PRIMEIRAS VOZES
Onde cresce a árvore de nosso amor,
esfera semeada de sol e vento e mar.
Como versos do ar tremem seus braços,
respiração do fogo por entre os ramos.
Onde cresce o amor sobre o mundo,
toda a idade perdida pousa em teus olhos.
Mulher acariciada pelo esquecimento
cujo
corpo se deita sobre a dor do tempo
e nós de espelhos silenciosamente caem
de suas sombras no segredo da paisagem.
Trago um sonho, um sonho oculto no passado,
nas ruínas da memória reconheço
os sinais do amor, os suores do que sou
enquanto o tempo desconhece por que sangram
as dores que crescem em tua pele.
O
mistério
de nádegas dançando na expressão invisível
de umas tristezas fugindo de teu riso e uns
sorrisos voando a caminho de tua tristeza.
Onde morre a noite flutua uma canção.
Quem sabe é teu nome que traz soando
os dizeres da porta frondosa que se abre
no centro de cinzas de nosso sonho.
Tu, fulgurante tronco de seios e presença
lavrada,
os velhos elementos da realidade,
o
sopro
queimante de teus desejos – as invisíveis
chamas,
palavra que inventa um ninho de assuntos
e secreta aventura de beijos por toda a noite
– são o tributo do tremor e a sede do universo.
Música de tua carne oh amor, rochas de teu ser
que me falam da imagem desnuda do abismo,
cadência de quedas que descalça a memória,
as mãos abertas do obscuro em seus ventos
molhados
resvalam os sonhos oh amor no compasso redondo
da agonia – uma água espantada – corrente
rompida
– a mesma música que cresce dentro do tempo
e
voa
dispersa por entre nossos suores de terra e
espelho
– eis teu novo mistério a dor que vamos buscar.
VÍTIMAS DO ESPELHO
1.
Teu nome é morte.
Até o princípio caminham todas as formas de minha existência. O que há entre
teu olhar e o meu é a paixão com que se tocam. O que é a ausência? Uma sombra
sem limites. Um fulgor de trevas cai dentro de tua imensidão. Adentrarei em teu
espírito pela rua de suas órbitas vazias, pelo gozo de tumbas que cresce na
transparência de teus caminhos. Sei que és a morta, o palco de cinzas que me
desgarra do mundo. Guia-me os passos a trêmula suavidade da solidão. És a
maldita terra que adivinha meu infortúnio. Muito desejaria outra falta, outra
náusea no desastre vazio de nossa existência. Até o princípio caminham todas as
mortes. És o inferno das transfigurações, um abismo de ossos em tua nudez de
guarda-fogos. Teu nome é Lozna.
2.
Nome de morta: Inumerável: por alguma
razão deixei cair em meu destino esse
funeral,
o mistério granítico de tua ausência e
Tanatos,
uma sombra mortal que rasga meus
versos.
Por alguma razão uma torre de
silêncios avança
até a asfixia proverbial de minha
solidão.
Queres me retirar de circulação,
profanado amor,
com teu nome de cinzas e os papéis em
desuso.
Somente por ti os sobressaltos, por
ninguém mais,
perfeitas diferenças de haver perdido
os passos,
o reino dos alentos simulados, seus
gestos
impotentes diante do amor, somente por
ti.
Depois de tudo: Inumerável: que lugar
ocupas
entre as vítimas dessa lâmpada de
trevas?
3.
Os amores expõem
sua nudez sob a luz do tempo, afiam suas pátinas com um indestrutível ardor,
ninguém pode julgar ou condenar o amor, figueira sagrada dos rituais, latejo
selvagem do universo, lauréis do absoluto, ninguém pode tramar contra a pele do
amor, assombrosa claridade de seus desdobramentos e prejuízos, mesmo na
vastidão de suas ruínas há um sentido de larga intempérie, uma diferença diante
da morte, um brilho que fixa a astúcia do acaso, onde o esplendor do tempo é
uma vertigem porém não o declínio absoluto, onde a memória é uma transparência
do futuro, onde o mistério é um decifrar escuridões, a imagem de uns olhos
refletida no próprio instante de seu desvanecimento, os amantes vão cobrindo o
torvelinho de seus desastres passionais, os desenraizamentos de suas visões e o
arroubo do esquecimento, enquanto apenas o vento sopra e o amor persiste:
4.
