quinta-feira, 22 de julho de 2021

AGULHA REVISTA DE CULTURA # 176 – julho de 2021

  

• EDITORIAL – O ESPÍRITO NATURAL DA RESISTÊNCIA

 


Uma nova edição da Agulha Revista de Cultura e uma vez mais os nossos sinais de resistência, sem maior alarde, porque resistir é um estado natural do ser. Revistas de cultura em muito se fundamentam por expressarem essa conquista da resistência, apresentando ao leitor uma cartografia do impossível. Uma dessas revistas teve, em sua época, a força espiritual de João Cabral de Melo Neto como sua baliza essencial. Trata-se de O cavalo de todas as cores, surgida ao final dos anos 1940. Nosso editorial reproduz um artigo de Ricardo Souza de Carvalho que narra a gênese dessa rara publicação. A presente edição se faz ainda acompanhar de outro intenso sinal de resistência, uma série de desenhos criada por Susana Wald em 2016 para acompanhar uma edição do livro Au féminin, de Guy Cabanel, publicado pela Editorial Sonámbula, em Montreal. Susana Wald conversa comigo sobre seu diálogo com o editor Enrique Lechuga: Enrique me pidió cinco o seis ilustraciones, pero cuando vi los poemas me entusiasmé e hice ilustraciones para todos. Los dibujos se pueden conectar puestos lado a lado como una especie de cadáver exquisito, una referencia a un juego que practican los surrealistas y muchos niños del mundo. Eso da una extensa obra de varios metros de ancho. Fueron expuestos de esa manera en marzo de 2020 en la Galería Xicoténcatl de Oaxaca. A série soma 50 desenhos, que os reproduzimos em sua quase totalidade em nossa presente edição.

 

Os Editores

 

RICARDO SOUZA DE CARVALHO | O cavalo de todas as cores. Uma revista editada por João Cabral de Melo Neto

 

Desde o início de sua excursão pela tipografia com sua minerva na Barcelona de 1947, o poeta diplomata João Cabral de Melo Neto idealizava uma revista. O primeiro registro está em carta sem data a Clarice Lispector, quando tentava suas primeiras impressões, com o seu Psicologia da Composição:

 

Estou em entendimento com o Lauro Escorel - e este com o Antonio Candido, de S. Paulo - para fazermos uma revista trimestral, chamada ANTOLOGIA (dístico: PLUS ÉLIRE QUE LIRE, Paul Valéry). Será uma revista minoritária, de 200 exemplares, distribuída a pessoas escolhidas pelos diretores. Não terá programa formulado, não dará bola à chamada vida literária, não terá seções, nem de cinema, nem de livros, nem de nada. Qualquer coisa fora do tempo e do espaço – um pouco como nós vivemos. O fim verdadeiro da revista será o de começar a escolher o que presta de todos nós. Qualquer coisa como um balanço de antes do fim de ano, um balanço dos fevereiros que nós todos somos. Que acha Você? Um momento, pensei em fazer uma revista para os escritores brasileiros de fora do Brasil. Mas um certo aspecto Itamaraty dessa ideia me fez deixá-la em quarentena. Gostaria que V. nos mandasse – se é que o Lauro já não as solicitou – suas sugestões, e – coisa que seria ótima – que considerasse a possibilidade de figurar como um dos diretores (aliás, em vez de diretores, podíamos declarar: ESTA REVISTA É PUBLICADA POR: a) b) c), etc.). O cargo não lhe daria grandes trabalhos nem a distrairia grandemente de seu trabalho. Você compreenderá que numa revista chamada ANTOLOGIA o trabalho de diretor é um trabalho de escolhedor. Diga se quer ser um dos ESCOLHEDORES.

A revista será impressa por mim, aproveitando minha máquina e as delícias do câmbio. Esperamos ter um número pronto – no mais tardar – em março” (in Sousa, 2000, pp. 290-1).

 

Em carta de 17 de fevereiro de 1948, foi a vez de Manuel Bandeira ser comunicado da edição de Antologia. Se por um lado Antonio Candido ainda não respondera se aceitava o convite de dividir a direção com Cabral e Lauro Escorel, por outro já havia colaborações para o primeiro número: “[…] a) um ensaio de Antonio Houaiss sobre o vocabulário de Carlos Drummond de Andrade; b) 'El alejandrino en la poesía castellana del presente', nota e antologia de um rapaz daqui; c) 25 tankas de Carles Riba, o melhor poeta catalão vivo, traduzidas por mim […]” (in Süssekind, 2001, pp. 60-1). Como Antologia não saiu logo, três dessas tankas traduzidas ao português foram publicadas no número 16 da revista Ariel, de Barcelona, em abril de 1948, com apresentação de Joan Triadú intitulada “Brasil i Catalunia”.

O lançamento de Antologia não se concretizava, fazendo com que Cabral pensasse em recuperar um projeto anterior com os amigos no Rio de Janeiro, como propõe a Carlos Drummond de Andrade em carta de 9 de outubro de 1948: “[…] Agora que posso imprimir de graça, por que não fazemos aquela revista que planejamos  você, Vinicius e eu?  e para cuja discussão até nos reunimos uma tarde no M. da Educação?” (in Süssekind, 2001, p. 228).

Diante de mais uma ideia que não vingou, Cabral, em carta a Clarice de 15 de fevereiro de 1949, quando divulgava suas traduções de “Quinze Poetas Catalães” na Revista Brasileira de Poesia, comenta que deseja um veículo mais específico, um periódico para divulgar a cultura catalã no Brasil: “[…] Tenho planejada agora, com alguns amigos catalães, uma revista clandestina catalã brasileira. Não sei bem como será. Mas desde que a polícia fechou a que eles publicavam aqui, quero fazer alguma coisa de propaganda da cultura deles junto aos intelectuais brasileiros” (in Sousa, 2000, p. 295). A revista proibida chamava-se Algol, que conheceu um único número no final de 1946, dirigida por Joan Brossa, Arnau Puig e Antonio Tapiès. Esses jovens, mais Modesto Cuixart, Joan Ponç, Joan-Jospe Tharrats e Juan Eduardo Cirlot, criaram em 1948 a revista Dau al Set, nome pelo qual ficou conhecido esse grupo de artistas de vanguarda, um dos mais importantes do pós-guerra na Espanha. Para eles Cabral tornou-se uma referência decisiva ao discutir o papel social da obra de arte, mas sem abandonar a preocupação estética.

