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O OLHAR SURREALISTA DE BENJAMIN PÉRET
Ao
apresentar Benjamin Péret (França, 1899-1959) em sua Anthologie de l’humor noir
(1939), André Breton destaca seu desprendimento a toda prova, situando que
antes dele nunca as palavras, e o que elas designam, de uma vez por todas
escapadas da domesticação, haviam manifestado tal liberdade. É possível – assim
o entendo – que Benjamin Péret e Aimé Césaire (Martinica, 1913-2008) tenha sido
os dois mais autênticos mananciais – na extensão do idioma francês – no que diz
respeito ao uso das associações livres que caracterizam a escritura automática.
Péret soube lidar com a tormenta da criação, com essa voltagem tempestiva de
seu talento criativo, de modo não a domesticá-la, mas sim que alcançar um
equilíbrio natural entre fúria e quietude. A fluidez de suas imagens poéticas é
sempre entranhável, revolvendo as raízes da linguagem, ao ponto de fazê-la
falar uma língua selvagem e reveladora.
A presente edição, no entanto, trata
menos da poética do que da política, isto considerando, sobretudo, sua dupla
estada no Brasil. Aqui está reunida uma relevante documentação para a
compreensão das relações estabelecidas pelo próprio Péret entre Surrealismo e
Comunismo, por exemplo. Este material também nos ajudar a compreender qual o
comportamento de muitos intelectuais brasileiros que o acompanharam durante o
período em que viveu entre nós, ele, Péret, que foi o único poeta surrealista a
viver no Brasil. A interferência política no ambiente literário é outro aspecto
esclarecedor da impossibilidade de uma relação mais íntima entre Surrealismo e
Modernismo brasileiro. E graças ao poeta francês, aprendemos um pouco acerca de
nossa negritude e do mundo dos espíritos.
Em um dos ensaios desta edição, Jean
Puyade surpreende a muitos ao revelar que Péret não hesitará, em 1944, em
propor ao mesmo Breton o abandono da sigla surrealismo, tal seu temor de que o
conservantismo dos epígonos desfigurasse e fossilizasse o movimento. Ao final
recolhemos uma entrevista que Péret concedeu a Stefan Baciu, publicada no
jornal Tribuna das Letras em junho de 1955. A seu lado temos a presença de um
notável criador e intelectual mexicano, atuante em diversas áreas e que aqui
comparece como artista convidado.
José Ángel Leyva (México, 1958) é um
desses personagens cada dia mais raros que transitam em todas as linhas e
cenários da cultura, seja como poeta, narrador, editor de revistas e livros,
agitador cultural dos mais intensos em seu país. O poeta tem já uma obra
consistente e renovadora no ambiente lírico mexicano. Apaixonado pela
preparação de livros e revistas, essa espécie de magia de transmissão de
conhecimento, Ángel Leyva conta em seu currículo com experiências à frente de
editoras acadêmicas e a iniciativa própria que o levou a fundar várias revistas
e sua própria editora. Dentre as revistas, a mais recente, La Otra, é um
relevante painel da poesia, especialmente da lírica hispano-americana. Ángel
Leyva, graças a uma inquietude que lhe afirma o espírito, é também fotógrafo.
Sua fotografia, cuja trajetória estética se inicia com um olhar fascinado pela
paisagem, mais recentemente mergulha em uma intensa relação com figurativismo e
a pele urbana dos muros da cidade, os grafites. Desta fase atual escolhemos uma
série de fotos para apresentar a público. As imagens revelam não apenas o olhar
atento do fotógrafo na escolha de seus personagens, como também elas nos
convidam a conhecer a capital mexicana e a magia inestimável de seus grafites,
o modo como a cidade cuida bem de sua pele urbana.
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ÍNDICE
ANTÓNIO CÁNDIDO
FRANCO | Brasílica de Benjamin Péret
CARLOS
M. LUIS | Benjamin Péret o el mundo al revés
CLAUDE
COURTOT | Benjamin Péret (1899-1959)
DAINIS KAREPOVS | Benjamin Péret: um audacioso indesejado
EMERSON GIUMBELLI | Macumba surrealista: observações de Benjamin Péret
em terreiros cariocas nos anos 1930
HELENA BADELL GIRALT, GISPERT GARRETA | Benjamin
Péret & Jordi de Sant Jordi: une rencontre marginale
JEAN PUYADE | Benjamin Péret: um surrealista no Brasil (1929-1931)
NILO PALENZUELA | Entre viejo y nuevo mundo: André
Breton, Benjamín Péret y Gaceta de Arte
ROBERT PONGE | Imagens do Brasil, nos anos de 1955-1956, na visão do
poeta surrealista e viajante francês Benjamin Péret
STEFAN BACIU | Entrevistando a Benjamín Péret
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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: José Ángel
Leyva (México, 1958)
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 137 | Julho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
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