segunda-feira, 1 de abril de 2019

Agulha Revista de Cultura # 131 | Abril de 2019



• LA MIRADA SURREALISTA DE ANDRÉ COYNÉ

Dedicar este número de Agulha Revista de Cultura à memória de André Coyné tem um molho peculiar, reconhecimento de um dos notáveis estudiosos do Surrealismo, mas principalmente do imenso curador da obra do peruano César Moro, reconhecimento por sua importância, mas também generosidade em relação a mim mesmo. Nós nos conhecemos em uma manhã de 1996, convidados que fomos para um evento de celebração do centenário de nascimento de seu xará, André Breton. Rapidamente nos tornamos amigos, dois personagens – ele com 69 anos, 30 a mais do que eu –, cuja afinidade maior era o respeito crítico que mantínhamos em relação à cultura, em especial ao Surrealismo. O encontro se deu em São Paulo e a curiosidade era que Coyné vinha ao Brasil pela segunda vez, sendo a primeira, em 1957, ano de meu nascimento, quando esteve justamente em minha cidade, Fortaleza, para inaugurar uma sucursal da Aliança Francesa.
Depois deste encontro em São Paulo nunca mais nos vimos. Ainda não havia Internet, de modo que nossa correspondência foi mantida pela determinação de que poderíamos nos ajudar, cada um a seu modo, no avanço de nossos projetos culturais. Um dos primeiros planos foi o da publicação da obra completa de César Moro pela coleção Archivos, da UNESCO. Minha participação nele seria apenas a de um ensaio que Coyné me pediu. No entanto, conversamos muito a respeito deste livro que acabou saindo após a sua morte, tamanha a demora das instâncias burocráticas que, como ele sempre me dizia, costumam retardar projetos coletivos.
Recordo que no início de 1999 chegou à minha casa um imenso pacote contendo as mais de 1000 páginas do livro, referentes apenas à reunião da obra de Moro, além de alguns ensaios. Dias depois era a vez de uma carta dele, onde me dizia:

O que recebeste de Poitiers é o corpus da Obra Poética de Moro. Querem realizar com ela um tomo da coleção Archivos (patrocinada pela UNESCO) de obras mestras do século XX. Até agora sacaram edições críticas de autores e obras avulsas de latinos hispânicos. Há pouco saiu o primeiro brasileiro: Macunaíma. Essas obras requerem colaboradores estudando aspectos de recepção, temática, estudo parcelar. O caso de Moro é especial, pois grande parte do publicado será inédita e a maior parte dos textos, como separata, em francês. Os comentários em espanhol. Cada estudo ou ensaio máximo de 20 páginas de 25 linhas. Sou o coordenador do volume, depois do que preparei o corpus. Pensei que poderíamos dar uma visão brasileira de Moro, dentro do surrealismo americano ou uma reação pessoal a certos aspectos da sua obra. Me poderias comunicar o teu tema em breve? Logo terias até junho para completar o ensaio.

A rigor o tempo das realizações culturais mais relevantes difere da medida usual das pulsações mais efêmeras. Ao longo de meses André Coyné cuidou de me enviar uma série de ensaios seus sobre César Moro, César Vallejo, Enrique Molina, Fernando Pessoa, quase todos eles publicados em revistas acadêmicas. As fotocópias traziam uma surpreendente singularidade: seu manuscrito nas margens e no verso de todos os ensaios, com correções e ampliações de cada um. Aos poucos Coyné ia pondo em minhas mãos uma fortuna extraordinária, em um gesto de confiança que ele sabia seria correspondido por mim. Parte desse material eu o utilizo agora para compor a edição de nossa revista. Seu complemento majoritário está em fase de preparação e em breve será publicado na forma de livro.
Nossa amizade prosperou até o ano de sua morte. Nos próximos meses a Sol Negro Edições publica, em edição bilíngue, a minha tradução de La tortuga ecuestre, de César Moro, livro que me foi justamente apresentado por ele. O poeta e ensaísta André coyné (1927-2015) foi estudioso da obra dos dois Césares da literatura peruana: Vallejo e Moro, tendo sido também tradutor de Fernando Pessoa. Entre seus livros, encontramos L’absence à habiter (1954), César Vallejo y su obra (1957), Baudelaire o la vocación del poeta (1963), My life en español (1966) o Sept toits du toi (1976). Para acompanhá-lo nesta edição da Agulha Revista de Cultura temos a presença inestimável da poeta e artista Leila Ferraz (1944), brasileira que, ao lado de Paulo César Paranaguá e Sérgio Lima, foram os curadores da Exposição Internacional do Surrealismo, realizada em São Paulo, em 1967. Esta série fotográfica que publicamos foi feita, nos últimos meses, exclusivamente para nossa revista. Seu título é Simbiose Fusion – imagens fotográficas sobre o espetáculo de dança do grupo Simbiose, cujo tema são os signos do zodíaco e suas interações. Como nos esclarece a própria artista, as imagens foram trabalhadas digitalmente uma a uma até a obtenção do resultado final. Em algumas dessas imagens se faz presente o espírito – uma figura anamórfica tribal ligada às forças astrológicas. A série foi criada entre outubro de 2018 e março de 2019.
  
Os Editores


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• ÍNDICE


ANDRÉ COYNÉ | Dos cartas a Floriano Martins

ANDRÉ COYNÉ | César Moro entre Lima, París y México

ANDRÉ COYNÉ | César Moro: surrealismo y poesía

ANDRÉ COYNÉ | Dario, raro

ANDRÉ COYNÉ | La muerte de César Moro

ENRIQUE SÁNCHEZ HERNANI | Entrevista a André Coyné sobre César Vallejo

ENRIQUE SÁNCHEZ HERNANI | Los destapes de André Coyné

HELENA USANDIZAGA | A la partida de André Coyné

RODOLFO IBARRA | André Coyné, la recuperación de un diálogo

WALTER ESPINOZA | André Coyné recuerda a su amigo íntimo César Moro



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Leila Ferraz

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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Leila Ferraz (Brasil, 1944)


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 131 | Abril de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019




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