Em carta de 15 de setembro de 1949, Cabral anuncia a Bandeira o que poderia ser mais uma ideia de periódico que não saía do âmbito das cartas: “Também tenho em projeto uma revista: 'O cavalo de todas as cores', impressa por mim e dirigida pelo Alberto Serpa e por mim” (in Süssekind, 2001, p. 104). Mas o poético título ganhou forma em seu primeiro e único número de janeiro de 1950, ao que tudo indica, sugerido pelo texto em prosa de José Régio, “Poesia”, estampado nesse número, que assim termina:

 

[…] Mas à Poesia como Poesia, ao alado Cavalo furta-cores que, para se atirar às estrelas, escava as raízes e faz espinchar tanto a água das fontes como a dos charcos, – não lhe ponham antolhos que lhe não pertencem! não lhe deem rédeas que não aceita. Porque o seu tempo próprio é a Eternidade, o seu espaço a Imensidão, o seu fim o Absoluto.

 

Esse fragmento pode ter servido de ponto de partida para a ilustração da capa, a cargo de Francisco García Vilella, pintor em início de carreira em Barcelona apoiado por Cabral, que lhe encomendara as 11 ilustrações que acompanham as traduções de poemas de Baudelaire por Osório Dutra, Cores, Perfumes e Sons, editadas pelo Livro Inconsútil em 1948.


O trabalho de impressão da revista demorava, como compartilha com Vinicius de Moraes em carta de outubro de 1949:

 

Estou agora imprimindo a revista: um poema do português P. Homem de Melo, sua 'Bomba atômica', umas coisas catalãs e uma de Alberti, não mandadas por ele, mas escolhidas aqui. A coisa vai indo lenta: o meu ensaio sobre Miró que estão editando aqui me esgota completamente – ao fazer a revisão de provas (in Moraes, 2003, p. 163).

 

Vale lembrar que a colaboração de Alberti não se confirma no número de janeiro de 1950. [1]

Por um lado, O Cavalo de Todas as Cores segue a configuração dos demais “livros inconsúteis”: pequena dimensão (22 x 14,5 cm) e folhas soltas formando cadernos a partir das colaborações. Por outro, recupera a proposta da Antologia comentada nas cartas: revista trimestral de “tiragem limitada a 200 exemplares”, trazendo uma seleção de textos, sem seções ou informações atuais. A poesia predomina, não apresentando nenhum programa ou estética comum. A diversidade da origem dos autores – Brasil, Portugal e Espanha – abarca um universo ibero-americano, em português, espanhol e até um pouco de catalão. As duas colaborações portuguesas – as “Nove Canções Católicas”, de Pedro Homem de Mello, e “Poesia”, de José Régio – provavelmente chegaram por intermédio do conterrâneo Alberto de Serpa. As outras três refletem as amizades brasileiras e espanholas de Cabral.

Embora as propostas poéticas fossem muito diferentes, Cabral e Vinicius não deixaram de ser amigos. [2] Além da primeira publicação do poema “Bomba Atômica” em O Cavalo de Todas as Cores, O Livro Inconsútil editara Pátria Minha e a tradução ao espanhol por Alfonso Pintó de “Elegía al Primer Amigo” para a Antología de Poetas Brasileños de Ahora, ambos do final dos anos 40.

Quanto aos espanhóis Rafael Santos Torroella e Enric Tormo, estavam entre os grandes contatos de Cabral durante sua estada em Barcelona como diplomata de 1947 a 1950. Torroella, importante crítico e promotor da arte moderna, estreara na poesia com o volume Ciudad Perdida (1949). Em O Cavalo de Todas as Cores, “Cuatro Poetas”, mestres da poesia moderna espanhola, merecem quatro poemas: Miguel de Unamuno, Antonio Machado, Federico García Lorca e Miguel Hernández. Os três últimos integram as preferências de Cabral na literatura espanhola; inclusive escreveu sobre Hernández o poema “Encontro com um Poeta” de Paisagens com Figuras.

Também em Paisagens com Figuras, aproximou-se de Enric Tormo no poema “Paisagem Tipográfica”. Tipógrafo que colaborou com Joan Miró e o grupo Dau al Set, Tormo foi o braço direito para que Cabral se tornasse o impressor da coleção O Livro Inconsútil. O seu pequeno texto que encerra O Cavalo de Todas as Cores, “Xilografía Popular en Cataluña”, é acompanhado pela reprodução de 15 gravuras do século XVIII de sua coleção particular, das quais duas aparecem na portada dos livros Acontecimento do Soneto, de Ledo Ivo, e Sonets de Carnuixa, de Joan Brossa, impressos por Cabral.

Com a transferência para o consulado geral de Londres, em 1950, Cabral interrompeu a impressão de O Cavalo de Todas as Cores e dos exemplares de O Livro Inconsútil. No entanto, a ideia de um periódico ainda não o abandonou. Ao ser nomeado primeiro-secretário da embaixada brasileira em Madri, em 1961, estimulou a criação de uma revista que divulgasse a literatura e cultura brasileiras na Espanha. Surgia assim a Revista de Cultura Brasileña, dirigida pelo poeta Ángel Crespo, de 1962 a 1970, que veiculou, principalmente, estudos e traduções para o espanhol da poesia moderna brasileira, dando a conhecer as últimas tendências, como a poesia concreta, ainda inovadoras naquele contexto para o leitor espanhol.

Raridade bibliográfica como os outros impressos de Cabral, O Cavalo de Todas as Cores deve sair do limbo como testemunho de um período fértil em atuações no meio intelectual espanhol por parte do poeta de O Cão Sem Plumas.

 

NOTAS

1. Sobre o poeta espanhol, Cabral publicou o poema “Fábula de Rafael Alberti” em Museu de Tudo (1975). 

2. Cabral, além de dedicar Uma Faca Só Lâmina (1955) a Vinicius, escreveu os poemas “Ilustração para a 'Carta aos Puros' de Vinicius de Moraes”, de A Educação pela Pedra (1966), e “Resposta a Vinicius de Moraes”, de Museu de Tudo (1975). As cartas de Cabral encontram-se no acervo de Vinicius no Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa Rui Barbosa. 


