Agulha Revista de Cultura: CODINOME ABRAXAS # 04

∞ editorial | O ovo emplumado da amizade

01 | São tantas as eras que se confundem com crateras e suas cicatrizes são pedras cintilantes por todas as faces do caminho. A verdade é que nos conhecemos, Maria Estela Guedes e eu, muito anterior à criação dessa imensa instituição que é Triplov, quando ainda na primeira juventude publiquei um libreto e usei por epígrafe o verso de alguém chamado Maria Estela Guedes que eu lera no Jornal de Letras, de Portugal, sem que fizesse ideia de quem se tratava. Por tanto, nos conhecemos antes de nos conhecermos. Também de modo tão siamês vieram ao mundo Triplov e Agulha Revista de Cultura que a ninguém interessa afirmar quem veio primeiro. Nascemos no mesmo ovo, portanto. O ovo de outra serpente, a Internet. E mesmo nós dois, criaturas e criadores, nos demos as mãos ao semear o ouro de nossas culturas, Portugal e Brasil, espalhando por todo o mundo um imenso campo de centeio mágico. E também outras homenagens já nos fizemos, parcerias, bailes, edições, certa vez chegamos ao ponto de fundir as duas aventuras, criando uma Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências, que acabou sob os cuidados unicamente de Estela Guedes. Triplov é mais do que uma revista. Triplov é uma fundação imaginária. Envereda pela produção de vídeos, a radiofonia, a organização de simpósios, uma área destinada à pesquisa científica, não dando descanso à sua editora, ela mesma um personagem incansável e inspirador. A ela, esta nossa homenagem. | Jorge de Lima (Brasil, 1893-1953). Poeta, ensaísta bissexto, artista plástico. Sua obra está ligada à segunda geração do modernismo brasileiro, apresentando traços do surrealismo e símbolos religiosos e pagãos da cultura negra. Misticismo mágico que melhor o situa como um mestiço lírico, e ele próprio um dia diria: O lirismo perdeu a sua liturgia. Esta liturgia era exatamente o que sempre buscou recuperar, tendo se aventurado por diversos modos de composição, do soneto ao poema branco e a poesia épica. Em uma dessas vertentes criativas enveredou pelo recorte fascinante da colagem surrealista, seu grande poema plástico, que o traz à nossa edição como artista convidado.

02 | Hay tantas épocas que se funden como cráteres, y sus cicatrices son piedras brillantes a cada lado del camino. Lo cierto es que nos conocimos, Maria Estela Guedes y yo, mucho antes de la creación de esta inmensa institución que es Triplov, cuando en mi juventud publiqué un libreto y usé como epígrafe un verso de alguien llamado Maria Estela Guedes que había leído en el Jornal de Letras, en Portugal, sin tener ni idea de quién era. Por lo tanto, nos conocimos antes de conocernos. Triplov y Agulha Revista de Cultura también surgieron al mundo de una forma tan siamesa que a nadie le importa decir cuál fue primero. Nacimos, por lo tanto, del mismo huevo. El huevo de otra serpiente: internet. E incluso nosotros dos, criaturas y creadores, unimos nuestras manos para sembrar el oro de nuestras culturas, Portugal y Brasil, extendiendo un inmenso campo de centeno mágico por todo el mundo. También hemos rendido otros homenajes, colaboraciones, danzas, ediciones. En una ocasión, llegamos al extremo de fusionar ambas aventuras, creando la Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências, que quedó bajo el cuidado exclusivo de Estela Guedes. Triplov es más que una revista. Triplov es una fundación imaginaria. Se aventura en la producción de video, la radiodifusión, la organización de simposios y un área dedicada a la investigación científica, sin ofrecer a su editora, quien fue una persona incansable e inspiradora, un viaje incansable. A ella, este es nuestro homenaje. | Jorge de Lima (Brasil, 1893-1953). Poeta, ensayista, artista visual. Su obra se vincula a la segunda generación del modernismo brasileño, presentando rastros del surrealismo y símbolos religiosos y paganos de la cultura negra. Un misticismo mágico que lo sitúa como un mestizo lírico, y él mismo diría un día: El lirismo ha perdido su liturgia. Esta liturgia fue exactamente lo que siempre buscó recuperar, habiendo incursionado en diversas formas de composición, desde el soneto hasta el poema libre y la poesía épica. En una de estas vertientes creativas incursionó en el fascinante apartado del collage surrealista, su gran poema plástico, que lo trae a nuestra edición como artista invitado.

03 | There are so many eras that merge like craters, and their scars are shining stones on either side of the road. The truth is that we met, Maria Estela Guedes and I, long before the creation of this immense institution that is Triplov, when in my youth I published a libretto and used as an epigraph a verse by someone named Maria Estela Guedes that I had read in the Jornal de Letras, in Portugal, without having any idea who she was. Therefore, we knew each other before we knew each other. Triplov and Agulha Revista de Cultura also emerged into the world in such a Siamese manner that no one cares to say which came first. We were born, therefore, from the same egg. The egg of another serpent: the internet. And even we two, creatures and creators, joined hands to sow the gold of our cultures, Portugal and Brazil, spreading an immense field of magical rye throughout the world. We have also paid other tributes, collaborations, dances, and publications. On one occasion, we went so far as to merge both ventures, creating the Revista Triplov de Artes, Religiões e Ciências, which was placed under the exclusive care of Estela Guedes. Triplov is more than a magazine. Triplov is an imaginary foundation. It ventures into video production, radio broadcasting, the organization of symposia, and an area dedicated to scientific research, without offering its editor, who was a tireless and inspiring person, a tireless journey. To her, this is our tribute. | Jorge de Lima (Brazil, 1893-1953). Poet, essayist, visual artist. His work is linked to the second generation of Brazilian modernism, presenting traces of surrealism and religious and pagan symbols of Black culture. A magical mysticism that places him as a lyrical mestizo, and he himself would one day say: Lyricism has lost its liturgy. This liturgy was exactly what he always sought to recover, having dabbled in various forms of composition, from the sonnet to the free poem and epic poetry. In one of these creative endeavors, he ventured into the fascinating field of surrealist collage, his great visual poem, which brings him to our edition as a guest artist.

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