Onde persiste o
amor? No branco, nos desenhos do desconhecido, cicatrizes da ausência,
extravios de páginas, ondulações dos calendários, no úmido fulgor do próprio
florescimento. O amor trama sempre retornar da vertigem das transparências, dos
reflexos de fogos, corpos da voracidade. Tudo em Lozna descansa na caligrafia
de meu ser. Esvaziar o sentido do verbo, pretérita sensação, não é senão
gastá-lo até o oco de sua fundação. As inflexões do amor não estão fora do que
escreve em nossa carne. Uma palavra é seu destino. Seu destino são todas as palavras.
Paixão das contradições. O amor de uma árvore por um pássaro. O movimento do
tempo é uma estação tremente de inquietudes, cuja verdadeira distância do
princípio até a perplexidade das ramificações não se estende além do próprio
revés. Onde persiste o amor? Não chegaremos nunca a nos reconciliarmos com seus
impulsos? Devastados no tempo sem memória, acaso desconhecemos nossa sede de
errâncias?
5.
Onde desemboca a
ausência da mulher amada? Não há como aceitar os desígnios de uma fonte de
jogos, as adivinhações das horas do martírio, fulgurantes esponjas de um
delírio de estorvos. Lozna morreu ante a perplexidade desbragada de Barbus. Não
houve fruição dos metais de sua morte. Não houve elegância da criação no
retábulo de sua retirada. Não sangrava como suas irmãs. Seu corpo não era a
sacristia de uma violência carnal. A morte apenas sorria do pedestal vazio de
sua própria ideia. Não foi o nascimento de um novo círculo de abismos. Não
houve as certeiras lanças cravadas da ironia nem uma opulenta constelação de
quedas. Que houve com a morte de Lozna? Que corpo a linguagem recebe agora? Que
fazer dos provérbios diante dos deslizamentos da carne? Barbus atravessa o
deserto como se fosse um enigma sem configurações. Não há ao que recorrer
quando a noite não se deixa tocar.
6.
Uma primeira
ideia verdadeira da morte: montagem das resignações, um filme de martírios. Cenários
incompreendidos: monólogo sobre as quedas? De que falamos? Monumentos de
fantasmas? Sombras de glórias? A voz de outro tempo é uma imensa gruta
desprezada pela doçura satírica do presente. As imagens do sonho são a razão de
minha própria dor, luz desgarrada de todas as coisas. Ocupo-me do ar raivoso,
dos campos abandonados e da nostalgia do espanto. Sou a voz anônima que guarda
meu coração. Tudo é faminto em nosso destino. Um sorriso? A certeza existencial
do homem é sua máscara. Eis uma história que não tem fim. Nosso mundo cultiva a
idade da indiferença. A dor da morte logo há de ser a mesma de sua própria
vida. Que me está sucedendo, meu amor? Os fonemas sujos de teu corpo, obsessão
insular, nascida mais acima, nos mundos das turvas aparências, tudo isso é a
carne de meus dias? A condição de meu ser: Inumerável: é a ferida
resplandecente de tua indiferença. Teu silêncio me arrasta com rigorosa
imprecisão.
7.
Quanto resta ainda de nosso corpo?
O vento desfez-se de tudo, do fulgor
de espelhos terríveis, do desconhecido
que se faz sangue na memória.
Desfez-se de tudo a alma violenta,
em suas chagas de luz e solidão, poço
sem fim onde o profundo se esgota,
em pleno gozo, vitalidade desesperada.
O que há na outra margem do rito, que
salta sobre nós golpeando a alma?
Quem é suficiente para afastar-se de
tudo,
das lágrimas amorosas e até de si
mesmo?
8.
Palavras que fazem o mundo com seu
passo:
passamos por tudo, meu amor, porém há sempre
que viver.
Somente é possível arrancar alento
da existência. A morte não compreende
a voz do vazio, não pode desfigurar
seu
rosto. Perdeu o horror todos os dons,
os encantos de sua própria paixão. A
suavidade
é a mais profunda queimadura. É o
enigma
do grande incêndio que alimenta a
história
de nosso declínio. A língua sobre o
fogo,
canções de cinzas com peixes
derramados.
Sob a casca de tanto aniquilamento,
os amantes se supõem também em seu
fim.
A poesia indicava seus pesadelos,
entrava
nos céus de tanto delírio, no fundo de
Deus,
onde detinha o amor secretos
esquecimentos.
Saímos já do fulgor das evidências,
cruzamos a linha de fosforescências do
tempo.
Tu és a mulher mais bela! Tristeza e
alegria
são uma única senha para abrir teus
lábios:
estou terrivelmente só, Barbus, onde salta
o tempo para cair uma vez mais em si próprio.