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• ÍNDICE

 

ADALBER SALAS HERNÁNDEZ | Gladys Mendía y la poética del atisbo

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/adalber-salas-hernandez-gladys-mendia-y_22.html

 

ALCEBIADES DINIZ MIGUEL | Raimundo Lúlio e o Livro Móvel (Questões em torno da desintegração, formal ou conceitual, da narrativa)

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/alcebiades-diniz-miguel-raimundo-lulio.html

 

ALEXIS ZALDUMBIDE | Veintidós libros para aporrear a la peste

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/alexis-zaldumbide-veintidos-libros-para.html

 

ANTÓNIO CÁNDIDO FRANCO | Três revistas ibéricas: A Ideia, Salamandra e Flauta de Luz

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/antonio-candido-franco-tres-revistas.html

 

ANTÓNIO LAGINHA | Antidança

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/antonio-laginha-antidanca.html

 

BERTA LUCÍA ESTRADA | Hasta ahora te creo, de Maribel Abello Banfi

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/berta-lucia-estrada-hasta-ahora-te-creo.html

 

CARLOS GARAYAR | César Calvo y la novela de Ino Moxo

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/carlos-garayar-cesar-calvo-y-la-novela.html

 

MADELINE CÁMARA | Henriqueta Lisboa: una poeta en el reino de lo intemporal

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/madeline-camara-henriqueta-lisboa-una.html

 

AGATHI DIMITROUKA | Bolívar, eres bello como un griego [Parte 4]

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/agathi-dimitrouka-bolivar-eres-bello.html

 

SUSANA WALD | Recuerdo de sus amigos: Arturo Schwarz (1924-2021) y Cruzeiro Seixas (1920-2020)

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/07/susana-wald-recuerdo-de-sus-amigos.html

 

 

 


 

Susana Wald

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Agulha Revista de Cultura

UMA AGULHA NA MESA O MUNDO NO PRATO

Número 176 | julho de 2021

Artista convidada: Susana Wald (Hungria, 1937)

editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com

logo & design | FLORIANO MARTINS

revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES

ARC Edições © 2021

 

Visitem também:

Atlas Lírico da América Hispânica

Conexão Hispânica

Escritura Conquistada

 



SUSANA WALD | Recuerdo de sus amigos: Arturo Schwarz (1924-2021) y Cruzeiro Seixas (1920-2020)

 


1 | Arturo Schwarz

Arturo Schwarz era buen amigo. Era de estatura media, de muy buen ánimo, sonriente, de trato cálido. Todo fluía en forma natural alrededor de él. No había trazas de artificialidad ni amaneramiento en sus modales. Era un hombre encantador, apasionado.

Nuestro primer encuentro con él fue en París. A finales de los mil novecientos setentas, hace más de cuarenta años. Hicimos la cita por el contacto que nos dio Edouard Jaguer. Fuimos a buscarlo. La primera vez que lo vimos fue en el foyer del hotel Hotel Georges V. Venía saliendo del ascensor. Nos llamó de inmediato la atención el enorme lujo de ese hotel radicalmente distinto del que habitamos nosotros.

El contacto fue inmediato. Fuimos a un café. Ludwig Zeller y él se sentaron frente a frente y se miraban. Los dos usaban barba (en una época en que esto era prácticamente tabú), ambos la tenían negra, ambos vestían pulcramente. Se parecían, como primos hermanos.

Ludwig nació el 1º de febrero, Arturo el 2º. Hay sólo tres años de diferencia de edad entre ellos, Arturo es de 1924, y Ludwig de 1927. Ambos, poetas, ambos promotores de las artes visuales y ambos editores de libros. Los dos, coleccionistas de obras de arte. Arturo con una vida acomodada, hombre con una considerable fortuna. Ludwig siempre al borde de la pobreza, despreocupado de asuntos de dinero. Ambos nacieron de padres alemanes y madres de países y tradiciones latinas. A ambos les interesaba el arte tibetano. Ambos conocieron de primera mano a iniciadores del surrealismo; Arturo en Europa, Ludwig en América del Sur. Los dos, bibliófilos, lectores empedernidos, con grandes bibliotecas a su haber.

En el Internet encuentro una lista de veinticuatro libros de la autoría de Arturo Schwarz; en lo personal conozco varios de los que no hay mención. Arturo escribía crítica de arte y dictaba numerosas conferencias sobre artistas y otros temas. Dentro de esta actividad estuvo la gran exposición internacional que organizó para la XLII Bienal de Venecia, de 1986. Ese año el tema de la Bienal era Arte y Ciencia. La exposición ideada por Schwarz se llamaba Arte e Alchimia, y venía con ella un magnífico catálogo que sí aparece en la lista antes mencionada. Arturo siempre aportaba algo extra en sus textos, lograba ubicar datos y personajes por otros desconocidos, lo que tiene por efecto que catálogos como el de la Bienal resultaran muy apasionantes.

A Arturo lo veíamos cada vez que coincidían nuestros viajes a París con los de él. Viajaba mucho. En una oportunidad, cuando le tocó ir a Nueva York, se dio un desvío y nos visitó en Oakville, Ontario, en Canadá, donde vivíamos. Vino a nuestro departamento y pasó horas viendo la obra de ambos. Nos invitó a visitarlo en Milán.

Fuimos en 1994. El 16 de septiembre inauguramos una exposición de nuestra obra en la Galerie 13 de Hannover, en Alemania. Ahí mismo arrendé un auto y fuimos por tierra al norte de Italia, primero a Verona, una ciudad con la que tengo una conexión personal, de allí a Argegno un pueblo sobre el Lago Como donde vivía un amigo muy querido. El 28 de septiembre hicimos una excursión a Milán, con la explícita intención de visitar a Arturo quien el día anterior nos recordaba por teléfono nuestra promesa de verlo.


Fue una experiencia inolvidable. De Milán no recuerdo nada. Lo que me tuvo fascinada fue la visita para ver tres departamentos en un elegante edificio en un barrio muy bello de Milán. Recuerdo que me llamó mucho la atención que ese edificio tiene un jardín delante. Para cualquiera que conoce las grandes ciudades de Europa donde cada centímetro de terreno se hace escaso, es evidente que un jardín así es indicio de gran lujo. Los departamentos de este edificio eran muy amplios, en cada piso había sólo dos. Me parece que fue en el cuarto piso donde Arturo nos invitó primero a entrar al departamento en que vimos una biblioteca y su cuarto de trabajo. Allí estuvimos bastante rato. Luego nos invitó a echar un vistazo al departamento frente a éste en que vivía con su esposa. Los muros del departamento-habitación los vi con bellas obras de arte impecablemente enmarcados. Recuerdo principalmente dibujos y grabados de los siglos dieciséis y diecisiete. Luego Arturo nos llevó al departamento debajo del de trabajo. Este gran espacio tenía todos los muros y espacios intermedios cubiertos de estantes de libros, de esos que tienen puertas de vidrios. Había libros, recuerdo, incluso en la tina del baño. Al andar entre los espacios estrechos entre los estantes vi un libro en el piso; me iba a agachar para recogerlo y Arturo me dijo: “Déjalo, en un rato viene el bibliotecario y lo acomoda.” En esa misma oportunidad me mostró un recibo de ese día de un librero anticuario que ubicaba para él, casi a diario, y de todas partes del mundo, los libros que necesitaba para extender su investigación de los temas que le apasionaban. En ese entonces no había Internet…


Los libros de su biblioteca estaban organizados por temas. Le interesaba la anarquía, la Kábala, el tantrismo, la alquimia, la literatura francesa, italiana e inglesa, el arte prehistórico o tribal, el arte y la filosofía de la India. Por ejemplo, en su biblioteca vi una sección sólo de poesía surrealista de Francia, otra, muy amplia, de judaica.

