• LA MIRADA SURREALISTA DE ANDRÉ COYNÉ
Dedicar este número de Agulha Revista de Cultura à memória de
André Coyné tem um molho peculiar, reconhecimento de um dos notáveis estudiosos
do Surrealismo, mas principalmente do imenso curador da obra do peruano César
Moro, reconhecimento por sua importância, mas também generosidade em relação a
mim mesmo. Nós nos conhecemos em uma manhã de 1996, convidados que fomos para
um evento de celebração do centenário de nascimento de seu xará, André Breton.
Rapidamente nos tornamos amigos, dois personagens – ele com 69 anos, 30 a mais
do que eu –, cuja afinidade maior era o respeito crítico que mantínhamos em
relação à cultura, em especial ao Surrealismo. O encontro se deu em São Paulo e
a curiosidade era que Coyné vinha ao Brasil pela segunda vez, sendo a primeira,
em 1957, ano de meu nascimento, quando esteve justamente em minha cidade,
Fortaleza, para inaugurar uma sucursal da Aliança Francesa.
Depois deste encontro em São Paulo nunca
mais nos vimos. Ainda não havia Internet, de modo que nossa correspondência foi
mantida pela determinação de que poderíamos nos ajudar, cada um a seu modo, no
avanço de nossos projetos culturais. Um dos primeiros planos foi o da
publicação da obra completa de César Moro pela coleção Archivos, da UNESCO.
Minha participação nele seria apenas a de um ensaio que Coyné me pediu. No
entanto, conversamos muito a respeito deste livro que acabou saindo após a sua
morte, tamanha a demora das instâncias burocráticas que, como ele sempre me
dizia, costumam retardar projetos coletivos.
Recordo que no início de 1999 chegou à
minha casa um imenso pacote contendo as mais de 1000 páginas do livro,
referentes apenas à reunião da obra de Moro, além de alguns ensaios. Dias
depois era a vez de uma carta dele, onde me dizia:
O
que recebeste de Poitiers é o corpus da Obra Poética de Moro.
Querem realizar com ela um tomo da coleção Archivos (patrocinada pela UNESCO)
de obras mestras do século XX. Até agora sacaram edições críticas de autores e
obras avulsas de latinos hispânicos. Há pouco saiu o primeiro brasileiro: Macunaíma. Essas obras requerem colaboradores
estudando aspectos de recepção, temática, estudo parcelar. O caso de Moro é
especial, pois grande parte do publicado será inédita e a maior parte dos
textos, como separata, em francês. Os comentários em espanhol. Cada estudo ou
ensaio máximo de 20 páginas de 25 linhas. Sou o coordenador do volume, depois
do que preparei o corpus. Pensei que poderíamos dar uma visão brasileira de
Moro, dentro do surrealismo americano ou uma reação pessoal a certos aspectos
da sua obra. Me poderias comunicar o teu tema em breve? Logo terias até junho
para completar o ensaio.
A rigor o tempo das realizações culturais
mais relevantes difere da medida usual das pulsações mais efêmeras. Ao longo de
meses André Coyné cuidou de me enviar uma série de ensaios seus sobre César
Moro, César Vallejo, Enrique Molina, Fernando Pessoa, quase todos eles
publicados em revistas acadêmicas. As fotocópias traziam uma surpreendente
singularidade: seu manuscrito nas margens e no verso de todos os ensaios, com
correções e ampliações de cada um. Aos poucos Coyné ia pondo em minhas mãos uma
fortuna extraordinária, em um gesto de confiança que ele sabia seria
correspondido por mim. Parte desse material eu o utilizo agora para compor a
edição de nossa revista. Seu complemento majoritário está em fase de preparação
e em breve será publicado na forma de livro.
Nossa amizade prosperou até o ano de sua
morte. Nos próximos meses a Sol Negro Edições publica, em edição bilíngue, a
minha tradução de La tortuga ecuestre,
de César Moro, livro que me foi justamente apresentado por ele. O poeta e
ensaísta André coyné (1927-2015) foi estudioso da obra
dos dois Césares da literatura peruana: Vallejo e Moro, tendo sido também
tradutor de Fernando Pessoa. Entre
seus livros, encontramos L’absence à habiter (1954), César
Vallejo y su obra (1957), Baudelaire o la vocación del poeta (1963), My
life en español (1966) o Sept toits du toi (1976). Para acompanhá-lo nesta edição da Agulha
Revista de Cultura temos a presença inestimável da poeta e artista Leila
Ferraz (1944), brasileira que, ao lado de Paulo César Paranaguá e Sérgio Lima,
foram os curadores da Exposição Internacional do Surrealismo, realizada em São
Paulo, em 1967. Esta série fotográfica que publicamos foi feita, nos últimos
meses, exclusivamente para nossa revista. Seu título é Simbiose Fusion – imagens fotográficas sobre o espetáculo de dança do
grupo Simbiose, cujo tema são os signos do zodíaco e suas interações. Como
nos esclarece a própria artista, as
imagens foram trabalhadas digitalmente uma a uma até a obtenção do resultado
final. Em algumas dessas imagens se faz presente o espírito – uma figura anamórfica tribal ligada às
forças astrológicas. A série foi criada entre outubro de 2018 e março de 2019.
Os Editores
• ÍNDICE
ANDRÉ COYNÉ |
Dos cartas a Floriano Martins
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2019/04/andre-coyne-duas-cartas-floriano-martins.html
ANDRÉ COYNÉ | César Moro entre Lima, París y México
ANDRÉ COYNÉ | César Moro: surrealismo y poesía
ANDRÉ COYNÉ | Dario, raro
ANDRÉ COYNÉ | La muerte de César Moro
ENRIQUE SÁNCHEZ HERNANI | Entrevista a André
Coyné sobre César Vallejo
ENRIQUE
SÁNCHEZ HERNANI | Los destapes de André Coyné
HELENA USANDIZAGA | A la partida de André Coyné
RODOLFO IBARRA | André Coyné, la recuperación de un diálogo
WALTER ESPINOZA | André Coyné recuerda
a su amigo íntimo César Moro
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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Leila
Ferraz (Brasil, 1944)
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 131 | Abril de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
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