∞ editorial | Os círculos concêntricos do altruísmo

01 | Júlia Moura Lopes é uma
dessas amizades que tenho que a tecnologia permite. Jamais nos sentamos para um
vinho. Nos conhecemos quando ambos integrávamos o conselho editorial de uma revista
em Portugal, onde logo descobrimos que ali não era nosso pouso, ou melhor, que ali
estivemos como um gracejo do destino que, por falta de melhor plano, nos colocou
em um terreno de todo alheio onde pudemos aceder a uma afinidade valiosa. Quando
saímos do grupo, para mim significava simplesmente manter a Agulha Revista de Cultura. Júlia, por sua
vez, já havia sido picada pelo inseto misterioso da dedicação ao alheio e tratou
de criar uma revista própria, quando então surge Athena. Conversávamos muito então. Creio que a ajudei ao sugerir matérias,
contatos etc. Logo sua revista surge e em pouco tempo se impõe. Aberta, cosmopolita,
múltipla, sempre fez uma boa ponte entre as culturas brasileira e portuguesa, além
de abrir espaço para outros ambientes, na Europa e na América. Um dos obstáculos
a serem considerados no nascimento de cada aventura editorial é a sua divulgação.
A virtualidade é enganosa. Também em suas veias é preciso projetar com eficiência
a circulação de cada projeto. Júlia Moura Lopes soube fazer isto muito bem, de modo
que a revista é hoje digna de um amplo reconhecimento internacional. Impressiona
que ela reconheça seu destino editorial, apaixonada pela cultura ao mesmo tempo
em que, sem dedicar-se à escrita cumpra o papel de uma regente, inclusive convidando
sempre alguém para que assine o editorial de cada número de Athena. Júlia não existe, está na contramão
de qualquer ideologia e suas velhas raízes de puro ego. Em uma edição recente, ela
escreveu o que anoto aqui: Por motivos que não interessa agora referir,
em 2017, fui impelida a criar uma revista que queria de literatura, poesia, cultura
e artes. Um projeto aberto às novas gerações que não tendo possibilidade de publicar
tanto quanto gostariam, pudessem aqui ser acolhidas. Como refere Fernando Pessoa,
na Mensagem, no poema dedicado ao português mais empreendedor de todos os tempos,
o Infante D. Henrique, Deus quer, o homem sonha, a obra nasce, neste caso já pôde
sonhar uma mulher, que com o apoio de outras mulheres e também de alguns homens,
originou este projeto que intitulou, acompanhando o fio do tempo, Athena.pt, porque
agora outros empreendedores de vários continentes, ditaram não ser o papel o único
meio de publicação e difusão, disponível, a todo o tempo, a toda a hora, no mundo
inteiro. A revista Athena surgiu em outubro de 1924 em Lisboa sob a direção de Fernando
Pessoa, contou com cinco números, e esta nossa, bem mais modesta, já vai nos trinta
números, na altura em que a Athena original faz cem anos. Agora no final de 2024,
ano de comemoração do centenário, este jovem projeto, conta e situa o historial
da publicação original, pela pena de Rui Lopo, a quem agradeço a generosidade do
ensaio em torno da sua fundação e vida breve. Sabemos ser quase impossível, sejam
quantos forem os anos da nossa publicação, igualar o rasgo criativo de Fernando
Pessoa, mas também não aspiramos a isso: apenas a fazer pequenas coisas na senda
do sonho pessoano. O resto, a Deus graças. Esclarecimento simpático
da parte de Júlia Moura Lopes. Os títulos de revistas não estão livres dessa graça
fortuita das repetições. Por aí circulam revistas homônimas cuja pauta editorial
percorreram caminhos distintos. Posso sugerir agora Orfeu, existente em Portugal e no Brasil, em épocas desiguais, sem que
uma se espelhasse na outra. O mérito de Athena,
de Júlia Moura Lopes, em nada se equivale a seu passado nominal, a deusa agora é
outra e sabe muito bem fazer seus milagres. | Ariadna Pineda (México, 1980). Pintora surrealista de grandes planos humanos.
A profundidade dos olhares de seus personagens, os movimentos de seus corpos femininos
e dos corpos celestes, esse encantamento da imagem que Ariadna sabe articular com
os pincéis, é sinal de uma maturidade que ela desperta e que se traduz em um surrealismo
visceral. Como bem descreve Víctor E. Rodríguez Méndez: Ariadna desenha, pinta, cria, mergulha em seus pensamentos e cria cenas
e personagens em seu mundo onírico. Ariadna sonha acordada, abstrai-se do mundo
e, por sua vez, cria outros mundos com as imagens projetadas de sua mente na tela.
Talvez seja por isso que ela se voltou para o surrealismo, ou talvez tenha sido
simplesmente o surrealismo que a encontrou como parte de sua essência pessoal e
vocação artística. Seus temas derivam diretamente de sua necessidade de compreender
o mundo em que vive e de compreender os outros. É assim que ela entrelaça seus sonhos,
moldando-se como artista. Agradecemos aos deuses a sua presença como artista
convidada na presente edição.

02 | Júlia Moura Lopes es una de esas amistades que la
tecnología me permite tener. Nunca nos sentamos a tomar un vino. Nos conocimos cuando
ambos formábamos parte del consejo editorial de una revista en Portugal, donde pronto
descubrimos que no era nuestro lugar, o mejor dicho, que estábamos allí por capricho
del destino que, a falta de un plan mejor, nos colocó en una tierra completamente
desconocida donde pudimos acceder a una valiosa afinidad. Cuando dejamos el grupo,
para mí simplemente significó mantener Agulha
Revista de Cultura. Júlia, por su parte, ya había sido picada por el misterioso
gusanillo de la dedicación a los demás y se propuso crear su propia revista, y fue
entonces cuando apareció Athena. Hablamos
mucho entonces. Creo que la ayudé sugiriéndole artículos, contactos etc. Pronto
su revista surgió y se consolidó rápidamente. Abierta, cosmopolita y diversa, siempre
ha servido como un buen puente entre las culturas brasileña y portuguesa, además
de abrir espacio a otros entornos, en Europa y América. Uno de los obstáculos a
considerar en el nacimiento de cualquier proyecto editorial es su promoción. La
virtualidad es engañosa. También es vital planificar eficientemente la circulación
de cada proyecto. Júlia Moura Lopes lo ha hecho muy bien, tanto que la revista ahora
merece un amplio reconocimiento internacional. Es impresionante que reconozca su
destino editorial, apasionada por la cultura mientras, sin dedicarse a la escritura,
cumple el rol de regente, incluyendo siempre invitar a alguien a escribir el editorial
para cada número de Athena. Júlia no existe; va en contra de cualquier ideología
y de sus antiguas raíces de puro ego. En una edición reciente, escribió lo que anoto
aquí: Por razones que no necesito mencionar
ahora, en 2017 me vi obligada a crear una revista que quería abarcar literatura,
poesía, cultura y artes. Un proyecto abierto a las nuevas generaciones que, al no
poder publicar tanto como desearían, pudieran encontrar aquí un hogar. Como afirma
Fernando Pessoa en Mensagem, en el poema
dedicado al portugués más emprendedor de todos los tiempos, el príncipe Enrique
el Navegante, Dios quiere, el hombre sueña, nace la obra. En este caso, ya podía
soñar una mujer que, con el apoyo de otras mujeres y también de algunos hombres,
creó este proyecto, que tituló, siguiendo el hilo del tiempo, Athena.pt, porque ahora otros emprendedores de varios
continentes han dictado que el papel ya no es el único medio de publicación y difusión,
disponible, en todo momento, en todo el mundo. La revista Athena comenzó en octubre de 1924 en Lisboa bajo la
dirección de Fernando Pessoa, con cinco números, y la nuestra, mucho más… Más modesta,
ya cuenta con treinta números, coincidiendo con el centenario de la Athena original. Ahora, a finales de 2024, año de su
centenario, este joven proyecto relata y sitúa la historia de la publicación original,
escrita por Rui Lopo, a quien agradezco el generoso ensayo sobre su fundación y
breve vida. Sabemos que es casi imposible, por muchos años que dure nuestra publicación,
igualar el talento creativo de Fernando Pessoa, pero tampoco aspiramos a eso: solo
a hacer pequeñas cosas siguiendo el sueño de Pessoa. Por lo demás, gracias a Dios.
