não, meu buxo, que eu me arrepio todinha, e boto meus talismãs por toda a casa, para que não saias mais de mim.

 

PRODUTOR SABUGO

(olhando por trás da cortina) Está uma be-le-za!!! Romântico-porno-sentimental!!! Vamos pra Rita Parada!!! Vamos ganhar o Moscardo do ano!!! Se ela deixar ele regar as plantinhas na varanda, aí o arraso é total.

 

Foi dizer isto e o Bedel entrou no salão, coxeando apressado, resfolegante:

 

BEDEL

Olha só, Carbuxim acaba de passar um cabogra do alto mar de sua aventura de espião atrapalhado. Tem uma frase direta que diz (soletra): amanhã a mina na mala. Logo abaixo há uns rabiscos que não sei do que se trata. (entrega a missiva a Furabuxo)

 

FURABUXO

Esses rabiscos são os códigos da mensagem, seu apalermado. A frase está bem clara. Carbuxim chega amanhã e vem me trazendo os mapas do tesouro.

 

RÁDIO GAMBÁ

Essas são as últimas notícias que temos, minhas queridas ouvintes… usem óleo de timbira Moema, para manter seus móveis brilhantes e faceiros … e vocês, meus caros ouvintes, prefiram Cerveja Cabrocha, espuma e gostosura… goze bebendo e contemplando os rótulos, na frente a Cabrocha se requebra faceira, e te mostra o linguão… e no rótulo da traseira … rodopie a garrafa, que você vai ver qualquer coisa!… Progresso, Saúde e… Carnaval!!! …

 

 

Graças à intromissão dessa emissão radiofônica, os milagres da radiestesia voltaram aos circuitos e centenas de cartas foram se apinhando à porta da estação, sem falar nas ligações e teletros que chegavam de toda sorte de lugar. Dizem que isto acontece quando se está no caminho certo. Furabuxo fez de tudo para ludibriar João Texugo, porém deste só conseguiu que tornasse invisível diante de seus olhos.

 


JOÃO TEXUGO

Eu criaria toda a desordem necessária para que a vida se fizesse indispensável, para que a grande obra respirasse um universo inteiro a cada página revirada. Tudo isto sem necessitar caminhar sobre as águas ou por a cozinhar o ovo primordial. Os mistérios da terra não seriam os mesmos sem a cerveja Cabrocha e menos ainda sem os arrebitados jogos das ancas de Luzia Trigueira, que me ensinou a ler as iluminuras de meu próprio corpo quando me banhava a pele no óleo de timbira Moema. Eu me tornei o seu móvel predileto e ia com ela a toda parte. Ela me tinha como o sapo preferido de suas brochuras de magia. Um sapo iniciado na fotossíntese de seus gemidos. Até o dia em que o impiedoso Furabuxo, a quem confiei o segredo de meus tesouros com furos, escondeu em minha caverna umas embiricicas de pedras falsas e relatos falaciosos atribuídos a Pitágoras. Quando lhe procurei me disse que tudo não passava de uma brincadeira de Platão, que queria ver até que ponto uma joia se mantinha dentro de outra, que uma história sobreviveria contada como parte de outra, pedindo-me que não o julgasse como sofista ou salafrário, que tudo o que ele pretendia é ver passar um corpo por dentro de outro.


RÁDIO SUCUPIRA

Ai, meu Ouvinte, este vosso velho e fiel aparelho Rádio, feito de sucupira autêntica, e olho mágico verde, que te sempre ajudou a bem sintonizar a estação da Rádio Gambá, que tanto aprecias, mercê de suas novelas engajadas nos Direitos Humanos, a Democracia Liberal e o Comércio Internacional, e a novelinha das oito, safada, sem eiras nem beiras, que te trazia um pouco de sacanagem libertária para os Direitos Humanos de todos os sexos… Ai!… estou esbofado… minhas válvulas estão gastas de ouvir e de ouvir falar este jeca João Texugo e os outros jecas que falam sem parar, e tu que os ouves embevecido, oh Leitor, ou Leitora?… Já estou quase cego, meu olho mágico já cansou de tanto s’alumiar para que procures teus programas, Ai! que já me compraste velho, embora cumpridor, no Bazar do Baltazar, este mascate sírio-libanês que só vende porcaria, salvo eu, uma preciosidade esquecida … mas assim é o Destino implacável, e sinto que esta noite me acabo… paff-poff-poff… baixe a cortina, meu Ouvinte, não quero que me vejam … Poff… traquejando… PAFF … nos mo… ment … RACATRAPAFF-CAPONGAAAAAAAAAAAAAAAA!!! …

 

CARBUXIM

(do lado de fora do prédio alugado onde funcionava a Rádio Gambá, conversando com Furabuxo) Eu bem disse que não deveríamos exagerar nas falas do Texugo. Agora pronto, ficamos sem ter como transmitir nossas ideias.

 

FURABUXO

Mas era tão simples, embutir os apetrechos de nossa revolução nos teréns de Texugo e pegar carona de sua distribuição… Com isto teríamos mais e mais simpatizantes de nossa causa.

 

CARBUXIM

Sim, mas exageramos na dose, e deixamos o gatuno cavernoso ganhar o microfone que de outro modo jamais teria. Já não se pode confiar em ninguém nessa porca vida. E agora, o que fazemos?

 

FURABUXO

Nada. Não fazemos nada. Ficamos aqui, torcendo pela chegada de um próximo inquilino. Quem sabe não alugue o ponto uma boa senhora com suas prateleiras de hortifrutigranjeiros onde possamos embutir novos truques…

 

CARBUXIM

Assim? Sem cortina?

 

FURABUXO

Sem nada. É só aguardar.

 



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Número 173 | junho de 2021

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