AS VEIAS DA ORIGEM
A ideia de perfeição que a arte persegue e a
sabedoria acumulada na escritura, o sonho de cessação de todo desejo que se
expressa no luxo dos ornamentos, tudo remete a um único significado, celebra um
único princípio e fundamento, implica um único, último objeto. E é um objeto
que não está. Sua única qualidade é a de não estar. Não se pode sequer lhe dar
um nome.
ITALO CALVINO
Pensando nessa ideia de Calvino, de que
perseguimos algo cuja maior qualidade seja a impossibilidade de se mostrar, foi
o que me levou a preparar este livro, caderno algo volumoso, talvez
demasiadamente volumoso, de anotações que, ao final, nos levam a uma grata
noção de invisibilidade. Nunca estamos, não importa a intensidade da intenção,
na sala de desembarque, pois as viagens, a própria dinâmica da existência, as
vertigens e voragens que nos levam de um lugar a outro, se dão de modo
ininterrupto, a tal ponto que o que somos jamais se encontra com o que fomos. O
passado ainda está se formando quando o presente se ausenta em busca de outro
espectro de si mesmo. Por vezes quando relemos o que se escreveu a nosso
respeito dá-nos a impressão de algo vivido por outra pessoa, uma espécie de
nódoa no tecido da memória, a porosidade do destino desorbitando que imaginamos
de nós mesmos. Certos mapas são como pequenas esferas dispersas no espinhaço da
alegoria. Qualquer que seja o ângulo de que são vistos não revelam senão a
farsa de seus dogmas. Os mais audazes são escritos ao contrário, prontos a
tornar a aventura uma gema de vultos antecipados. Quando comecei a reunir os
textos que compõem este livro, fui sendo constantemente visitado por essa ideia
de uma impossibilidade de estar presente em suas páginas. No entanto, o
protagonista dessa alegoria foi se mostrando cada vez mais coerente com seus
paradoxos existenciais que acabei aceitando a ideia de que ao menos um nome
poderia ser dado a ele: o meu. Um nome cuja origem é uma invenção. Martins é um
quase-pseudônimo, tomado de empréstimo de meu pai, que me batizou apenas com
seu outro nome de família. Também ele tem essa qualidade de não estar, aludida
por Calvino. E talvez esta tenha sido a graciosa solução encontrada por meu
espírito, a de que o nome, mesmo quando dito, acaba por revelar um outro. Este
outro múltiplo que não cessamos de ser, ao menos nas palavras de leitores que
revelaram seu entendimento do que escrevi, portanto do que sou, o que acaba por
interessar é que fui passando por todas essas palavras e o que trouxe comigo
até o momento coincide com a ideia de princípio e fundamento mencionada por
Calvino. Jamais cessamos de ser.
1989 A POÉTICA DO PARADOXO
[Entrevista concedida a Sérgio Campos]
1996 A FAVOR DO CONTRA
[Entrevista concedida a Lira Neto]
1997 O TEATRO E O ATENEU: Breve
introdução à poesia de Floriano Martins [Carlos Felipe Moisés]
1998 A
MODERNIDADE NÃO É UM CADERNO DE RECEITAS
[Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão]
1998 A
NECESSIDADE DA POESIA [Entrevista
concedida a Emmanuel Nogueira]
1998 CONTINENTE DE POETAS [Wilson
Martins]
1998-2010 FRAGMENTOS ROUBADOS AO TEMPO
[Preparado por Márcio Simões]
1999 FLORIANO MARTINS TRAZ POETAS
HISPANO-AMERICANOS AO BRASIL [Entrevista concedida
a José Castello]
1999 UN LIBRO QUE UNE Y
ESCUDRIÑA [Carlos Germán Belli]
2000 OS
TORMENTOS DO VERBO E DA IMAGEM NA ESTRUTURA DA ALMA [Eric Ponty]
2002 AS
MANIFESTAÇÕES
SURREALISTAS NA AMÉRICA LATINA
[José Castello]
2002 HUMANISMO POÉTICO [Entrevista concedida a Fabrício Carpinejar]
2002 MÉXICO Y BRASIL BUSCAN ACERCARSE A
TRAVÉS DE LA POESÍA CONTEMPORÁNEA [Rodrigo Flores]
2002 O
MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS
[Rodrigo Petronio]
2002 UM OLHAR NA POESIA [Entrevista concedida a Carmen
Virginia Carrillo]
2002 VOZES
EM CONFLUÊNCIA
[Maria Esther Maciel]
2003 O MERGULHO EM TODAS AS ÁGUAS
[Entrevista concedida a Rodrigo Petronio]
2003 PALAVRAS PRELIMINARES
[Entrevista concedida a Jorge Ariel Madrazo]
2004 SÁBIO
IMPREVISTO [Entrevista concedida
a Álvaro Alves de Faria]
2004 UMA AGULHA
NA REDE DA MESTIÇAGEM [Entrevista concedida a José Ángel
Leyva]
2005 SOMOS O QUE
BUSCAMOS [Entrevista
concedida a Ana Marques Gastão]
2005 VERTIGENS DO OLHAR: autorretratos
[Floriano Martins por Floriano Martins]
2006 A OUTRA MÁQUINA DO MUNDO
[Entrevista concedida a Belkys Arredondo]
2008 FESTA DA MESTIÇAGEM
[Entrevista concedida a José Anderson Sandes]
2008 UMA
CONVERSA COM O CURADOR DA 8ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DO CEARÁ [Entrevista concedida a Lira Neto]
2009 A INOCÊNCIA DE FLORIANO MARTINS. INOCÊNCIA? [Jacob
Klintowitz]
2010 ÀS
VOLTAS COM O LIVRO-OBJETO E SUAS SOMBRAS [Entrevista concedida a Madeline Millán]
2010 CIBERCULTURA
EN TIEMPOS DE ANALFABETISMO GLOBAL [Entrevista
concedida a José Ángel Leyva]
2010 NASCENDO
TODOS OS DIAS [Entrevista
concedida a Manuel Iris]
2010 OPÇÃO PELA DISSIDÊNCIA
[Entrevista concedida a Márcio Simões]
2010 TODAS AS COISAS À MINHA VOLTA
[Entrevista concedida a Adlin Prieto]
2011 CRÍTICA E RUPTURA: a inocência de pensar de Floriano Martins [Teresa Ferrer
Passos]
2011 PARTICIPAÇÃO POÉTICA
[Entrevista concedida a Márcio Simões]
2013 QUE HOMEM É
ESSE? [Entrevista concedida a Oleg Almeida]
2015 O LUGAR QUASE LASCIVO DE UMA
AMBIGUIDADE [Entrevista concedida a Renata
Sodré Costa Leite]
2016 AVENTURAS DA POESIA NO TEMPO: o inteiro continente
revelado [R. LeontinoFilho]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 01 [Alfonso Peña &
Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 02 [Omar Castillo &
Floriano Martins]
2016 LA INUTILIDAD DE LAS FUENTES, 03 [José Ángel Leyva &
Floriano Martins]
2016 LOS NAVEGANTES DE
LA PARADOJA [Entrevista concedida a Alfonso Peña]
2016 UM
NOVO CONTINENTE
[Marco Lucchesi]
2017 À LUZ DO
PARADOXO [Entrevista
concedida a Leila Ferraz]
2017 FLORIANO MARTINS, POETA E DEMIURGO [Claudio Willer]
2020 | DIÁLOGO CON FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Berta Lucía Estrada]
2020 | FLORIANO MARTINS: Todos somos marginados a la sombra de lo desconocido | [Entrevista concedida a Elys Regina Zils]
2020 UMA CONVERSA COM FLORIANO MARTINS [Entrevista concedida a Anna Apolinário & Demetrios Galvão]
2021 UNA PRESENTACIÓN DE LA OBRA DE FLORIANO MARTINS [José Alcántara Almánzar]
2021 VOCAÇÃO DIALOGANTE [Entrevista concedida a Maria Estela Guedes]
2022 DE ITARARÉ A UMA DEAMBULAÇÃO CONTÍNUA: Conversa com Floriano Martins sobre o Surrealismo no Brasil [Entrevista concedida a Anderson Costa & Elys Regina Zils]
2023 | FLORIANO MARTINS E O
MARAVILHOSO TUMULTO DE SUA VIDA | Roda
de imprensa, várias vozes
2023 A
OUTRA VOZ DO TEMPO: Cronologia de vida e obra [Preparada por Floriano Martins & Márcio
Simões]
OBRA ENSAÍSTICA PUBLICADA
El corazón del infinito. Tres poetas brasileños. Trad. Jesús Cobo. Toledo: Cuadernos de Calandrajas, 1993.
