Era preciso tirar aquele pássaro
negro da foto, talvez com um tiro ou uma tesoura. A imagem abolida dará lugar a
uma mudança de estação ou buscará compensação em outra ideia. Uma sombra pode
penetrar bem fundo em seu vazio e dali extrair um outro símbolo. Mas o que
deveria sair da imagem não era tão simples como o efeito de um objeto perdido.
Talvez se pudesse pensar no recurso de preparação de cena. Quando fosse noite
eu poderia recortar as partes mais escuras e depois fazer com elas uma caixa
preta repleta de segredos à espera de um acidente. Os papéis recortados
poderiam assim inventariar a fortuna e o desvario de uma distinta precipitação
da realidade. Jorge de Lima e Enrique Molina, o modo como ambientavam seus
recortes, fricções ágeis entre a cola e as sombras dos papéis. O mistério à
espera de uma participação oportuna em cena. As chances seriam dadas pela
observação de outros mundos. Um mundo de esferas tumultuadas e feras repetidas
à exaustão. Os cabelos de Max Ernst, o expediente generoso de sua imaginação, o melhor para estrangulá-los, meus filhos,
parecia dizer a tantos tributários, que pareciam haver copiada a frase: Meu lugar será sempre aos pés de um criador
misericordioso, enquanto o que se lia, uma vez mais seguros de se tratar de
uma fala de seus cabelos, era: Sonhar,
vestir, balbuciar nos dias de doença. A poesia de Jorge e Enrique possuía a
vertente porosa de uma expressão que fundava em si mesma, rio renascido no
próprio leito, a vitalidade de ousada permanência além da realidade. Essa força
teatral de florescimento de mil formas de ser é o que Max conseguiu através da
colagem. Se fazemos passear juntos suas colagens e os poemas dos dois outros,
veremos que sabem decantar a intimidade do olhar, abrigando as passagens mais
secretas que nos conduzem de um mundo a outro. Porém são, ao mesmo tempo, tão
distintas entre si, que é impossível guardar segredo desses elegantes realces.
Quando o homem tem bem dentro de si
uma mulher é que ele pressente o quanto a realidade é incompleta. Dois corpos
se arrastam pelo interior um do outro buscando uma causa para suas
consequências. Talvez a vida fale mais alto ao sublinhar as ausências, talvez seja
este o modo dela dizer que todas as formas tendem à imitação. Quando tenho uma
imagem recortada bem colada dentro de outra, também aí vislumbro que novas
formas cobrem seu lugar em uma simples mudança de ângulo. A colagem acaba por
gerar uma outra e igualmente incompleta realidade, onde sou tudo o que colo em
mim, até mesmo as mais inadvertidas causas. Incompleta ou não, diante da
metamorfose resultante de uma colagem jamais nos indagamos que sentimento ela
tem acerca de sua nova vida. A realização do olhar desconsidera a razão de ser
do objeto exibido. Digamos que seja uma mulher com seis pares de braços e uma
cabeça de serpente, a fascinação exercida por essa imagem não vem dela e sim de
quem a contempla. A realidade advém dessa estranha forma de divinização que
aplicamos a ela.
O quarto estava inteiramente despido
de si. Nem porta ou janelas, cortina ou tapete. Sem luz ou móvel algum. Como um
cubo em completo despudor. Rosália sabia o que fazer, passear a sua nudez na
escuridão e em silêncio, movendo-se e retorcendo o corpo de todos os modos que
a dor e a imaginação permitissem. O clique da câmara abria a bocarra do flash
que engolia a carne do acaso dos movimentos dessa mulher. Seu corpo ia sendo
criado através de inúmeros fragmentos e quanto mais incompletos mais
reverenciavam uma paisagem multiplicada em si mesma. Quando fomos passar as
fotos para o computador pude verificar a ousadia crescente com que ela foi
tingindo seus movimentos de um voraz erotismo, tocando-se, abrindo-se,
contorcendo-se como um molusco que aprendera a lidar com sua sexualidade.
Aquelas fotos seriam o princípio de formação de uma nova matéria. A partir
delas surgiriam os ovos cujas cascas uma vez rompidas dariam passo a essa
realidade inimaginável. A colagem é um salto na
imensidão agônica de uma ausência de significado do mundo já existente. É
possível dever a ela a felicidade do encontro de novo significado. Mas essa
celebração se verifica em qualquer forma de criação artística. Assim como é
colagem, sob certo aspecto, tudo o que deslocamos de um ambiente para outro em
nossa visão de mundo, de modo que esse deslocamento se realize na música, no
teatro, na dança etc.
Ao final do dia a garrafa vazia vivia seu pior dilema. Todas as fotos haviam sido recortadas e o que elas agora tinham a dizer era bem diverso da imagem fixa de sua memória. Era possível até mesmo sobrepor objetos, revirando a casa, dando novo endereço ao acaso. Como quem recortasse os dias em um calendário para com eles dar início a uma biografia repleta de incertezas. Os dias escolhidos ao acaso talvez até coincidam com os interesses da memória, mas podem sintonizar uma nova perspectiva de extravio. O personagem que permita sortear desse modo o próprio destino decerto saberá entender que as partes faltosas são como veias dissecadas ou visões esquecidas em um simples piscar de olhos. Um dia conversando com outro artista, eu lhe disse: O problema (não é para mim um problema, já saberás) é que a forma como fui talhando a essência de meu pensamento, essa profundeza de uma síntese, não me permite a utilização de espaço demasiado para dizer o que tenho a tanto. Talvez eu devesse voltar à narrativa encontrada por Max Ernst para contar uma história através da colagem, e não para ilustrar o texto com a imagem. Em um livro como Rêve d’une petite fille qui voulut entrer au Carmel (1930), a impressão que temos é que se algo atua como elemento ilustrador é o texto, um texto, é bom que se diga, que poderia estar ausente de suas páginas sem comprometer a fiação do caso. Talvez eu devesse retornar à tesoura, à cola, à lupa, ao modo como comecei a lidar com a colagem, com a obsessão discreta de um miniaturista, que procurava as fontes de expansão da imagem em sua entrada cada vez mais aprofundada em si mesma. Quando comecei a recortar livros abertos e a inserir no interior de suas páginas as visões minúsculas de uma realidade alheia à sua incompletude, que ia tocando cada objeto e o convertendo em outra forma, ou simplesmente em outro modo de olhar a si mesmo.
As minhas gavetas, caixas encontradas em tamanhos variados, eu as fui viciando em miúdas fontes descompassadas, como pedaços de corpos de diminutas bonecas, de pano ou plástico, desejosas de entrar em uma espécie de castelo das naturezas mortas. Oi pequeninos, o que vocês acham que poderão ser amanhã? Eu bem poderia cedo pela manhã indagar isto àquela inconsciente relíquia. A natureza, a outra, a incompleta e que se imagina viva, à qual julgamos pertencer, me havia viciado a ver o mundo desfigurado, despedaçado, como se eu houvesse instalado um par de tesouras em meu olhar. Será sempre assim quando criamos? De algum modo, com o tempo, os meus pequeninos foram se cansando de mim. As silhuetas bem-humoradas de Hans Arp, as caixas de Joseph Cornell que projetavam o mundo em seu interior, o recenseamento do absurdo na multiplicação infinita de seres em Peter Blake, esse mundo que ia produzindo suas sombras entre a pintura, a fotografia, o objeto, que ia me visitando e apaixonando anos a fio… Mesmo assim, os meus pequeninos acabaram conhecendo a solidão no interior de suas câmaras de madeira ou papelão. Durante algum tempo a colagem deixou de me interessar até a descoberta de um motivo: os meus fantasmas queriam para si um corpo que eles pudessem identificar como sendo seu integralmente, uma ilusão de que poderiam habitar o mundo sem a menor sombra de semelhança com outros. O primeiro plano dessa descoberta me levou a compor um acervo fotográfico próprio que eu poderia recortar e moldar a novos ambientes inevitavelmente incompletos. Somente ao encontrar um segundo plano é que acabei por entender que os meus novos pequeninos poderiam ser espíritos, espectros, prenúncios de uma imagem que somente nasceria de um gesto amoroso, o da sobreposição de desejos.
De
volta à pequenina de Max Ernst, Marceline-Marie, quando lhe diz: Aqui na minha mão, pai, está a faca da
suprema vicissitude, prudência, zelo e caridade. Meus companheiros receberam
ordens para não gritar. Ao contrário, como eu não estava buscando um
mosteiro, mas sim a entrada dos fundos de uma passagem para o inferno, com os
motivos da imprudência e seus ardis devassáveis, as minhas imagens agora
ansiavam por uma orgia que se prolongasse até a descoberta de um novo ser. Um
corpo nu roçando uma pedra dura, o olhar revelado no íntimo de um tecido
áspero, as flores carnudas do sexo brotando de troncos de árvores e margens de
rios. Havia uma devassidão sem par que espreitava todos os encontros entre
superfícies desejados pela beleza e a crueldade, o amor e a repulsa. Era
preciso saber de tudo, que a consciência é má e pode nos enganar a todos, que
os tolos só se aliviam porque lhes foram negadas a lucidez, que estamos
condenados a desaparecer no vazio do hábito. A luz não era mais eleita em face
da escuridão. As virtudes haviam perdido lugar no proscênio. Era preciso apenas
escapar do enfado da existência. A lei, a moral e os relógios haviam sido
demitidos. A partir daí criei extensas séries fotográficas, intituladas
“Sombras raptadas”, “Selva de peles”, “Cadernos de taras”, onde o desmedido era
a tática eficaz para recuperar o sentido perdido da criação. Um novo choque de
ilusão, se me permitem.
Talvez existisse uma estranha linha sutil em que o sentido procurasse apoiar-se. Um simulacro de formas não resistiria por muito tempo se não desse a cada aparência um motivo que fosse interpretado como a chave para livrar o mundo dos repetidos truques da escuridão. O artista e sua obsessão pelo missionário. A serpente e sua memória viciada em paraísos. Quem quebraria essa corrente? Era preciso descrer no mito. Fragmentar o caos até que ordem alguma mais fosse possível. Jamais esperar que o hábito das pedras refaça o caminho. O baile dos vestidos no bosque fantasma. As caixas vazias de sapatos caminhando pela casa. Talvez os temas fossem possuídos por suas formas. Ou talvez os contornos se excitassem até que o papel assumisse uma vazante de identidades que extrapolasse qualquer sentido. As sobreposições permitiam uma colagem abstrata onde jovens corpos pareciam sair do fundo de um lago. Não seria possível conservar ordem alguma, porque o olhar não fazia perguntas, se mostrava sempre como uma porta cujo abrir e fechar era motivo suficiente para a multiplicação do inesperado. O olhar queria ser encontrado e mesmo apropriado por essas imagens. Eu queria uma colagem distinta daquela que tanto admirava nas páginas de Robert Rauschenberg ou Deborah Roberts ou John Baldessari. Não me interessava o pano de fundo dos dogmas, as vertigens implantadas dos blefes sociais, os disfarces de sonhos insuflados. Eu tinha, tenho ainda, aquela única certeza de Ionesco, de que ao final de tudo apenas o assombro permanece. E com ele eu repeti tantas vezes: De repente, a luz fraca de uma esperança insensata: o dom da vida nos foi dado, "ninguém" pode recomeçar. Não sei bem o que isso significa. Não o sei, em absoluto.
Por essa época duas novas abordagens começaram a me
interessar: a supressão da realidade e uma mutabilidade narrativa. No primeiro
caso o desafio estava em copiar da realidade as suas gradações perdidas, coladas
umas sobre as outras, como um palimpsesto, até que essa mecânica assumisse a
forma de uma realidade imaginária. Uma cidade feita dos elementos em abandono,
das coerências esquecidas, das relações profundamente enterradas. Somente a
radicalização desse mundo desconhecido permitiria o alcance das placas mais
subterrâneas do imaginário. Tal iluminação não encontraria pretexto para
mostrar-se visível se não fosse levada a conhecer os efeitos de uma
reconstituição teatral do inesperado, a fonte do risível, os fundos falsos de
uma certeza de si mesma. A partir daí comecei a trabalhar em uma série de
máscaras, capas de discos e cartazes de cinema, um vetor de novas perspectivas
ao encarar o que somos e fazemos, o ser e a criação. Seria aquele caso de
alguém que dispara a arma contra o peito de seu reflexo no espelho, sem temer,
em momento algum, a fatalidade de seu ato. Ou daquele outro que explode uma
bomba na sapateira em seu quarto certo de que jamais perderia os pés. Alguém
poderia lembrar a temperatura elevada em que as coisas se revelam. Sim, é isto.
Deixar de lado o jogo das predisposições. Não prometer ir à rua atirando a esmo
nas pessoas. Atirar em si mesmo, infinitamente, até descobrir-se outro. Foi
nisto que pensei ao compor a minha tríade imaginária: os rostos, a música, as
marcações cênicas. Não é outra a totalidade do assombro: o que vemos, ouvimos e
o modo como nos expressamos no mundo.
A outra abordagem veio de uma exigência natural da imagem tridimensional. A curiosidade de sondar o encontro entre a assemblagem e a página-roteiro de um gibi. Volta à infância, pois era algo disto que eu fazia ao recortar os personagens das histórias em quadrinhos e com eles montar um teatro imaginário tridimensional. Certamente Jean Dubuffet se divertiria muito com aquele entreato infantil que viria décadas depois encontrar-se com a dúvida impressa em uma das páginas recentes: Deuses não descansam enquanto não os esquecemos. Não havia Dubuffet, Ionesco ou Hans Bellmer na minha infância; e, no entanto, como já estavam presentes! Como uma floresta (cuja miniatura poderia ser o quintal da casa dos pais, um bosque impenetrável de bananeiras e mamoeiros, cujas noites me aturdiam o espírito como um mistério querendo me excitar, dizendo que estava ali, que eu também poderia estar ali), uma floresta ao alcance de uma nova concepção. Se vai contar uma história, nunca se deixe enganar pela lógica perversa do tempo. A memória adora compartilhar seus pecados. Na página-assemblagem em que escrevi isto estava o foco daquela temperatura elevada que me assaltava a infância. Ao que parece da vida só sobrevive, em seu acúmulo ilusório, aquilo ao qual nos estreitamos com toda a determinação. O que Ionesco chamava de vitalidade prodigiosa. O grau mais alto do devaneio. Lendo a página seguinte a intuição se torna a forma alucinatória por excelência: Não importa o degredo, a barganha, o vexame da fórmula, o dialeto das cinzas. A verdadeira essência humana é um ideograma grafado no vazio. Quando me li, impressionou-me que não tenha escrito isto aos sete anos. Essa identidade informal da analogia, o mundo improvável onde cultivamos uma horda de problemas somente em busca de algo que justifique nosso fracasso por não os solucionar. O sonho nunca foi um impasse e sim o implante de vigílias que instalamos em nós como um enxame de promessas que sabemos jamais serão cumpridas. Deuses botam a comida no prato da noite, preparam as estações para a fúria das aventuras e as cicatrizes das mais finas ilusões. Eis o que fizemos de nossa vida: somos os senhores de nossas próprias ruínas.
Ao final de qualquer ciclo sempre poderemos ler a invisível tabuleta que garante que somos uma colagem ofertada ao fracasso de tudo o que não compreendemos em nossa vida. Talvez o trabalho da intuição ainda tenha algo a nos revelar, porém criamos um vendaval daquilo que Bellmer chamava de percepção-enganosa. Somos a representação de nada. A prova de que a imaginação é uma deusa bastarda. Mal respiramos, pois tudo à nossa volta é irreparável. Houve época em que acreditávamos que o artista possuía um valor espiritual maior do que a pessoa comum. Não creio mais que tal crença possibilite a impressão de uma nova intensidade no mundo.
PROPRIEDADE IMAGINÁRIA
Galeria Virtual | FLORIANO MARTINS
1990-2012 A IMAGEM E A SEMELHANÇA Entrevista com Floriano Martins
1998-2023 TRAJETÓRIA DE UM CAPISTA (seleção)
2010-2014 SÁTIRA DE ESPELHOS
2011 NA MÃO DE ADÃO CABEM TODOS OS SONHOS Texto de Jacob Klintowitz
2013 SOMBRAS RAPTADAS Texto de Berta Lucía Estrada
2014 BRONZE NO FUNDO DO RIO
2014 CINEMA IMAGINÁRIO Texto de Floriano Martins
2014 MÁSCARA IMAGINÁRIA Textos de Floriano Martins e Nicolau Saião
2014 MÚSICA IMAGINÁRIA Texto de Floriano Martins
2015 A MOBÍLIA VIOLENTA DO FOGO
2016 CIRCO CYCLAME
2016 LÁBIOS PINTADOS DE AZUL Texto de Aglae Margalli
2017 OSSOS DO ESPÍRITO
2018 SELVA DE PELES
2023 O CEGO IDEALISTA Texto de Wasily Kaplowitz
2023 A ÚLTIMA LINHA CAPAZ DE DEVOÇÃO Texto de Maria Lúcia Dal Farra
Poeta, tradutor, ensaísta, artistas plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 22 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a assemblagem e outros recursos. Iniciou seu percurso com colagens, algumas das quais para capas de seus livros e de outros autores. Em 2011 o crítico Jacob Klintowitz foi o curador de sua primeira individual, em São Paulo, toda ela montada a partir de suas fotografias digitais. A segunda individual foi em 2016, no Centro de Estudos Brasileiros, da Embaixada do Brasil na Costa Rica. A esta altura já havia inscrito algumas de suas obras na galeria Saatchi Art: https://www.saatchiart.com/florianomartins, bem como criado uma soma valiosa de capas de livros. Propriedade imaginária é uma galeria desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins que jamais foi realizada, Museu imaginário, documentário baseado na construção de maquete de um museu em miniatura que abrigaria toda a sua obra plástica.
Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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