É um mundo sem reflexo. A noite é
apenas noite.
Quase nada nos chega ali das imagens
silenciosas
de nosso desejo. Não esqueças, meu
amor,
até mesmo para os mortos a morte é um
inferno.
Quem liberou o sortilégio em suas
chamas?
As palavras do poeta também necessitam
um pouco de amor, do encontro em seu
jardim
de ilusões, onde o beijo absoluto é um
beijo
e outro e outro beijo e outro mais até
o êxtase
vomitar seus tenebrosos anjos e suas
quedas.
9.
Lozna é uma ferida que não cicatriza: são palavras com que o tempo quer
despedir-se de nós. A língua tocando o sal em seu primeiro dia de esquecimento,
a escuridão tomando o pulso de uma alma sem regozijos. Tudo foi inutilmente:
Inumerável? Sob a chuva, o peso de nossa inflamada alegria. Estivemos nos
livros mais afastados do mundo. Barbus e Lozna. No amor as loucuras todas são
brancas, até mesmo o fundo da própria alma, a alma da loucura em si. Cheguei a
pensar em purificação, iluminações, ascensão… Enquanto o dia caía em meu olho.
A serenidade dos tormentos recobrou o sentido único de tua morte: preciosa joia
da poesia. Nada mais é capaz de romper o ânimo da árvore das ressurreições. Ao
percorrer o alfabeto de tua ausência, Lozna, arranco de mim alguns estranhos
vícios, os espectros do múltiplo olhar do Um. O amor é também uma balança de
insignificados. À sua esquerda, as tensões do paraíso. À direita, os sorvos do
inferno. O que são os crimes passionais? Intercâmbio de luzes em meio ao escuro
de cada estação? Inveja de conhecimentos? O amor é somente para o uso de anjos?
Creio que o desejo se adere ao ser, que é um ato sagrado, que extingue o
esquecimento e todas as letras do tempo. O que houve conosco? Dançávamos
enquanto o mundo culminava em desastres, enquanto o homem não esperava nada do
homem, enquanto o assombro ficava só.
10.
Muito de nossa
moral não compreende a diferença possível entre os espelhos. As imagens
perdidas são amiúde pertencentes ao mundo dos espelhos piedosos. A lembrança é
um bem em si mesmo. Os caminhos tortuosos não terão salvação. É uma ação de
espelhos? As ideias passam por nós como pronúncias inquebrantáveis do abismo. O
amor goteja suas paisagens de fogo. A morte de um sonho é um dado que enfebrece
o insólito. Tudo é muito familiar. O tremor se renova com as enfermidades.
Conhecemos os contrastes, a linguagem morrendo de si mesma, os gozos vulcânicos
da solidão, as vozes de pedra da serpente. Meu amor, me deste as reverberações.
11.
BARBUS | Somente ao tocar tua
ausência: Inumerável: a noite engendra sua inextinguível resplandecência, sol
dos santos, raiz do fogo. A destruição de seus corpos semeia na memória uma
cidade de imagens indecifráveis.
LOZNA | Sem a perfeição de teu
esquecimento nada em mim poderá morrer o bastante. Tua memória é uma violação
de meus resíduos mais secretos. Uma obscura trama do tempo para que não se vá
de todo a matéria de suas letras.
BARBUS | A penumbra acolhe a maré em
fuga dos corpos, é uma expansão do eterno labirinto. Desvario de signos
andarilhos, reflexo até onde os arcanos perpetuam nosso abismo.
LOZNA | Não estou de regresso, meu
querido. Não é a morte um refúgio temporário. Não há plenitude redentora nem
convulsão dos tormentos. Que caos pode livrar-se de si esquecendo sua origem?
Divindade de escombros, o deus da morte. Há um frescor rompente de reveses e
fraturas em tudo quanto toca a morte. Não alcança nosso amor outra firmeza.
BARBUS | Onde afundam as formas fiéis
à superfície? Onde o acaso da vazia acuidade dos sentidos? Na possessão do
viver, o que escapa da dispersão da consciência? O que é um abismo tangível? De
quais extremos faz falta a respiração da inocência?
LOZNA | Até o esquecimento improvisa
seus limites, a caminho da origem inabitável. A caminho da dimensão propícia
aos extremos. O que nos leva a dizer que alguém se desespera? A coisa visível é
a morada do amor, sua obstinada conjectura. Barbus, é inútil dizer o silêncio
sem a vertiginosa confluência de seus ruídos. Não quero ser o balbucio de tuas
inquietudes.
