• ANDRÉ BRETON, 1
Ao dizer que a criação deve brotar alheia a
toda preocupação estética ou moral, André Breton (1896-1966) deixou ao sol a má
interpretação que seus acólitos acabaram por ver no Surrealismo uma ausência de
moral e estética. Os fundamentos do Surrealismo dizem respeito ao imperativo de
uma liberdade total na criação, o que inclui a não filiação alguma a quaisquer ordens.
No entanto havia uma ordem por trás dessa cortina, cuja raiz era a própria razão
de ser do movimento. Daí que o desafio maior de Breton tenha sido o de encontrar
um equilíbrio entre essa aparente dicotomia.
Em minhas conversas com a brasileira Leila
Ferraz (1944), que esteve em Paris ao final dos anos 1960, convivendo com alguns
integrantes do grupo surrealista, embora sem ter conhecido pessoalmente Breton,
ela
me disse que não se pode esquecer que Breton
continha um conhecimento extraordinário. Introduziu no pensamento moderno, na arte
e na poesia não apenas o seu genial trabalho, mas uma condição capaz de abrir para
o universo artístico e pensante do início do século passado em diante uma ampla
gama de mentes afins. Recolheu as preciosidades de todos os tempos e de centenas
de culturas trançando uma forma e uma lógica, um mais além do real. E felizes os
que perceberam a trajetória vinda à luz através de suas mãos. Se ele tinha um gênio
forte e dominador? Não poderia sê-lo de outra forma. Caso contrário, a arte jamais
teria tido a presença e o espaço que ganhou. Breton tinha um faro absoluto para
as sutilezas humanas.
A rigor, foi
uma figura admiravelmente controversa. Audacioso
em todos os seus momentos, de aceitação ou rejeição, André Breton foi exímio experimentador,
sendo vultosos seus exercícios em áreas como a colagem, o desenho, a fotografia,
os objetos encontrados, a escrita automática etc. Sua conhecida resistência ao romance
tem um argumento relevante: há certo estado do verdadeiro em que este é levado a tomar um
valor inapreciável, único, e para tanto exige a total depuração do supérfluo.
Essa depuração o levou a criar uma prosa poética que renovou o ambiente narrativo,
de que são exemplos livros como Nadja
(1928), Les vases communicants (1932)
e O amor louco (1937). Breton pôs em estado
de moto-perpétuo a mais expressiva e contundente revolução alcançada pela criação
artística no século XX, incessante mesmo diante de sua morte.
Ao lado Breton, como artista convidada, temos
Dorothea Tanning (Estados Unidos, 1910-2012),
pintora, escultora, gravadora, autora e poeta, cuja obra sempre foi um perene diálogo
com o surrealismo. Ela se tornou um membro do grupo em Nova York na década de 1940,
e foi casada com o surrealista Max Ernst por 30 anos. Tendo vivido 101 anos, o reconhecimento de sua obra só o encontrou
após a morte e os próprios surrealistas ficaram lhe devendo a percepção confessa
de sua grandeza. Como bem recorda Daisy Woodward, Dorothea Tanning recusou ser confinada
pelos rótulos. “Mulheres artistas. Não existe tal coisa – ou pessoa”, ela declarou
abertamente. Da mesma forma, sendo mais frequentemente categorizada sob o título
de “surrealista”, graças às imagens oníricas, paisagens fantásticas e acontecimentos
inexplicáveis que pontuam sua obra, mais tarde ela diria: “Eu ainda acredito no
esforço surrealista de sondar nosso subconsciente mais profundo. Para descobrir
sobre nós mesmos. Mas, por favor, não digam que estou carregando o banner surrealista.”
Desde já anunciamos, para a edição seguinte, um conjunto de 100 poemas de
André Breton, selecionado de 10 livros seus, em tradução de Davi Araújo, primeira
mostra tão ampla de sua poesia em língua portuguesa.
Os Editores
• ÍNDICE
ANDRÉ BRETON | El amor loco
ANDRÉS MORA | André Breton:
las defecciones surrealistas
BEGOÑA CAPLLONCH BUJOSA
| La noción de realidad como fundamento de la imagen poética analógica: un análisis
comparativo entre las poéticas de Ponge, Reverdy y Breton
CLAUDIO WILLER O Surrealismo – uma introdução
EMILIO BARÓN | André
Breton y Vicente Huidobro: Las poéticas surrealista y creacionista
JAIME MORENO VILLARREAL | André
Breton: el lugar y la fórmula
JAVIER CUEVAS DEL BARRIO
| El posicionamiento de Sigmund Freud ante el Surrealismo a través de su correspondencia con André Breton
MARÍA DOLORES ADSUAR
FERNÁNDEZ | Nadja encendía las lámparas
MARIAN PANCHÓN HIDALGO
| André Breton bajo la dictadura franquista: censura institucional y traducción
de Entretiens
NOELIA DENISE DUNAN, JOSÉ TAUREL XIFRA
| Bajo materialismo y surrealismo El debate Bataille-Breton
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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Dorothea
Tanning (Estados Unidos, 1910-2012)
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 135 | Junho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
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