Originalmente publicada em Poéticas. Buenos Aires, 2003
JAM | Comienzo asombrándome por tu entrega
a un apasionado y doble andarivel. En efecto, junto a tu quehacer creativo
cumples una inusual tarea de difusión y crítica de otros poetas: brasileños y, en mayor medida aun,
hispano-hablantes. Muchos de ellos, mal conocidos inclusive en nuestra lengua.
Un puente inter-cultural que abarca libros y espacios como Agulha Revista de Cultura y Banda
Hispánica. Desusado, además, por tu conocimiento de esas poéticas y tu
voltaje polémico.
FM | O mais importante aqui é manter
o ego no lugar, não deixá-lo de todo solto. Sempre que posso, venho chamado a
atenção para nomes essenciais, na cultura de meu país, e também em toda a
América Hispânica, e creio que assim vamos contribuindo para a difusão de suas
obras. O que estamos tentando fazer na Agulha,
Claudio Willer e eu, é não somente recuperar alguns autores do passado, mas,
sobretudo, revelar algumas novas fontes de reflexão. Estamos carentes de
reflexão, de apostas mais profundas em buscar soluções para velhos problemas
numa margem e outra da América Latina. Já a Banda
Hispânica, nela o que conta é sistematizar uma zona de pesquisa sem
privilégios de qualquer ordem. A intenção é formatar um imenso banco de dados,
disponível para pesquisa em área acadêmica ou artística, um lugar de encontro
onde essa cultura múltipla possa se expressar livre das demandas casuísticas
que já bem conhecemos. Como vês, nada de intencionalmente polêmico. São áreas
esvaziadas e que necessitam ser recuperadas. E te digo que estou apenas
começando. Há uma grande rede de conexões se preparando para um envolvimento
maior, uma difusão mais ampla e sólida.
JAM | En tu libro O Começo da Busca – O Surrealismo na poesia da América latina
(2001) te ocupas de más de una docena de autores, y rechazas cualquier
fosilización del Surrealismo como mera escuela o grupo históricamente datado. ¿Qué rasgos permiten hoy, entonces, tal adscripción? ¿Fidelidad a la
fascinante utopía de borrar las fronteras entre arte y vida, o incluso “cambiar
la vida”? ¿El poeta –y el poema– como ejes de una subversiva alma en llamas individual-colectiva? ¿La
priorización del automatismo psíquico? ¿Perseguir el punto donde se unan real e
imaginario, sueño y vigilia, razón y locura?
FM | Em carta remetida a Osiris Troiani,
disse Aldo Pellegrini que “el surrealismo no es la creación de un solo hombre y
en su formación han confluído todas las corrientes que señalan la insurrección
esencial del hombre del siglo XX”. Naturalmente que essa insurreição requer uma fidelidade a si
mesmo – a fidelidade ao outro é um sofisma cristão – e o homem é livre para
cometer suas contradições. O que se passa com o Surrealismo é que parte de uma
aposta muito profunda e ampla onde o dogma pode levar a certos prejuízos ou
riscos. Como apagar as fronteiras entre arte e vida hoje? Como mudar a vida em meio a essa dinâmica
estática que rege nossa época? É possível como sempre o foi: na fluidez
solitária e silenciosa de uma obsessão. O anúncio de qualquer coisa sempre
privilegiou o superficial, o leviano. A comunicação de massas não passa de
customização de massas. Com isto percebemos que a melhor maneira de ser
surrealista é recusar-lhe o dogma. As experiências com sonho hipnótico em
Robert Desnos de alguma maneira se entrelaçam com a busca de iluminação em René
Daumal, e penso que os dois casos podem ser aqui lembrados por um único motivo
consistente: a fidelidade a si mesmo. Esta me parece a maior contribuição do
Surrealismo: a afirmação insubornável do mais íntimo em nós, a grande convulsão
do ser. Não é preciso tirar carteira de clube para isto, ou restringir-se a um
tempo dado, histórico.
