∞ editorial | Intervalos diacrônicos
Após as séries Partituras
do Maravilhoso (2021) e Surrealismo
Surrealistas (2022), a Agulha
Revista de Cultura prepara para 2023 uma nova etapa dedicada à reflexão
sobre os caminhos da arte em nossa época. Durante todo o ano de 2023
publicaremos duas edições mensais, sempre aos dias 10 e 25 de cada mês, cada
edição incluindo um total de 10 ensaios que deverão ter um mínimo de 3 mil
caracteres. Sob o tema central, “A arte no Século XXI”, os ensaios deverão
abordar o modo como política, economia, mídia, mercado, guerras, religiões
etc., têm afetado a criação artística em sua perspectiva humanística e quais as
perspectivas para um novo renascimento ao longo do presente Século. Evidente
que as escolhas pelos elementos externos serão distintas em cada convidado, de
acordo com sua experiência de vida e a natureza de seu trabalho. De igual modo,
esses elementos podem ser outros, não devendo haver limitação em face de nossas
sugestões. O que desejamos, em tese, é um ensaio sobre as relações entre arte e
cultura.
As datas exigidas para entrega dos textos obedecem a uma agenda
editorial, assim definidas:
30/11/2022 (para o primeiro trimestre 2023)
28/02/2023 (para o segundo trimestre 2023)
30/05/2023 (para o terceiro trimestre 2023)
30/08/2023 (para o quarto trimestre 2023)
Cada uma das referidas datas só poderá
contar com a inscrição de 60 convidados.
Para o momento o que queremos de todos os convidados é que confirmem sua
participação em nosso projeto e que definam a própria data de entrega de seu
ensaio. Lembramos ainda que os ensaios não devem acompanhar imagens, pois cada
uma das edições, como tem sido uma marca da Agulha
Revista de Cultura em seus 21 anos de existência, apresenta uma mostra de
48 obras de um artista convidado. Agradecemos a todos pela renovada
cumplicidade.
02 | ZUCA SARDAN & FLORIANO MARTINS | Pélrodas negras
de um papado branco
ZULFIROS BAQUE | Eis aqui o que periga ser uma estratégica absorção
vulpinamente aprontada pelo mascovélico provável Papa Peroldo dos encantos sulfurosos
do Xandonblet.
FLANELLO CARDO | Será a hora da mudança de conceito patibular,
assim como das ordens aforísticas que campearão neste século faminto por novos caprichos.
ZULFIROS BAQUE | As mudanças fulminantes já começaram antes
mesmo do Novo Século começar. O mundo de Hoje já nada tem a ver com o Século passado.
Há milhares de Séculos não houve mudanças tão radicais, abruptas e violentas. E
o mundo está se desmoronando a uma velocidade alucinante. Ninguém mais sabe o que
vem por aí. Nem sequer sabemos como será o ano que vem.
FLANELLO CARDO | Nem mesmo de que forma o mundo acordará amanhã.
É verdade que a mídia ainda não deu pela conta e range pela cartilha de décadas
atrás. Também a política, velha arte da retórica, amarga no mercado de quinquilharias.
E a arte então?
ZULFIROS BAQUE | A arte hoje é mesmo barbulhar os muros da cidade
com rabiscos copiados das Hq, que são apreciados pelos melhores críticos… Um jovem
talento de São Paulo faz arte com cocô e outras porcalhadas originais… expostas
nas melhores galerias de São Paulo… O-Rô- Rôôôô!… O Mundo está rachando, mas o Arcanjo
na nuvem não toca a trombeta, porque a violência, ignorância e porcalhada da população
não anima mais os Arcanjos do Apocalipse a descerem no meio de toda essa ignorância,
violência e imundície que súbito se apossaram da Humanidade. Resta só tomar umas
férias de duração interminável, num Vapor do Loide em que o Capitão irá procurar
uma ilha de rodas, absolutamente perdida e inacessível.
FLANELLO CARDO | A arte transferiu todos os seus palpites para
o jogo do bicho. Por vezes (ainda) me surpreende que um belo dia a moral debandou
e deixou cair pela janela do vagão a moralidade, já uma pobre esclerosada que não
reconhecia a quem servia. Na debandada geral se levou por terra todas as conquistas
das vanguardas que, vendo de longe, e já com o fardo de sua perda, observamos que
foi algo precioso e diversificado, e que muito dificilmente o mundo recuperar-se-á
dessa ausência completa de liquidez.
FLANELLO CARDO | A Liga Panssexual comanda o espetáculo, de
modo que não há mais espaço para discursos pseudo laterais, projetados em telões
acanhados de ponta de rua. Um multiverso de debulhas de gêneros está tomando o planeta
de assalto e logo a cama deixará de ser parte de uma alcova secreta e passará a
ser a grande instalação dos amparos e diversões ligeiras ao uso franqueado de toda
a gente.
ZULFIROS BAQUE | Mas é preciso a turma pansexual atacar presto
o programa, antes que o Globo Terrestre se rache ao meio.
FLANELLO CARDO | Pois é, todo um dilema, ainda estão acanhados,
tratando de escapar do tiroteio da Dona (água) Benta, em um retiro de pílulas e
cirurgias de membros realizadas em uma cozinha suspeita. A rigor, boa sopa não sairá
desse caldeirão de artes defumadas…
ZULFIROS BAQUE | Seria bom se ficassem acanhados por um tempinho,
mas… duvido muito. O assanhamento é colossal.
FLANELLO CARDO | Ninguém supera o meu assanhamento: 240 convidados para a nossa festa.
Claro que uns 30 inventarão uma desculpa para a rejeição. O relógio terá derretido
seus ponteiros.
ZULFIROS BAQUE | Os relógios melhores são os que não funcionam
mais, e guardam pra sempre a hora que marcarmos. São os preferidos dos macróbios.
FLANELLO CARDO | Qualquer relógio quebrado acerta no alvo duas
horas por dia… melhor mesmo é arrancar seus ponteiros. Quanto mais invisível mais
sombrio e imprevisível é o tempo…
ZULFIROS BAQUE | Mais uma razão pra guardar os ponteiros. Basta
acertar a hora duas vezes por dia. Pro resto do tempo… a situação vai ficando cada
vez mais preta.
FLANELLO CARDO | Pafúncio tinha uma andorinha que, segundo me
contou, o pôs em uma gaiola e grudou em sua vetusta calvície os tais ponteiros que
havia arrancado de um relógio. Pafúncio se converteu em cuco e com a boca imitava
uma trombeta berrando duas vezes ao dia como sinal de que todos ficassem atentos
que lá vinha o Armagedão. Pafúncio esbodegou o tal berrante e a entidade aguardada
não apareceu. Com os beiços inchados a troncha aberração matutava se toda história
deveria mesmo ter uma moral…
ZULFIROS BAQUE | Talvez sim… cada história deve ter sua moral.
O problema é achar uma seja adequada ao texto, e aceita pela cidadania.
FLANELLO CARDO | Pois quando a história se precipita em busca
de uma moral a cidadania arranca a língua dos galos e os estoca no porão para que
o dia acorde mais tarde e desconheça o que lhe havia planejado o destino.
ZULFIROS BAQUE | A
moral no caso é que a história não deve buscar sua moral, que de qualquer modo jamais
será aceita pelo Doutor Froyd, que colocará as galinhas para botar ovos no seu famoso
sofá.
FLANELLO CARDO | Como o tempo acaba descobrindo de tudo um pouco logo
se soube que dr. Froyd mantinha sete anões em trabalho forçado pintando ovos das
galinhas de d. Moraleja, que eram vendidos como ovos multifaces da ilha da Páscoa…
03 | Nossa artista convidada nesta edição da Agulha Revista de Cultura é a fotógrafa francesa Agnès Geoffray. Uma valiosa leitura crítica de Eva Wittocx situa sua obra como um ideal equilíbrio entre realidade e ficção, entre situações cotidianas e impensáveis. Suas fotografias, instalações e vídeos combinam o desconhecido com o aterrorizante, como nos contos de fadas populares. Um fascínio pelos vestígios visíveis e invisíveis de desordem, ou mesmo desastre, em situações e eventos cotidianos está subjacente aos textos, fotografias, vídeos e apresentações de slides em STUK. Em fotografias quase inteiramente brancas, composições horríveis inspiradas em imagens da mídia, ou composições com as quais estamos familiarizados da iconografia tradicional, escapam aos olhos do público. Outra importante voz crítica, a da curadora belga Katerina Gregos, destaca que todas as fotografias de Geoffray podem ser vistas como lugares latentes de devir e equivalentes espaciais que representam nossos medos infantis ou nossos piores pesadelos adultos. Mas, além de seu impacto visual sinistro e imersivo, as fotografias de Geoffray acabam abrindo um espaço para a imaginação e para a ficção e, nesse espaço, as possibilidades de interpretação são ilimitadas. Agradecemos à fotógrafa sua imediata aceitação de participar da presente edição.
Floriano Martins
∞ índice
FLÁVIA FALLEIROS | Paris pós-guerra
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/flavia-falleiros-paris-pos-guerra.html
IGNACIO JEREZ | Centroamérica,
la gran unidad de la fragmentación: Breve análisis semántico en torno a Libro centroamericano de los muertos
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/ignacio-jerez-centroamerica-la-gran.html
LUIS EDUARDO CORTÉS RIERA | Hugo Gernsback: Padre de la literatura
de ciencia ficción
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/luis-eduardo-cortes-riera-hugo.html
LUIS FERNANDO MACÍAS
| León de Greiff en el suroeste antioqueño
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/luis-fernando-macias-leon-de-greiff-en.html
MADELINE MILLÁN | Carmen Amato,
poeta y fotógrafa de la frontera
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/madeline-millan-carmen-amato-poeta-y.html
MADELINE MILLÁN | Celeste
Alba Iris: error y fortuna del extravío:
del poemario al fotolibro
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/madeline-millan-celeste-alba-iris-error.html
MARIA ESTELA GUEDES | Tradição e
fronteiras em Floriano Martins
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/maria-estela-guedes-tradicao-e.html
MARITHELMA COSTA | David Cortés Cabán
y la presencia de lo efímero
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/marithelma-costa-david-cortes-caban-y.html
MARY CARMEN MOLINA ERGUETA | Escandalosa escritora
boliviana: María Virginia Estenssoro
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/mary-carmen-molina-ergueta-escandalosa.html
OSWALDO GUERRA SÁNCHEZ
| El azoriano Roberto de Mesquita (1871-1923) y los poetas modernistas canarios
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/2022/09/oswaldo-guerra-sanchez-el-azoriano.html
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Agulha Revista de Cultura
Número 216 | setembro de 2022
Artista convidada: Agnès Geoffray (França, 1973)
editor geral | FLORIANO MARTINS | floriano.agulha@gmail.com
editor assistente | MÁRCIO SIMÕES | mxsimoes@hotmail.com
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