Realizada em Sidney e Natal, dezembro de 2010, janeiro de 2011
Tributo devido a Floriano Martins, Revista TriploV de Artes, Religiões e Ciências, Portugal, 2021
Fiz contato pessoal com Floriano Martins, pela internet, no
início de 2010, e não demorou para que sua conversação sempre instigante e de
alto nível me levasse a querer entrevistá-lo. Desejava poder confrontá-lo mais
diretamente sobre algumas questões que então me incitavam à reflexão.
Entrevista acertada, me pus a pesquisar diálogos anteriores realizados com ele
e me deparei com um material que considerei de extraordinária relevância para o
debate literário e cultural atual. Diante disso, sugeri que ele deveria reunir
suas principais entrevistas em livro, para torná-las acessíveis e fazê-las ter
maior circulação. Com sua habitual prontidão e senso de realização, Martins
imediatamente me respondeu sugerindo que eu fosse o organizador do livro e deu
total apoio ao projeto. Ele mesmo me enviou a quase totalidade dos arquivos das
entrevistas e forneceu toda informação necessária. Passados alguns meses
dedicados à leitura das cerca de 60 entrevistas, apresentei um projeto em que
havia pré-selecionado 30 para integrar o livro, que juntos enxugamos nas 21
aqui reunidas, apresentadas em ordem cronológica, de fins da década de 80 do século
passado ao final dos anos 00 deste novo século, compreendendo um período de
mais de vinte anos de crescente atividade na vida do poeta.
Ao final deste processo, fiz
mais uma entrevista a Martins, para servir de prólogo a este volume, em que
buscava indagar sobre temas recorrentes de sua reflexão, mas não aprofundados
em outros diálogos, bem como aspectos pouco citados, mas de interesse visível
em seus depoimentos e trajetória. Completam o volume uma cronologia de vida e
obra preparada pelo próprio Floriano Martins; um posfácio que reúne recortes
agrupados por temas de parte das entrevistas que ficaram de fora; e uma seção
final em que constam bibliografia dos trabalhos do poeta, alguma informação
adicional e um índice geral das entrevistas pesquisadas para compor este livro.
[MS]
MS | Você tem se pronunciado em
vários lugares a respeito de uma “corrente subterrânea” na poesia brasileira.
No que essa corrente se diferencia da corrente dominante da lírica nacional?
Quais seus autores relevantes?
FM | Aqui primeiramente se destaca o
tema das escolhas. A riqueza existente em certa diversidade aos poucos foi
dando lugar a um pequeno vício retórico que mescla facilismo artificioso da
linguagem e informalidade de um falar gracioso. Retrospectivamente podemos ver
a forma como foram entronizados os poemas-piadas de um Oswald de Andrade ou a
ourivesaria esvaziada de sentido de grande parte da Geração de 45, sobretudo
aquela que desemboca no mais estéril formalismo do poema-processo ou da poesia
concreta. Soa verdadeiramente ridícula a contenda traçada entre fundo e forma,
como se fossem inimigos mortais e a poesia resultasse da sobrevivência
exclusiva de um desses recursos. A chamada geração marginal oferece pequenos
sinais de recuperação, mas então infelizmente se verifica uma fragilidade
dupla: ausência – já por um dilema histórico de presunção autodestrutiva – de
referencial estético amplo e consistente, e ausência de visão de mundo
consistente o suficiente para que através dela se construísse um discurso poético
expressivo. A partir daí cedemos uma vez mais aos encantos do aprimoramento da
forma em detrimento do sentido. O que chamo de corrente subterrânea se define
exatamente por aquelas vozes de uma multiplicidade de ofertas que foram sendo
em muitos casos desprezadas intencionalmente, variedade relevante de recursos
estilísticos, amplitude de registros e em especial a riqueza de não padecer da
avaria histórica do que chamas de “corrente dominante”, a ruptura entre fundo e
forma. Nomes: Jorge de Lima, Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Dante Milano,
Augusto Meyer, Dora Ferreira da Silva, José Santiago Naud, Lêdo Ivo. Eu
conversava muito com Sérgio Campos, um dos grandes poetas brasileiros nascidos
nos anos 40 – infelizmente morreu há mais de 10 anos em completo ostracismo –
sobre a ironia que é ter esses nomes todos em um ambiente subterrâneo ou mesmo
marginalizado. Por isto que falei inicialmente em escolhas. Fizemos as erradas
e hoje pagamos um preço imenso. Perdemos os referenciais que seguramente teriam
enriquecido a lírica em nosso país. Prejuízo histórico que não sei se
recuperável.
MS | Seu antigo parceiro na Agulha Revista de Cultura, Claudio
Willer, tem se pronunciado de maneira favorável à produção poética atual,
afirmando que tem muita coisa de qualidade sendo produzida, mas que faltam
críticos que se debrucem sobre essa produção crescente e diversificada. Suas
declarações nesse sentido parecem ir em direção contrária, expressando certo
pessimismo e desapontamento com a produção atual. Afinal, temos ausência de
produção de qualidade ou uma produção ainda a ser revelada, separando-se o joio
do trigo?
FM | Há um pouco de cada coisa.
