segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Agulha Revista de Cultura # 126 | Janeiro de 2019



SURREALISMO E JOVENS POETAS BRASILEIROS, 1


Em ano comemorativo do centenário do Surrealismo, ganha vultoso destaque o surgimento de nova geração de poetas no Brasil que retoma o curso de uma lírica que há algum tempo havia se desfeito de sua bússola existencial. Ao lado dessa nova e prolífera alquimia estética, com seu fervor múltiplo em que se desdobram inúmeras e muitas delas já consistentes vozes poéticas, se observam igualmente dois outros componentes valiosos: o enfrentamento à derrocada do mercado editorial nos moldes em que vinha atuando, já de muito prenúncio de decadência, e uma espécie de solidariedade entre pares que se torna ainda mais digna de elogio considerando a extensão territorial do país. São poetas nascidos desde os anos 1970 até 2000, perfazendo uma ampla era de renovação da lírica no Brasil, onde nos chama a atenção a retomada de leituras e mesmo a afirmação de afinidade com relação aos principais lastros das vanguardas no Ocidente, cuja máxima expressão é o Surrealismo.
Cumpre destacar que não há nessa reveladora afinidade traço algum de aferição ortodoxa ligada a qualquer escola ou movimento. Ao contrário, no instinto de recuperação de uma multiplicidade de referências se vislumbra a forja de uma identidade que se quer livre de quaisquer amarras, estéticas ou ideológicas. Trata-se de um momento entranhável e que não se compara a outras instâncias, pois não se trata de uma onda ou de um ciclo carismático. No dizer de um desses poetas, o que vemos é a fatura de densidades diversas na nossa poesia contemporânea brasileira [Carlos Orfeu]. Outro deles estima a fortaleza crescente do que está ocorrendo: é possível encontrar apoio nas editoras independentes que, para mim, são grandes responsáveis pela renovação de que falamos. Jovens autores encontram jovens editores e, em parceria, contribuem para que as vozes se disseminem [Elvio Fernandes Gonçalves Júnior].
Dois outros aspectos que ganham excelência dizem respeito à presença legítima e repleta de energia de vozes femininas e o fato dessa nova safra de poetas ser possuidora de um amplo sentido cultural. A referência à legitimidade é fundamental em uma época em que se pretende impor valores ao ambiente estético que lhes são indevidos. E o sentido cultural, pelo teor de leituras, curiosidade e percepção, é o que aponta na direção de maior diversidade e consequente condição de enfrentamento dos mistérios da criação. Cabem aqui duas colocações pertinentes: uma delas, ao falar desse ambiente atual, salienta um maior interesse pela possibilidade da experimentação poética do que propriamente ela composição de uma linha que oriente a todos [Mariayne Nana]; e outra revela o imperativo de jogar contra essa indústria doida que a gente já sabe que virou a cultura [Isadora Egler].
Agulha Revista de Cultura vem observando essa retomada crescente da voltagem lírica no Brasil, e com a presente edição inicia uma série de três números dedicados a 30 desses jovens poetas. Até o final de fevereiro apresentaremos a nossos leitores poema e pensamento de criadores que ganham densidade em distintas instâncias desse controverso mapa chamado Brasil. Tendo por ponto legítimo de referência o centenário do Surrealismo, a presente seleção põe em destaque certo grau de afinidade com o referido movimento, ciente de que não se esgotam aí as pertinências estéticas dessa evocada renovação. Em momento consecutivo voltaremos a reunir todos eles e outros vinte mais, de distintas linhagens, na edição de um livro através da coleção “O amor pelas palavras”, de circulação exclusiva pela Amazon.
Acompanhando as primeiras dez vozes deste primeiro número da referida série, temos a presença de Enrique de Santiago (Chile, 1961), poeta e artista plástico, além de baliza mestra na identificação dos valores ligados ao Surrealismo na cultura de seu país. Em Surrealismo a palavra mágica do Século XX, dossiê que organizei para a revista Athena, de Portugal (novembro de 2018), observo que Enrique de Santiago vem dedicadamente cuidando da memória do Surrealismo em seu país, graças à publicação de livros e curadoria de exposições, mas, sobretudo, na preparação, ainda em curso, de uma História do Surrealismo no Chile. Justíssima a sua presença em nosso mapeamento de uma nova lírica no Brasil, bem como a cumplicidade declarada que permeia tantos projetos nossos.

Os Editores


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• ÍNDICE

1981 ROBERTA TOSTES DANIEL

1985 CASÉ LONTRA MARQUES

1986 ANNA APOLINÁRIO

1987 CARLOS ORFEU

1992 ELVIO FERNANDES GONÇALVES JUNIOR

1995 LUCAS ROLIM

1995 MARIAYNE NANA

1995 VICTOR H. AZEVEDO

1998 FERNANDA BOAVENTURA

1999 ISADORA EGLER




Enrique de Santiago (Chile, 1961)

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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidado: Enrique de Santiago (Chile, 1961)


Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 126 | Janeiro de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
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revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
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