JAM | ¿Es válido llamar surrealistas, sin
reservas, a poetas inclusive de la relevancia de un Enrique Molina, cofundador
con Pellegrini de A partir de Cero,
que reconoció con fervor la impronta surrealista pero reticente –salvo quizás
en tramos de Amantes Antípodas y Las Bellas Furias- a la alogicidad y
desenfreno asociativo del Surrealismo (distanciamiento más acentuado aun, creo,
en Olga Orozco, por su parte más cercana al gnosticismo y a la nostalgia de un
absoluto religioso)? ¿Y qué pasaría con los poetas cuya obra mayoritaria se
alejó de esta corriente? ¿O los que se amoldaron al sistema? ¿Por qué rechazar
las expresiones para-surrealismo, afin al surrealismo, etc?
FM | Aldo Pellegrini era possuidor
dessa mescla de visão e revelação que somente cabe aos grandes espíritos. É
admirável esse momento na história de nosso continente em que se pode contar
com um antagonismo confluente da ordem do que regiam Pellegrini e Raúl Gustavo
Aguirre. Creio que devemos considerar do Surrealismo, em suas origens, a
inúmera possibilidade de expansão. Lamentavelmente no Brasil havia uma
presunção em curso que impedia perceber a ideia central já oferecida por
Lautréamont de uma poesia feita por todos. O gnosticismo de Olga Orozco ou o
orfeísmo de Rosamel del Valle devem ser considerados como identificações
valiosas. Definem-se por uma liberdade intensa e aportam com imagens
surpreendentes. As religiões sempre possuíram um caráter restritivo, no que
difere o sentido do religioso. Ainda hoje cabem cuidados para que o Surrealismo
não seja confundido com uma doutrina. As denominações aproximativas que sugeres
são quimicamente inaceitáveis. Mas não há um sistema surrealista que se imponha
como a desejada escola cultuada por alguns equívocos. Cabe deixar-se tomar por
essa fúria valiosa do contato de realidades à volta, a maneira como estou
dentro e fora do mundo.
JAM | ¿Cabrá rescatar, como postula el
poeta español Ángel Pariente en el diálogo que transcribes en O Começo da busca, que el Surrealismo
sería en esencia libertad y contradicción, y querer acotarlo es vano afán escolástico,
o que bien puede hallarse en ciertas etapas de un poeta y ausente en otras? ¿Y
sería surrealista sólo en esas obras? ¿Ello no invalida, en tales casos, su
inclusión como “poetas surrealistas”?
FM | Ángel Pariente é um estudioso
sério do Surrealismo e sua antologia publicada na Espanha é um momento
admirável de busca de integração entre as duas margens do Atlântico, Espanha e
América Hispânica. Tem minha completa admiração por isto. Entende que o fogo
surrealista não estava fadado a queimar, mas antes a iluminar. Foi Artaud
exatamente a dizer que “o surrealismo é antes de tudo um estado de ânimo”, e
não há como por em dúvida o estado de ânimo de um poeta como Artaud. Há uma
presença do Surrealismo na obra de um poeta como o chileno Enrique Gómez-Correa
que vai além de qualquer declaração do próprio poeta em sua defesa.
JAM | ¿Qué opinas de la observación de
Louis Aragon, para la entrevista de F. Cremiéux en 1963: “Se tiene la idea
equivocada de considerar al Surrealismo sólo en función de una de sus
actividades experimentales, a la que habíamos dado el nombre de escritura automática”, la que a su
juicio sería uno entre otros motores de arranque de las grandes “cacerías
interiores”?
FM | Breton disse em
JAM | En el puzzle llamado Latinoamérica
impera el desconocimiento sobre nuestras culturas y potencialidades. Hasta
especialistas como Saúl Yurkievich practicarían recortes erróneos, según dices
en “La modernidad de la poesía en Hispanoamérica”. Pero a la vista de nombres y
movimientos renovadores en Brasil y que traspasaron con fuerza sus fronteras,
¿por qué afirmas que, “salvo excepciones, la tradición poética brasileña se
vincula a un formalismo inocuo y exacerbado?”. ¿O en tu diálogo con el poeta
Harold Alvarado Tenorio: “En Brasil padecemos de una miseria cultural de la que
todos somos cómplices?”