Começaria pelo fato de que Willer é mais entusiasta do que eu. Muito do que ele
aponta como boa poesia para mim não passa de diluição de beat ou surrealismo, o que pode até ser um avanço, considerando que
safra anterior de diluições tomava por base cabralismos,
concretismos e oswaldismos. Outro
ponto é que círculo de amizades e a condição de editores de uma revista nos
permitem acesso a textos inéditos, identificando quando há relativamente boa
poesia sendo escrita, embora ainda não publicada. Por último, o ato de
publicação em si não resolve muito se não há circulação dessa produção, se ela
não encontra atenção por parte dos meios periódicos de difusão. Evidente que
importa, sobretudo, a criação, mas quando tratamos do tema no plano crítico, a
circulação é indispensável. Há um aspecto no que chamas de “produção atual” que
me parece mais valioso do que ficar a citar nomes: a diversidade de fontes, o
interesse despertado por outras tradições líricas e também por outras áreas de
criação. São pequenos sinais que ajudam a criação a se libertar do peso morto
da retórica literária. Sempre recordo uma frase luminosa de Rubén Darío, ao
dizer que conhecer diversas culturas era a melhor maneira de se livrar da
tirania de algumas delas.
MS | Cada vez mais você é um nome de
referência quando o assunto é poesia brasileira no universo hispano-americano,
com participação frequente em eventos e livros publicados em vários países de
língua espanhola. O mesmo não parece ocorrer no Brasil. A que você atribui tal
fato? Confirmação do ditado perverso de que “santo de casa não obra milagre”?
FM | No mínimo, eis aí bom motivo
para uma bela risada. Acho que tem em parte que ver com esse ponto de cegueira
que venho comentando, certa limitação de perceber quem está apontando em outras
direções que não a dos vícios cartoriais. Nada pessoal, nada que pertença ao
ninho das paranoias. É um caso bem comum de trânsito em nossa cultura. O Brasil
ainda tem uma mentalidade gremial, de distribuição de riquezas entre associados
e credibilidade dada a prêmios e outros arranjos florais. E há gente que se
especializa nos estatutos dessa gincana. Fora desse ambiente apenas o reinado
sutil das exceções. Márcio, o mundo está em todos nós, é parte de todos nós.
Imagino alguém se identificando com qualquer coisa que à primeira mão esteja
mesmo na contramão de uma tradição. O toque de sedução do esquisito. Passado
este primeiro momento as teias vão sendo tecidas, as conexões vão sendo
percebidas. Um nozinho aqui e outro ali, pronto, já chegamos naquilo que se
costuma chamar de poética, estética, estilo. Tudo porque o confronto é a
matriz, não há distinção, personalização, voz própria, fora do confronto. Acho
que no Brasil se tem uma leitura inversa da coisa.
MS | Em algum momento você se
ressente de estar no Nordeste do Brasil? Acha que a sua produção e atuação
seriam mais valorizadas e facilitadas caso estivesse no eixo Rio-São Paulo,
publicado por grandes editoras?
FM | Mas eu não estou em Nordeste
algum. Nem o Nordeste. Tampouco ando em busca de cargos. Tenho plena mobilidade
para mudar de residência quando houver motivo que o valha. E não me ressinto de
nada, querido. Toco em tais temas apenas em atenção à tua curiosidade. O
Nordeste, no Brasil, deu sempre ao país a sua melhor literatura, assim como a
música e a plástica. Mas é uma tolice dividir o país dessa maneira. O país foi rico em duas fundamentais circunstâncias
de sua história graças a Pernambuco e Minas Gerais. Nos dois momentos fomos
sugados até a alma. Não sabemos manter o que é nosso porque não sabemos com
exatidão o que é nosso. Há uma espécie de impregnação colonial que não nos
permite destronar fantasmas. Toda vez que a imprensa toca em China e Índia, ao
lado do Brasil, como sociedades emergentes, eu penso que não é a experiência
milenar dos dois outros países, sua essência cultural, mas sim o aprendizado de
uma estratégia econômica, de política econômica, de determinação social, longe,
muito longe, do que se poderia aceitar ou entronizar no Brasil. É quando mais
gosto de meu país. Quando intuo que jamais se converterá em Índia ou China. Por
outro lado, não sei qual mérito nos faça tão felizes em copiar certos
paradigmas franceses e estadunidenses até hoje. Rateio regionalista hoje no
Brasil é suicídio de uma sociedade. Não temos no Brasil um problema cultural,
no sentido literário ou musical, por exemplo, mas antes um desastre social.
Agravado enormemente porque ninguém chama para si a responsabilidade sobre o
tema. Caminho pelas ruas de Sidney, de onde te escrevo, vejo os mínimos
cuidados, já incorporados ao cotidiano da cidade, no que diz respeito à
infraestrutura urbana em geral. Fecho os olhos, recordo meu país, e sinto o
quanto permanecemos na idade das trevas. Observo o tratamento dado a um
acidente como o dilema das enchentes em Queensland, inesperado como não se pode
assim chamar os deslizamentos no Rio de Janeiro ou o aguaceiro em New Orleans. De que nos serve recordar aqui o quanto
que o Congresso Nacional, no Brasil, enriqueceu às custas de liberações de
verba para um Nordeste que jamais se beneficiou delas? Como superar uma
sociedade baseada no cinismo?
MS | A relação autor/leitor vem sendo
substituída de maneira contumaz pela relação produtor/consumidor. Você mesmo
chegou a afirmar que “o grande drama da criação hoje está na circulação e não
na produção”. Quais as implicações disso para quem busca na literatura algo
mais que um produto feito para atender um perfil consumidor?
FM | Mas a quem importa o tipo que
busca encontrar a si mesmo numa prateleira de livraria? Haverá salvação para
esse tipo de leitor? Não ria. O que eu indago é se a minha preocupação deve ser
com esse cúmplice disfarçado de vítima. Acho que há duas relações aqui que
precisam ser aclaradas. De um lado há o fabricante, industrialmente um
produtor, a peça de mercado, que faz com que o disco, o livro, qualquer coisa
que traga ainda certo cheiro de arte, circule de mão em mão. Outro figurante é
o Estado, aquela fantasmagoria que em nossos países costumamos chamar de
política cultural, absolutamente inexistente. Tudo estaria perfeito se houvesse
o que agendar, seja para proteção ou produção. Na prática, na velha e boa
prática, qualquer canção é pensada no sentido de atender à delineação dessa
dupla, mercado/Estado. Usei a canção por ser o exemplo mais popular em termos
de circulação artística. Imagine a situação referente a um poema ou uma
escultura. Evidente que a arte não foi destruída pelo Estado ou pelo mercado.
