sábado, 22 de junho de 2019

Agulha Revista de Cultura # 137 | Julho de 2019


• O OLHAR SURREALISTA DE BENJAMIN PÉRET

Ao apresentar Benjamin Péret (França, 1899-1959) em sua Anthologie de l’humor noir (1939), André Breton destaca seu desprendimento a toda prova, situando que antes dele nunca as palavras, e o que elas designam, de uma vez por todas escapadas da domesticação, haviam manifestado tal liberdade. É possível – assim o entendo – que Benjamin Péret e Aimé Césaire (Martinica, 1913-2008) tenha sido os dois mais autênticos mananciais – na extensão do idioma francês – no que diz respeito ao uso das associações livres que caracterizam a escritura automática. Péret soube lidar com a tormenta da criação, com essa voltagem tempestiva de seu talento criativo, de modo não a domesticá-la, mas sim que alcançar um equilíbrio natural entre fúria e quietude. A fluidez de suas imagens poéticas é sempre entranhável, revolvendo as raízes da linguagem, ao ponto de fazê-la falar uma língua selvagem e reveladora.
A presente edição, no entanto, trata menos da poética do que da política, isto considerando, sobretudo, sua dupla estada no Brasil. Aqui está reunida uma relevante documentação para a compreensão das relações estabelecidas pelo próprio Péret entre Surrealismo e Comunismo, por exemplo. Este material também nos ajudar a compreender qual o comportamento de muitos intelectuais brasileiros que o acompanharam durante o período em que viveu entre nós, ele, Péret, que foi o único poeta surrealista a viver no Brasil. A interferência política no ambiente literário é outro aspecto esclarecedor da impossibilidade de uma relação mais íntima entre Surrealismo e Modernismo brasileiro. E graças ao poeta francês, aprendemos um pouco acerca de nossa negritude e do mundo dos espíritos.
Em um dos ensaios desta edição, Jean Puyade surpreende a muitos ao revelar que Péret não hesitará, em 1944, em propor ao mesmo Breton o abandono da sigla surrealismo, tal seu temor de que o conservantismo dos epígonos desfigurasse e fossilizasse o movimento. Ao final recolhemos uma entrevista que Péret concedeu a Stefan Baciu, publicada no jornal Tribuna das Letras em junho de 1955. A seu lado temos a presença de um notável criador e intelectual mexicano, atuante em diversas áreas e que aqui comparece como artista convidado.
José Ángel Leyva (México, 1958) é um desses personagens cada dia mais raros que transitam em todas as linhas e cenários da cultura, seja como poeta, narrador, editor de revistas e livros, agitador cultural dos mais intensos em seu país. O poeta tem já uma obra consistente e renovadora no ambiente lírico mexicano. Apaixonado pela preparação de livros e revistas, essa espécie de magia de transmissão de conhecimento, Ángel Leyva conta em seu currículo com experiências à frente de editoras acadêmicas e a iniciativa própria que o levou a fundar várias revistas e sua própria editora. Dentre as revistas, a mais recente, La Otra, é um relevante painel da poesia, especialmente da lírica hispano-americana. Ángel Leyva, graças a uma inquietude que lhe afirma o espírito, é também fotógrafo. Sua fotografia, cuja trajetória estética se inicia com um olhar fascinado pela paisagem, mais recentemente mergulha em uma intensa relação com figurativismo e a pele urbana dos muros da cidade, os grafites. Desta fase atual escolhemos uma série de fotos para apresentar a público. As imagens revelam não apenas o olhar atento do fotógrafo na escolha de seus personagens, como também elas nos convidam a conhecer a capital mexicana e a magia inestimável de seus grafites, o modo como a cidade cuida bem de sua pele urbana.



• ÍNDICE

ANTÓNIO CÁNDIDO FRANCO | Brasílica de Benjamin Péret

CARLOS M. LUIS | Benjamin Péret o el mundo al revés

CLAUDE COURTOT | Benjamin Péret (1899-1959)

DAINIS KAREPOVS | Benjamin Péret: um audacioso indesejado

EMERSON GIUMBELLI | Macumba surrealista: observações de Benjamin Péret em terreiros cariocas nos anos 1930

HELENA BADELL GIRALT, GISPERT GARRETA | Benjamin Péret & Jordi de Sant Jordi: une rencontre marginale

JEAN PUYADE | Benjamin Péret: um surrealista no Brasil (1929-1931)

NILO PALENZUELA | Entre viejo y nuevo mundo: André Breton, Benjamín Péret y Gaceta de Arte

ROBERT PONGE | Imagens do Brasil, nos anos de 1955-1956, na visão do poeta surrealista e viajante francês Benjamin Péret

STEFAN BACIU | Entrevistando a Benjamín Péret



José Ángel Leyva


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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: José Ángel Leyva (México, 1958)


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 137 | Julho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019



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