Escritura
conquistada. Diálogos com poetas latino-americanos. Fortaleza:
Letra & Música, 1998.
Escrituras
surrealistas. O começo da busca. Coleção
Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998.
Alberto
Nepomuceno. Edições FDR. Fortaleza. 2000.
O
começo da busca. O surrealismo na poesia da América Latina.
Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2001.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la
Poesía de nuestra América. San José de Costa
Rica: Ediciones Andrómeda, 2004.
Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la
Poesía de nuestra América. Caracas,
Venezuela: Monte Ávila Editores, 2008.
A inocência de Pensar.
Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2009.
Escritura conquistada. Conversaciones con
poetas de Latinoamérica. 2
tomos. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2010.
Invenção do Brasil – Entrevistas
[edição virtual]. São Paulo: Editora Descaminhos, 2013.
Esfinge insurrecta – Poesía en Chile
[edição virtual, em coautoria com Juan Cameron].
Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Un poco más de
surrealismo no hará ningún daño a la realidad. México: UACM – Universidad Autónoma de la Ciudad de
México, 2015.
Sala de retratos.
São Paulo: Opção Editora, 2016.
Um novo continente – Poesia e
Surrealismo na América. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Valdir Rocha e a persistência do
mistério. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Laudelino Freire.
Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2018.
Escritura conquistada – Poesía
hispanoamericana. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Visões da névoa: o Surrealismo no
Brasil. Natal: Sol Negro Edições, 2019.
120 noites de Eros.
Fortaleza: ARC Edições, 2020.
TRADUÇÕES
Poemas de amor,
de Federico García Lorca. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Delito por dançar o chá-chá-chá,
de Guillermo Cabrera Infante. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.
Nós/Nudos,
de Ana Marques Gastão (edição bilíngue). Lisboa: Gótica, 2004.
A condição urbana,
de Juan Calzadilla (edição bilíngue). Florianópolis: Letras Contemporâneas,
2005.
Dentro do poema – Poetas mexicanos
nascidos entre 1950 e 1959, Org. Eduardo Langagne. Fortaleza:
Edições UFC, 2009.
A aventura literária da mestiçagem,
de Pablo Antonio Cuadra (em parceria com Petra Ramos Guarinon). Fortaleza:
Edições UFC, 2010.
III novelas exemplares & 20 poemas
intransigentes, de Vicente Huidobro & Hans Arp.
Natal: Sol Negro Edições/São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2012.
Sobre Surrealismo,
de Aldo Pellegrini (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2013.
Memória de Borges – Um livro de
entrevistas (2 volumes). São Pedro de Alcântara:
Edições Nephelibata, 2013.
Bronze no fundo do rio,
de Miguel Márquez (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2014.
Tremor de céu,
de Vicente Huidobro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2015.
Costumes errantes ou a redondeza da
terra, de Enrique Molina (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições,
2016.
Reino de silêncio,
de Mía Gallegos (edição bilíngue). Teresina: Kizeumba Edições, 2019.
Traduções do universo,
de Vicente Huidobro. Natal: Sol Negro Edições, 2016.
O álcool dos estados intermediários,
de Gladys Mendía. Santiago: LP5 Editora, 2020.
A tartaruga equestre,
de César Moro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2021.
∞
Agulha Revista de
Cultura
Criada por Floriano
Martins
Dirigida por Elys
Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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