Mas em um país chamado Brasil, onde a cultura não se realiza senão como uma
expressão espontânea e invariavelmente basbaque diante do próprio espelho –
porque aqui somos todos geniais antes mesmo de sê-lo –, uff, aqui tudo nos leva
a uma piada que se contava no bairro carioca em que vivia o compositor Cazuza,
ele sempre encharcado de si mesmo – um bêbado que aparecia em um daqueles bares
do chamado Baixo Gávea e dizia: “…mas se o Cazuza é chamado de gênio, o que
dizer do Beethoven?!” Evidente que é outra a leitura que se entende acerca de
influências e graus de potência estética entre gerações, países etc. O que
interessa aqui é a percepção de nossa pressa em considerar alguém gênio, senhor
dos anéis ou de outras propriedades. Em um lugar assim, querido, o leitor será
sempre vítima. Não te esqueças que tem crescido muito a produção de pérolas com
base no cativeiro de ostras. A metonímia é a ciência dos tolos. O mundo é uma
grande caixa de ressonância metafórica.
MS | Quais as alternativas atuais
para a circulação da poesia de qualidade? Existe mercado para a poesia?
FM | Jamais existiu. Nunca, nunca.
Não sei qual a curiosidade em torno. Essa preocupação de poetas de se tornarem
cantores de rock ou atores de cinema. Até hoje não houve poeta brasileiro ocasionalmente mais famoso que J. G. de
Araújo Jorge. Não sei se era lido, e até prefiro que o pobre seja um desses
casos de autores como Pablo Neruda e Umberto Eco, que encontramos em estantes
de sala em casas de uma ponta a outra do interior do país e se trocamos duas
palavras com o dono da casa ele não faz a menor ideia do que há ali no interior
daqueles livros. Talvez a confusão esteja na relação conceitual entre
circulação e mercado. Mercado para poesia não existe. O pior poeta que alguém
possa sugerir não vende o que lhe valha no bolso o aluguel de um veleiro em um
final de semana no Caribe. Os orgulhosos melhores poetas costumam achar que
somente os piores vendem algo. Ninguém sabe, em geral, de onde vêm os recursos
que sustentam a vida de um artista. Adoro a debandada de maus poetas para o céu
da narrativa, eles vão ali em busca de sucesso e glória, a alma encharcada de
pedrinhas de luz. Como um leitor, sempre hipotético, pode se beneficiar diante
dessa troca contingencial de partido nas artes? Mas o mercado, ah o mercado!
Sempre foi o mercado das almas. Não importa o que se compra e vende e troca,
mas sim o espírito da transação. Não há distinção entre venda de livro e
analgésico, disco e brinquedo a pilha. Quando nos sentimos frustrados, traídos,
esquecidos. Quando nos projetamos nos filhos. Quando tudo na vida equivale a um
livro não editado. Aí está o mercado nos comendo por dentro. Viver é outra
coisa. Criar é outra coisa.
MS | Você enveredou pela narrativa com a novela Sobras de Deus (Edições Nephelibata,
2010), um texto visceral e de inegável qualidade. Porque só agora a prosa
narrativa? Considerando que você já afirmou em inúmeros lugares que é
“essencialmente poeta”, qual o sentido da obra na sua trajetória criativa? É
autobiográfico?
FM | Isso do autobiográfico sempre me
lembra tolice igual que é o culto do “baseado em fatos reais” que observamos no
cinema. Soa ridículo ao menos imaginar essa tarja em filmes de Akira Kurosawa,
Federico Fellini ou Clint Eastwood. A pergunta é: o que importa? Se a
imaginação, o sonho, a memória, o delírio, são partes do que eu sou, então tudo
em mim é autobiográfico. E tudo o que crio tem por base o fato real, tangível
ou não. Este livro é uma espécie de saga familiar. Ali estão pais, tios, avós,
primos, enriquecidos em sua personalidade, alguns mesclados entre si, mais ou
menos decalcados do que se chama realidade. Certos personagens na família por
acaso permitiam a conversão graciosa em ficção. Mas veja bem: o que chamas de
prosa narrativa está presente em boa parte de minha poesia, assim como o drama
teatral, a crônica policial, as anotações reflexivas. A diferença é que em
essência o olho com que observo o mundo é o da poesia, o que quer dizer que não
me importa a análise e sim a comunhão.
MS | Uma característica sua é a
disposição para o diálogo, inclusive no campo da poesia, compondo poemas a
quatro mãos. Como tem sido a experiência de compartilhar esse momento
normalmente tão solitário como é a escritura literária?
FM | Suponho que se eu fosse músico
ninguém me faria tal pergunta. Creio que a criação em si vale tanto pelo
resultado, apresentado na forma de uma obra, quanto pelas forças que move para
alimentar-se. Compartilhar a intimidade com alguém é entregar-se ao mundo, não somente
habitar, mas deixar-se habitar. Não entendo como o poeta pode aceitar a sua
solidão como dilema ou castigo. Jamais observei o tema por tal ângulo. Quando
não estou criando é quando mais me sinto só. A solidão tem, portanto, outra
composição para mim. Tenho escrito poemas, letras de canções e até mesmo
ensaios – a quatro mãos. São originalmente improvisos, como se fôssemos músicos
de jazz ou praticantes de um daqueles jogos surrealistas. Isto ajuda a reforçar
o sentido estético de cada um, enriquece a pessoa e até mesmo o léxico, recorda
que não estamos sós no mundo, aprimora a extração cósmica da criação em si. Um
homem pode viver isolado do mundo e ser quem melhor lhe compreende. O inverso,
caso comum de trânsito, tem resultado em inumeráveis desastres históricos. Em
geral nos divertimos no cinema ou na televisão com a vulnerabilidade das
sociedades humanas. Rimos e dormimos para amanhã acordar bem cedo, levar o
filho à escola, a mulher ao emprego e seguir participando dessa mesma
vulnerabilidade. Eu não vejo nenhum sentido nisto. Assim como procuro uma
mulher que divida meu dia com as coisas mais entranháveis, que se divirta
comigo a tatear o mundo, eu vivo a propor a mesma relação amorosa a outros
artistas. Busco gente com quem escrever poemas, compor músicas, pintar,
rascunhar, tomar cerveja, matutar sobre a existência. Não vou, afinal, levar
essa vida toda que tenho dentro de mim para o túmulo.
MS | Em 2008 apareceu Brincos do Mar e o Infinito, CD com
canções suas em parceria com Mário Montaut e Ana Lee. O projeto terá
continuação? Uma curiosidade: você faz distinção entre letra e poema? Sabe de
cara quando está escrevendo para o livro ou para a canção, ou isso se dá
depois?
FM | A criação adora confundir o
criador. Venho escrevendo um livro com um poeta mexicano dedicado a músicos de
jazz, série de poemas que são diálogos intimistas com músicos e compositores de
nossa preferência. Outro dia me sentei para escrever o poema que seria meu
diálogo com Louis Armstrong. Havia rascunhado algo que teimosamente não
avançava, quando então me surge a lembrança de Alberta Hunter com aquele seu
olhar traquino de quem havia descoberto o soro da imortalidade. Poucos minutos
depois estava escrito o poema a ela dedicado. Fui traído pela intenção. A poesia salvou a si mesma. Com isto quero
dizer que se já me sentei para escrever um poema e saiu uma letra de canção ou
vice-versa, é detalhe que nunca vem ao caso. Evidente que há uma distinção
entre o poema e a letra de canção, o que não impede que alguns poemas sejam musicados
– basta pensar na tradição dos lied
na música erudita – ou que muitas letras deem a impressão de não caberem na
melodia quando as escutamos. Em geral, há dois tipos de poetas: os que fogem da
métrica e da rima como o diabo da cruz e aqueles que não sabem viver sem pelo
menos um desses artifícios. Junte-se a isto o fato de que, ocasionalmente, os
letristas de canção podem alcançar, mais do que fama propriamente, uma conta
bancária mais sorridente que a dos poetas, e eis o alvoroço: poetas detestam letristas
de canção (risos). Quanto ao disco que fizemos, Mário Montaut, Ana Lee e eu,
não, não chegamos a pensar, os três, em gravar outro disco. Continuo compondo
com um e outro. Este encontro com ambos me reanimou a voltar a pensar na
criação de letras de canção, algo que sempre me apaixonou e a que raramente me
dediquei. Tenho em curso a ideia de gravação de um disco reunindo canções que
fiz com oito parceiros.
MS | Vários músicos e compositores
são citados em seus poemas e entrevistas. Vê relação entre a música que você
escuta e o ritmo e sonoridade de seus versos? Você se considera um poeta mais
ligado ao som ou ao sentido?
FM | Jamais pensaria em separá-los. A
música entrou em minha vida primeiro do que qualquer outra expressão artística,
porque meus pais ouviam muita música em casa e música distinta entre si. Eu
convivi muito pouco com meus pais em um primeiro momento. Eu ficava mais na
casa da minha avó materna e ali não havia nada de música, mas sim umas telas
curiosas na parede, umas naturezas mortas em que peixes e frutas bailavam de
uma maneira fascinante para mim. Quando comecei a fazer colagens, essa época na
casa de minha avó aflorou de tal maneira que me pus a cortar e colar, em
minúcias, o que anos depois reconheceria como uma influência mágica das
naturezas mortas belgas e holandesas do século XVIII. É interessante observar
que não cheguei ali, naquela técnica, por influência surrealista, mas sim por
um desdobramento espontâneo de quando ainda tinha algo em torno de 6 anos, em
que recortava figuras das páginas de gibis para lhes dar movimento. Diabos,
Márcio, vou te contar umas coisas aqui sobre música. Dois discos me
desorbitaram de uma maneira até hoje determinantes em minha poesia: Filmore East (1971), do Mothers of
Invention e A música livre de Hermeto
Pascoal (1973). Não havia mais rock ou jazz propriamente em nenhum dos dois
casos. Zappa e Hermeto haviam ousado na intromissão de uma linguagem em outra.
Impossível contar com uma dose tão radical de alquimia. Era tudo o que eu
precisava para sacramentar minha intuição em torno da mestiçagem na criação. A
vida é um entrecortado infinito de relações. Eu faço versos com a vida inteira.
Não estou fora de nada.
MS | Sei que você é leitor de comics e aprecia quadrinhos, inclusive
já tendo chamado atenção pra influência deles na sua criação. Como se dá a
relação entre a literatura que você produz e os quadrinhos? Que aspectos você
transpõe de um formato para o outro?
FM | Quando criança eu lia os
clássicos da literatura mundial adaptados para fotonovelas. Foram, de alguma
maneira, meus primeiros gibis. Casos como Os
irmãos Karamazov, O Conde de Monte
Cristo, O morro dos ventos uivantes,
As viagens de Guliver, eu lia o
romance e sua adaptação para fotonovela. E logo algumas adaptações para
telenovelas, como no caso de O médico e o
monstro. A sugestão do traço, principal fonte de dinâmica da narrativa, nos
gibis. A imagem em movimento, no caso da adaptação cinematográfica. O efeito
cenográfico no ambiente teatral. A descrição, cortes, detalhes, mas sempre a
palavra presente, ainda que sejam mudos todos os personagens, na literatura.
Quando escrevo não posso passar sem as palavras. O que faço é aprender com
outras linguagens como ser mais sutil e expressivo em cada passagem de um
poema. Mas algo em mim me leva também a pensar em fotos, maquetes, vídeos,
cenografia, canções, e quando estou desfrutando a obra alheia sempre faço
anotações de memória de aspectos que me permitam – um dia, um dia – realizar a
soma de estruturas, estilos, argumentos, que busco.
MS | Em vários lugares você tem
denunciado o que chama de “provincianismo” da literatura brasileira. Em que
consistiria esse provincianismo? Sob quais aspectos podemos vê-lo manifestado?
FM | Será mais fácil buscar uns
poucos lugares em que ele não se manifeste. E não é a literatura, pois aqui o
plano é de ordem cultural. O que é curioso é que a literatura seja uma
expressão desse provincianismo e não uma recusa ao mesmo. Há algo velado no
país que é fazer a crítica de si mesmo. O país não está aberto a um diálogo de
observações sobre seus erros e acertos. Cada bloco que consideramos como
capítulo de nossa história é lacrado e não se pode voltar a ele para apontar
suas falhas. Não é que haja um decreto em tal direção, mas sim que agimos como
se houvesse. A velha distinção entre lei e ordem. Aqui a história é a lei. E a
lei naturalmente é escrita por um grupo de gente que zomba da ordem. Trato
metaforicamente do assunto, eu sei. Há pouca conversa sobre a constituição de
uma sociedade essencialmente mestiça como a brasileira. Poucos fazem ideia do
que houve com a drástica redução do componente indígena. Menos ainda do imenso
componente negro, a fatura angolana que nos foi passada e que evidencia mais
intimidade entre as duas culturas do que se possa sonhar ou aceitar atualmente.
A equação básica que resultou no preocupante traçado urbano das capitais
brasileiras com um regime social curiosamente definido a partir das favelas,
onde ao Estado falta apenas admitir que perdeu o controle dessa zona de guerra. Diabos. Adiamos essa
discussão eternamente. A literatura não é reflexo de uma sociedade. Espera-se
um pouco mais de um escritor. Podemos separar a filmografia do Woody Allen, por
exemplo, em duas instâncias: a sátira e a crônica. Hoje, que faz apenas a crônica,
indagamos, qualquer um admirador seu fora dos Estados Unidos: de que valeu
tanta sátira? O que deve uma sociedade à seu artista tem um papel idêntico ao
que lhe deve ele. Voltamos ao Brasil?
MS | O catolicismo, religião
dominante no Brasil, sempre foi um elemento de base na formação das nossas
elites intelectuais. Em alguns lugares você tem se referido a esse fator de
maneira bastante desfavorável. Quais as consequências disso na nossa produção
literária? Onde se encaixam aí os casos de católicos anárquicos como Murilo
Mendes e Jorge de Lima?
FM | Não se trata de prejuízo
literário. Tampouco é uma questão de alimentar vitimário. Não gosto da ideia de
Murilo Mendes e Jorge de Lima serem postos como incompreendidos por um tipo de
intelectual que até hoje cisca em um galinheiro muito apropriado. Não. Foram
evidências de uma condição medíocre de nossa cultura, da sujeição aos ditames
de capelinhas arregimentadas por gente como Tristão de Athayde e Mário de
Andrade, sem falar na leitura equívoca em relação a ambos da parte de um
crítico como Wilson Martins e em uma corja irrepreensível de signatários que
fez voto de fé de toda modalidade de autismo em nossa cultura, igreja onde comungam concretistas e
demais insalubres vozeiros das vanguardas pós-tudo
(termo tão pomposo quanto inócuo). Interessante observar é que catolicismo
atualmente foi devorado por esse ecumenismo rock’n’roll às avessas, e ninguém
encontra mais motivo para contestar os argumentos tornados históricos. Resta
como preocupação real o que não entra na seara de interesses de nenhum escritor
neste país: qual literatura brasileira ensinamos às nossas crianças?
MS | Você tem feito uma crítica forte
ao que chama “caráter trocadilhesco” da cultura brasileira, apontando inclusive
fatores antropológicos para isso. Podia delinear melhor essa ideia?
FM | Sociedades burocráticas adoram
siglas. Sociedades que não se levam a sério adoram trocadilhos. O Brasil é uma
mescla curiosa das duas coisas. Quando criança ouvia dizer que IAPC significava
Isto Ainda Pode Cair. São inúmeras as siglas de órgãos públicos que foram
convertidas em pilhéria. A veia dos poemas-piadas surgidas no Modernismo foi a
artéria mais concorrida de nosso imaginário poético, com adeptos de toda ordem
– basta pensar em José Paulo Paes e Paulo Leminski – e um extenso monturo de
livros. Veja o exemplo do humor produzido para a televisão. O recurso ao duplo
sentido, se recordarmos personagens clássicos de Chico Anysio, enriquecia a
leitura dos mesmos: a linguagem criava um jogo de ambiguidade que a tornava
mais sedutora. A piada tornou-se hoje um recurso apelativo do leviano e do
execrável, curiosamente em uma sociedade em que tudo é leviano e execrável. Os
poetas-piadas dos anos 70 são hoje os redatores dos programas de humor da
televisão. Este é o espírito. E sempre que alguém toca no tema surge alguém a
recordar aquela bobagem do Brasil não ser um país sério. Ou ainda pior: a
interpretação de que a voz crítica é a de um ressentido que por uma razão ou
outra não participa do rateio. Nisto o país é seríssimo.
MS | Você menciona o Octavio Paz e o
Milan Kundera como ensaístas de sua predileção e leitura. O Octavio Paz é uma
quase unanimidade, enquanto o Kundera é mais conhecido por seus romances,
alguns inclusive alvos de críticas negativas. Como foi a descoberta desses
autores? O que te interessa especificamente na obra ensaística de cada um? Vê
relação entre elas?
FM | Vamos devagar que o andor é de
barro, segundo reza a ladainha popular. A minha predileção em relação a ambos
diz respeito a temas. O mexicano tratou da poesia com a mesma paixão reveladora
que o checo tratou da narrativa. São exemplares neste sentido. Vamos começar
pela tua observação de que um seja “mais conhecido” que o outro pela criação.
Kundera não existia no Brasil antes da adaptação de um romance seu para o
cinema. Seu caso lembra um pouco o de Italo Calvino, não pelo cinema. Uma
súbita descoberta gerou um frisson
que fez com que inúmeros livros fossem publicados no Brasil. Passada a
temporada, os mesmos títulos se acumulavam em prateleiras de remarcados. Já o
que se passou com Octavio Paz foi mais aparentado do ambiente cult. As péssimas traduções de seus dois
livros mais difundidos entre nós, El arco
y la lira e Los hijos del limo
são bons fundamentos para o aprendiz de feiticeiro que se interesse pela
poesia. Sua poesia é menos fascinante que a trama analógica do ensaio. Mesmo
quando se identifica com a mitologia indiana – pelos anos que ali vive –, o que
se percebe é que a ideia da vacuidade já estava presente em sua poesia, em sua
visão de mundo. Este é seu mistério, sua fonte inesgotável de metáforas. Sob
este prisma observa não só a poética, mas também a política, em todos os seus
ensaios. Sua leitura da poesia que lhe é contemporânea é ambígua, quando menos,
trate dos pares mexicanos ou hispano-americanos. A visão crítica da narrativa
em Milan Kundera é menos caprichosa. Contrapõe personagens, verifica tensões na
construção de ambientes que circulam da arquitetura da linguagem à linguagem da
arquitetura em romances fundamentais para a história do gênero no ocidente. Há
uma grande riqueza em sua observação de paralelismos entre as estruturas narrativas
no romance e na música erudita. Este foi um aspecto que me fascinou bastante.
Não entro no mérito das críticas negativas acerca dos romances de Kundera. O
português Saramago é frígido em sua narrativa. O italiano Umberto Eco é
algébrico. Kundera possui um grau de economia de linguagem que o tornaria
melhor aluno de Calvino em uma de suas aulas, se fosse o caso. Calvino, no
entanto, era latino, e jamais conseguiu ser tão econômico na linguagem quanto
Kundera. Eu não teria a menor dúvida em incluir o autor de A insustentável leveza do ser entre os grandes romancistas europeus
do século XX. Ao mesmo tempo, caso incluísse a Octavio Paz entre os grandes
poetas americanos do mesmo período, não o faria sem antes me referir a aspectos
renovadores e relevantes na poética de muitos de seus pares.
MS | Sua poesia tem uma forte relação
com as artes plásticas, expressando-se inclusive por meio de colagens. Como
você dimensiona a distinção entre os dois mundos? Se tocam, se afastam, se
interpenetram? Poemas inspiram colagens, colagens te impelem ao poema? Ou a
coisa se dá de maneira mais indireta?
FM | A grande ponte é a imagem. Não
estou muito de acordo em relação ao termo “colagem”. Sob dois aspectos. Houve
um tempo em que fiz colagens, no termo clássico: tesoura, cola, matrizes,
descoberta de outro mundo a partir de aproximações de elementos díspares. Logo
passei a tratar com os recortes cada vez mais minúsculos, que remetem à minha
infância, seja pelos catálogos de naturezas mortas que havia na casa de meu pai
como também pelo fato de que eu gostava de recortar as figuras dos gibis para
manuseá-las tridimensionalmente, claro, com a força imaginativa da infância.
Passei então a usar a fotografia no sentido de criar ângulos, formas, sombras,
que pudesse eu mesmo recortar para o exercício ainda convencional da colagem. A
utilização mais íntima da fotografia me levou a deixar de lado a colagem e
passar a lidar com a sobreposição. Acho que até do ponto de vista amoroso, a
sobreposição é mais sugestiva que a colagem. Já não se trata de provocação, mas
sim de realização. Alquimia. A escritura de um poema não pode ser vista como
aquela coisa simplória de um papel em branco, um lápis e um devaneio qualquer
na cabeça. Todos nós escrevemos poemas assim. Ali está ele. Não importa de onde
veio. Até hoje não se sabe com certeza que importância possa ter isto na vida.
Vivemos em sociedades cada vez mais distantes da poesia, do mundo de
descoberta, fascinação e equilíbrio de diversidades que ela inspira. Qualquer
jovem poeta evita indagar a si mesmo por que rabisca aquelas imagens. Diante de
um prato novo que alguém sugere em um restaurante, olhamos e o interpretamos de maneiras diferentes:
uns com o olfato, outros com a visão, poucos se atrevem a provar antes de uma
informação mínima e da aprovação de algum desses sentidos. Os meus seis
sentidos desconhecem qualquer fator hierárquico. Nem pensemos no leitor. Como
um poeta reage diante da poesia, distante da sua, de outro que lhe é
contemporâneo?
MS | O
começo da busca
saiu em 2002. De lá para cá muita coisa aconteceu. Como você avalia a
trajetória do livro até agora? Avançamos algo com relação ao diálogo com os
países hispano-americanos e suas literaturas?
FM | Mas este não é um livro dedicado
ao diálogo com as literaturas hispano-americanas e sim tocado pela necessidade
de se criar um ambiente de leitura e discussão da presença do surrealismo nessa
parte do continente americano. Evidente que ali também nos chama a atenção a
absurda ausência de conhecimento, da parte brasileira, em relação ao que se
passa na fatia majoritária da América. Mas chama essencialmente a atenção para
a falta de conexão intercontinental, pois o livro, embora tendo sido publicado
no Brasil, não se limita aos problemas fronteiriços internos. Trata do preconceito
dirigido contra o surrealismo. Somos uma sociedade com 200 milhões de
habitantes. O livro teve uma tiragem de 1.000 exemplares. A editora o deu por
esgotada. Saíram resenhas em alguns importantes veículos de imprensa, incluindo
algumas entrevistas que me foram feitas, para revistas, jornais, rádio e
televisão, no Brasil e em alguns países hispano-americanos. Tudo até muito
bonito e surpreendente. Mas evidente que é uma trajetória ineficiente. Escolha
ao acaso algum poeta brasileiro e indague a ele sobre poetas hispano-americanos
fora do circuito das circunstâncias. As quatro primeiras décadas do século
passado viram nascer, na América Hispânica, algumas vozes fundamentais e que
certamente teriam impedido o nascimento ou ajudado a sepultar certa frivolidade
da lírica brasileira. O sentido inverso também teria algum valor, e livraríamos
a lírica hispano-americana de certa adiposidade metafórica. Body and soul. O que torna essa uma
belíssima canção é o espírito do conectivo. É isto o que falta entre nós.
MS | Seu mais recente trabalho na
área da ensaística literária chama-se Um
pouco mais de surrealismo não causará dano algum à realidade e deve ser
publicado em 2011 no México e na Venezuela. Que nova abordagem o livro traz ao
assunto? Como está organizado? Fale um pouco sobre ele.
FM | O livro foi originalmente
preparado como parte do programa de um seminário que dei na Universidade de
Cincinnati (Ohio, Estados Unidos). O seminário foi um pouco mais abrangente,
porque tratava também da plástica e do surrealismo na Europa. Resolvi dar a ele
uma espécie de leitura final, de minha parte, em relação ao tema,
especificamente no que diz respeito ao continente americano. O tema não tem fim
se nos dedicamos a considerar as tolices escritas a respeito. A pior delas é justamente
a que não entende a distinção entre dois mundos que separa Europa e América.
Observa o entendimento do poeta inglês, A. Alvarez: “Embora as polêmicas e
teorias surrealistas fossem consistentemente mais extremadas do que a sua
prática, que muitas vezes era apenas decorativa, o surrealismo, ainda assim,
mudou a maneira pela qual o mundo é percebido”. Agora olha um outro poeta, o
mexicano José Emilio Pacheco, o que ele diz: “o surrealismo não foi adotado
como uma tendência exclusiva pelos jovens que então o descobriram, mas sim como
um elemento natural e imprescindível na visão das coisas e na retórica do
ofício que estão na base dos livros que fizeram a literatura mexicana dos anos 19
1989 A POÉTICA DO PARADOXO [Entrevista concedida a Sérgio Campos]
1996 A FAVOR DO CONTRA [Entrevista concedida a Lira Neto]
1997 O TEATRO E O ATENEU: Breve introdução à poesia de Floriano Martins [Carlos Felipe Moisés]
1998 A MODERNIDADE NÃO É UM CADERNO DE RECEITAS [Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão]
1998 A NECESSIDADE DA POESIA [Entrevista concedida a Emmanuel Nogueira]
1998 CONTINENTE DE POETAS [Wilson Martins]
1998-2010 FRAGMENTOS ROUBADOS AO TEMPO [Preparado por Márcio Simões]
1999 FLORIANO MARTINS TRAZ POETAS HISPANO-AMERICANOS AO BRASIL [Entrevista concedida a José Castello]
1999 UN LIBRO QUE UNE Y ESCUDRIÑA [Carlos Germán Belli]
2000 OS TORMENTOS DO VERBO E DA IMAGEM NA ESTRUTURA DA ALMA [Eric Ponty]
2002 AS MANIFESTAÇÕES SURREALISTAS NA AMÉRICA LATINA [José Castello]
2002 HUMANISMO POÉTICO [Entrevista concedida a Fabrício Carpinejar]
2002 MÉXICO Y BRASIL BUSCAN ACERCARSE A TRAVÉS DE LA POESÍA CONTEMPORÁNEA [Rodrigo Flores]
2002 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Rodrigo Petronio]
2002 UM OLHAR NA POESIA [Entrevista concedida a Carmen Virginia Carrillo]
2002 VOZES EM CONFLUÊNCIA [Maria Esther Maciel]
2003 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS [Entrevista concedida a Rodrigo Petronio]
2003 PALAVRAS PRELIMINARES [Entrevista concedida a Jorge Ariel Madrazo]
2004 SÁBIO IMPREVISTO [Entrevista concedida a Álvaro Alves de Faria]
2004 UMA AGULHA NA REDE DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2005 SOMOS O QUE BUSCAMOS [Entrevista concedida a Ana Marques Gastão]
2005 VERTIGENS DO OLHAR: autorretratos [Floriano Martins por Floriano Martins]
2006 A OUTRA MÁQUINA DO MUNDO [Entrevista concedida a Belkys Arredondo]
2008 FESTA DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Anderson Sandes]
2008 UMA CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ [Entrevista concedida a Lira Neto]
2009 A INOCÊNCIA DE FLORIANO MARTINS. INOCÊNCIA? [Jacob Klintowitz]
2010 ÀS VOLTAS COM O LIVRO-OBJETO E SUAS SOMBRAS [Entrevista concedida a Madeline Millán]
2010 CIBERCULTURA EN TIEMPOS DE ANALFABETISMO GLOBAL [Entrevista concedida a José Ángel Leyva]
2010 NASCENDO TODOS OS DIAS [Entrevista concedida a Manuel Iris]
2010 OPÇÃO PELA DISSIDÊNCIA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2010 TODAS AS COISAS À MINHA VOLTA [Entrevista concedida a Adlin Prieto]
2011 CRÍTICA E RUPTURA: a inocência de pensar de Floriano Martins [Teresa Ferrer Passos]
2011 PARTICIPAÇÃO POÉTICA [Entrevista concedida a Márcio Simões]
2013 QUE HOMEM É ESSE? [Entrevista concedida a Oleg Almeida]
2015 O LUGAR QUASE LASCIVO DE UMA AMBIGUIDADE [Entrevista concedida a Renata Sodré Costa Leite]
2016 AVENTURAS DA POESIA NO TEMPO: o inteiro continente revelado [R. LeontinoFilho]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 01 [Alfonso Peña & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 02 [Omar Castillo & Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 03 [José Ángel Leyva & Floriano Martins]
2016 LOS NAVEGANTES DE LA PARADOJA [Entrevista concedida a Alfonso Peña]
2016 UM NOVO CONTINENTE [Marco Lucchesi]
2017 À LUZ DO PARADOXO [Entrevista concedida a Leila Ferraz]
2017 FLORIANO MARTINS, POETA E DEMIURGO [Claudio Willer]
2020 | DIÁLOGO CON FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Berta Lucía Estrada]
2020 | FLORIANO MARTINS: Todos somos marginados a la sombra de lo desconocido | [Entrevista concedida a Elys Regina Zils]
2020 UMA CONVERSA COM FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Anna Apolinário & Demetrios Galvão]
2021 UNA PRESENTACIÓN DE LA OBRA DE FLORIANO MARTINS [José Alcántara Almánzar]
2021 VOCAÇÃO DIALOGANTE [Entrevista concedida a Maria Estela Guedes]
2022 DE ITARARÉ A UMA DEAMBULAÇÃO CONTÍNUA: Conversa com Floriano Martins sobre o Surrealismo no Brasil [Entrevista concedida a Anderson Costa & Elys Regina Zils]
2023 | FLORIANO MARTINS E O MARAVILHOSO TUMULTO DE SUA VIDA | Roda de imprensa, várias vozes
2023 A OUTRA VOZ DO TEMPO: Cronologia de vida e obra [Preparada por Floriano Martins & Márcio Simões]
OBRA ENSAÍSTICA PUBLICADA
El corazón del infinito. Tres poetas brasileños. Trad. Jesús Cobo. Toledo: Cuadernos de Calandrajas, 1993.
Escritura conquistada. Diálogos com poetas latino-americanos. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Escrituras surrealistas. O começo da busca. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998.
Alberto Nepomuceno. Edições FDR. Fortaleza. 2000.
O começo da busca. O surrealismo na poesia da América Latina. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2001.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. San José de Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2004.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. Caracas, Venezuela: Monte Ávila Editores, 2008.
A inocência de Pensar. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2009.
Escritura conquistada. Conversaciones con poetas de Latinoamérica. 2 tomos. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2010.
Invenção do Brasil – Entrevistas [edição virtual]. São Paulo: Editora Descaminhos, 2013.
Esfinge insurrecta – Poesía en Chile [edição virtual, em coautoria com Juan Cameron]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad. México: UACM – Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2015.
Sala de retratos. São Paulo: Opção Editora, 2016.
Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Valdir Rocha e a persistência do mistério. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Laudelino Freire. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2018.
Escritura conquistada – Poesía hispanoamericana. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Visões da névoa: o Surrealismo no Brasil. Natal: Sol Negro Edições, 2019.
120 noites de Eros. Fortaleza: ARC Edições, 2020.
TRADUÇÕES
Poemas de amor, de Federico García Lorca. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Delito por dançar o chá-chá-chá, de Guillermo Cabrera Infante. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Nós/Nudos, de Ana Marques Gastão (edição bilíngue). Lisboa: Gótica, 2004.
A condição urbana, de Juan Calzadilla (edição bilíngue). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2005.
Dentro do poema – Poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959, Org. Eduardo Langagne. Fortaleza: Edições UFC, 2009.
A aventura literária da mestiçagem, de Pablo Antonio Cuadra (em parceria com Petra Ramos Guarinon). Fortaleza: Edições UFC, 2010.
III novelas exemplares & 20 poemas intransigentes, de Vicente Huidobro & Hans Arp. Natal: Sol Negro Edições/São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2012.
Sobre Surrealismo, de Aldo Pellegrini (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2013.
Memória de Borges – Um livro de entrevistas (2 volumes). São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2013.
Bronze no fundo do rio, de Miguel Márquez (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2014.
Tremor de céu, de Vicente Huidobro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2015.
Costumes errantes ou a redondeza da terra, de Enrique Molina (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2016.
Reino de silêncio, de Mía Gallegos (edição bilíngue). Teresina: Kizeumba Edições, 2019.
Traduções do universo, de Vicente Huidobro. Natal: Sol Negro Edições, 2016.
O álcool dos estados intermediários, de Gladys Mendía. Santiago: LP5 Editora, 2020.
A tartaruga equestre, de César Moro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2021.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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