12.
O que será da palavra sem que ninguém
a repita?
Os diários de morte são algo
incríveis, estrondo
de danos sob incertas inscrições das
misérias.
Ali não há má fé, porém este grande
fantasma
necessita ir mais longe em seus
lamentáveis aspectos
de solidão e desespero. Quais os
verdadeiros
excessos da alma? Quanta vezes necessito
amar
até cair na asfixia das perdas? Morro
de meu amor
ou da espantosa tragédia de seu curso?
Algumas
palavras ocultam seu significado.
Assim é
com o amor, o sonho, o fogo e os
materiais
que esmaltam o cenário da existência
humana.
A mesmíssima flor do mundo é sempre
nada:
não há pausa, somente uma palavra
decepcionada.
13.
De onde vem a dor? Encontram-se nossos
atos viciados em tal ordem de
queixumes
que a felicidade é um desespero. Cada
um
fala de si mesmo, em nome de seu amor.
Condenados pelo tempo, rimos do doce
Gautama,
da miséria de Juno, da cegueira de
Borges.
Rimos de nosso próprio amanhecer, sem
saber
acerca dos argumentos dos
salvo-condutos
da espécie. Tudo é provável. Entre nós
a morte necessita de caráter. Egos e
vermes
padecem da mesma gravidade humana.
Tudo
é um alento de palavras, os termos da mídia
ou os regozijos do Papa. A morte é um
câncer.
Temos aqui as limitações cruéis da
linguagem.
14.
Sangras de mim, conjurada memória de um
assombro
a mais do mundo. Sou a tormenta que escreve os
estalos
em tua pele, que anota o que ditam suas
estridências.
Quem vai escrever-te, milenária heresia, sem o
bosque
em chamas da poesia, sem o assalto ao inferno
onde afinal estava impresso quase tudo? Nossa
crença
não é a mesma. Não tem o homem como retornar
das páginas de seus velhos diários de tanta
injustiça.
A morte começa com a verdade de cada coisa,
com seus voos dentro do ser e a elétrica
asfixia
que atravessa os lares e abraços da espécie.
Errante e Barbus, meu amor desce ao vazio,
porém
o que é seu nessa viagem redonda? O que fomos
já não somos. O que é meu senão o nada, o
ilusório?
15.
Contra a dor
prosseguem os amantes. A dor da morte e seus arquivos de silêncio. Deve o amor
ser tão tremente, uma loucura cintilante de espectros? Quais suas marcas não
fatais? Reconstruímos em versos os espelhos de outros tempos, uma ópera de
serpentes, a cidade perdida das alucinações, último dia da inocência. O poema
não pode, no entanto, reconstruir uma morte sem dor. Vivem os amantes em eterna
escuridão, na noite infinita. Seu esplendor de raízes não é senão um salto no
vazio, nos jardins invisíveis de suas apostas. Que dor pode haver na queda de
um amor tão desprezado? Somente as omissões são imortais. A forma governa o amor.
Muda a identidade das contradições. Os mortos seguem sendo os mesmos. Barbus e
Lozna se acariciam na escuridão de seu espólio. Como pode cair o amor sem o
amor?
16.
A língua é uma maré de refluxos.
Não há retorno do poema se acaso não
é com proveito do sangue derramado.
Quem poderá dizer que o amor passou
há tanto tempo que não cabe mais
sua herança sobre a terra? Onde
termina
o homem começa o inferno de sua
memória. É uma chave sem fim. Não é
tarde.
A memória é um rio desgraçado? Acaso
não são os sepulcros melhor
considerados,
moedas do tempo, seus ovos andarilhos?
Quem persegue meus desejos, senão a
dor
de um homem envelhecido em meu sonho?
Quantas vezes girar a língua na boca?
17.
A solidão estraçalha a alma, devora
seus resíduos.
Deusa da ira, torna-te chama, torna-te
a ressurreição
das palavras. Saberás assim por que
nos amamos,
Barbus e Lozna. Saberás por que sofrem
por nós
os ventos da terra, por que sofrem os
homens
e não se sustentam as tormentas sem
nosso amor.
Quem canta entre os ermos do tempo?
Quem
decifra as confidências do vazio, do
nada,
os pontos frágeis da alma humana? Como
queima
o coração se acaso não está presente o
amor?
Quem saberá a incontida sabedoria do
silêncio?
O que seremos nós quando o mundo
restar
sem tremores? Deusa da ira, tornada o
clamor
do fogo, perene ressurreição do amor e
da poesia.
