sexta-feira, 14 de junho de 2019

Agulha Revista de Cultura # 136 | Junho de 2019


• ANDRÉ BRETON, 2

A poesia completa de André Breton (França, 1896-1966) se encontra publicada apenas em francês. A princípio se supõe que a razão seja a dificuldade de se negociar seus direitos autorais com a Gallimard. Porém não deixa de ser interessante observar a perspectiva de uma resposta à rejeição que Breton sempre alardeou a qualquer outro idioma que não o seu.
Também carecemos de estudos críticos sobre esta poesia, suas origens e modelos, ousadias e encontros essenciais. Neste caso, se pode dizer que o poeta André Breton foi quase que integralmente absorvido pelas teorias do Surrealismo e suas polêmicas. Igualmente a prosa poética ou narrativa mágica – em livros como Nadja (1928), Os vasos comunicantes (1932), O amor louco (1937) e Arcano 17 (1944) – foi mais repercussiva da poética de Breton do que o conjunto de seus poemas.
Mesmo na França, muitos de seus livros só foram publicados de primeira mão quando da edição de suas Obras completas, ou seja, sua vasta produção poética teve parte muito significativa que permaneceu inédita até 1988, quando a Gallimard publica Oeuvres Complètes.
A despeito das consideráveis oscilações, o que é natural em todo poeta, ainda mais no caso de Breton, pelos riscos provocados pelas associações livres e a imaginação insaciável, em sua poesia encontramos uma altíssima voltagem poética, que joga, sobretudo, com quatro imensas fontes: Lautréamont, Novalis, Rimbaud e Reverdy. Recursos como reconfiguração léxica, analogia, imagens híbridas, fagulhas reveladoras de uma tradição mágica, assim como – no dizer de Xoán Abeleira, ao traduzir e prefaciar Pleamargen. Poesía 1940-1948a elipse, unida quase sempre ao deslocamento e/ou à ambivalência sintática.
Sobre o tratamento visceral que dava à imagem, o próprio Breton observa que a mais forte é aquela que apresenta o grau de arbitrariedade mais alto. Brindamos a memória do poeta surrealista, apresentando pela primeira vez em toda extensão da língua portuguesa, uma generosa mostra de 100 poemas seus, na seleção e tradução do brasileiro Davi Araújo (São Paulo, 1979). Poeta, ficcionista e tradutor. Autor do poemário Livro Ruído (Eucleia, 2011), publicado em Portugal, e das prosas em Ficções paralelas e Visões para lê-las (Substânsia, 2016; com desenhos de Yuli Yamagata), traduziu Natureza, de R. W. Emerson, e Caminhada, de H. D. Thoreau (Dracaena, 2011). Esta seleção para a Agulha Revista de Cultura é parte da sua tradução dos poemas completos de André Breton; outras traduções suas estão reunidas em Do silêncio ao céu (inédito). Lança este ano, pela Urutau, seu próximo livro de poemas: O físsil.
Ao lado de Breton, temos nesta edição a presença de Amirah Gazel (Costa Rica, 1964), artista plástica e imensa produtora cultural. O conjunto dessas 46 colagens que aqui apresentamos foi preparado exclusivamente para nossa revista. Segundo seu parceiro em muitas atividades, Alfonso Peña, as composições sobre telas, instalações com manequins, desenhos e serigrafias, arte objetual, colagens e os poemas visuais, são os diálogos que Amirah Gazel mantém com seus congêneres e os espectadores de suas propostas ousadas. Sua atuação está configura por uma linguagem simbólica e musical, onde domina a abstração, os códigos geométricos e certas grafias figurativas; eles – febril imaginação – percorrem e harmonizam uma realidade surpreendente e feiticeira. Ramificações transbordantes deslizam pela tela em branco e formam cavidades, semicírculos, linhas, entrelinhas, canais, sóis acústicos, luas desvaídas, brocados, gretas luminescentes, orelhas vibráteis, corações púrpuras. O grafite ondulante flui entre volumes como uma insinuação de traços emocionais e anímicos. No projeto de Amirah percebemos e vislumbramos entidades de outras dimensões, gemas alucinantes, carbúnculos que se desdobram em microrganismos sépias e repletos de mistério. Não escasseiam os elementos poéticos, as frases cotidianas, as vogais dançantes. Em suma, a obra de Amirah Gazel é um bordado dinâmico e cromático, um grande trabalho, matéria viva, alquimia da imaginação. 

Os Editores


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• ÍNDICE





Amirah Gazel



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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Amirah Gazel (Costa Rica, 1964)
Poemas traduzidos por Davi Araújo (Brasil, 1979)


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 136 | Junho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019



Um comentário:

  1. Ótimo texto de apresentação dos poemas de Bréton, floriano. mas não consigo abrir as numerosas colagens de Gazel. Peço auxílio.

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