Una amable aclaración de Júlia Moura Lopes. Los títulos de revistas no están exentos
de esta gracia fortuita de la repetición. Hay revistas homónimas cuyas agendas editoriales
han seguido caminos diferentes. Ahora puedo sugerir Orfeu, que existió en Portugal y Brasil en diferentes épocas, sin que
una reflejara a la otra. El mérito de Athena,
de Júlia Moura Lopes, no es en absoluto equivalente a su pasado nominal; la diosa
ahora es diferente y sabe cómo realizar sus milagros. | Ariadna Pineda (México,
1980). Pintora surrealista de primeros planos de figuras humanas. La profundidad
de las miradas de sus personajes, los movimientos de sus cuerpos femeninos y celestes,
este encanto de la imagen que Ariadna sabe articular con sus pinceles, es signo
de una madurez que despierta y que se traduce en un surrealismo visceral. Como bien
describe Víctor E. Rodríguez Méndez: Ariadna dibuja,
pinta, crea, escarba en sus pensamientos y arma escenarios y perfila personajes
en su mundo onírico. Ariadna sueña despierta, se abstrae del mundo y crea a su vez
otros mundos con las imágenes que se proyectan desde su mente al lienzo. Quizá por
ello se ha volcado hacia el surrealismo, o quizá simplemente el surrealismo la encontró
a ella como parte de su esencia personal y de su vocación artística. Sus temáticas
provienen directamente de su necesidad de entender el mundo en el que vive y entender
a los otros. Así es como va hilando sus sueños, configurándose a ella misma como
artista. Agradecemos a los dioses
su presencia como artista invitada en esta edición.

03 | Júlia Moura Lopes is one of those
friendships that technology allows me to have. We never just sat down over a glass
of wine. We met when we were both on the editorial board of a magazine in Portugal,
where we soon discovered it wasn’t our place, or rather, that we were there by a
whim of fate, which, for lack of a better plan, placed us in a completely unknown
land where we were able to access a valuable affinity. When we left the group, for
me it simply meant maintaining Agulha Revista
de Cultura. Júlia, for her part, had already been bitten by the mysterious urge
to dedicate herself to others and set out to create her own magazine, and that’s
when Athena appeared. We talked a lot
then. I think I helped her by suggesting articles, contacts etc. Soon her magazine
emerged and quickly consolidated. Open, cosmopolitan, and diverse, it has always
served as a good bridge between Brazilian and Portuguese cultures, in addition to
opening up space to other environments, in Europe and America. One of the obstacles
to consider in the birth of any publishing project is its promotion. Virtuality
is deceptive. It’s also vital to efficiently plan the circulation of each project.
Júlia Moura Lopes has done this very well, so much so that the magazine now deserves
broad international recognition. It’s impressive that she recognizes her editorial
destiny, passionate about culture while, without dedicating herself to writing,
fulfilling the role of regent, including always inviting someone to write the editorial
for each issue of Athena. Júlia doesn’t exist; she goes against any ideology
and her ancient roots of pure ego. In a recent edition, she wrote what I note here:
For reasons I don’t need to mention now, in
2017 I was forced to create a magazine that wanted to encompass literature, poetry,
culture, and the arts. A project open to new generations who, unable to publish
as much as they would like, could find a home here. As Fernando Pessoa states in
Mensagem, in the poem dedicated to the
most enterprising Portuguese of all time, Prince Henry the Navigator, God willing,
man dreams, the work is born. In this case, a woman who, with the support of other
women and also some men, created this project, which she titled, following the thread
of time, Athena.pt, could only dream of.
