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CAMPOS VICEJANTES DO SURREALISMO, 3
O Surrealismo resistiu ao tempo de muitos modos.
Em um sutil movimento espiralado avançou em relevante leitura autocrítica, assim
como desbravou mapas (temas, lugares, percepções) não previstos inicialmente e alguns
até mesmo rejeitados, a exemplo da música. Algumas de suas crenças foram revistas
e desacreditas. Uma delas diz respeito ao entendimento firmado por Breton e Éluard
de que o pensamento não tem sexo, não se reproduz.
Frase de efeito, datada de 1928, beliscando o pulso do nonsense. A este respeito, melhor diria René Magritte, em 1954: É o pensamento que dá um valor à vida. Os demais
valores são presentes do pensamento. O que entrega é livre. O pensamento é essencialmente
livre. É a luz.
A presente edição de Agulha Revista de Cultura reúne alguns estudos críticos dedicados a
criadores que contribuíram imensamente para a revelação de um pensamento surrealista,
graças a uma multiplicidade de reflexões que abrangem a criação poética e plástica,
assim como filosofia, anarquismo, viagens, erotismo…
Duas entrevistas dão conta das relações entre
surrealismo e anarquismo (Pietro Ferrua,
por António Cándido Franco) e a reconquista do espírito da infância (Gisèle Prassinos, Por S. Druet). Recordadas
a bom tempo são a presença do Surrealismo no Peru, um manifesto do português António Maria Lisboa e as reflexões do argentino
Enrique Molina, além de uma honrosa homenagem
prestada a Aimé Césaire e sua Ilha das
Belas Flores, Martinica, bem como um estudo sobre as delicadas aproximações ao Surrealismo
do mexicano Octavio Paz. Estes dois últimos
assinados, respectivamente, por Ernest Pepin e Ludwig Schrader.
Três outros autores aqui estudados configuram
nossa ideia de uma das mais importantes contribuições do Surrealismo ao pensamento
em nossa época: o enriquecimento de valores voltados aos campos da filosofia, do
teatro e da poética. Três imensos criadores: Georges Bataille, Antonin Artaud
e Salvador Dalí, elucidados em primorosos
estudos respectivamente firmados por Marrio Perniola, Mario Ortiz Roble e Guillermo
Carnero.
Uma edição especial da Agulha
Revista de Cultura
reúne dois deles: Artaud e Dalí, este último como artista convidado. Logo teremos
duas próximas edições, dedicadas ao pensamento de Dalí e Bataille. A presente edição
conta ainda com a enriquecedora contribuição artística de Leonor Fini (Argentina, 1907-1966), personagem intrigante na cena surrealista
das primeiras décadas do movimento, pela altíssima voltagem erótica que imprimia
à sua arte, e ao próprio comportamento liberal. Sua defesa incondicional da mulher
a levou a uma vida de obstáculos, no que pese a voragem de resistência, o que acabou
resultando no injusto esquecimento em que caiu a sua obra. Dados biográficos não
assinados, publicados na página web Guia
das Artes, destacam:
Um tema predominante da arte de Fini é a relação complexa
entre os sexos, principalmente a interação entre a mulher dominante e o macho passivo
e andrógino. Em muitas de suas obras mais poderosas, a fêmea assume a forma de uma
esfinge, muitas vezes com a cara da artista. Fini também foi uma retratista bem
sucedida. […] O amor de Fini pelo design para o palco e a tela pode ter derivado de sua
paixão por máscaras extravagantes, trajes elaborados e drama fantástico. Ela criou
projetos, figurinos e posters premiados para a Ópera de Paris e a Associação Metropolitana
de Ópera, Le Palais de cristal de George
Balanchine (agora chamado Sinfonia em C),
Les Demoiselles de la nuit de Anouilh,
Romeu e Julieta de Renato Castellani,
Wagner's Tannhäuser, Bérénice de Racine, The Maids e The Balcony de Jean Genet, o 8 1/2 de Federico
Fellini e A Walk With Love de John Huston,
o primeiro filme de Anjelica Huston.
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Os Editores
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ÍNDICE
ANTÓNIO CÁNDIDO FRANCO | Pietro Ferrua: anarquismo e surrealismo
ENRIQUE MOLINA | Sobre
Surrealismo
ERNEST PEPIN | Hommage
à Aimé Césaire
GUILLERMO CARNERO | El juego lúgubre: la aportación de Salvador
Dalí al pensamiento superrealista
LUDWIG SCHRADER | Octavio
Paz y el surrealismo francés (Sobre Noche
en claro)
MANUELA
PARREIRA DA SILVA | O Aviso a tempo por causa
do tempo de António Maria Lisboa
MARIO ORTIZ ROBLE | Artaud
y México
MARIO PERNIOLA | El iconoclasma
erótico de George Bataille
RICARDO SILVA-SANTISTEBAN | André Breton en el Perú
S. DRUET | Gisèle Prassinos: d’Alice II à la reconquête de
l’esprit d’enfance
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EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO
DO SURREALISMO 1919-2019
Artista convidada: Leonor Fini
(Argentina, 1907-1966)
Agulha Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número 138 | Julho de 2019
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO
MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2019
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