sábado, 14 de dezembro de 2019

Agulha Revista de Cultura # 148 | Dezembro de 2019


QUARTETO KOLAX, 2

Último trimestre de 2018 nos reunimos – Zuca Sardan, Pedro de Andrade Alvim, Ana Borges e eu – em torno do que chamamos de Quarteto Kolax – um grupo satírico, herdeiro do melhor Rabelais, saltimbancos patafísicos com toques de partitura de Frank Zappa e o teatrinho do absurdo – e montamos uma carroça virtual que começou a circular na edição de janeiro de 2019 da Agulha Revista de Cultura, abrindo a temporada de homenagem ao centenário do Surrealismo. A carroça percorreu galáxias e estrebarias, açudes e poços profundos, ao longo do ano, improvisando aquém e alhures, o que agora reunimos como segunda parte do espetáculo.
De sala em sala o Leitor Modierno… / E que é Modierno? / É uma Mistura de Moderno com Hodierno. / E que é Hodierno?/ Pressas preguntas d’algibeira, melhor consultares Doc Floyd, que além de outras 793 atividades… é o Diretor da Cyclopédia Labrosse.
Cavando bem fundo até onde a peneira alcance será sempre possível descobrir o modo de ser de certas coisas que antes jamais alguém houvera adivinhado ou pronunciado. Pois não é outra a história da caravana que atravessou todo o centenário do Surrealismo cavando por toda a parte da terra. E onde fomos dar é coisa que de nada adianta ficar a defender ou lastimar, xingar ou mitificar, pois a grande carroça de máscaras atropela sonhos e vigílias.
Teve de improvisar tanto o Quarteto que no final não se sabia mais qual fosse a linha mestra. Um portentoso Laribunto – ou Labyrintho? –, que nem o próprio Minotauro a saída saberia achar. Como não tinha o fio que sua irmã passou para seu Teseu, ou Tesão, um grego safado, nosso bom Minoto seguiu atrás do próprio rabo, e foi bater na sala de achados e perdidos.
E nessa escavação de arranjos do acaso a linha foi tecendo a si mesma como se fosse a própria embriaguez do horizonte, aquele alargamento de visão que nos permite ver bem fundo o que está mesmo bem fundo.
Mesmo porque… descobrir é… inventar. Mas o que se inventa, precisa ser qualquer coisa que ninguém antes havia pensado, e se houvesse não teria procurado saber o que era, e… jogaria fora, dizendo: Para que serve isso? / Ora, a Arte em si não serve pra nada… / Não é verdade?…
O mundo fica melhor sem respostas.
Nem chega a ser um bagaço esquecido, porque atende a outro chamado. Muito além do registro mercantil das ações humanas. Não se trata de esquecer ou lembrar, de domesticar o fogo criativo ou de expandir a colheita de tragédias, de onde quer que venha a arte ela tem um sentido em si que desafia toda a lógica.
Depois, ou mesmo antes, nunca está demais anotar: os Kolaxistas são escafandristas do Mar dos Mystérios. // Nós Quatro vivemos em um submarino Cyclame. Mas afinal, se alguém nos indagar sobre as razões desse Kolax no título, o que inventaremos na hora?
É preciso que a seriedade das nossas atividades editoriais encontre respaldo e prolongamento no setor de divulgação científica. Por uma moralização do trabalho no liceu, rádios e repartições!
O jornalista Toko Sugiro, do Ximbum Express, tão logo encontrou, revirando os guardados de Doc Floyd, a historieta abaixo, decidiu que a mesma havia sido escrita, sob encomenda do acaso, para as páginas de nosso editorial:

Salerno um belo dia resolveu tatuar no braço um relógio suíço. O grande mestre Siling, conhecido por suas imagens hiper-realistas, achou por bem tatuar no relógio o tempo, o que o levou a exaustivas jornadas. Logo percebeu que sendo o tempo infinito ele morreria sem que a tarefa se cumprisse. Tratou então de atrasar alguns minutos a cada hora tatuada.