Luego de la visita, tanto Ludwig como yo estábamos en un estado de euforia.

De 1961 a 1975 existió la Galleria Schwarz, conocida en toda Europa, en la Via Gesú, del centro de Milán. Allí se hicieron exposiciones de artistas del Dadá y del Surrealismo. Durante muchos años de trabajo Arturo publicó libros seminales tanto sobre los dos movimientos como sobre los artistas que conoció personalmente, como Man Ray y Duchamp.

Era muy sabio coleccionista de arte. En los mil novecientos-noventas donó una selección de su colección, setecientas obras de artistas de Dadá y del surrealismo, al Israel Museum de Jerusalén. Así fue que llegaron a ese museo obras de Zeller y Wald. Entre esa donación están dos libros únicos nuestros, uno de ellos hecho en colaboración por encargo especial de Schwarz. Es el poema de amor Ponte Parole, del propio Arturo, regalo especial para su mujer. También donó centenares de obras de arte a museos italianos.

En 1977 publicamos en nuestra editorial Oasis Pieces of Dreams, un libro de poemas suyos escritos durante un viaje por avión mientras lo llenaba la emoción al escuchar la música de Albinoni. Ese libro lo ilustramos con mirages nuestros, obra en colaboración. También publicamos en Oasis un ensayo extenso Discours sur le peu de réalité du dernier port du Capitaine Cook que escribió Arturo sobre el collage de Zeller que se llama El último puerto del Capitán Cook.

Nuestro contacto con Arturo Schwarz se mantuvo durante muchos años, con una nutrida correspondencia. Hace apenas un mes desde que me llegó la noticia de su paso a esferas que desconocemos. Su obra permanece, su esencia la siento cercana.

 

2 | Cruzeiro Seixas

Lo recuerdo como un hombre muy buen mozo, de finos modales que fluían con naturalidad, sin afectación de ningún tipo. Vestía en ropa elegante que ajustaba muy bien, sin duda tenía un buen sastre. Sonriente, con buen humor, no contaba chistes y durante las horas que pasamos con él la conversación cubría temas que interesaban a fondo.

Habíamos viajado a Lisboa desde Madrid, en compañía de Amparo Segarra y Eugenio Granell en el auto que les pertenecía. Amparo y yo manejábamos porque ni Ludwig Zeller ni Eugenio sabían hacerlo. La noche del 11 de julio de 1983 esperamos a Artur Cruzeiro Seixas en el hotel en que alojábamos con los Granell. Anoté que llegó a las ocho y media. Cominos con él en un muelle, frente al Tajo, y luego fuimos a su casa para ver obra suya y conversar hasta las dos de la mañana. Artur me parecía persona gratísima, muy cercano en ánimo a nosotros, hombre de mundo, conversador ágil, gentil, firme y muy creativo.


Dos días más tarde, el 13 de julio, Cruzeiro Seixas nos buscó en el hotel después de la siesta, en la tarde, y nos llevó donde el pintor Raúl Pérez quien resultó ser un personaje angelical. Se dio una reunión en que también participó Isabel Meyrelles.

Pocas fueron horas que pudimos pasar con Artur Cruzeiro Seixas, pero fueron suficientes para que se estableciera entre él y nosotros una firme amistad que fluía en cartas e intercambios de dibujos y novedades. 

Guardo una impresión maravillosa de este artista excepcional. Beatriz Hausner organizó la Celebración de los sesenta años de Ludwig Zeller. Durante todo un año llevó la correspondencia con escritores y artistas de muchos países. Se realizó la publicación de un libro que yo diseñé en el que cuarenta y tres poetas aportaban una traducción del poema de Zeller que se llama El faisán blanco y que más de cincuenta artistas plásticos ilustraron con un dibujo o pintura de pequeño formato. El lanzamiento del libro se hizo en Toronto en el marco de una gran exposición de las obras plásticas y una lectura de poemas en que participaron muchos de los traductores.

Me acompaña en mi vida cotidiana la ilustración que Artur Cruzeiro Seixas mandó para ese libro. Es una imagen bellísima, de mil detalles, dibujo en tinta china sobre papel. Las formas se han dado de manera automática, en la mejor tradición surrealista. Los trazos hechos con pluma son elegantes como los movimientos del artista, el delicado achurado es minucioso, aplicado con obstinada perseverancia, con calma. El fondo negro, aplicado con pincel está parejo, pulido, impecable. El conjunto de la imagen tiene sentido de humor, un aire alegre, elementos que también recuerdan a la mente y la mano que los han creado.

Cruzeiro Seixas dice de sí que es “un hombre que pinta”. Y pinta y ha pintado mucho, imágenes extraordinarias, marcadas con una personalidad fuertísima. De inmediato se reconoce cualquiera de ellas como obra suya. Se ha dedicado con gran entusiasmo y enorme talento a su oficio de pintor y dibujante. Su obra es bien conocida; ha realizado numerosas exposiciones.

Fue mi fortuna poder encontrarme con Artur Cruzeiro Seixas. Este año cumple sus cien años, en casi la misma fecha en que yo celebraré también mi natalicio. ¡Celebramos juntos la vida!