Now, other entrepreneurs from various continents have dictated that paper is no
longer the only means of publication and dissemination, available, at any time,
throughout the world. Athena magazine
began in October 1924 in Lisbon under the direction of Fernando Pessoa, with five
issues, and ours, much more… More modest, already has thirty issues, coinciding
with the centenary of the original Athena. Now, at the end of 2024, the year of its centenary, this young project
tells and situates the story of the original publication, written by Rui Lopo, whom
I thank for the generous essay about its founding and brief life. We know that it
is almost impossible, no matter how many years our publication lasts, to match Fernando
Pessoa’s creative talent, but we do not aspire to that either: only to do small
things following Pessoa’s dream. For the rest, thank God. A kind clarification
from Júlia Moura Lopes. Magazine titles are not exempt from this fortuitous grace
of repetition. There are eponymous magazines whose editorial agendas have followed
different paths. Now I can suggest Orfeu,
which existed in Portugal and Brazil at different times, without one reflecting
the other. The merit of Athena, by Júlia
Moura Lopes, is in no way equivalent to its nominal past; the goddess is now different
and knows how to perform her miracles. | Ariadna Pineda (Mexico, 1980). Surrealist
painter of close-ups of human figures. The depth of her characters’ gazes, the movements
of their feminine and celestial bodies, this charm of the image that Ariadna knows
how to articulate with her brushes, is a sign of an awakening maturity that translates
into a visceral surrealism. As Víctor E. Rodríguez Méndez aptly describes: Ariadna draws, paints, creates, delves into her
thoughts, and creates scenes and characters in her dream world. Ariadna daydreams,
abstracts herself from the world, and in turn creates other worlds with the images
projected from her mind to the canvas. Perhaps that’s why she turned to surrealism,
or perhaps it was simply surrealism that found her as part of her personal essence
and artistic vocation. Her themes come directly from her need to understand the
world she lives in and to understand others. This is how she weaves her dreams together,
shaping herself as an artist. We thank the gods for her presence as a guest
artist in this edition.
Os Editores
∞ índice
A. SARMENTO MANSO | No
centenário de Mário Cesariny
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/a-sarmento-manso-no-centenario-de-mario.html
DANYEL GUERRA | A doce vida crítica
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/danyel-guerra-doce-vida-critica.html
ENRIQUE SANTIAGO Alfonso Peña y el alarido especular
de los fragmentos
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/enrique-santiago-alfonso-pena-y-el.html
ESTER FRIDMAN
| Duas razões selvagens da filosofia
EVELINA TKACHUK
| A potente voz de Lesya Ukrainka
FLORIANO MARTINS
| Cruzeiro Seixas e a grande razão ausente
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/floriano-martins-cruzeiro-seixas-e.html
FRANCISCO
TRAVERSO FUCHS | A cultura como produção de si e do outro
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/francisco-traverso-fuchs-cultura-como.html
JOSÉ ANTONIO
BARREIROS | Sonia Delaunay e Giovanni
Papini – Os círculos enigmáticos e o homem
infinito
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2025/09/jose-antonio-barreiros-sonia-delaunay-e.html
RODRIGO COSTA
| Às voltas com o efêmero e a realidade
VIVIANE DE SANTANA
PAULO | Homenagem ao poeta Nicola Madzirov
 | | Ariadna Pineda |
|
|
Agulha Revista de Cultura
CODINOME ABRAXAS # 06 – ATHENA (PORTUGAL)
Artista convidada: Ariadna Pineda (México, 1980)
Editores:
Floriano Martins | floriano.agulha@gmail.com
Elys Regina Zils | elysre@gmail.com
ARC Edições © 2025
∞ contatos
https://www.instagram.com/agulharevistadecultura/
http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
ELYS REGINA ZILS | elysre@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário