• SURREALISMO
E JOVENS POETAS BRASILEIROS, 2
Em sequência
ao trabalho iniciado na edição anterior, ARC # 126, temos agora dez outros poetas, mantendo acesa a
agulha de suas afinidades com o Surrealismo. Acompanha cada mostra de poemas as
respostas dadas por eles a questões em torno das relações entre vida e obra,
bem como suas referências estéticas e uma estimativa do panorama da lírica de
seus pares. Com isto filiamos obra e pensamento, por vezes descobrindo neles o
gosto pelo ensaio, a voz franca apontando caminhos, percebendo os meandros de
seu universo criativo.
Dentre as confluências nessas respostas, duas se
destacam, interligadas: a compreensão de um campo aberto imperativo à criação,
e o que um deles avalia como certo afastamento da tradição, ao referir-se à sua
geração. A conexão entre estes aspectos é acentuada pela liberdade de viver e
criar, e a compreensão de que a ausência das escolas e vanguardas trouxe até
eles, mais do que a perda de referências, o desafio de criar um mundo próprio.
Segundo Julia Moura: Bebemos movimentos o
tempo inteiro, mas quem somos nós?
Esta é a linha do horizonte desses novos poetas. E
o grande aprendizado deles vem das cataratas dos excessos de nosso tempo, do
desmantelo grotesco das sutilezas, do obscurecimento dos significados mais
essenciais da própria existência. O mundo tornou-se elegível pelo espectro
irrelevante de repetições de conceitos e artimanhas. Uma retórica avassaladora
desmembra os sentidos e deixa a todos órfãos de si mesmos. Esta foi a cerca
eletrificada que apenas raros poetas nascidos em décadas anteriores (1950/1960)
conseguiram identificar.
Ouçamos uma das novas vozes, Vinicius Varela: Já disseram que amor é tanta coisa que ele
acabou sendo nada. Mal contemporâneo, se tiver que dizer poesia, já não é, se
disser nosso nome já não somos. Bem compreendido o ardil, o passo seguinte
é descobrir os elementos integrados para a construção de um novo tempo.
Recapitular falhas, desmatar obstáculos, deslacrar as zonas obscuras da própria
vida. Recuperar a força intrínseca da palavra. Andréia Carvalho Gavita destaca:
sugerir ao invés de nomear, ser mais um
sigilo entre os sortilégios e sonoridades da existência.
Os poetas que seguimos publicando em nossa série são valiosos indicativos de que é vital e possível livrar-se dos marca-passos herdados pela tradição. O sangue pode voltar a fluir livre como requer a multiplicidade de ritmos e valores. Nas dez vozes aqui presentes os timbres são diversos e distintos, mesmo que confluam, em alguns casos, as referências. E em todos eles o imperativo de dar nova razão de ser à palavra.
Os poetas que seguimos publicando em nossa série são valiosos indicativos de que é vital e possível livrar-se dos marca-passos herdados pela tradição. O sangue pode voltar a fluir livre como requer a multiplicidade de ritmos e valores. Nas dez vozes aqui presentes os timbres são diversos e distintos, mesmo que confluam, em alguns casos, as referências. E em todos eles o imperativo de dar nova razão de ser à palavra.
Ao lado deles, a plástica de Eugenia Loli, grega de
nascimento e que hoje vive nos Estados Unidos. Suas colagens são um jogo
articulado à beira do abismo envolvendo os excessos oriundos da tecnologia e da
propaganda, e um fino humor com que desmantela a condição cosmética da
realidade. Também aqui o desafio aceito de corrigir, ainda que apenas os
acentuando, os efeitos da retórica.
Os
Editores
*****
• ÍNDICE
1973 ANDRÉIA CARVALHO GAVITA
1975 JEANINE WILL
1979 DAVI ARAÚJO
1979 DEMETRIOS GALVÃO
1981 ANA FARRAH
1993 VINICIUS VARELA
1995 AMANDA VITAL
1996 PEDRO DZIEDZINSKI
1999 JULIA MOURA
*****
EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO
1919-2019
Artista convidada: Eugenia Loli (Grécia, 1973)
Agulha
Revista de Cultura
20 ANOS O MUNDO CONOSCO
Número
127 | Fevereiro de 2019
editor
geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor
assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo
& design | FLORIANO MARTINS
revisão
de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC
Edições © 2019
Bello artículo obrigado
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