 


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Agulha Revista de Cultura

UMA AGULHA NA MESA O MUNDO NO PRATO

Número 176 | julho de 2021

Artista convidada: Susana Wald (Hungria, 1937)

editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com

editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com

logo & design | FLORIANO MARTINS

revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES

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AGATHI DIMITROUKA | Bolívar, eres bello como un griego [Parte 4]

 


Agulha Revista de Cultura, dirigida por el poeta, dramaturgo, traductor, editor y artista plástico Floriano Martins se une al proyecto liderado por la poeta, escritora y traductora griega Agathi Dimitrouka en el cual reúne a voces latinoamericanas que publican poemas cuya temática es la cultura helénica o la Grecia actual. Este proyecto, que va a acabar en una antología en libro natural, lleva como título el famoso verso del poeta y pintor griego y surrealista Nikos Engonópulos “Bolívar, eres bello como un griego” y se publica por la revista de cultura Χάρτης (hartismag) presentando a poetas de América Latina. Y eso porque sus países, los que otrora fueron colonias de España, se animaron por la Revolución Griega de 1821 y lucharon por su propia Independencia con el Libertador Simón Bolívar. Además, fueron de los primeros países que reconocieron a Grecia como país independiente. Así, pues, armado cada uno con su pluma, y con único estandarte la poesía, nos reunimos cada mes para celebrar los doscientos años desde aquella llama que nos ha unido y nos sigue uniendo.

 

JORGE BOCCANERA (Bahía Blanca, Argentina, 1952) es poeta, ensayista y periodista. Vivió largos períodos exiliado en México (1976- 1983) y en Costa Rica (1989-1997). Ofreció seminarios, cursos y charlas en la Universidad Nacional de Lomas de Zamora (Argentina), Universidad de Costa Rica y Universidad de Salamanca (España). Coordina actualmente la Cátedra de Poesía Latinoamericana en la UNSAM. Escribió numerosos libros de poesía, de relatos y crónicas, de ensayos y de teatro, mientras textos suyos han sido musicalizados y llevados al disco; poemas suyos se han incluido en varias antologías de poesía y en la Juan Gelman de poesía argentina del Ministerio de la Nación. Participó en encuentros literarios realizados en varios países e integró el jurado de galardones literarios. Obtuvo numerosos y prestigiosos premios tanto nacionales como internacionales con más recién el Premio “José Lezama Lima”, Casa de las Américas, Cuba (2020) para su poemario Ojos de la palabra. Poemas suyos fueron traducidos al holandés, italiano, inglés, japonés, checo, portugués, búlgaro, francés, sueco, húngaro y griego.

 

ÁNGELA GENTILE (Berisso, Argentina) es profesora de lengua y literatura española e italiana. Especialista en Políticas socio-educativas y en la Enseñanza de la literatura. Post grado en Gestión Cultural (Flacso). Becaria Universidad de la Perugia. Integró el centro de estudios italianos (UNLP) Premio Nacional de Literatura –Ministerio de Educación y justicia de La Nación (bienal 1985-1987). Premio "Pregonero" Feria Internacional del libro 2009. Distinguida por la Asociación Mundial Amigos de Nikos Katzantzakis, Suiza, 2020. Premio Damaso Alonso 2020-Academia Hispanoamericana de letras, Madrid. Coordinadora Premio Strega 2020 (La Plata). Realiza junto a la Asociación Nostos “Ágora de Poiesis” y “Poetas griegos de la diáspora”- difusión de poetas griegos en español y griego. Publicó: Escenografías, Cantos de la Etruria (Edit Fénix) Los pies de Ulises (Edit, Ocelotos, Atenas, Grecia) Voces Olvidadas (Edit. Del Árbol, Auspiciado por la UNESCO; Lo sguardo di Demetra (Cuadernos de Casa Bermeja-Mago Ediciones); Bizancio (Edit, Vinciguerra) Pensar la lengua y la literatura (Edit Llongseller) Palabras originarias (Edit Mandioca); Giacomo Leopardi, poeta infinito (2019) Desde el origen (Edit del Árbol); Palabras, la voz de las mujeres indígenas (Edit Hudson, 2020). Incluida en la colección Juan Gelman de poesía argentina del Ministerio de la Nación. Ocho Centurias (Univ de Salamanca 2018). Madrás (Chile, Mago, colección Raúl Zurita, 2019); Madrás en portugués (Edit. Labirinto, Lisboa; Madrás en francés París, ed. L´Hammartan, 2021)

 

ALFREDO FRESSIA (Montevideo, Uruguay, 1948) es poeta, traductor y docente. Enseñó letras francesas durante 44 años. Destituido de la enseñanza por la dictadura uruguaya se instaló en Sao Paulo, Brasil, donde reside desde 1976. Ha ejercido la crítica literaria en medios de Uruguay, Brasil y México. Su obra poética ha sido traducida al portugués, inglés, francés, rumano, italiano, turco, árabe y macedonio. Ha sido editor de la revista mexicana de poesía La Otra en su versión impresa. Dictó clases en Marshal University, WV, Ohio State University de Columbus, Fundación para las Letras Mexicanas, entre otras instituciones. Publica desde 1973. Sus poemarios más recientes son La mar en medio (Buenos Aires y Montevideo, 2017) y las antologías Clandestin (Harmattan, París, 2013, bilingüe), Susurro Sur (Valparaíso, México, 2016) y Radici del Paradiso (Fili d’Aquilone, Roma, 2018, bilingüe). En 2019 publicó en Buenos Aires su libro de memorias Sobre roca resbaladiza, reeditado en Montevideo en 2020. Recibió varias distinciones (Premio Nacional de Poesía, Premio Bartolomé Hidalgo, Premio Morosoli a la trayectoria, entre otros). En 2018 la Alcaldía montevideana le otorgó el título de “Ciudadano ilustre” de su ciudad natal.

 

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 1 | JORGE BOCCANERA

 

EL ALTILLO

 

Casi a nueve peldaños de la muerte

bajo una luz difusa

te desvistes.

Esto no es la cubierta del Kabanos,

esto no se parece al paraíso,

es tan solo un altillo.

 

Aquí tus pechos vuelan,

tu cintura golpea entre mis brazos

y la humedad es una amiga,

mirando con ojos agrietados

un desorden de piernas.

 

Esto no es

la suite especial del Plaza Hotel,

ni una alfombra roja donde rodar a gusto,

es tan sólo un altillo.

 

Aquí tu pelo emerge de la noche

y es bandera de mimbre,

aquí una vieja cama pide a gritos

¡Socorro!

Aquí no hay vencedores ni vencidos

 

Afuera,

no muy lejos

la estrella herida de la tarde

rueda como un gato sin fuerzas

sobre el techo del mundo.

 

Aquí,

casi a nueve peldaños de la muerte,

tus ojos encuentran a los míos

y no tenemos tiempo siquiera a despertar.

 

 

OLAS

 

Tu corazón es una taza diminuta,

y es la única taza que precisa dos bocas,

y es la única boca que no se vuelca nunca.

Enormes olas,

locomotoras de agua se desploman cerca de tus

labios de Grecia.