Mas Saturno não achou graça nessa intromissão do jornalista do Braz em sua Máquina do Tempo e chamou-o às falas, brandindo sua foice… Sugiro, de amarelo passou a verde, dos pés à cabeça e sorrindo respondeu: Mestre venerave tem toda razão. Vamos kebrar esse relojo de merda.
Ao ser quebrado o relógio levou consigo, pelo submundo das imagens espatifadas, mão pulso antebraço de Salerno, que, para todo o sempre, ficou perdido naquele labirinto de puro espaço. Segundo Doc Floyd teria sido Salerno a lhe sugerir a criação de uma revista onde as inúmeras máscaras da realidade fossem representadas sem os grilhões de sua impiedosa temporalidade. 
Um labirinto de puro espaço, onde mora o tempo, que não suportaria viver em um labirinto de si mesmo. Mão, pulso e antebraço de Salerno se desfazem em grãozinhos cósmicos onde moram restos de lembranças de lugares onde ninguém nunca foi. Os restos flutuam no labirinto, às vezes se contaminam de Tempo e quando é assim, também às vezes se deixam capturar. Ali, onde existe só o rastro dos voos, mas não os pássaros, nos deixam entrar uma ou outra vez para ouvir mensagens cantadas em clara voz por esses rastros.
Assim avançamos destroncando os precários voos dos estados alterados de consciência. Livros, revistas, aventuras alquímicas. Jamais nos preocupamos com quem ficaria para contar a história, porque, afinal, a história não se preocupa em ser contada.
Esta é a lâmina reveladora do Quarteto Kolax.
E sua potencial irmandade com a Agulha Revista de Cultura.
Chegar até aqui é como despir o tempo de quaisquer hemorragias antecipatórias. Já não cabem mais profecias. Chegamos.
E trouxemos conosco a grande poeta e artista Leila Ferraz, a quem homenageamos com a entrega de nosso Tropheo Kolax.
Bem, há que lembrar ainda que esta é apenas a última edição de 2019 da Agulha Revista de Cultura, onde nos reunimos uma vez mais, o Quarteto Kolax, e desta vez trazemos conosco Victor Chab, magnífico surrealista argentino, que foi o artista convidado da primeira edição da revista, ao final de 1999. Apenas um marco.
A estrada, que não é nada boba, permanece aberta.

Quarteto Kolax | Os Editores


*****

• ÍNDICE


QUARTETO KOLAX, 2 | GRANDE SALÃO DOS BAGULHOS

QUARTETO KOLAX, 2 | DIÁRIO DOS TRÊS ANÕES

QUARTETO KOLAX, 2 | THEATRINHO DE BOSTA

QUARTETO KOLAX, 2 | COVIL DOS DOGMAS INCURÁVEIS

QUARTETO KOLAX, 2 | SALÃO DA GLÓRIA – PRÊMIOS & FUROS

QUARTETO KOLAX, 2 | RETRATO DE VESPINA

QUARTETO KOLAX, 2 | SETE SINETES DO IMPROVISO

QUARTETO KOLAX, 2 | PICADEIRO DO OITAVO CIRCO

QUARTETO KOLAX, 2 | REDAÇÃO DO PASCO BEXIGA

QUARTETO KOLAX, 2 | SIC TRANSIT GLORIA MUNDI


*****







*****

EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidado: Víctor Chab (Argentina, 1930)
Desenho do Quarteto Kolax, por Zuca Sardan


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 148 | Dezembro de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019


Um comentário:

  1. Frei Feijão pediu ao Papa Ponchito pra dar apoio ao QK-2 lançando uma Bula Papal ad Urbi et OOOrbiiii, avisando do Lançamento do Santo QKolax...
    Papa Ponchito - Melhor, Dom Feijão, pedires ao falecido Papa Borgia, tem gente de sua família metida neste apostatático projeto...
    Frei Feijão - Mas meu Santo Padre, Vosso antecessor já morreu...
    Papa Ponchito - Pois então, filho meu, reza pra ele, rezzzza com forrrrrzzzzzza!!!
    Frei Feijão - Ai, meu Santo Padre, que celestial conselho, volto hoje mesmo pro Brasil, e lançarei uma
    Bula Paroquiale per Brasile et Lisboooaaaaa!!!

    PHOTO DE ZÉ PHOKINHA PRO LANZAMENTO DO QK-2
    ZÉ FOQUINHA - Saímos todos bem na foto.
    MANUEL GAMA - Lá isso é brudad...
    ZÉ FOQUINHA - E que lhe parece, Capitano?...
    CAPITANO - Uno vero... Capolavoro!!!...
    VAPORE (apita) - FOOOOOOOMMMMM...

    ResponderExcluir