FM | As declarações atendem a dois
momentos específicos, ainda que confluentes. Se somarmos todos os recortes,
digamos, estéticos da poesia brasileira teremos uma presença marcante do que
chamo de esvaziamento de discurso, lugar onde a forma importa mais que o fundo,
e raramente se verifica a afirmação pretensa de uma verdade, o postulado de uma
inquietude existencial etc. Tem-se uma instância decorativa. E me lembra aqui
uma afirmação do Roberto Piva, em 1964, que então se manifestava “contra a
inibição de consciência da poesia oficial brasileira a serviço do instinto de
morte (repressão)”, ou seja, a poesia se mostrando enclausurada pelo que Aldo
Pellegrini chamava de “círculo muerto de las posibilidades gramaticales,
semánticas o sonoras”. A miséria cultural aludida em outra ocasião refere-se à
nossa cegueira para o que se passa fora, no sentido de sairmos em busca de
algo. Aqui se encaixa aquela distinção observada por Octavio Paz entre fazer a
história ou sofrê-la. Quando situo a existência de uma cumplicidade é porque
observo, inclusive em conversa com muitos escritores, sobretudo os que se dizem
poetas, que essa “inibição da consciência” de que falava o Piva tornou-se uma
consciência dirigida, que atende a conveniências e nada mais. Há algo mais
miserável do que isto? Particularizo o assunto brasileiro, mas cabe aqui uma
menção ao que chamo de visão equivocada em Saúl Yurkievich. Por um lado, propõe
uma leitura das origens da poesia latino-americana deixando de fora o Brasil;
por outro, recai no lugar-comum de utilizar-se levianamente de um cânone
recorrente, falho em aspectos ligados a leituras cronológicas, éticas e
estéticas.
JAM | Gilberto Freyre, Lins do Rego,
Jorge de Lima, Drummond, Mario y Oswald de Andrade y el “Tupy or not tupy”, el
“Verde-amarelismo”, el “Luso-tropicalismo”, Portinari, Glauber Rocha… ¿No hay en Brasil un frecuente interrogarse por las raíces de la identidad,
una búsqueda de lo propio y/o popular en los lenguajes literario, pictórico,
fílmico, musical? ¿Cómo
te ubicas en relación a esto?
FM | Jamais senti necessidade alguma
de me afirmar pelo nacional, de buscar nas entranhas de minha criação um
caráter nacional. A discussão frequente em minha poesia do estar no mundo
encontra-se ligada mais aos espaços interiores do ser. Não estou bem certo se a
América de um Allen Ginsberg, por exemplo, está ligada especificamente à
realidade estadunidense ou se à veemente indignação do poeta em relação à
condição humana. Me parece que a segunda opção seria mais fiel à poesia. A
afirmação do nacional já extrapolou todos os limites do aceitável em sua
relação com a arte. O século XX foi pródigo em diversas formas de fascismo. Em
tua pergunta destaca-se o verde-amarelismo, em cujo manifesto, datado de 1929,
se falava em “liberdade plena de cada um ser brasileiro como quiser e puder”,
em contradição com a aposta integralista de alguns de seus signatários.
Tomava-se então o índio como símbolo nacional, “justamente porque ele significa
a ausência de preconceito”, mas simplesmente não havia mais índio, mesmo nas
primeiras décadas do século passado o índio já se encontrava em pleno processo
violento de folclorização. Não espelha a realidade, mas antes um falseamento
dela. A presença indígena, a consciência de uma nação indígena, tudo isso já
fora liquidado, e a coragem maior, mais decisiva, era justamente a de realçar
essa chacina. Para mim o “Tupy or not Tupy” não passa de um trocadilho infame,
desses que desgraçadamente se ramificaram por toda a cultura brasileira, tanto
é que o próprio Oswald de Andrade, que o cunhou, no Manifesto da poesia
pau-brasil (1924) defendia uma brasilidade “sem ontologia”. Não te soa
contraditório? Pois nunca ninguém deu pela conta entre nós. Em uma carta
dirigida ao cineasta Cacá Diegues, em 1971, Glauber Rocha dizia o seguinte:
“Oswald estava metido com os partidos liberais vigaristas e a única coisa
política consequente que deu a Semana [de Arte Moderna] foi o integralismo”.
Glauber comentava particularidades dos anos 20, de uma casta intelectual ainda
hoje bastante influente em nossa cultura: “se comem uns aos outros, fazem
tráficos de prestígio, informação, concorrência social e cultural, traem as ideias
do núcleo biológico fundamental e se amesquinham na transação complacente com o
regime”. Não há nada mais atual em nossa realidade brasileira.
JAM | Es muy interesante tu
observación, y los planteos de Claudio Willer, de que un contradiscurso enfrentado al oficial-canónico implica más que el
sarcasmo o la distorsión. Si he entendido bien, no se trataría
de un simple binarismo (discurso-contradiscurso), sino de una interacción
dentro de una red de nuevos códigos, y de intervenir en el complejo mosaico
social-cultural. Si es así, ¿cómo podría darse en el Brasil de hoy?
FM | O cânone funda uma falsa
identidade. Sua rejeição alimenta-se dessa falsidade. Não percebendo isto,
ficamos a administrar o que está à direita ou à esquerda de um determinismo que
se impõe indiscutível. Ora, a experiência humana multiplica-se em tantos
fenômenos a ponto de anular a fenomenologia em sua perspectiva científica.
Agora, essa ambientação de uma interferência, não a sentimos jamais, não se dá
no mesmo plano de um falseamento do real, como operado pela mídia, por exemplo.
Mas para que serve o dinheiro e no que tem sido utilizado? Estamos a fabricar
cânones de interesses privados. A mesma política de sempre. O Brasil tem uma
percepção mínima do que se passa na esfera virtual. Nossa ideia de intervenção
é no sentido de preparar terreno para o futuro. Aos poucos estamos nos
convertendo na maior rede nacional de produção cultural na Internet. Mesmo aí
rejeitamos o cânone, espécie de mito de ocasião, e diante de nós o maior de
todos os obstáculos: celebrar bodas entre essas duas mídias: a impressa e a
virtual.
JAM | ¿A cuáles autores de la poesía
brasileña pasada o contemporánea te sientes más ligado, más allá de líneas
estéticas? ¿Y por
qué?
FM | Ainda em garoto lia mais a
narrativa de José de Alencar do que propriamente nossos poetas. Em casa meu pai
ouvia muita música brasileira e me levava a ver filmes com frequência. Claro
que tudo isto coincidia com a leitura de livros, conversas com amigos etc. Os
dois poetas brasileiros que primeiro me chamam a atenção são Ferreira Gullar e
Carlos Nejar, mas isto em meio a uma adolescência onde era muito forte o
convívio com a prosa (Sade, Dostoievski), o teatro (Ionesco, Weiss,
Shakespeare), as artes plásticas (Bosch, Brueghel, Goya) e a música pop (Frank
Zappa, Rolling Stones, Led Zeppelin). Contudo, há um tempo ligado a incansáveis
leituras, frequentado por inúmeros poetas. Através dessas visitações é que
vamos tecendo uma singularidade, que me parece ser algo importante na vida de
um artista. Muito me interessa a poesia de um Jorge de Lima ou de um José
Santiago Naud, pela vertigem barroca e a vertente surrealista. É um dos raros
momentos em que as encontramos juntas em nossa tradição lírica, o que se pode
ver também em minha poesia. Mas sou um poeta dado ao trágico, a acentuar a dor,
a chafurdar no sofrimento para ver o quanto resiste. E a tradição poética
brasileira é mais decorativa – pensemos no peso impressionante do Parnasianismo
até os dias de hoje –, quando não pende para um lirismo mais adocicado, de
pequenas paixões frustradas ou ânsias amorosas reveladas por entre véus.
JAM | ¿Cómo entiendes el misterio y la
magia poéticos? ¿Crees que palpite en igual grado en la manzana que tapa, o
tacha, el rostro de un hombre ataviado con sombrero de copa –para evocar el
célebre cuadro de Magritte–, como en la aparentemente nada misteriosa piedra en medio del camino de Drummond?
FM | Paul Nougé já observou, a respeito
de Magritte, que “una constante meditación crítica sobre las relaciones del
mundo exterior con el hombre, en la forma dialéctica en donde el hombre y el
mundo exterior constituyen los términos en perpetuo devenir, ha llevado esta
pintura a la unidad viva y a la expresión eficaz”. A pintura de Magritte e o poema
de Drummond hoje se encontram convertidos em ícones, naturalmente repletos de
excessos de leitura, do oportunismo à idealização. Não são bons exemplos nem
para a magia nem para o mistério. A peça de Magritte converteu-se em uma fonte
de lucros para a indústria da propaganda (aí incluindo o cinema). A de Drummond
dilacera-se entre leituras de menor influência. Talvez originariamente as duas
tenham sido obras de um ouvido interno, porém ditadas pela entrega ou pela
busca? Aí temos a distinção entre magia e mistério. Aliás, Magritte já dizia
que o mistério “'é absolutamente necessário para que exista o real”. Não me
parece que Drummond tenha recorrido ao mistério em sua poética. Entregou-se por
completo em cada poema, crisol de suas expectativas, sim, mas distanciando-se da
ideia de assumi-lo. Me parece que há um abismo intencional entre ser e obra, um
racionalismo que o aproxima mais de Valéry, por exemplo. Ainda que tivesse em
Verlaine uma clara fonte de identificação.
JAM | También trabajas el collage. ¿Cuáles
son tus relaciones con la imagen visual? ¿Cuáles sus lazos con el hechizo
onírico? ¿Cómo juega esto en tu poesía y tu vida?
FM | Não compartilho a ideia de
segmentações estéticas. Isto quer dizer que não vejo diferença alguma entre
meus poemas, collages, ensaios. A menor freqüência de collages se dá em função
de uma exigência maior no plano ensaístico, onde tenho que abranger uma área
muito extensa (tradução, edição, conferências). No Brasil não temos uma
tradição nessa área de collages. Há casos isolados – Jorge de Lima, Tereza
d'Amico, Sérgio Lima –, compreendidos justamente pela recusa de toda uma casta
intelectual a admitir a presença do Surrealismo em nossa cultura. Há dois
entendimentos que se distanciam entre si em relação à imagem. Fujamos dos
lugares-comuns. A imagem é uma bifurcação de interesses, como sugere a
propaganda, ou então uma afirmação de novas perspectivas existenciais. Não
posso mais falar em “feitiço onírico”, como sugeres, porque vivemos em uma
época de feitiços construídos, onde
nos arrastamos sofregamente a caminho de uma falsa ideia de nós mesmos.
JAM | En tu poema “Tratados de la sombra”
aludes al “espectáculo de nuestras ruinas”, escenario “donde / el hombre actúa
como el gusano de la propia especie”. En “A outra ponta do homem” dices: “¿De
qué muere al final un hombre? / Sufre con sus animales espantosos, / escrituras
encrespadas, / viscosas/, pobre mimo de la propia memoria…”. En “A la Sombra
del Origen”: “¿Quiénes somos? ¿Los magníficos restos de la especie, /
sacerdotes de ruinas, vastas y frustrantes?”. Y en otros poemas: “Lo que veo en
el jardín son detalles del horror…”, “¿Con quién hablas en tu camino hacia el
abismo…?”. Crepitan en tus versos palabras como cenizas, muerte, dolor, alma, ruinas, cadáver, vacío, equívocos, sin
olvidar Dios… Por otro lado, tu Natureza Morta exhibe una muy ambiciosa
estructura en forma de tríptico, forma que como señalaste hasta remite al
Dante, y yuxtapone poemas y estrofas de gran intensidad encantatoria y variedad
incluyendo reminiscencias salmódicas o rapsódicas. ¿No ves en tu obra rasgos
románticos y metafísicos, en la familia de algún raro como José Antonio Ramos Sucre?
FM | A leitura de Ramos Sucre foi
algo impressionante para mim e acho tua referência fascinante. Há um recorte
entre o mundano e o metafísico neste poeta que o aproxima de uma poética que eu
já vinha desenhando, sobretudo graças a uma mescla de convivência com textos
teatrais e tratados filosóficos. É comum em Ramos Sucre o personagem saltar de
uma cena trivial em uma taberna, por exemplo, para o centro abissal de uma
discussão metafísica, por ele apenas sugerida. É um poeta impressionante e me
parece que ainda não compreendido de todo, sobretudo nessa vertente que
mencionas. Possui obra mais densa do que Tablada, Girondo, Eguren e Huidobro,
para citar aqueles predecessores do Surrealismo apontados por Stefan Baciu. Até
onde não me engano, minha poesia estrutura-se em uma complexidade que soma
lirismo e metafísica, que põe o arquétipo a dialogar com as mais obscuras
aparições do cotidiano. Deus é nossa grande fonte de equívocos e descobertas.
Está presente em minha poesia mais pelos abusos conceituais do que propriamente
por uma reverência. Tens razão quanto ao tríptico, forma a que recorro com
curiosa permanência em meus escritos, ensaios e poesia. O dobrado em três como
uma abertura para novas percepções, não apenas como tábulas soltas, mas
trazendo já em si a chave para uma recorrência. O tríptico tem sido recurso
plástico, mais ligado à pintura, pensemos em Bosch ou Francis Bacon, que
praticamente constituiu sua obra dentro dessa opção ou obsessão. Mas é claro
que o recurso a esses grandes painéis segue o curso de uma busca metafísica,
desde que aclarado que a transcendência só se realiza na imanência, e
vice-versa.
1989 A POÉTICA DO PARADOXO [Entrevista concedida a Sérgio Campos]
1996 A FAVOR DO CONTRA [Entrevista concedida a Lira Neto]
1997 O TEATRO E O ATENEU: Breve introdução à poesia de Floriano Martins [Carlos Felipe Moisés]
1998 A MODERNIDADE NÃO É UM CADERNO DE RECEITAS [Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão]
1998 A NECESSIDADE DA POESIA [Entrevista concedida a Emmanuel Nogueira]
1998 CONTINENTE DE POETAS [Wilson Martins]
1998-2010 FRAGMENTOS ROUBADOS AO TEMPO [Preparado por Márcio Simões]
1999 FLORIANO MARTINS TRAZ POETAS HISPANO-AMERICANOS AO BRASIL [Entrevista concedida a José Castello]
1999 UN LIBRO QUE UNE Y ESCUDRIÑA [Carlos Germán Belli]
2000 OS TORMENTOS DO VERBO E DA IMAGEM NA ESTRUTURA DA ALMA [Eric Ponty]
2002 AS MANIFESTAÇÕES SURREALISTAS NA AMÉRICA LATINA [José Castello]
2002 HUMANISMO POÉTICO [Entrevista concedida a Fabrício Carpinejar]
2002 MÉXICO Y BRASIL BUSCAN ACERCARSE A TRAVÉS DE LA POESÍA CONTEMPORÁNEA [Rodrigo Flores]
2002 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Rodrigo Petronio]
2002 UM OLHAR NA POESIA [Entrevista concedida a Carmen Virginia Carrillo]
2002 VOZES EM CONFLUÊNCIA [Maria Esther Maciel]
2003 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Entrevista concedida a Rodrigo Petronio]
2003 PALAVRAS PRELIMINARES [Entrevista concedida a Jorge Ariel Madrazo]
2004 SÁBIO IMPREVISTO [Entrevista concedida a Álvaro Alves de Faria]
2004 UMA AGULHA NA REDE DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2005 SOMOS O QUE BUSCAMOS [Entrevista concedida a Ana Marques Gastão]
2005 VERTIGENS DO OLHAR: autorretratos [Floriano Martins por Floriano Martins]
2006 A OUTRA MÁQUINA DO MUNDO [Entrevista concedida a Belkys Arredondo]
2008 FESTA DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Anderson Sandes]
2008 UMA CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ [Entrevista concedida a Lira Neto]
2009 A INOCÊNCIA DE FLORIANO MARTINS. INOCÊNCIA? [Jacob Klintowitz]
2010 ÀS VOLTAS COM O LIVRO-OBJETO E SUAS SOMBRAS [Entrevista concedida a Madeline Millán]
2010 CIBERCULTURA EN TIEMPOS DE ANALFABETISMO GLOBAL [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2010 NASCENDO TODOS OS DIAS [Entrevista concedida a Manuel Iris]
2010 OPÇÃO PELA DISSIDÊNCIA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2010 TODAS AS COISAS À MINHA VOLTA [Entrevista concedida a Adlin Prieto]
2011 CRÍTICA E RUPTURA: a inocência de pensar de Floriano Martins [Teresa Ferrer Passos]
2011 PARTICIPAÇÃO POÉTICA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2013 QUE HOMEM É ESSE? [Entrevista concedida a Oleg Almeida]
2015 O LUGAR QUASE LASCIVO DE UMA AMBIGUIDADE [Entrevista concedida a Renata Sodré Costa Leite]
2016 AVENTURAS DA POESIA NO TEMPO: o inteiro continente revelado [R. LeontinoFilho]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 01 [Alfonso Peña & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 02 [Omar Castillo & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 03 [José Ángel Leyva & Floriano Martins]
2016 LOS NAVEGANTES DE LA PARADOJA [Entrevista concedida a Alfonso Peña]
2016 UM NOVO CONTINENTE [Marco Lucchesi]
2017 À LUZ DO PARADOXO [Entrevista concedida a Leila Ferraz]
2017 FLORIANO MARTINS, POETA E DEMIURGO [Claudio Willer]
2020 | DIÁLOGO CON FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Berta Lucía Estrada]
2020 | FLORIANO MARTINS: Todos somos marginados a la sombra de lo desconocido | [Entrevista concedida a Elys Regina Zils]