Pero esto es Isla Negra y enfundada que vas

en un abrigo hecho para otro cuerpo,

hecho para otro clima.

Pero siempre en tus ojos brillando una tacita.

 

Hay un hombre encerrado en los papeles de la noche.

Sus vagabundos quieren levantar esa taza,

como los deportistas a sus copas doradas.

 

CINTAS

 

A mi madre, María Agustina

 

Aros para bordar, un costurero, toda

la vida un hilo. Enhebra olores en la cocina, zurce

palabras desgarradas.

Su nostalgia es de lino.

 

Nunca se nace, siempre

vamos cosidos a una madre:

Y calados, botones, bastidores, vivos para

la orilla de la lengua y encajes en la risa.

 

Junto a la rosa triste del alfiletero:

mi madre.

 

El camino lo alumbran las hebras de una estrella,

un viento de algodón, resplandor de abalorios.

 

Y en cada cosa que levantó el mundo,

la aguja y el dedal.

 

POSTALES DE GRECIA

 

A mi primo Costas Hisichos, ex diputado

y ex viceministro de Defensa de Grecia

 


I

La leyenda oriental del Hilo Rojo habla de destinos enlazados que se cumplen por sobre los tiempos y las geografías; de modo que esa hebra puede ajarse, tensarse, adelgazarse hasta ser una hilacha, pero nunca romperse. Más que un hilo rojo me ata a Grecia un cordón umbilical; el de mi madre María Agustina, y mi abuelo Alejandro Hisijos, nacido en la isla de Samos, que llegó como emigrante a Argentina a inicios del siglo XX con sus hermanos Heraclio y Jacobo.

Aunque me crie con mis abuelos paternos italianos, también emigrantes, el mundo helénico siempre estuvo presente, más allá de compartir el mismo nombre de mi abuelo samiense –“Alejandro”- y de familiares apellidados Sarantidis, Moraitis, Julys, Kalasakis, Pentakys, porque fue resonando en mis sentidos desde la infancia una cultura popular expresada en las numerosas anécdotas familiares, los sonidos, los sabores, las danzas griegas y la música de su lengua; vale decir todas aquellas actividades de una comunidad helénica que en Argentina se mantuvo unida a través de rasgos solidarios.

 

II

Suelo decir que quien nace en un puerto, lleva por siempre el viaje puesto. Nací en un puerto del Atlántico que alguna vez se llamó Puerto de la Esperanza, en la ciudad de Bahía Blanca, al sur de la provincia de Buenos Aires, y mi vida y mi escritura están marcados por el tránsito. Incluso algún crítico señaló que mi poesía tenía la respiración de los viajes. De modo voluntario o deb n ido al destierro político, el desplazamiento territorial ha sido una marca de mis días desde los veinte años. Podría decirse que llevo el viaje en la sangre, en los ojos, en el caminar, en la curiosidad por realidades diferentes. Un maestro mío, el poeta guatemalteco Luis Cardoza y Aragón dijo en consonancia con conceptos de Costantino Kavafis: “navegar me fascina, no la llegada a puerto alguno”.

Y aquí encuentro otro enlace esencial con Grecia; el tema del viaje: uno de los ejes de su historia, su mitología, su literatura y su arte en general, rubricado en esa Itaca que al mismo tiempo que es tierra firme, se desplaza junto a nuestros sueños, utopías, quimeras.

Vuelvo al puerto donde nací -en una época fue quizá el de mayor calado del cono sur americano-, repleto de barcos enormes vistos desde mi infancia. Subo las escalerillas de un enorme buque de bandera griega al que muchos llamaban “el Kavanos” y Lefteris, oficial de la tripulación y amigo de mi tío abuelo Eraclio, me acompaña en una recorrida por cubierta sin advertir que con ese gesto afectuoso está abriéndole las puertas a la aventura a un niño de apenas ocho años. Precisamente, entre las primeras palabras que conocí del idioma griego se me grabaron estas dos: KaloTaxidi.

 

III

Más allá de mi numerosa familia griega, los marineros y personajes diversos -como “Micho”, dueño del restaurante griego más concurrido del puerto durante cuarenta y cinco años, quien solía recordar su amistad en los años 20 en el barrio de La Boca de Buenos Aires, con el joven Aristóteles Onasis-, figura entre mis lecturas e influencias, la literatura griega. Y además de su narrativa clásica, cobran espesor aquellas obras poéticas con las que fui dialogando a través del tiempo. Me refiero a libros de Kavafis, Elytis, Seferis, Ritsos, Vretakos, Varvitsiotis y autores posteriores.

Sobre todo me atrajo la poesía de Yanis Ritsos, quizá por su lenguaje coloquial y su veta humanista. La suerte quiso que hacia 1980 desde México, donde viví exiliado, pudiera intercambiar un par de cartas con el gran escritor griego. Fue por intermedio de un tío que solía cruzárselo a Ritsos en Samos, donde el poeta pasó algunas vacaciones. Más tarde, en el 2000, dirigiendo una colección de poesía en Argentina, edité una antología de poetas griegos -Ritsos incluido- realizada por el escritor argentino Horacio Castillo. A Castillo lo había conocido un poco antes en forma casual (¿existe la casualidad?) y me interesó su propia poesía al punto de editarle una compilación suya; pero además debo decir que me impactó su amor por Grecia expresado, entre otras cosas, en un exhaustivo trabajo como traductor de poesía griega; labor que quedó reflejada en una decena de antologías; en especial una muy abarcadora, Poesía griega moderna, que va de Kavafis a Vanglis Kassos nacido casi un siglo después.

 

IV

Como dije, me atan muchos hilos con Grecia. Por ello no dejo de indagar en su historia pasada y contemporánea. En ese sentido en mi adolescencia, interesado por temas políticos, viví como propio el terrible golpe de la Junta de los Coroneles de 1967, y en 1973 la matanza de estudiantes del Politécnico, que con algunas semejanzas se replicaría en Argentina en 1976 con la toma del poder por parte de los militares, que dejó un lamentable saldo de treinta mil desaparecidos, miles de presos y otro tanto de exiliados. Entre esos desaparecidos figuran muchos griegos sobre los que aún se desconoce su suerte. Recuerdo en los años anteriores a esa asonada castrense de Argentina, haber estado consustanciado tanto de la realidad chilena -y el gobierno de Unidad Popular derribado por el general Pinoche mediante un golpe sangriento en 1973- como también de la coyuntura griega. Justamente ese año, el talentoso Mikis Theodorakys presentó en Buenos Aires la obra Canto General sobre textos del poeta chileno y Premio Nobel, Pablo Neruda. Otro hito de ese tiempo fue la exhibición de la película Z que narraba el asesinato de Grgoris Lambrakis por los militares fascistas, dirigida por Costa Gavras, quien años después denunciaría a la dictadura chilena con film Desaparecido.

