• ANDRÉ BRETON, 2
A poesia completa de André Breton (França, 1896-1966) se encontra
publicada apenas em francês. A princípio se supõe que a razão seja a dificuldade
de se negociar seus direitos autorais com a Gallimard. Porém não deixa de ser interessante
observar a perspectiva de uma resposta à rejeição que Breton sempre alardeou a qualquer
outro idioma que não o seu.
Também carecemos de estudos críticos sobre
esta poesia, suas origens e modelos, ousadias e encontros essenciais. Neste caso,
se pode dizer que o poeta André Breton foi quase que integralmente absorvido pelas
teorias do Surrealismo e suas polêmicas. Igualmente a prosa poética ou narrativa
mágica – em livros como Nadja (1928),
Os vasos comunicantes (1932), O amor louco (1937) e Arcano 17 (1944) – foi mais repercussiva
da poética de Breton do que o conjunto de seus poemas.
Mesmo na França, muitos de seus livros só foram publicados de primeira mão quando da edição de suas Obras completas, ou seja, sua vasta produção poética teve parte muito significativa que permaneceu inédita até 1988, quando a Gallimard publica Oeuvres Complètes.
Mesmo na França, muitos de seus livros só foram publicados de primeira mão quando da edição de suas Obras completas, ou seja, sua vasta produção poética teve parte muito significativa que permaneceu inédita até 1988, quando a Gallimard publica Oeuvres Complètes.
A despeito das consideráveis oscilações, o
que é natural em todo poeta, ainda mais no caso de Breton, pelos riscos provocados
pelas associações livres e a imaginação insaciável, em sua poesia encontramos uma
altíssima voltagem poética, que joga, sobretudo, com quatro imensas fontes: Lautréamont,
Novalis, Rimbaud e Reverdy. Recursos como reconfiguração léxica, analogia, imagens
híbridas, fagulhas reveladoras de uma tradição mágica, assim como – no dizer de
Xoán Abeleira, ao traduzir e prefaciar Pleamargen.
Poesía 1940-1948 – a elipse, unida quase
sempre ao deslocamento e/ou à ambivalência sintática.
Sobre o tratamento visceral que dava à imagem,
o próprio Breton observa que a mais forte
é aquela que apresenta o grau de arbitrariedade mais alto. Brindamos a memória
do poeta surrealista, apresentando pela primeira vez em toda extensão da língua
portuguesa, uma generosa mostra de 100 poemas seus, na seleção e tradução do brasileiro
Davi Araújo (São Paulo, 1979). Poeta,
ficcionista e tradutor. Autor do poemário Livro
Ruído (Eucleia, 2011), publicado em Portugal, e das prosas em Ficções paralelas e Visões para lê-las (Substânsia,
2016; com desenhos de Yuli Yamagata), traduziu Natureza, de R. W. Emerson, e Caminhada,
de H. D. Thoreau (Dracaena, 2011). Esta seleção para a Agulha Revista de Cultura é parte da sua tradução dos poemas completos
de André Breton; outras traduções suas estão reunidas em Do silêncio ao céu (inédito). Lança este ano, pela Urutau, seu próximo
livro de poemas: O físsil.
Ao lado de Breton, temos nesta edição a presença
de Amirah Gazel (Costa Rica, 1964), artista plástica e imensa produtora cultural.
O conjunto dessas 46 colagens que aqui apresentamos foi preparado exclusivamente
para nossa revista. Segundo seu parceiro em muitas atividades, Alfonso
Peña, as composições sobre telas, instalações
com manequins, desenhos e serigrafias, arte objetual, colagens e os poemas visuais,
são os diálogos que Amirah Gazel mantém com seus congêneres e os espectadores de
suas propostas ousadas. Sua atuação está configura por uma linguagem simbólica e
musical, onde domina a abstração, os códigos geométricos e certas grafias figurativas;
eles – febril imaginação – percorrem e harmonizam uma realidade surpreendente e
feiticeira. Ramificações transbordantes deslizam pela tela em branco e formam cavidades,
semicírculos, linhas, entrelinhas, canais, sóis acústicos, luas desvaídas, brocados,
gretas luminescentes, orelhas vibráteis, corações púrpuras. O grafite ondulante
flui entre volumes como uma insinuação de traços emocionais e anímicos. No projeto
de Amirah percebemos e vislumbramos entidades de outras dimensões, gemas alucinantes,
carbúnculos que se desdobram em microrganismos sépias e repletos de mistério. Não
escasseiam os elementos poéticos, as frases cotidianas, as vogais dançantes. Em
suma, a obra de Amirah Gazel é um bordado dinâmico e cromático, um grande trabalho, matéria viva, alquimia da imaginação.
Os Editores
• ÍNDICE
ANDRÉ BRETON 1919 MONTEPIO
ANDRÉ BRETON 1911–1919
ESPARSOS E INÉDITOS I
ANDRÉ BRETON 1923 CLARO DE TERRA
ANDRÉ BRETON 1920-1924 ESPARSOS E INÉDITOS II
ANDRÉ BRETON 1925-1930
INÉDITOS III
ANDRÉ BRETON 1932 O REVÓLVER EM PELO CANO
ANDRÉ BRETON 1931-1935 INÉDITOS IV
ANDRÉ BRETON 1936-1946 ESPARSOS E INÉDITOS V
ANDRÉ
BRETON 1948 OS ALFINETES TRÊMULOS |
XENÓFILOS | ESQUECIDOS
ANDRÉ BRETON 1959 CONSTELAÇÕES
*****
EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Amirah
Gazel (Costa Rica, 1964)
Poemas traduzidos por Davi Araújo (Brasil, 1979)
Poemas traduzidos por Davi Araújo (Brasil, 1979)
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 136 | Junho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
Ótimo texto de apresentação dos poemas de Bréton, floriano. mas não consigo abrir as numerosas colagens de Gazel. Peço auxílio.
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