Como um tambor a voz daquela mulher
repetia a palavra nurse no leito vizinho ao meu. A cortina que nos
separava já de todo vencida pela insistência de sua evocação. Impossível que a
enfermeira não a escutasse. A voz retorcendo a palavra de tal modo que assumia
uma abusada floração de sentidos e timbres sombrios. A noite multiplicada em
cenas e vozes dilacerou a dimensão daquele hospital em Sidney. Este é o poema
escrito em nome de todas elas.
FM
1.
Põe a mão na água.
Meu coração está profundo,
e a cama soa como o martelo de um
deus.
Eu sei o caminho.
O chão disfarçado com olhos de chumbo.
O rádio longe tossindo desastres
climáticos.
Oh por favor, põe a mão na água.
Traga os lagos de volta.
Eu não tive tempo de rever todos os
planos.
Eu sei o caminho, porém os mapas não
me reconhecem.
Põe a mão no fogo.
Eu quero dormir no fogo.
Por favor, cubra meus olhos com
cinzas.
Brilho brilho brilho, meu céu quer seu
cachimbo.
Eu tenho uma imensa chaga, porém meu
corpo se arrasta lento.
Identifico as línguas em que me falas.
Todo o meu cansaço se agita.
Meu coração está voltando.
Põe a mão na água, na maldita água.
Eu sei o caminho.
Eu sei.
2.
Com o céu dobrado em quatro peles,
desce pelos requintes de uma dor que
se repete:
música de exaustão,
limite de trabalhos corrosivos,
sem que houvesse aprendido a soletrar
o mundo razoável.
Desce acrescentando um rio em cada
contração,
um lar de gemidos renomeados pela
ânsia.
Eu sei como livrar-me do feitiço.
A estranha mulher a ler no fogo o
livro por ser escrito.
A cama desgovernada nos lábios da
noite.
Ela em súplicas: ela em lágrimas: ela
em mim.
Eu sei como livrar-me.
Um sonho agendado ao pé da aflição.
Eu quero o meu terço de areia,
o mato crescendo por dentro dos
truques abandonados.
Ela em quatro peles deslacrando
enigmas.
Eu beijo a terra seca, a árvore
queimada.
Meu nome se perde em suas vísceras.
O feitiço está escrito em algum lugar.
Com seu ofício de dobrar-me,
a dor não para de cuspir um milagre
áspero de fendas.
3.
Ela me diz os nomes que eu não deveria
ouvir,
talvez para que eu saiba por onde
começar a morrer.
E me traduz um delírio aos bagaços em
meio à dor incessante.
Masca as mesmas palavras que talvez
sejam uma só.
Eu não sei como chamá-la.
A cama desliza por uma savana de
cadáveres.
Tantos seres iguais a nós que nos
desconhecemos.
Um verbo suspenso extravia os demais.
Multidão a repetir-se em uma acústica
de desmaios.
Minha carne se desfaz profundamente.
Sou o nome que me usa para afastar-me
de mim.
Sequer dorme um instante para que eu
reze em silêncio.
Necessito um abismo com que estancar a
dor.
Respiro areias escaldantes,
terra inflamada com acordes fatais,
costelas empilhadas como facas.
Esmero de cortes de um pulmão a outro.
Ela me diz as façanhas que devo
decifrar,
a hora provável em que o medo entra em
declínio.
Eu não estou bem certo de entendê-la.
Não a escuto nem sei quantas são.
O hospital com seus corredores
prolongados dentro de mim.
O meu peito queimando umas últimas
árvores.
4.
Uma outra dor vem confundir-se com a
tua,
por entre migalhas da escuridão
e pequenos golpes na memória de minhas
visões.
Não te cansas de rasgar o ventre do
mesmo mantra.
O peixe dilacerado em sua agonia de
mar e areia.
Mundo em que me crias o mesmo em que
me matas.
O anel que tu me deste, o amor que tu
me tinhas.
Descrevo a sede para que não retornes
a este quadrante.
A espinha de sal que me atravessa a
voz:
era branca era branca a tua nudez
indisfarçável.
A tua nudez de sal e sombras
esvoaçantes da quimera.
Planos de Deus brotando do relógio na
parede.
Apenas teus gemidos refletem sobre
eles,
e minha dor apaixonada pela morfina.
5.
Noite decomposta na versão
inverossímil
de seus acidentes vasculares.
Se dormes, petrificas.
Reúno tuas divergências em meu ser.
Presságios contra a escrita da
aflição.
Espalho teus artifícios por toda a
pele.
Se respiras, me despedaço.
Não quero morrer em teus braços.
Olhos mascados pelo delírio,
os rios da febre em caudalosa
alegoria.
Grunhidos entalhados em minha face.
Fogo de línguas, uma única palavra
expandindo-se em mil dizeres.
Não há repouso em teu mistério
interminável.
Guardo contigo o método de meu
desespero.
Não quero morrer não quero um só
instante.
No privilégio de tuas chamas
projetadas,
na chaga incessante de uma altíssima
dor.
Sombras tropeçando em gemidos.
Se te esvais, me aprimoras.
6.
Releio tuas sombras mergulhadas na
noite.
As que me afagam por dentro em horas
mortas.
Desconheço os planos do bisturi, seus
adágios,
o pavio deixado à mostra para que
sangre a espreita.
Em nome do céu a caça desterrada.
A água da terra no olhar faminto.
Vislumbro o enigma do fósforo,
a arte elementar dos sapatos deixados
sob a cama.
Olho à volta e revejo cada metáfora.
Ignoro os mosaicos que não
percorremos.
Vomito fezes, negrume de veias
ressecadas,
uma herança de dores sobre a terra.