2020 UMA CONVERSA COM FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Anna Apolinário & Demetrios Galvão]
2021 UNA PRESENTACIÓN DE LA OBRA DE FLORIANO MARTINS [José Alcántara Almánzar]
2021 VOCAÇÃO DIALOGANTE [Entrevista concedida a Maria Estela Guedes]
2022 DE ITARARÉ A UMA DEAMBULAÇÃO CONTÍNUA: Conversa com Floriano Martins sobre o Surrealismo no Brasil [Entrevista concedida a Anderson Costa & Elys Regina Zils]
2023 | FLORIANO MARTINS E O MARAVILHOSO TUMULTO DE SUA VIDA | Roda de imprensa, várias vozes
2023 A OUTRA VOZ DO TEMPO: Cronologia de vida e obra [Preparada por Floriano Martins & Márcio Simões]
OBRA ENSAÍSTICA PUBLICADA
El corazón del infinito. Tres poetas brasileños. Trad. Jesús Cobo. Toledo: Cuadernos de Calandrajas, 1993.
Escritura conquistada. Diálogos com poetas latino-americanos. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Escrituras surrealistas. O começo da busca. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998.
Alberto Nepomuceno. Edições FDR. Fortaleza. 2000.
O começo da busca. O surrealismo na poesia da América Latina. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2001.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. San José de Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2004.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. Caracas, Venezuela: Monte Ávila Editores, 2008.
A inocência de Pensar. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2009.
Escritura conquistada. Conversaciones con poetas de Latinoamérica. 2 tomos. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2010.
Invenção do Brasil – Entrevistas [edição virtual]. São Paulo: Editora Descaminhos, 2013.
Esfinge insurrecta – Poesía en Chile [edição virtual, em coautoria com Juan Cameron]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad. México: UACM – Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2015.
Sala de retratos. São Paulo: Opção Editora, 2016.
Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Valdir Rocha e a persistência do mistério. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Laudelino Freire. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2018.
Escritura conquistada – Poesía hispanoamericana. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Visões da névoa: o Surrealismo no Brasil. Natal: Sol Negro Edições, 2019.
120 noites de Eros. Fortaleza: ARC Edições, 2020.
TRADUÇÕES
Poemas de amor, de Federico García Lorca. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Delito por dançar o chá-chá-chá, de Guillermo Cabrera Infante. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Nós/Nudos, de Ana Marques Gastão (edição bilíngue). Lisboa: Gótica, 2004.
A condição urbana, de Juan Calzadilla (edição bilíngue). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2005.
Dentro do poema – Poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959, Org. Eduardo Langagne. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
A aventura literária da mestiçagem, de Pablo Antonio Cuadra (em parceria com Petra Ramos Guarinon). Fortaleza: Edições UFC, 2010.
III novelas exemplares & 20 poemas intransigentes, de Vicente Huidobro & Hans Arp. Natal: Sol Negro Edições/São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2012.
Sobre Surrealismo, de Aldo Pellegrini (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2013.
Memória de Borges – Um livro de entrevistas (2 volumes). São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2013.
Bronze no fundo do rio, de Miguel Márquez (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2014.
Tremor de céu, de Vicente Huidobro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2015.
Costumes errantes ou a redondeza da terra, de Enrique Molina (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2016.
Reino de silêncio, de Mía Gallegos (edição bilíngue). Teresina: Kizeumba Edições, 2019.
Traduções do universo, de Vicente Huidobro. Natal: Sol Negro Edições, 2016.
O álcool dos estados intermediários, de Gladys Mendía. Santiago: LP5 Editora, 2020.
A tartaruga equestre, de César Moro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2021.
∞
Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário