Originalmente publicada na Agulha Revista de Cultura, série especial, 2017
LF | Estamos em
2017, em poucos dias você completará 60 anos. Há quase meio século você convive
com a literatura e com a poesia. Quando você olha para trás, me diga, qual foi
a origem de seu primeiro motivo de satisfação?
FM | Evidente que
não foi literário. A vida nos chama primeiramente a atenção pelo arrebatamento
de alguma imagem. A vida nos chega com distinta intensidade de várias partes,
dos inúmeros partos de nossa percepção, de lugares tão diferenciados que sua
riqueza radica justamente em estar aberto aos sinais inesgotáveis de sua
presença e ausência. O básico da boa escrita é o domínio da linguagem, não há
dúvida. Porém só um tonto imagina que a força poética dependa exclusivamente desse
domínio. Uma das razões de ser da criação exige justamente uma independência em
relação à lógica. Não há uma sismografia decisiva na criação. Ela atua de algum
modo, como uma surpresa: um teste para a nossa capacidade de absorvê-la. Eu
lembro muito fragmentariamente a minha infância. Fui criado em duas casas. Pela
mãe e pela avó materna. Eu posso recordar muitas felizes evidências – e até
seria divertido aqui relatar algumas –, mas eu penso primordialmente naquele
momento em que fui tomado por uma satisfação ao mesmo tempo prazerosa e
crítica, que me descortinou algo na vida, e este momento não foi senão ali por
volta dos 16 ou 17 anos, quando justamente em uma festa de meu aniversário,
recebo de presente algo absolutamente inesperado em minha vida: o disco A
música livre de Hermeto Pascoal. Aficionado até então do minério do rock,
eu não sabia o que fazer com aquele disco. No dia seguinte, ao ouvi-lo, ele me
deu a primeira bússola estética de minha vida: ao ouvir inúmeras vezes este
disco eu fui buscar outro em minha prateleira, a ópera-rock 200 Motels,
do Frank Zappa, e descobri que eram estranhamente similares. Creio que foi aí
que comecei a me interessar pela construção de pontes.
LF | Você fala
que "não há uma sismografia decisiva na criação". Nesse sentido, você
mesmo alargou, insuflou e explodiu seus limites segundo que critérios de
criação?
FM | A
exuberância sempre foi um desafio e não um conflito. Sinceramente não sei a
quem creditar minha inquietude sempre elástica. Nada que me dissessem me parecia
o suficiente, eu tive uma dessas infâncias em que o mistério não me convencia
nunca de seus estratégicos limites. A adolescência foi uma espécie de
reiteração dessa caixa de pandora que todos temos dentro de nós. Turma de rua,
turma de colégio, visitas frequentes de parentes, meu pai que me levava ao
estádio de futebol, mas também ao cinema e aos palcos de luta livre… Eu nunca
senti a pressão de ninguém na família tentando me conquistar, sobretudo no
plano religioso, porque a parte materna era muito carola. Não sei por que
cargas d’água eu fui poupado de alguma catequese. Naturalmente eu fui definindo
meus limites, limites existenciais, antes mesmo do que critérios de criação. Eu
fui muito arisco e essa volúpia me foi benéfica. Salvo por alguns acidentes
alcoólicos, nunca me trouxe nenhum grave problema. A vida me dizia: vai
lá, experimenta. Eu lhe atendia prontamente.
LF | Vejo em sua
obra, tanto poética como plástica, uma abertura à possibilidade de se viver com
tal intensidade uma emoção que, ao narrá-la, você nos remete, como leitores, a
compreender os meandros da alma. A totalidade de seus signos e de suas fábulas.
Mergulhar em um abismo de volúpia e imagens em que, para não nos perdermos,
precisamos gritar em voz alta o nosso próprio nome. Como pode o poeta viver
essa precipitação sem perder sua identidade?
FM | Eu não sei.
Este é um aspecto que sempre me pareceu tão natural que jamais me levou a
especular sobre sua ocorrência. Creio que somos vários. Dificilmente
compreendemos a totalidade desses personagens em que nos dissolvemos. O nome é
uma espécie curiosa de assinatura do que representamos. O nome nem sempre é o
que somos. Com o tempo, fomos desprezando essa relação entre o nome e o homem.
Um Altamiro pode ser tudo menos um guerreiro. Uma Valéria pode ser uma criatura
sem saúde alguma. O nome perdeu sentido. O batismo tornou-se uma cerimônia sem
significado, uma espécie de negação da essência ontológica. Hoje todos nós
somos um ente qualquer. Creio que uma singularidade valiosa da criação é que
devemos abrir as janelas e demais frestas, para que tanto entre como saia tudo
o que tem que cumprir seu destino. Eu não tenho ferrolhos em minha alma. Mas
naturalmente fui configurando um modo de expressar essa intensidade, o que
destaca uma assinatura que se impõe, assim que toda essa precipitação de que
falas, ao chegar, já sabe qual papel desempenhar. Creio eu.
LF | Como a sua
fonte jorra sem fim e se completa ao mesmo tempo? Como você cria os paradoxos e
nos maravilha com os resultados dessa busca incansável? Como você se molda ao
mundo, sem se perder em ideologias?
FM | Talvez
devamos procurar juntos, uma resposta para tudo isto. Mas não creio que eu me
molde ao mundo. Disse em uma entrevista que dei ao Alfonso Peña que me sinto
como um navegante do paradoxo. Por vezes esta é uma verdade desconfortável.
Desenvolvi uma habilidade intensa, como um observador. Ironizo dizendo que em
outra encarnação eu devo ter sido alfaiate. Não à toa o acaso deu à minha
revista o nome Agulha. Não à toa escolhi como referência
de trabalho a poesia, o surrealismo e a América Hispânica. Uma arte, um
movimento, um lugar, onde é preciso uma dose imensa de perseverança para tocar
seus mistérios e descobrir suas conexões mais invisíveis. Não sei se atendo ao
que me indagas, mas diria ainda que possivelmente as implicações me seduzem
mais do que as explicações.
LF | Ao
contrário do que diziam os antigos poetas, que focavam a beleza e a verdade
como as principais qualidades da obra literária, você acredita que no
transcorrer de um século as obras de um artista podem mudar de gênero? A
retórica do tempo afeta, de alguma forma, a imparcialidade do livro e do
leitor? Além do valor estético, sentimentos, lembranças, nostalgias criam
elementos capazes de mudar a interpretação de uma página? Estas questões foram
trazidas por Adolfo Bioy Casares em seu livro A Outra Aventura e
de alguma forma atingem a todos nós, poetas, quando nos envolvemos nessa viagem
solo. Como você viaja por esse continente?
FM | Esta surrada
discussão entre fundo e forma ainda hoje persiste, por mais óbvio que seja que
a estética não reina isoladamente em um extremo ou outro da linguagem. Até
deveríamos dispensar o ornamental e o desabafo. Seja na criação, seja na
crítica. Evidente que há padrões de linguagem que demarcam o raio de ação dos
gêneros, falemos de um poema, de um romance ou de um ensaio, por exemplo. No
entanto, é plenamente possível, nos bastidores da criação ou da reflexão,
buscar uma feliz convivência entre os gêneros. Quanto à imparcialidade, não
estou seguro de sua existência. Ao tratarmos da sintonia do leitor, por
exemplo, com determinada obra, inclusive a obra crítica, é natural que ele
apreenda apenas aquela fatia que se insere em seus sentimentos e em sua visão
de mundo. E é sadio que seja assim. As inúmeras perspectivas de interpretação
igualmente se definem a partir desse caudal de afinidades. Se pela mudança de
gênero queres abordar, não o plano alquímico, mas sim uma sucessão de usos da
linguagem, é bem possível haver tais mudanças, embora não tão frequente. O
século XX projetou um acento mais intenso nas relações entre criação e crítica,
e viu surgir poetas que também escreviam estudos críticos, inclusive de
natureza política, assim como escritores, em uma maneira geral, que cultivaram
o exercício criativo em outras áreas. Não creio que haja uma regra, qualquer
que seja ela, no tocante a esse desentranhamento afetivo que constitui a
criação artística. Eu lido com tranquilidade com a utilização de várias
linguagens: o poema, a prosa (poética, narrativa, ensaística, jornalística), a
colagem, a fotografia, a tradução etc. E seguramente este exercício múltiplo
enriquece o ambiente de cada gênero. Assim como enriquece igualmente a minha
pessoa.
LF | Já que você
considerou a mudança de gênero alquímica, muito nos interessa saber como você
encara essa sucessão de estados anímicos.
FM | Mais do que
sucessão, insisto, eu penso nessas mudanças de gêneros como uma arquitetura
múltipla que, ao final, tem por finalidade substantiva a definição do ser
criador. Já no tocante aos estados anímicos, olha, tenho a impressão que se
aqui tratássemos de uma obra narrativa ou dramatúrgica, não haveria tal
indagação. Em grande parte, pelo entendimento do espírito lírico que mais
genericamente define o poema. No entanto, a presença, em minha poesia, de
personagens, cenários, argumentos, exige este exercício de despersonalização,
para melhor expressar a sutileza de um discurso que não se interessa por
convencer seu leitor, mas antes por lhe despertar novas perspectivas de
concordância ou discordância. Também o criador, mesmo no caso de um poeta
essencialmente lírico, vivencia suas oscilações anímicas na medida em que a
vida de alguém não se constrói em um plano linear.
LF | Em A
Vida Inesperada, você fala em sentir-se vivo. Em revelar a si mesmo,
segundo suas palavras: “o que é possível encontrar em seu íntimo”. Reúne neste
livro diferentes épocas de sua vida e eu pergunto: como você se multiplica em
vários personagens e como retorna ao Floriano para novos recomeços? O que muda
entre você e outro?
FM | O que
pretendi ao montar o livro A vida inesperada está mais além do
que a simples recolha de uma obra completa. A começar pelo fato de que ali se
trata essencialmente de obra incompleta. Para mim, era o momento de definição
de uma poética, de recolher os escritos, éditos e inéditos, sondar até que
ponto eles resistiam ao tempo e ao meu entendimento poético, e, a partir desse
mapeamento, buscar os fios mais invisíveis de modo a alcançar uma nova unidade,
uma aventura alquímica. Deste modo foi preciso recorrer a vários truques, tais
como fusão de poemas, cortes de versos, ajustes de imagens, desmonte do corpo
integral dos vários livros já publicados etc. Desenhei uma nova estrutura, sem
ferir o plano cronológico do volume, criando uma série de capítulos de uma
espécie invulgar de poema único. O desafio radicava, não apenas no componente
estético, mas na definição de um tempo singular onde eu posso ser
simultaneamente os inúmeros Florianos com quem convivo ao longo de minha vida.
Mais do que propriamente uma mudança entre eles, o que verifico é um estímulo
perene à leitura jamais conclusiva do que se é e do que se pode ser. Mesmíssimo
caso se passa com o amor, a relação amorosa que dá uns traços no tempo é
justamente aquela que é um sistema de afinação perene das naturezas distintas
entre si de uma parelha. Meus quarenta anos casados com a Socorro é uma grande
confirmação do que digo.
LF | Faço-lhe
esta pergunta, porque em algumas ocasiões, você “pariu” poemas a quatro mãos.
Ou seja, com outros poetas. Em algum momento, as afinidades foram tantas e tão
intensas que acreditamos ler o poema de uma só pessoa. Digo-lhe isto por ter
sido uma de suas parceiras nesses poemas, mesmo estando a mais de 3.000
quilômetros de distância. E jamais termos nos encontrado pessoalmente. Como
você definiria tal afinidade poética?
FM | Aqui estamos
em um plano bem próximo, porém distinto. O que se exercita na criação conjunta
é uma alteridade que não se entrega propriamente ao modo de escrever do outro,
mas sim que ousa a afinação de dois modos (o meu e o do parceiro), ciente de
que só é possível alcançá-la através da mais pura magia. Uma magia da
identificação de dois mundos, do reconhecimento do outro como parte nossa.
Talvez possa parecer estranho que este exercício se dê à distância, sendo
aparentemente mais fácil desenvolvê-lo no ambiente de uma proximidade física.
Devo confessar que, no meu caso, apenas uma única vez escrevi algo lado a lado
com o parceiro, porém não resultou nada a ser considerado. Não pelo método,
certamente, mas sim pela falta dessa afinidade mágica. Já escrevi livros
inteiros, sejam poemas, seja peça de teatro, a quatro mãos e à distância. Mais
ainda, sem sequer conhecer pessoalmente o outro. Creio que o mexicano Manuel
Iris – juntos criamos o livro Overnight medley – é o único
caso em que eu conheci o parceiro antes da aventura criativa comum. Os demais –
Viviane de Santana Paulo, Leila Ferraz, Zuca Sardan – são todos queridos amigos
no plano virtual. E houve um caso ainda mais incomum: um ensaio, sobre o pintor
Antonio Bandeira, que escrevi a quatro mãos com o crítico Jacob Klintowitz.
Sabes que há pelo menos dois tipos de criadores, aquele que sente o domínio de
sua obra e aquele que crê que, em essência, permite que a obra crie a si mesma.
Pensar assim, de um modo ou de outro, é cair em um ardil, da consciência ou do
desprendimento, ou seja, uma armadilha do ego. Encontrei um parceiro para criar
conjuntamente de modo bem espontâneo, porém algo em meu íntimo sentia o desconforto
do estado pesado de solidão que é a vida do escritor. Escreve sozinho, alguém o
publica e jamais sabe que sensação desperta em seus leitores. Por isto foi me
cativando, pouco a pouco, este mundo aberto em que posso criar com outro poeta,
em que aprendo o ofício de design e edição de livros e revistas, e em que posso
ler a público meus poemas. Tudo isto me dá a sensação legítima de que melhor
participo do mundo.
LF | Eu gostaria
de saber sobre a fonte interior que o faz movimentar, essa força enorme,
inteligente e sensível que o move? Como você trabalha esse movimento na
maravilhosa obra plástica que produz? Como a fotografia revela seu mundo
interior em colagens ou sobreposições inauditas, imagens sempre novas,
surpreendentes e marcantes, sobressaindo-se dentre o trabalho de outros
artistas que a utilizam.
FM | Na
infância eu lia muitos gibis de super-heróis e gostava de recortar as figuras e
brincar com elas, fantasiando sua animação. Isto me foi muito benéfico tanto
como adubo da imaginação quanto também pela utilização de pequenas tesouras.
Meus olhos iam aos poucos se enchendo de minúcias. Antes mesmo de começar a
fazer colagens passei por uma breve fase de utilizar recortes dos quadrinhos
como elementos de composição do poema. Desta época cheguei a publicar um
libreto intitulado As contradições terríveis (1987). Quando
chegou o momento das colagens eu tinha já uma boa experiência com as tesouras e
pude então lidar com a criação de minúsculas peças, recortando detalhes de
inúmeras obras plásticas, em especial aqueles pintores flamengos barrocos
belgas e holandeses, tais como Jacob Jordaens e Pieter Aertsen, cujas
naturezas-mortas me enfeitiçavam. Eu próprio me imaginava personagem saído das
páginas de algum livro, o que me levou a criar colagens como se fossem planos
labirínticos que tinham por base livros, janelas e instrumentos musicais.
Intuitivamente eu estava compondo naturezas-mortas. A fonte interior é uma
conjugação de todos os tempos em um momento mágico.
LF | Vejo que as
imagens – poéticas e plásticas – se complementam em intensidade. Sinto também
que você não se prende a Ismos. Trabalha livremente, como um visionário da
vanguarda artística. Como o Surrealismo surgiu em sua vida? E como esse
movimento influiu em sua obra? Quais os surrealistas que mais atraíram seu
olhar de artista plástico e poeta?
FM | Acrescentaria
as imagens sonoras, porque a música sempre foi um fertilíssimo estuário de
metamorfoses. Não encontro distinção de influências entre o que eu via, ouvia e
lia. A rigor, creio que o olfato era o menos intenso de meus seis sentidos.
Creio que foi o Rubén Darío quem disse que conhecer diversas línguas é a melhor
maneira de evitar a tirania de uma delas. A minha intuição, aliada a meus
guias, me levaram sempre por esse caminho do múltiplo. Já a vanguarda, o
instinto por buscar novas formas de expressão foi convertido em mera obsessão
por uma novidade de pouca extensão no tempo, o que acabou tornando o criador,
em nossa época, uma marionete vulgar nas mãos de um mercado voraz. Quando surge
o Surrealismo em minha vida já não havia modo de aceitar qualquer ortodoxia.
Além do que eu já vinha de boa convivência com Da Vinci, Brueghel e Bosch;
Milton, Shakespeare e Drummond de Andrade; Hermeto Pascoal, Frank Zappa e
Agostinho dos Santos… O que faz o Surrealismo é me dar maior firmeza no
ambiente vário e acidentado que eu já vinha trilhando. Do ponto de vista
estético o movimento rejeitava toda forma de ortodoxia, o que refletia uma de
suas contradições. Na plástica o primeiro surrealista que me atraiu foi Lorca,
seguido de Dalí e daqueles fascinantes tableaux vivants de
Yves Tanguy, bem como Hans Belmer e Kati Horna, cuja “Ode à necrofilia” me
levou a descobrir que o mundo fotográfico poderia ter uma dimensão mágica muito
maior, e novamente os tableaux vivants de fotógrafos como Jan
Saudek e Sára Saudková. Como vês, a casa sempre se abria toda, com suas portas
e janelas, telhas fora de lugar e gretas no assoalho. O Lorca surrealista não
vem do poema e sim de seus desenhos, refinado exemplo de criação automática,
assim como de uma parte de seu teatro, principalmente: Assim que
passarem cinco anos e O público – peças dos primeiros
anos 1930.
LF | Algo que me
impressiona – e deve impressionar seus leitores – é o seu trabalho de editor?
Gostaria de saber como você se situa nesse universo? Como fio condutor do
pensamento contemporâneo? Você também trilha o caminho das traduções – e o faz
de forma brilhante, principalmente em espanhol. Acredito que teu trabalho de
grande difusor da cultura hispano-americana é apenas a ponta de um iceberg.
FM |
Começaria por acrescentar o trabalho de pesquisador e ensaísta. São fios de uma
mesma tapeçaria e os vejo em perfeita harmonia com o trabalho de criação. O
primeiro marco como editor vem de 1988, com a criação de um jornal
chamado Resto do mundo. Em dois anos saíram apenas quatro edições,
em tiragem que imagino tenha sido de 1.000 exemplares. Desde o princípio a
ideia era dar passagem ao mundo desconhecido da criação artística, aí incluindo
entrevistas e o pensamento crítico a seu respeito. Não havia, portanto,
distinção, em essência, do que faço até hoje com a Agulha Revista de
Cultura. Este é também o paradigma utilizado na tradução, exceto quando a
realizei sob o prisma contratual, ocasião em que traduzi autores já bem
conhecidos do leitor brasileiro, ao menos é o que suponho, como Garcia Lorca e
Cabrera Infante. A um idêntico paradigma recorri no caso da pesquisa e do
ensaio. Este espectro diversificado nos leva a uma triste paisagem: em grande
parte por danosa condução do mercado, no Brasil apenas uma coisa excede a
avalanche de autores e obras desconhecidas, que é justamente a persistência da
rejeição a conhecê-los. A opção inicial por me concentrar na América Hispânica
é porque sempre julguei abusiva a nossa relutância – uma forma muito deprimente
de presunção – em aceitar o convívio em esfera continental com nada menos do
que 19 países de língua espanhola. Vem daí a publicação de um extenso volume de
estudos sobre poesia e surrealismo na América: Um novo continente,
assim como as traduções de livros de Aldo Pellegrini, Juan Calzadilla, Enrique
Molina, Vicente Huidobro, Pablo Antonio Cuadra… O único lado positivo que vejo
nessa nossa aculturação é que sempre terei uma vultosa agenda de trabalhos na
mesa.
LF | Overnight
Medley é um livro de arte, com seus manuscritos, sua intrínseca relação
com o jazz e a presença singular da alteridade, considerando que o livro é um
projeto a quatro mãos que você realizou com um poeta mexicano residente nos
Estados Unidos.
FM | Aqui está
uma fagulha valiosa de minha vida. De algum modo tudo começou a partir de
minhas pesquisas sobre as vanguardas hispano-americanas, então descobri uma das
figuras máximas na insistência de permanência histórica do Nadaísmo na Colômbia,
o poeta e ensaísta Armando Romero. Graças a ele eu fui ministrar um curso para
mestrandos na Universidade de Cincinnati, nos Estados Unidos. Logo na recepção
no aeroporto Romero me apresentou um jovem poeta mexicano, Manuel Iris, que
seria um de meus alunos, mas também a pessoa indicada pela Universidade para
cuidar de mim. No primeiro abraço e na conversa delongada a caminho da
hospedaria, algo nos antevia uma amizade. Ali ficamos, minha mulher e eu, por
três meses, durante os quais Armando Romero foi uma firme confirmação de
amizade e Manuel Iris um guia pelo organismo subterrâneo da universidade e da
cidade. Um dia ele me mostrou uns poemas que estava criando como leituras
críticas de dois mestres do jazz estadunidense. Lembro que o estimulei a seguir
viagem e quando regressei ao Brasil indaguei de seu interesse por elegermos uma
dezena de nomes ligados ao jazz e escrevermos um poema dedicado a cada um
deles. O traçado seguinte é que poderíamos eleger não mais um compositor, mas
sim uma de suas músicas mais tocantes, para nós, e então criaríamos um poema a
quatro mãos dedicado a 10 peças musicais. Aquela foi a decisão de extração de
um minério feliz. Recordo que logo viajei para a Austrália, então o livro abria
suas páginas para mais um pomar de riscos salutares: em poucas semanas um
mexicano nos Estados Unidos fechava as páginas de um livro escrito a duas mãos
com um brasileiro então ancorado na Austrália. Esta experiência foi muito
interessante. Quando fomos escolher cada um os 10 compositores de nossas
afinidades, Manuel aportou com uma dezena de nomes ligados a um jazz clássico,
tais como Duque Ellington, Charles Mingus, Charlie Parker… Enquanto eu punha no
tablado um jazz rompedor de gêneros: Astor Piazzolla, Hermeto Pascoal, Frank
Zappa… Ao final reunimos os manuscritos originais dos poemas, batemos um papo,
os dois poetas, a título de making of, convidamos dois tradutores
amigos, para que o livro fosse publicado em português, espanhol e inglês, e,
pedimos ao Jovino Santos Neto, bastante conhecido por integrar desde cedo o
grupo do Hermeto Pascoal, para escrever um pequeno texto para contracapa. De
algum modo este livro é também um disco.
LF | O que você
poderia nos contar do estreito e articulado relacionamento intelectual com Zuca
Sardan.
FM | Ah o meu
grande mestre do absurdo saudável! Quando comecei a pesquisar sobre a lírica
hispânica, e me aproximei de suas grandes vozes, de muitos ficando amigo, a
minha mulher tratava a minha mesa como um asilo de velhinhos (risos). Ao longo
dos anos convivi com a morte de muitos deles, aqueles que eu conheci
pessoalmente e os que me foram importantes embora apenas vivenciando uma
amizade postal e digital. No caso brasileiro também com o tempo fui descobrindo
vozes fundamentais que eram bem mais velhas do que eu e com um reconhecimento
aquém do brilhantismo de suas obras. Assim é que fui me aproximando de muitas
instâncias quase fantasmais. Zuca Sardan era para mim o nome mais relevante
daquela antologia hoje clássica organizada pela Heloísa Buarque de Holanda.
Havia ali um time de poetas rompedores de cerca dos quais me tornei amigo:
Leila Míccolis, Afonso Henriques Neto, Roberto Piva. Alguns outros até hoje não
entendi o que faziam naquele cercado. Bom, fui lendo e relendo Zuca Sardan por
algum tempo, tinha notícias de que vivia na Alemanha etc. Um dia criei coragem
e lhe escrevi. Acho que nos tornamos amigos no instante em que ele abriu a
carta. É algo impressionante, não apenas considerando as duas décadas de farta
aventura existencial que nos separa, como também as nossas experiências de
vida, a Europa para ele, a América Hispânica para mim. Não recordo o start, de
um momento para outro eu o estava entrevistando e logo começamos a criar a
quatro mãos. Já publicamos uma trilogia de peças de teatro, intitulada O
iluminismo é uma baleia. Depois fizemos uma aventura dramatúrgica mais
ousada, que batizamos de Teatro Automático, com publicação prevista
ainda para este 2017, pelo selo Sol Negro Edições. Escrevemos ainda um livro
mágico, alheio a qualquer gênero, onde mesclamos relatos, desenhos, colagens
etc. Todas as minhas experiências de uma criação compartilhada são excedidas
pela relação com Zuca Sardan. Agora mesmo eu estou escrevendo um livro sozinho,
mas a sua presença já está tão entranhada em mim que vou lhe mostrando cada
novo capítulo e ele me faz valiosas sugestões. Ainda ontem me disse: “Tua mente
de vasos-comunicantes surrealista é tão intensa, que basta você narrar: as
meditações já vêm (inconscientemente) juntas”.
LF | Eu ia dizer que em O Iluminismo é uma baleia já
observamos a criatividade deste livro a começar pelos agradecimentos. É de um
humor outstanding, como diriam os adeptos do humor negro inglês.
FM | O
iluminismo é uma baleia possui (ou por ela é possuído) toda uma
intensa singularidade baseada no humor, no mais amplo sentido, aquele princípio
maior defendido por Marcel Schwob de que “rir é deixar-se surpreender por uma
negligência das leis”. Este arquivo de negligências é o que descarnamos
impiedosamente em todo o livro, seja na capa, no texto, nas imagens internas e,
como bem recordas, na página inicial de agradecimentos aos patrocinadores.
LF | Sim. As
ilustrações são de uma riqueza imensa. Ao mesmo tempo em que nos remontam
àquelas do início do século XX – como as de A Vida Moderna e
as da coleção de obras de Jules Verne (edição portuguesa), ao trazê-las à luz
vocês lhes dão um cunho de universalidade fantástico! Em 1912, por exemplo, os
ilustradores trabalhavam como videntes. Pareciam antever as incríveis mudanças
pelas quais a humanidade passaria nos próximos anos. O livro O
iluminismo é uma baleia possui esse caráter crítico da sociedade
atual? É visionário? Ou suas falas prenunciam certa inocência? Uma nostalgia
sobre uma época em que o conhecimento ainda não se deixava poluir por excesso
de informações desarticuladas?
FM | A rigor é um
truque de negação do tempo, que certamente deixaria Einstein muito feliz. Como
lemos em uma de suas orelhas, um enigma recortado com todas as lâminas do
humor: “– Pode sair. / – Sim, e pode entrar. / Muito bem, quem sabe ainda nos
vemos. / – Que não seja lá dentro. / – Muito menos lá fora.” Fazemos uma troça
entre passado e futuro, o livro é visionário na proporção em que ilude o leitor
com certo ar nostálgico. Escolhemos três enredos que aguçam tanto a memória
quanto a imaginação. O livro é uma irrequieta trilogia teatral, aquele teatro
mambembe, levado de cidade em cidade por uma carroça mágica. Como a carroça
hoje esquecida do Garcia Lorca. Nossa trama gira em torno da reinauguração de
um circo de bairro, a viagem impossível de um trem que sai de Fortaleza a
caminho da China, e os esforços para impedir a demolição de uma célebre casa de
cinema no Rio de Janeiro. Ao final ainda incluímos um making of, os
bastidores de nossa caravana. A trilogia traz o passado e o futuro para o
picadeiro do cotidiano lembrando que quanto mais o presente procura ser
distinto ele apenas se repete e repete, incansavelmente. Como alguém que tenta
ser artista, quando na verdade deveria apenas viver.
LF | Gostaria
também que você falasse mais sobre o vasto universo que abriu para as artes e
literatura brasileiras, através de anos na militância como editor, responsável
pela organização e realização de mostras internacionais. E mais: sobre as
palestras/temas que proferiu na América Latina e Europa.
FM | Acho um
desdobramento natural, ou seja, na medida em que um artista brasileiro é
convidado para um palco qualquer em outro país, é o momento ideal para que
apresente sua arte, mas que bem reaja à oportunidade de divulgar as obras de
outros brasileiros. Há um momento em particular que soma fortuna e infortúnio.
A Feira de Livros do Zócalo, na capital mexicana, tinha então um perfil bem
atrativo e solidário, que destinava cada edição ao convívio cultural entre uma
cidade mexicana e uma cidade do país convidado a cada ano. No ano em que a
cidade mexicana era Guadalajara, outro ponto mágico no mapa cultural mexicano,
sobretudo pela realização de uma das mais importantes Feiras Internacionais do
Livro, neste mesmo ano, graças a um extenso plano de cumplicidades culturais
com o então curador da Feira, o poeta e editor José Ángel Leyva, a outra cidade
foi Fortaleza, onde nasci. Ángel Leyva e o adido cultural do México vieram a
Fortaleza, eu os levei para uma conversa com o prefeito e sua secretária de
cultura. Recordo que à saída a primeira observação que fizeram os dois
mexicanos era um espanto diante do fato de que o prefeito baixava ao chão seu
olhar sempre que falava comigo. Todo lugar tem suas idiossincrasias e eu
conhecia bem as da minha cidade. Resultado é que, apesar do extenso prazo dado
para um bom cuidado da representação brasileira no México, os mexicanos tiveram
ali uma imensa decepção, pelo amiudado inexpressivo do que para lá enviou o
prefeito de Fortaleza. Considere aqui um detalhe quando menos risível: passagem
e hospedagem minhas foram dadas pelo governo mexicano. Na época eu havia
organizado uma edição especial de uma das mais destacadas revistas mexicanas,
número dedicado à poesia brasileira, para o qual convidei o artista plástico
cearense Hélio Rola que cedeu obras para capa e páginas inúmeras de ilustração
da edição. Mas veja bem, o dilema se repetia em várias instâncias. O poeta
Marco Lucchesi durante certo momento dirigiu brilhantemente a revista Poesia
Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional. Pude com ele colaborar, destacando
aqui uma seção com mais de 100 páginas que me cedeu para divulgar a tradição
lírica peruana. Apesar do fracasso de representação na Feira do Zócalo, o
Brasil foi convidado para a Feira de Guadalajara, oportunidade em que Lucchesi
preparou uma bela edição da revista Poesia Sempre dedicada ao
México. Por problemas protocolares na alfândega daquele país, aliados à
inoperância do governo brasileiro que, naquele momento, optou por salvar os
tambores do Carlinhos Brown, que enfrentava o mesmo impedimento burocrático,
deixou de fora da mostra o lançamento da revista brasileira. O Estado ainda
reluta em distinguir o grau de importância para nossa cultura: Carlinhos Brown
e Poesia Sempre. Lucchesi, quando esteve à frente da revista, nos
deu uma precisa e sofisticada lição de cosmopolitismo. O destino não tem culpa
de nada. As escolhas é que sempre imperam.
LF | Todos nós,
criadores, em um dado momento, já enfrentamos a muralha de eufemismos que segue
erguendo o Estado, sempre que buscamos dar segmento internacional às nossas
obras. Gostaria que você falasse de outras instâncias de frustração sua em
relação ao Estado.
FM | Gosto do
termo ignorantaço, utilizado por Zuca Sardan. Mas também acho de
uma delicadeza fascinante a tua muralha de eufemismos. Cuidando de
não tornar exaustivo o tema para o leitor, eu gostaria de recordar dois
momentos: os efeitos da publicação de meu livro Escritura Conquistada pela
Fundação Biblioteca Nacional e a curadoria da Bienal Internacional do Livro do
Ceará. Temos aí uma cronologia que vai de 1998 a 2010. Escritura
Conquistada teve uma primeira edição demarcada pelos limites de uma
bolsa fornecida para FBN. Ali concentrei um número de 24 poetas por mim
entrevistados na América Ibérica. Em 2005 recebi uma homenagem do governo
venezuelano pela publicação do livro, uma noitada na Embaixada da Venezuela, em
Brasília, que culminou com a leitura de alguns poetas entrevistados por poetas
brasileiros. Com isto se deu uma aproximação maior com a cultura daquele país.
Livros meus, como La noche impresa en tu piel(2006), Teatro
imposible (2007), Un nuevo continente – Antología del
surrealismo en la poesía de nuestra América (2008) foram ali
publicados e, em seguida, fui convidado pela direção da Fundação Biblioteca
Ayacucho para organizar e prefaciar a primeira antologia bilíngue, de sua
respeitada coleção, dedicada ao brasileiro Carlos Drummond de Andrade. Em uma
de minhas idas a Brasília, em conversas com o Embaixador daquele país, ele me
informou da existência de um navio diplomático venezuelano que costuma vir ao
Brasil, entrando pelo porto de Recife. Declarou intenção de vir ao porto de
Fortaleza, desde que eu organizasse um encontro com nosso governo de Estado. O
navio aportou em Fortaleza, estava previsto jantar seguido de baile dançante,
com apresentação de danças típicas venezuelanas. Todo o corpo oficial do
governo havia sido convidado. Chegou primeiro o vice-governador, um historiador
que não sabia uma palavra em espanhol. O atraso dos demais convidados beirava o
inaceitável, quando então sobe ao navio o secretário de cultura, um comunista
que fazia parte da memória política local, defensor do bolivarianismo – o que
quer que isto signifique – justamente quem me convidou para ser curador da
Bienal, e surpreende a todos (em mim, sobretudo) por desconhecer o espanhol.
Atende ao celular inúmeras vezes e logo engendra seu plano de fuga e
desaparece. Eu e minha esposa – já não recordo quantas vezes – nos desculpamos
com o adido cultural e o capitão do navio. Logo depois era a vez da realização
da Bienal Internacional do Livro do Ceará. Fui convidado a expor ante o
conselho geral do Ministério da Cultura venezuelano o plano da Bienal. Foi uma
tarde memorável, em Caracas, em que discutimos qual seria a melhor participação
venezuelana no evento brasileiro, e inclusive tratamos do apoio financeiro que
aquele país poderia dar à presença cubana. Saímos da reunião com praticamente
tudo resolvido, porém houve senões burocráticos que não impediram de todo a
presença dos dois países na Bienal porque pude buscar outras fontes de apoio.
Se pensarmos somente na Venezuela eu ainda teria muito a relatar em termos de
infortúnios. Tenho uma caderneta de exemplos equivalentes relativos a quase
todos os países hispano-americanos. A miséria intelectual do Estado brasileiro
– que hoje domina de norte a sul as páginas do jornalismo criminal – me fez
desistir de compactuar com sua agenda superficial.
LF | Impossível
não dar uma boa risada com a imagem que você nos deu de Lula! O que me encoraja
a lhe fazer uma pergunta capciosa, principalmente aqui no Brasil. Digo isso,
porque quando estive em Paris em 1968 pude vivenciar uma revolta política e
suas consequências dentro do movimento surrealista francês. Ficou muito clara,
durante aquela primavera a questão vastamente discutida pelos surrealistas,
sobre a tomada de partido: arte pela arte ou arte engajada? Nesse momento houve
uma cisão no movimento surrealista francês. Minha pergunta, portanto, é como se
comportam os artistas perante as questões políticas de nosso país.
FM | Não temos –
jamais tivemos – uma consciência do papel que um artista pode representar no
ambiente político. A consecução de qualquer plano – criativo, científico,
religioso – sempre foi percebida no Brasil como uma oportunidade de destacar o
gênio e não de avultar o teor de sua descoberta. Eu não perderia meu tempo me
referindo ao Lula. Ele apenas copia, de modo exacerbado, os nossos dilemas mais
perenes. É impossível relacioná-lo ao perfil do intelectual brasileiro, exceto
pelo aspecto em que os dois se ausentam da realidade para atuar em um mundo
idealizado pelo próprio umbigo. O ambiente político em nosso país soa como uma
caixa de momentos esplêndidos da qual participam não os que defendem uma
utópica justiça social, mas antes os que azeitam a máquina no sentido de uma
exposição de méritos inquestionáveis.
LF | Sei ainda
que você tem em mira a Austrália. Quero que nos conte a respeito.
FM | É uma
história bem curiosa. Certamente eu jamais teria conhecido a Austrália não
fosse pelo fato de minha filha mais velha ter casado com um australiano e ir
com ele morar em Sidney, onde já está há mais de uma década, com seus dois
filhos. Tenho ido ali diversas vezes e sempre em períodos dilatados de dois
meses. Posso assim descortinar uma Sidney até então minha completa
desconhecida. Pude também ter contato, em seus museus, com muita arte asiática
e europeia que não chega ao Brasil. Sem falar no doutorado em civilidade que
ali se aprende. A paisagem cosmopolita de Sidney parece fílmica. Nela descobri
o intenso esforço de um de seus poetas, Max Harris, por tornar o país um dos
polos criativos centrais do Surrealismo. Ao mesmo tempo conheci a obra máxima de
James Gleeson, um dos grandes artistas plásticos do Surrealismo. Ambos
estiveram juntos em um agrupamento de criadores, orientados por Max Harris e a
revista que ele havia criado: Angry Penguins, movimento que falhou graças ao
convencionalismo da sociedade australiana da época. Tenho observado que Max
Harris foi banido do cânone literário de seu país, e que James Gleeson, embora
encontremos algumas de suas obras em museus, após a sua morte, os livros e
catálogos editados em vida foram ausentados de circulação. Atualmente incluo
essa dupla, e o desdobramento de suas iniciativas, em minhas pesquisas.
LF | O que você
tem a nos dizer sobre a ARC Edições?
FM | ARC
Edições surgiu há algum tempo, como uma coleção de livros virtuais, de
circulação gratuita. Logo eu resolvi arriscar pequenas tiragens de livros
impressos. Desde então fizemos 12 livros, a maior parte meus (sozinho ou em
parceria com Valdir Rocha, Manuel Iris, Viviane de Santana Paulo e Zuca
Sardan), além da poesia completa de Sérgio Campos – notável poeta brasileiro
que morreu jovem e ficou completamente esquecido – e uma edição crítica com
poemas, desenhos e cartas do surrealista português Cruzeiro Seixas. Paralelo ao
surgimento da ARC Edições, tivemos também a Sol Negro Edições, em Natal,
dirigida pelo Márcio Simões, coeditor comigo da Agulha Revista de
Cultura, cúmplice inesgotável. Eu e ele assinamos o projeto gráfico de
todos os livros de meu selo. Estas parcerias são a fonte mais valiosa de minha
resistência, e se verificam também na Agulha Revista de Cultura, assim
como nas canções e na aventura plástica. Neste ambiente de quase coprodução, há
três pessoas às quais sou imensamente grato: Leontino Filho, Valdir Rocha e
naturalmente Márcio Simões. Na revista e na editora temos alcançado um estágio raro
na relação com os direitos autorais, todos eles cedidos pelos colaboradores ou
por seus herdeiros.
[Pausa para um vinho imaginário]
O homem foi, ao longo do tempo, catalogando na vala
de certa desconsideração, aspectos fundamentais da constituição de seu caráter:
o sonho, a imaginação, o desejo. E mesmo a memória foi sendo enfiada em um
balaio de melancolia. Também foram expurgadas as crendices, como sinal de que o
moderno era a casa de uma consciência bem polida. Está tão descartado crer que
beber o sangue do cordão umbilical desenvolva mais a memória da infância quanto
evocar espíritos-guia para a grande travessia da existência. Quando menos
lembrarmos e mais desolados nos sentirmos, melhor a calúnia aduba a morfologia
de seus truques. Foi pensando nisto que surgiu a nossa boa conversa sobre a
urgência de recuperarmos a credibilidade da palavra dada à imprensa. Manter um
tom de jornalismo responsável, ascético, sempre sério, à volta com temas
escabrosos, mortes, assassinatos, desastres, quedas de gabinetes, naufrágios,
esplêndidas vedetes, belas letras, artes plásticas, filosofia, anúncios, fotos
catárticas etc. Isto sem esquecermos jamais que a cola bem feita é privilégio
dos grandes mestres.
LF | O que acho
maravilhoso é que em certo momento desta entrevista, simplesmente podemos
trocar os papéis. Você responde primeiro a uma pergunta que faço depois! Essas
reflexões, por exemplo, merecem uma pergunta. Elas tocam exatamente naquele
ponto quase intangível que existe no limite entre a luz e a sombra. Ou entre o
espelho e o reflexo nele contido. Neste momento da entrevista, passamos para
outro plano. O mesmo plano que transitamos quando em transe somos parceiros em
um mesmo e único poema. Por onde andamos? O que nos une? Quanto tempo nós
ignoramos? O que acontece nesse estado onírico em que você e seu parceiro ou
sua parceira se movimentam?
FM | Não há
melhor diapasão, para o amor, o sexo, a criação, a amizade, do que o sentido de
entrega ao outro. Se há algo que não podemos temer é o erro que eventualmente
decorre da entrega. A frustração também é parte da receita para uma vida
intensa. O tempo não faz nenhum sentido nessa equação mágica repleta de
incógnitas. Não cabe sequer ignorá-lo, ele sequer existe. Não é em função do
tempo ou do espaço que nos movimentamos. A obra a quatro mãos é como a dança,
em que os parceiros se deixam conduzir, não um pelo outro, mas sim pela própria
dança.
LF | Em seus
poemas você trata o feminino como uma realidade em ação. Algo que transborda em
si mesmo e se completa em imagens. Você concorda?
FM | Antes
de tudo trata-se de um símbolo fortíssimo. Ao emprestar voz a personagens
femininos, evidente que haverá uma maior tensão no discurso, pois ela haverá de
tratar, de distintos ângulos, de um tema revelador: a ocultação do ser. Além
disto, é um símbolo completo, de integração dos dois sexos, que se presta com
mais amplitude aos desígnios da criação. Mais do que o feminino como gênero eu
diria que a presença majoritária de personagens femininos em meus poemas alude
à conjunção de fertilidade e fecundidade. Há em todo o cenário de minha criação
uma busca das fontes construtivas e reconciliatórias das divergências, e não um
rito destrutivo. O erotismo transbordante das imagens não é senão a celebração
de um mundo em que a imaginação reine absoluta.
LF | Você revela um erotismo masculino raríssimo de
encontrarmos, na maioria das vezes. A sensação que suas colagens e poemas me
passam é a de que tem a rara capacidade de transcender a questão dos gêneros e
transita pelo mundo mágico dos andróginos primordiais.
FM | Verdade mais
cristalina impossível. Porém desconfio que este é um daqueles caminhos que
quando buscado resulta em mero artificialismo. Desde cedo me fascinaram, nas
relações entre erotismo e feitiçaria, as inversões, em um primeiro plano, até o
alcance da fusão, de gêneros. Para compreender o mundo era preciso meter-se na
pele de todos os seus ritos, evocar êxtases e sacrifícios e então despir-se de
tudo. Daí me veio a atração pelo três, com sua síntese espiritual, juntamente
com os sentidos de multiplicidade e paradoxo. Essa volúpia existencial que me
levou até Abraxas, a harmonia dos
contrários e toda a simbologia alquímica, onde nos encontramos com o andrógino
primordial. Certa vez alguém observou que em mim se nota mais a presença do
feminino do que do masculino. Através da criação é que o homem encarna a magia
da maternidade. É impossível ser um criador sem trazer dentro de si as forças
do masculino e do feminino. Só há fecundidade em uma dimensão alquímica. Sou,
portanto e naturalmente, homem e mulher.
LF | William
Blake o surpreende e o fascina. Ao observarmos sua obra, vemos um fio condutor
forte o suficiente alinhavando todos os seus trabalhos. Uma identidade revelada
de imediato em suas profecias, poesia, pinturas e gravura, bem como em suas
melodias. Em Blake, a mente imaginativa cria um mundo que possui uma realidade,
uma coerência, um clima e uma atmosfera própria. Vejo que o mesmo acontece com
o conjunto de sua obra. Fale-me sobre os arquétipos que o fazem mostrar suas
visões imaginativas.
FM | Não há
motivo para criar uma nova realidade se não a permeamos de coerência e vida
própria, sem, no entanto, esquecer a presença determinante do paradoxo, que é,
afinal, a casa de força de toda realidade. Que bom que me indagues sobre
chave-mestra, arquétipo, léxico e outros truques. Mais do que mera recorrência
estilística, as minhas imagens primordiais provêm de uma vertente obsessiva,
são a minha caixa de pandora que esvazio a diário e quando a lacro ela volta a
se encher. Creio que a presença mais indicativa é a do abismo e todos os nomes
e formas que o mesmo assume em minha vida: o sentido de entrega, a busca do
outro, o mergulho no vazio, a paixão transbordante, a alegria de viver… Tudo
caminhando para uma definição daquilo que o poeta Sérgio Campos certa vez
destacou, em mim, como sendo uma poética do paradoxo. Blake é um desses grandes
pais da criação. Outros poderiam ser Shakespeare, Jorge de Lima, Fernando
Pessoa. Porém Blake é de uma totalidade tão cativante, imperativa, hipnótica,
que foi justamente ele quem tomou a minha mão e me levou a escrever algumas
anotações biográficas suas, no capítulo final de meu novo livro, A
grande obra da carne. Certa vez escrevi uma peça de teatro a quatro mãos
com outro William, o Burroughs. Na ocasião utilizei sua técnica do cut-up, interferindo crítica e
poeticamente em seus escritos: narrativas, ensaios, palestras, entrevistas.
Também escrevi ensaios biográficos de Alberto Nepomuceno, Antonio Bandeira,
Drummond de Andrade e Robert Graves, porém nada com a mesma tensão psicográfica
da experiência que vivi com Blake.
LF | Você não
acha que esteja hoje liderando um movimento importantíssimo, descobrindo e
revelando, sem reservas, novos surrealistas? E ainda trazendo à tona muitos outros
esquecidos ou deixados de lado por questões de idiossincrasias… ou mesmo
aqueles que não puderam ou não encontram voz no movimento?
FM | Jamais havia
pensado nisto. Liderança é uma palavra pesada cujo significado é sócio de um
desprezível clube de ortodoxias. Líder de torcida, de movimento artístico ou de
qualquer outra forma de capelinha, nada disto me interessa. Desde cedo me
indago por que os crimes de lesa cultura não são passíveis de condenação. Não
serão jamais. Ao menos trato de, ao invés de me disfarçar de cruzado ou
vigilante, ocupar-me da tarefa de trazer à tona nomes e detalhes esquecidos
injustamente ou simplesmente não percebidos. Desde a adolescência me interessei
pela prática do que se chama jornalismo cultural, aí incluindo a edição de
revistas e a tradução. E aos poucos fui definindo uma meta, criando um sistema
próprio com o qual eu me identificasse. Porém jamais pensei em liderança. Do
que me orgulho: de certo altruísmo. Entendo que domínio de técnicas,
conhecimento e informação são conquistas que só se completam quando são
compartilhados. Recentemente, por exemplo, doei quase 12 mil livros de minha
biblioteca para a criação de um Centro de Estudos em uma Universidade na Bahia.
Há exatos 18 anos eu publico a Agulha Revista de Cultura. O mundo
ganhou um código de velocidade que é autofágico. Como a nau já está à deriva, é
importante ao menos manter um quarteto de cordas na proa, executando as
partituras mágicas de doação e dedicação.
LF | Você
transita com mestria entre a literatura e as artes plásticas. Nesse sentido,
como você transforma a obra de arte em sentimento? Acredita que o pensamento o
conduza a um sentimento? Qual a sua recorrência narrativa?
FM | Meu trânsito
mais intenso é pelas estradas da curiosidade. Eu penso que a mecânica é inversa
à que sugeres, ou seja, são os sentimentos que se transformam em obras de arte.
Uma ação conjunta entre percepção, domínio técnico, visão estética, vai criando
um ambiente propício à revelação de uma obra de arte. Igualmente inversa a relação
entre pensamento e sentimento. O que sentimos é que vai, singularmente,
moldando ou confirmando o que pensamos. Eu sou a medida inexata de tudo quanto
vasculho com a minha curiosidade, com a minha natureza obsessiva, a minha gula
existencial. Nisto os seis sentidos atuam em igualdade de forças. Por isto
posso sair de um poema para uma foto para uma letra de canção para um ensaio
para uma peça de teatro. A minha recorrência narrativa se chama vida,
simplesmente.
LF | Em relação
às artes plásticas, colagens, desenhos, fotografias, esculturas, arquitetura
como cenário, como você trabalha o ciclo das cores e imagens e como se
movimenta por elas? E quanto o suporte influencia na concepção final de uma
obra?
FM | Leila, eu
toco o ambiente mágico da criação como um amplo universo que se manifesta sob
as mais incontáveis perspectivas. Seja no plano da forma ou do conteúdo, até
porque esses elementos são univitelinos. Não reconheço os limites que separam
os gêneros. Certa vez eu preparei uma série fotográfica a partir da construção
de maquete de uma galeria labiríntica, paredes moduladas de isopor com fotos
minhas em tamanho postal; piso espelhado e teto de isopor; alguns objetos
espalhados pela cena… Foram três dias montando, umas duas horas filmando e uns
poucos minutos desmontando o cenário. Na edição acrescentei a voz de uma
cantora, Elaine Guedes, lendo um poema meu. Quantas linguagens envolvidas nessa
aventura! Já por diversas vezes trabalhei com maquetes para a composição de
séries fotográficas. As cores se procuram, são determinações do acaso. As
imagens, por sua vez, atuam como elementos de uma representação. Fotos,
colagens, poemas, para mim tudo são uma obra de teatro. E nisto o suporte entra
como um personagem a mais decisivo para a construção de cada episódio criativo.
Creio que a concepção final de uma obra é influenciada, sobretudo, pelo
entrosamento de suas partes constitutivas, onde o suporte não representa papel
distinto dos demais atores.
LF | Qual a
relação da obra de arte e da poesia com o seu corpo e seus estados de espírito
e como você faz a passagem para o estado criativo?
FM | Não há
propriamente um rito de passagem. Gosto da observação do Valdir Rocha, de que
eu vivo em estado de criação. Eu tenho uma perene concepção
estética do cotidiano, de modo que o mais simples gesto – trocar uma lâmpada,
preparar uma comida, ver um filme – implica a mesma chama acesa dos seis
sentidos, igual a que me atende quando crio um poema, por exemplo. O meu corpo
naturalmente é parte disto, até porque ele não vai a parte alguma sem a minha
companhia. Na companhia teatral de meus estados de espírito o protagonista é
sempre o humor.
LF | Quando você
se surpreende com a poesia?
FM | Há alguns
bons estágios do surpreendente, quando um detalhe da criação evoca algo que lhe
antecede ou está por vir. Quando alguém comenta sobre determinado ângulo que
não houvera conjeturado, ou quando o comentário confirma algo que
considerávamos uma percepção apenas nossa. Quando encontro algo na obra de
outros criadores que aponta uma entranhável cumplicidade. O inesperado é uma
dádiva perene.
LF | Seus poemas
refletem seu estado de alma, suas paixões e cotidiano. Para você o erotismo é
um elemento transgressor que alimenta os poemas? Fale a respeito, pois suas
obras refletem a latência do desejo.
FM | Eu não gosto
de separar os elementos essenciais constitutivos da natureza humana. Nenhum de
nós, e por consequência nenhuma obra de arte, se caracteriza por um estado de
ânimo em isolado. Se os poemas, como dizes, refletem o íntimo de seu criador,
quanto mais abrangente melhor se definem como obra de arte. Não somos feitos
apenas de dor, ansiedade, desejo, morbidez, ilusão, alegria etc. Observo que a
latência do desejo, no que me diz diretamente respeito, é uma espécie de
mecanismo para despertar toda espécie de trava que nos priva da plena atividade
dos sentidos. Neste sentido, entendo que o desejo seja um elemento mais eficaz
do que a comoção social ou a cantilena religiosa.
LF | Encontro em
seus poemas uma situação penetrável. Quero dizer, seus poemas penetram e
transformam a minha percepção, estado de alma e sentimentos. O mesmo deve
acontecer com muitos dos seus leitores. Você constrói essa relação com o tempo?
FM | Não se trata
de uma construção, mas antes do mais puro reflexo de uma mecânica existencial.
Eu tenho uma natureza penetrável, meus sentidos percorrem aquela cartografia
por muitos dada como improvável, dos 360 graus. Mas esse percurso tem o sentido
de uma aventura. Certa vez uma amiga me falou que meus poemas lhe deixavam
excitada. Outra amiga me agradeceu por haver mudado muitas coisas em seu modo
de ver o mundo, graças aos meus poemas. Mais recentemente outra me disse que a
forma como eu exponho meu pensamento tem lhe ajudado a reconectar os fragmentos
de sua própria existência. Talvez indagues por que o acento no leitor feminino.
Certamente também terei leitores masculinos, porém o que observo é que, em
geral, posto que não há regra para nada, os homens se aproximam do poema mais
como se fosse apenas um objeto literário, enquanto que as mulheres tendem a
observar cada coisa no mundo, incluindo o poema, como parte de um ambiente
maior.
LF | Esquecemos
alguma coisa?
FM | Considerando
a fórmula ideal que revela que o desejo será sempre maior do que o objeto,
somente os tolos creem no preenchimento absoluto da realidade. Nós dois nos
descobrimos inesgotáveis, trasbordantes, de modo que ficaríamos aqui por várias
eternidades, sem o menor risco de repetição estéril – a única que deve ser
evitada. Aqui estivemos por uns 20 dias, em nossa ponte virtual, pois ainda não
nos conhecemos. E certamente inventaremos mais capítulos para esse nosso teatro
impossível. Não praticamos o desnudamento da alma como uma exibição, mas antes
como uma revelação que em seu íntimo abre novas perspectivas de existência.
Portanto, esquecemos não apenas inúmeros outros temas como também – e talvez
principalmente – de voltar a tratar daqueles que foram lembrados. Viva o
esquecimento, que é outra forma com que se mostra o paradoxo.
1989 A POÉTICA DO PARADOXO [Entrevista concedida a Sérgio Campos]
1996 A FAVOR DO CONTRA [Entrevista concedida a Lira Neto]
1997 O TEATRO E O ATENEU: Breve introdução à poesia de Floriano Martins [Carlos Felipe Moisés]
1998 A MODERNIDADE NÃO É UM CADERNO DE RECEITAS [Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão]
1998 A NECESSIDADE DA POESIA [Entrevista concedida a Emmanuel Nogueira]
1998 CONTINENTE DE POETAS [Wilson Martins]
1998-2010 FRAGMENTOS ROUBADOS AO TEMPO [Preparado por Márcio Simões]
1999 FLORIANO MARTINS TRAZ POETAS HISPANO-AMERICANOS AO BRASIL [Entrevista concedida a José Castello]
1999 UN LIBRO QUE UNE Y ESCUDRIÑA [Carlos Germán Belli]
2000 OS TORMENTOS DO VERBO E DA IMAGEM NA ESTRUTURA DA ALMA [Eric Ponty]
2002 AS MANIFESTAÇÕES SURREALISTAS NA AMÉRICA LATINA [José Castello]
2002 HUMANISMO POÉTICO [Entrevista concedida a Fabrício Carpinejar]
2002 MÉXICO Y BRASIL BUSCAN ACERCARSE A TRAVÉS DE LA POESÍA CONTEMPORÁNEA [Rodrigo Flores]
2002 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Rodrigo Petronio]
2002 UM OLHAR NA POESIA [Entrevista concedida a Carmen Virginia Carrillo]
2002 VOZES EM CONFLUÊNCIA [Maria Esther Maciel]
2003 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Entrevista concedida a Rodrigo Petronio]
2003 PALAVRAS PRELIMINARES [Entrevista concedida a Jorge Ariel Madrazo]
2004 SÁBIO IMPREVISTO [Entrevista concedida a Álvaro Alves de Faria]
2004 UMA AGULHA NA REDE DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2005 SOMOS O QUE BUSCAMOS [Entrevista concedida a Ana Marques Gastão]
2005 VERTIGENS DO OLHAR: autorretratos [Floriano Martins por Floriano Martins]
2006 A OUTRA MÁQUINA DO MUNDO [Entrevista concedida a Belkys Arredondo]
2008 FESTA DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Anderson Sandes]
2008 UMA CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ [Entrevista concedida a Lira Neto]
2009 A INOCÊNCIA DE FLORIANO MARTINS. INOCÊNCIA? [Jacob Klintowitz]
2010 ÀS VOLTAS COM O LIVRO-OBJETO E SUAS SOMBRAS [Entrevista concedida a Madeline Millán]
2010 CIBERCULTURA EN TIEMPOS DE ANALFABETISMO GLOBAL [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2010 NASCENDO TODOS OS DIAS [Entrevista concedida a Manuel Iris]
2010 OPÇÃO PELA DISSIDÊNCIA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2010 TODAS AS COISAS À MINHA VOLTA [Entrevista concedida a Adlin Prieto]
2011 CRÍTICA E RUPTURA: a inocência de pensar de Floriano Martins [Teresa Ferrer Passos]
2011 PARTICIPAÇÃO POÉTICA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2013 QUE HOMEM É ESSE? [Entrevista concedida a Oleg Almeida]
2015 O LUGAR QUASE LASCIVO DE UMA AMBIGUIDADE [Entrevista concedida a Renata Sodré Costa Leite]
2016 AVENTURAS DA POESIA NO TEMPO: o inteiro continente revelado [R. LeontinoFilho]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 01 [Alfonso Peña & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 02 [Omar Castillo & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 03 [José Ángel Leyva & Floriano Martins]
2016 LOS NAVEGANTES DE LA PARADOJA [Entrevista concedida a Alfonso Peña]
2016 UM NOVO CONTINENTE [Marco Lucchesi]
2017 À LUZ DO PARADOXO [Entrevista concedida a Leila Ferraz]
2017 FLORIANO MARTINS, POETA E DEMIURGO [Claudio Willer]
2020 | DIÁLOGO CON FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Berta Lucía Estrada]
2020 | FLORIANO MARTINS: Todos somos marginados a la sombra de lo desconocido | [Entrevista concedida a Elys Regina Zils]
2020 UMA CONVERSA COM FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Anna Apolinário & Demetrios Galvão]
2021 UNA PRESENTACIÓN DE LA OBRA DE FLORIANO MARTINS [José Alcántara Almánzar]
2021 VOCAÇÃO DIALOGANTE [Entrevista concedida a Maria Estela Guedes]
2022 DE ITARARÉ A UMA DEAMBULAÇÃO CONTÍNUA: Conversa com Floriano Martins sobre o Surrealismo no Brasil [Entrevista concedida a Anderson Costa & Elys Regina Zils]
2023 | FLORIANO MARTINS E O MARAVILHOSO TUMULTO DE SUA VIDA | Roda de imprensa, várias vozes
2023 A OUTRA VOZ DO TEMPO: Cronologia de vida e obra [Preparada por Floriano Martins & Márcio Simões]
OBRA ENSAÍSTICA PUBLICADA
El corazón del infinito. Tres poetas brasileños. Trad. Jesús Cobo. Toledo: Cuadernos de Calandrajas, 1993.
Escritura conquistada. Diálogos com poetas latino-americanos. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Escrituras surrealistas. O começo da busca. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998.
Alberto Nepomuceno. Edições FDR. Fortaleza. 2000.
O começo da busca. O surrealismo na poesia da América Latina. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2001.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. San José de Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2004.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. Caracas, Venezuela: Monte Ávila Editores, 2008.
A inocência de Pensar. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2009.
Escritura conquistada. Conversaciones con poetas de Latinoamérica. 2 tomos. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2010.
Invenção do Brasil – Entrevistas [edição virtual]. São Paulo: Editora Descaminhos, 2013.
Esfinge insurrecta – Poesía en Chile [edição virtual, em coautoria com Juan Cameron]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad. México: UACM – Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2015.
Sala de retratos. São Paulo: Opção Editora, 2016.
Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Valdir Rocha e a persistência do mistério. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Laudelino Freire. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2018.
Escritura conquistada – Poesía hispanoamericana. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Visões da névoa: o Surrealismo no Brasil. Natal: Sol Negro Edições, 2019.
120 noites de Eros. Fortaleza: ARC Edições, 2020.
TRADUÇÕES
Poemas de amor, de Federico García Lorca. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Delito por dançar o chá-chá-chá, de Guillermo Cabrera Infante. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Nós/Nudos, de Ana Marques Gastão (edição bilíngue). Lisboa: Gótica, 2004.
A condição urbana, de Juan Calzadilla (edição bilíngue). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2005.
Dentro do poema – Poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959, Org. Eduardo Langagne. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
A aventura literária da mestiçagem, de Pablo Antonio Cuadra (em parceria com Petra Ramos Guarinon). Fortaleza: Edições UFC, 2010.
III novelas exemplares & 20 poemas intransigentes, de Vicente Huidobro & Hans Arp. Natal: Sol Negro Edições/São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2012.
Sobre Surrealismo, de Aldo Pellegrini (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2013.
Memória de Borges – Um livro de entrevistas (2 volumes). São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2013.
Bronze no fundo do rio, de Miguel Márquez (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2014.
Tremor de céu, de Vicente Huidobro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2015.
Costumes errantes ou a redondeza da terra, de Enrique Molina (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2016.
Reino de silêncio, de Mía Gallegos (edição bilíngue). Teresina: Kizeumba Edições, 2019.
Traduções do universo, de Vicente Huidobro. Natal: Sol Negro Edições, 2016.
O álcool dos estados intermediários, de Gladys Mendía. Santiago: LP5 Editora, 2020.
A tartaruga equestre, de César Moro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2021.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
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