Persiste o pesadelo de tua voz
agonizante,
prece implacável, prece de lábios
rasgados em que duvidas
que o morto sou eu e uma revoada de
anjos
aceita o demônio que levas contigo.
A letra golpeada, a realidade
indefinida,
e vens por baixo do lençol
transbordar-me de abandono e fadiga.
Uma atrocidade mística que me tira o
sono,
e retalha a miúda esperança.
7.
Teus gemidos se arrastam por todo meu
corpo.
Querem me dizer algo e parecem sofrer
com isto.
Como o curso premonitório de um rio
que se esgota,
banha-me a terra quente de teu canto
inevitável.
O que oculta tua sede hostil em sua
perda de ritos.
Teus gemidos projetam suas chamas em
meu sexo.
Por um momento a tudo renunciamos,
e coincidimos em praticamente todas as
vertigens.
Sei que brincas comigo e tolero a
desordem dessa parábola.
Queimas as cartas de meu desejo
temeroso
e invades as atribuições de um gozo
que confunde-se com a dor
que salta de um porto a outro de minha
vigília.
Por um momento parecemos estar vivos.
Teus gemidos dão instruções ao meu
orgasmo.
A memória é árdua e concentra-se em
seus erros.
Vislumbro tuas carnes murchas,
e percebo que nunca soube como te
chamas.
No entanto, me explodes como uma
invenção inconclusa.
8.
Do outro lado da cama ainda me ouvias.
Quem somos quem fala quantos já fomos.
Pequenos anjos negros desfigurados
pela deriva.
Variações de uma mesma agonia
acumulada.
A minha vida em tuas mãos.
Eu vi chegar o primeiro barco de
refugiados.
A divindade enlouquecida em suas
minúcias.
A outra face da morfina, o limite do
horror.
Cada palavra me dói como uma doutrina
escarnecida.
Uma dor perplexa que toca o fogo e
queima teus olhos.
A cama ancorada no céu de cinzas
aflitas.
Teus planos desfeitos minhas cartas
relidas.
Entramos no assombro um do outro,
com a astúcia do caos, a malícia do
acaso.
Talvez não tenhamos mais para onde ir,
e tudo se agrave porque relutamos em
aceitá-lo.
9.
Rios de fogo por dentro do corpo.
Escritura de sangue escavando a
memória.
Eu fui buscar o abismo esquecido em teu
ventre.
Mundo em que tudo se dissipa e nenhum
equilíbrio.
Pernas como archotes iluminando os
vãos do desejo.
Eu queimo por ti e tu me açoitas com
um papiro de urgências.
A hora aterrorizante das injeções.
Língua incendiada por palavras
inaceitáveis.
Deus que me reduz a uma torrente de
dores.
Em me perco sempre onde quer que te
busque.
Vasculho em meu sexo um conforto
impreciso.
A noite se dilui como uma sopa de
gemidos.
Alguém me tire daqui.
Eu não quero eu não posso morrer antes
de mim.
10.
A noite se estreita ao percorrer minha
alma.
Nos olhos dela a ferida inflamada,
a chaga de horas com que me decifras.
Umas vozes dentro, outras bem fora,
ausentes inomináveis.
Os mortos dizendo fogo, a dor coberta
de cinzas.
Ventríloquo enfermo que não reconhece a
si mesmo,
eu bebo em teu sangue a fábula da
morfina.
Esta noite foi composta no pudor de
tuas coxas,
para que insistas estou louco jamais
voltarei aqui.
Quem dirá em mim, como um retrato
resumido,
o quanto te amei enquanto te repetias?
Tua voz acumulando virtudes.
Eu me declaro um homem acabado sem que
me digas quem fui.
Não é possível, eu sei, e, no entanto,
me tens por um fio.
Recorda-me de uma vez só para que eu
não sofra tanto.
11.
Eu vou embora daqui.
Com mil chamas vertiginosas
redigindo a queda de teus seios em
minhas mãos.
Antes que tua doce blasfêmia iluda a
morte.
Deixo contigo o bisturi inútil e a
máscara da insônia.
O futuro concebido como uma colheita
de verbos irregulares.
A luz no corpo por todos os ângulos do
breu.
Tuas vozes deixadas para trás como
árvores no espelho.
Livros que indagam a duração da vida
de quem os escreve.
Livro-me do estupor das sombras, da
carne trêmula, da fiação de horrores.
Não fico mais aqui.
Eu sei onde cabes: no bolso sem fundo
do espírito,
no piso cego desse corredor sem fim.
Despeço-me de tua solidão esfomeada,
e das virtudes todas do delírio com
seus sortilégios confiscados.
12.
Quem sabe seja este um último disfarce
de tua heresia.
A tua voz me alimenta e perdura em
mim,
como jamais pude conceber o enigma da
noite em seu eco
ou mesmo deduzir suas versões sempre à
espreita
enquanto a dor se esvaía em meu
pulmão.
Deus instrui seus vícios a não me
darem sossego.
Mãos que naufragam no escuro à tua
procura.
O corpo hostil com seus tumores
consumados.
Eu sei o quanto me atormentas.
As sombras que gemem no céu, a luz
quebrada no olhar,
os ramos da morfina em seu cativeiro
de abismos.
Como um antídoto vencido, o assombro
sem nos reconhecer.
Eu sei o caminho.
A água rasgada com seus peixes de
veneno.
A pedra do sangue [eu sei] nervuras ao
relento.
Em nome do pai soletra o verbo da
terra queimada.
Tua voz não me deixa concluir nada.
Eu sei como pressentes o que não se
extingue.
A sede monstruosa, a porta que não se
abre.
Não podíamos nunca ter ido tão longe,
e não soubemos ao certo de onde
voltávamos.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
∞
1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
∞
Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
∞
OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
∞
Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário