• EDITORIAL –
ESQUECIDOS E DESCONHECIDOS DE PINDORAMA
Pìndomara é o lugar de eleição de uma tragicomédia anunciada.
Nessa comarca de dissabores a duras penas convertidos em piada, sua gente acaba
dragada pelo absurdo. Terra do Nunca Ainda,
os cacoetes da história se mostram sempre antecipados. Talvez seja esta a razão
que passou a borracha na existência de muitos de seus artistas, em especial aqueles
que souberam as negligências da razão. Contudo, uma galhofa geral e sádica sempre
retorquia: Este é o melhor mundo possível.
Na medida em que os historiadores passarem o pente fino em Pindorama, certamente
darão pelo imperativo de evocar os nomes de Aníbal Machado, Zuca Sardan e o Barão
de Itararé. A eles daremos a nossa ajuda, anotando aqui algumas valiosas recordações
críticas e biográficas desses três brasileiros que souberam lapidar o humor ao ponto
de traçar uma fisionomia beirando o real da história sagaz de Pindorama.
Ivan Junqueira e Isabel Lustosa recordam respectivamente
Aníbal e o Barão, enquanto que aqui no editorial colamos uma síntese do humor em
Zuca traçada por Pedro K. em uma de minhas quase diárias conversas com Zuca, ele
recorda Aníbal: Aníbal Machado era duma gentileza
supina. Lá no finzinho de Ipanema, quase no canal que separa este bairro do Leblon,
tinha Anibal uma aprazível casa onde oferecia, nos 50s, todo sábado, boca livre
pr'os intelectuais e turmas variadas do bairro… Sempre com amável sorriso, e um
copo de batida de limão, conversava com centenas de convivas, que se revezavam à
sua volta, com amável intimidade, tudo sempre personalizado, ele sacava instantaneamente
quem era o interlocutor, mesmo que o jamais tivesse visto. Este mesmo charme ele
transportava pros seus contos admiráveis.
Agregando mais alguns ingredientes no caldeirão do humor,
trazemos para a presente edição 45 das 120 ilustrações de François Despréz para
o gigante Pantagruel de Rabelais, a edição de Les Songes Drolatiques de Pantagruel, de 1565, que séculos depois inspiraria
outro mestre do humor, Salvador Dalí, ao criar 25 litografias em diálogo com Despréz.
A edição se completa dando sequência ao desbravamento
da tradição lírica na América Hispânica já amplamente em curso em três outros projetos:
Atlas Lírico da América Hispânica, Conexão Hispânica e Escritura Conquistada – Poesía hispanoamericana; o primeiro deles de
circulação exclusiva pela revista Acrobata,
e os dois outros integrados ao plano editorial da Agulha Revista de Cultura. Cumpre agradecer a cumplicidade de Aleyda
Quevedo Rojas, Delia Quiñónez, Gabriel Jiménez Emán, Javier Payeras, Juana M.
Ramos, Manuel F. Medina, Omar Castillo e Rosa Emilia del Pilar Alcayaga Toro,
que assinam as matérias dedicadas a autores e circunstâncias em alguns países
hispano-americanos.
Pindorama, no que depender de nós, não será tragada
pelo lamaçal do esquecimento intencional. Impedir que os esquecidos se tornem desconhecidos
é uma de nossas empenhadas façanhas. E a fazemos com as tintas mais vibrantes
do humor, a nossa incondicional alegria de viver.
Os
Editores
*****
PEDRO K | Verbete: o desenho de Zuca Sardan
Mise au point et au carré
Zuca
Sardan reposiciona a alça de mira e o raio de alcance da fórmula renascentista de
repartição entre desenho interno e desenho externo.
Figura e forma
O
desenho externo é dotado por Sardan de um duplo movimento. Pelo eixo norte-sul,
a linha circunscriptora comanda esquemas transcendentais de agregação de formas.
Pelo leste-oeste, opera-se uma pulverização quintessencial dos repertórios figurais,
evocando padrões de um atomismo democriteano.
Escala e difusão
O
traçado de ZS introduz um magistral senso de escala que intensifica tanto a função
projetiva da imagem quanto seu potencial reprodutivo.
Nexo estrutural
Zuca
participa historicamente de um movimento de desfibrilação da unidade tripartida
por novas técnicas de programação visual que abrem caminho para procedimentos compósitos
de baixa definição, integrando um projeto de ocupação urbe et orbi.
Os marcos das idas e vindas entre a face interna
e exterior dessa fita moebiana são o título, o desenho e a série, cujo movimento
coreográfico evolutivo produz o imbroglio. Este passa depois por uma etapa
de maturação na caixa de correio até chegar ao ponto de se converter em spholheto,
descolando-se de seu fundo épico e folhetinesco.
O desenho como desígnio
O
disegno interno se configura como empreendimento titânico que se volatiza,
ao mesmo tempo em que conjura forças supranaturais e transistóricas.
Indicações oraculares são postas em execução
com as armas da prestidigitação e da ideia, de que seguem dois exemplos históricos.
Salão Japão
Um
discreto funcionário do Ministério das Relações Exteriores (o próprio Zuca ou um
acólito), infiltra obras dissidentes na pilha de envios apadrinhados para a Bienal
de Tóquio.
Exposição Rex
Participação
maquiavélica de Sardan, que concebe o desvio do público burguês para o transporte
de monumentos idealizados pelos demais integrantes do grupo.
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• ÍNDICE
ALEYDA QUEVEDO ROJAS | Eduardo Chirinos,
escribir para olvidar el furioso embate del cuerpo
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/aleyda-quevedo-rojas-eduardo-chirinos.html
DELIA QUIÑÓNEZ | Luz Méndez de la Vega:
cuando su vida sigue siendo la vida
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/delia-quinonez-luz-mendez-de-la-vega.html
GABRIEL JIMÉNEZ EMÁN | Los fantasmas fieles de Francisco Pérez Perdomo
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/gabriel-jimenez-eman-los-fantasmas.html
ISABEL LUSTOSA | Três considerações
sobre Aparício Torelly, o Barão de Itararé
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/isabel-lustosa-tres-consideracoes-sobre.html
IVAN JUNQUEIRA | Aníbal e ternura
(sobre Aníbal Machado)
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/ivan-junqueira-anibal-e-ternura-sobre.html
JAVIER PAYERAS | Poesía modernista (escala
Guatemala)
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/javier-payeras-poesia-modernista-escala.html
JUANA M. RAMOS | De José Luis Rodríguez
El Puma a Rodrigo Díaz de Vivar: la figura
fallida del héroe en “Sin ambages” y otros relatos
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/juana-m-ramos-de-jose-luis-rodriguez-el.html
MANUEL F. MEDINA | Identidad territorial y postmemorias en
Manzanilla del insomnio (2002) de
Ivonne Gordon
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/manuel-f-medina-identidad-territorial-y.html
OMAR CASTILLO | La vastedad
de José Lezama Lima
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/omar-castillo-la-vastedad-de-jose.html
ROSA EMILIA DEL PILAR ALCAYAGA TORO
| Pinceladas acerca de la vida y obra de Stella Díaz Varín
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2021/02/rosa-emilia-del-pilar-alcayaga-toro.html
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Agulha Revista de Cultura
UMA AGULHA NA MESA O MUNDO NO PRATO
Número 165 | fevereiro de 2021
Artista convidado: François Despréz (França, 1530-1587, aproximadamente)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
logo & design | FLORIANO MARTINS
revisão de textos & difusão | FLORIANO MARTINS | MÁRCIO SIMÕES
ARC Edições © 2021
Visitem também:
Atlas Lírico da América Hispânica
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