Como alguien que desde siempre bregó, como tantos en mi país, por el respeto a los derechos humanos y una justicia más nivelada, también el hilo rojo de la leyenda con la que di inicio a estas notas me lleva a esos inmigrantes griegos que llegaron sólo con su esperanza, a los dirigentes obreros griegos reprimidos en diversas partes del país, a los cientos de obreros griegos que laboraban en los talleres ferroviarios de Remedios de Escalada -muy cerca de mi casa cuando me instalé con mi familia en el conurbano de la provincia de Buenos Aires-, y a tantos hombres y mujeres, griegos anónimos hermanados por el gesto solidario que brega por un mundo mejor. Sabiendo que, como escribió Yanis Ritsos, en la vida se alternan los momentos duros en los que debemos hacer de una piedra, una almohada, con aquellos momentos de dicha con un pez de oro nadando en nuestro pecho.

 

2 | ÁNGELA GENTILE

 

DANZA

 

El poeta dijo:

 —En la otra orilla hay fiesta.

 

Sus manos orientaron el viaje y su lengua la palabra.

Las naves seguían las estrellas junto al aliento de los remeros.

 

El poeta repitió:

 —Me esperan.

 y danzó en la noche.

Su cuerpo giró hacia Oriente y su rostro miró por última vez Occidente.

Lejos, las piras encendidas y los becerros sagrados, anunciaban lo eterno.

 

 

LUEGO DE TROYA

 

Cuando el poder les mostró sus abalorios,

los hombres regresaron desde la ciudad arrasada.

Olvidaron que la justicia no sopla sobre los ojos de los muertos

y el destino de todos es la Nada.

Allí, algunos marinos leyeron el cielo y navegaron por calles de agua.

Bebieron estrellas en fuentes troyanas lejos de las Cícladas,

y soñaron Sunión, donde naufragaron las naves aqueas.

Entonces, el rey de los hombres, siguió hacia su destino: Micenas.

 

 

CANTOS DE LAS LAVANDERAS NOCTURNAS

 

Hacia el oeste, Céfiro sopla sobre los lavaderos

donde nuestras jóvenes manos noche a noche sepultan la luna.

Aquí aguardamos las naves que temen el mar de negra obsidiana,

mientras navegaban junto a Euro, el funesto viento del Este.

Debemos lavar nombres, escudos y velar las sandalias de los héroes,

libando el agua sagrada de abril en nuestras manos.

Peregrinamos la arena de los cataclismos.

 Y cantamos.

 

 

LAERTES

 

He aquí un anciano.

La vejez que contemplas también habita en tu mirada.

Todos llevamos dentro algo profano:

un traficante de vinos y aceites, un perseguidor de gloria,

un desterrado de lo sagrado.

Soñé ruiseñores y un verano bajo los árboles.

Perseguí los pasos de Amor sin ser sorprendido y fui padre del más astuto de los

hombres.

 

 

LO SGUARDO DI DEMETRA

 

I

Dietro il cielo

c’ è l’ occhio dell’ uomo.

Sguardo deserto degli dei.

 Veglia.

 

II

Un uomo attraversa il giorno,

dietro l´ombra della vita.

Davanti soltanto il Desiderio.

 

III

Spogliarsi.

Io percorro la notte

cercando ingiallite fotografie.

 

IV

Non scorre l’ acqua nè la notte.

I cuori non battono piú.

Il vento è la misura degli uccelli.

 

V

Mai ho sentito vicino il mare,

l’ angoscia dell’ immensità,

l’ abitudine di calpestare gli autunni.

 

 

SABORES

 

El sabor de su cocina huele a todo el “Mare Nostrum”, a ánforas vertiendo aceite de oliva, a cráteras de vino, a legumbres y pescados. Los bizantinos les dejaron la forma de comer y sentir; pero los griegos les fueron dando el alma a los sabores; y es así que los productos frescos invaden los ambientes con el aroma de los limones, con los platos más templados que calientes, con los quesos como el feta, el kefalotyri, el kasseri y mizithra. Todos los ingredientes nos hablan de antiquísimas recetas como trahanas, skordalia, sopa de lentejas, retsina, pasteli. Alejandro Magno, al extender los territorios, contribuyó a la difusión de los sabores; también estos motivaron a Arquestrato a escribir un poema humorístico didáctico. “Hedypatheia” (La vida de lujo), donde aconseja a un lector gastronómico la mejor comida del mundo. Grecia se traduce en sabores.

 

ANNA KRITILAKIS, LOS SABORES DE GRECIA

 


Los campos griegos sembrados de olivos, de limoneros y de hortalizas, viajaron en el corazón de Anna Kitrilakis desde la mítica isla de Chios. Ana representaba el temple de los que –escapando de la guerra y habiendo sufrido hambre y enfermedades– se alzaron para reunir a todos en torno de su magistral mesa. Atrás quedaba la muerte, a mano de los nazis, de su hermano Giorgos, de sólo 14 años, simplemente por pedir comida. Esta mujer de baja estatura pero de gigante fortaleza cargó a sus espaldas la depresión de su madre Déspina Theodorakis y la vida de sus pequeños hermanos: Ángela, Giorgos y Tzeni. Se podría hablar de las manos maravillosas de Ana en la cocina; pero a su persona también la envuelve un halo de heroísmo como al dios Hermes. Ella colaboró llevando información a su tío que era parte de la resistencia; y fueron sus pequeñas huellas las que transitaron la tierra helena con los mensajes provistos por su padre Hércules (Hrakli), por amar aquello que los griegos sostuvieron desde siglos: La Libertad. Estos ejemplos de patriotismo son parte de un pueblo anónimo, patrimonio y orgullo en primera instancia de sus descendientes y de toda una comunidad. En las brumas del Egeo se perdía por el año 1944 un barco que transportaba griegos hacia un campo de refugiados creado por los ingleses en la isla de Chipre. Allí, Ana enfrentó la muerte y como gran luchadora superó la operación de un tumor craneal. De regreso a su amada tierra abandonó los estudios elementales; pero como los amados de los dioses reciben dones, ella al igual que la antigua reina feacia Areté, o la eterna Atenea, aprendió a bordar y a vender en los mercados su arte. La vida de Ana se mimetiza con la gran epopeya griega, con esas figuras rebeldes y nobles que sustentaron la historia de la cuna de la civilización occidental. En el año 1959 vendió sus ca-63 bellos y juntó sus ahorros, y partió hacia Argentina. Es en esta tierra donde finalizó su instrucción gracias al esfuerzo de aprender a leer y escribir en español de manera autodidacta, leyendo las revistas en el quiosco de su tío. Ana y la vida pudieron encontrar un equilibrio, la nostalgia siguió en el recuerdo; pero aquí conoció a Celestino Gronchi y tuvo a sus hijos Sergio, Marcelo y Elisabeth. Ana, portadora de los sabores de Grecia, fue digna embajadora de la gran gastronomía helena.

 

 

3 | ALFREDO FRESSIA

 

LOS PERSAS

 

Según Herodoto, la armada de Jerjes

ya había dejado Sardes camino a Salamina,

cuando el sol empezó a abandonar su lugar en el cielo

y a desaparecer. El día, sereno y sin la sombra de una nube,

se fue transformando en noche. El sol

tomaba el color del zafiro y, al mirarse entre sí,

los hombres se veían pálidos como muertos.

Todas las cosas parecían bañarse en un vapor oscuro.

El estupor y el espanto se apoderaron del corazón

de aquellos hombres jóvenes. Jerjes veía el prodigio,

lo siguió con atención y preguntó a sus magos

lo que significaba. El cielo, le respondieron,

anunciaba a los griegos la destrucción de sus ciudades

pues el sol, decían, es el astro profético de los griegos,

y la luna el de los persas. Jerjes, suspendido,

se encantó con la respuesta, alivió a sus hombres

con palabras confiantes y ¾no callará nunca

Herodoto¾ ordenó que retomasen la ruta.

 

Al morir lo comprendieron: morimos

de un eclipse, eternos como el zafiro,

y seguiremos el retorno de las lunas

mientras un Coreuta recite nuestros nombres.

Fue sólo para eso que vivimos.

 

Jerjes murió en palacio, asesinado por un traidor.              

 

 

PÍNDARO INTEMPESTIVO

 

Eclipse de Tebas, ¿vuelves otra vez del breve exilio

para apagar el sol de Montevideo? ¿Traes tú

el anuncio de otra guerra, la ruina

de nuestras cosechas, alguna innombrable tempestad de nieve

donde se oculte el temblor de los tiranos, o un desbordamiento

del mar que vendrá a vaciarse península adentro? ¿Será el hielo

sobre el descampado o un verano que los vientos del sur

harán derramarse en sudestadas furiosas?

¿Vas a inundar la tierra y expulsar a los hombres aterrados?

¿Nacerá entonces otra raza entre nosotros? ¿Y seremos otra vez

fantasmas sin bordes bajo la penumbra?

 

 

ÁYAX

 

Recuérdalo, llegar a buen puerto era ilusión,
tan feroz la hecatombe y tan mansas las bestias.
Llegar a algún puerto es obra de los hombres,
no llegar a ninguno es la única obra de los dioses.

 

 

DIARIO DE CAZA

 

Duró toda una noche. Navegamos

más allá de las columnas, lejos los bosques

donde ríe una diosa y las estrellas

sin memoria apuntaban al lunario. Yo les robo los pétalos

a las plantas carnívoras del jardín de las delicias.

Acecho sobre la escotilla, enhebro collares vegetales

para los tripulantes de efímeras gargantas. Mis dedos ágiles

siguen la línea sinuosa en el elzevir:

Estos son los ríos de Babilonia, se suben

en busca del olvido y vuelven siempre

soberbios como un planeta. A veces me detengo

en los jardines suspendidos del imperio, y ejercito

la muerte en mis últimos torneos de cetrería.

El Centauro me afiló los dientes y las uñas, tengo

la avidez de trece lunas llenas, y del viaje sólo recuerdo

unas cartas de navegación hundidas, una cacería

de altura y el canto de los marineros.

 

 

UN MUNDO COMPARTIDO

 


Mi estimada Agathi, editora de esta publicación, me pregunta sobre mis relaciones con Grecia, tanto la moderna como la clásica. Mi relación literaria con la Grecia moderna no es grande, pasa más bien por un grupo de poetas que, desde Kavafis, Seferis, Elýtis, han sido traducidos al español y nos han acompañado en nuestras lecturas desde hace años. Pero con relación al mundo helénico “clásico” la pregunta de Agathi tal vez podría ser invertida, a saber, interrogarse si existe alguien en el mundo occidental (Europa, las Américas, parte de África y de Asia) que no esté marcado y hasta constituido por la cultura griega. Creo que la respuesta sería negativa. Se trata efectivamente de una cultura que nos legó arquetipos, tropismos del alma, que van incluso más allá de la literatura. El “festín” de Homero, la “migas” recogidas por la tragedia, la democracia y sus límites, la filosofía, la arquitectura, todo esto va más allá de la literatura. Son los materiales de que están hechas nuestras almas, y digo esto desde el ‘Continente mestizo”, es decir, desde el Sur de América del Sur, donde también bebemos de riquísimas culturas precolombinas.

El otro día tuve la ocasión de escuchar “Los Suplicantes”, emitido desde Avignon por una radio francesa. Se trata de un texto que me acompaña desde mi juventud (como todas las tragedias de Esquilo), es decir, no tenía nada para mí de “novedad”. Y sin embargo, fui tomado por una emoción profunda, primigenia. Es evidente que el tema de los migrantes no podía ser más actual, y que yo mismo he sido un migrante, pero había algo más en la emoción que me llevó –otra vez, como cuando era joven- a las lágrimas. Ese “algo más” es la magia del mundo griego, capaz de dar forma a las pasiones humanas, y atravesar los siglos con una lozanía casi desconcertante. Y en el universo clásico podría decir lo mismo de la poesía lírica, y por supuesto, de la épica, la homérica, la que enseñé tantos años como profesor y a la que logro siempre descubrir aristas nuevas.

Para terminar, diría que mi carácter de mestizo cultural -porque puedo pasar de Hesíodo al Popol vuh, o de una mitología, la griega, a la otra, sea la inca, la maya, la azteca- me hace, y perdón por mi inmodestia, apreciar más aun el legado griego, la parte que la cultura helénica nos legó y por la que transito como si fuera la mía propia. Porque de hecho lo es, y la cultura de mi querida Agathi y de muchos de los que leen este testimonio es definitivamente universal.

 


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Número 176 | julho de 2021

Artista convidada: Susana Wald (Hungria, 1937)

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