18.
Há que se ler em
teus lábios as últimas palavras de amor. O poema dirá tudo o que dizias, o que
ias buscar com tua voz. A morte não se cansa de morrer em meus braços? Mesmo no
fundo da noite os mortos chamam sem que lhes responda a terrível anciã. Há que
adorar a morte, irmãos? É possível nos vermos junto a Deus? O amor é uma árvore
que anda e canta e dança. Cada fruto, uma porta imensa. A tatuagem de fogo na
pele da eternidade. Como nos sustentarmos à borda de tanta luz e suas visões
ardentes? Eis a tarefa dos amantes na terra. Onde o centro de nossa errância?
No vazio onde se apoiam os significados das coisas. Não há lugar para morrer.
Toda palavra deve sair de um vazio pleno e seu corpo haver caminhado entre a
luz e a sombra. Única forma de conhecer o sagrado. Ninguém pode chegar até esse
ponto sem que lhe tenha queimado o amor. Os enigmas flutuantes, nômades, estão
feitos da verdade dos mundos atados a suas erráticas crenças. Uma imagem
convertida em fonte de si mesma. A beleza contraditória das escrituras. Seus
fragmentos são como um terreno baldio. Os gestos absurdos pendem da insistência
de seus sentidos. O poema é um transbordamento do olhar e suas combinações com
o acaso. Haverá em seus domínios indivisíveis algo que desvele a mesma vibração
de seu antípoda? É como indagar se há mesmo uma única vida. Os vazios da razão
são a perpetuidade dos mitos. Até quando durarão os inumeráveis corpos da
árvore de nossos sonhos? Até quando a morte se canse de morrer em meus braços.
19.
Meu amor, eu estou simplesmente morta.
Não há um centro ilimitado das coisas, nem equidistância possível entre vida e
morte. Não se resolve a história em seu repertório de agonias. O Calvário não é
o centro de nada. Descarnar as descrições não conduz ao lugar de sua ação. Não
há milagre prescrito pela linguagem. Recordo umas palavras de Enrique Lihn: A vida necessita muito pouco da linguagem /
esta é uma das causas mais poderosas do Ego / da morte. Este seu Diário de Morte é
uma prova bem rigorosa da gravidade desentoada da poesia. A exatidão de suas
palavras muda a noção que temos da irrealidade e seus conflitos com a morte e a
memória. É uma espécie de outra relação a que tem o enfermo com a vida. Seus
temores do vazio restam solitários e abrem outras conexões com as intuições
renegadas. Não há o domínio dos sentimentos nem justificativas nas sensações.
Os desejos de uma vida são os ossos acariciados pelos vermes. É o mesmo com o
trabalho dos poetas. Não há como tornar tuas as mãos que são minhas, querido
Barbus. O labirinto da história não duvida da condição de minha morte. Adoraria
aceitar tuas versões da mesma, porém teus versos falam de um paraíso perdido
que é um emblema do horror em que vivemos. Não há podridão do corpo nem uma trajetória
de anjos. Os que pensam na vida devem entender que a dor é parte da própria
alegria, que não há túmulo de plantão nem felicidade prometida. O centro do ser
é justamente o que fazemos de nós.
20.
Quem fala comigo nas colinas febris do
vazio?
O que é a respiração do inferno por
entre as chamas
dele próprio? Minha ascensão às
vertentes encantadas
das trevas é uma lâmpada perdida em
suas imagens.
Onde está a falha que é minha? Onde
sua petrificada
obscuridade? Que espaços transpassar
sob as tempestades
suspensas do viver? O que posso tocar
em tanto ermo?
É possível reconhecer a morte sob sua
própria sombra?
Os ruídos das visões querem ser o fogo
de Orfeu.
Que fogo é esse? Quem fala comigo?
Detrás de tudo
os deuses com suas invisíveis
lanternas. Vê-los passar
é compreender que não me verão jamais.
Tudo em mim
é um rompimento de laços. Tudo na vida
se afasta
de si mesmo. Como reconhecer minha
morte no vazio?
21.
As marcas de tua morte: Inumerável:
suas trajetórias
de regiões abandonadas e submersos
hieroglíficos,
sobre que corpo se apoia tanta
ganância do tempo?
Deixaste em cada poema alguns versos
apócrifos,
em cada túmulo as origens perdidas de
tamanha vastidão.
Recolher as formas anteriores é um
destino que ainda
não sei tecer: a matéria de cinzas de
tantos voos,
troncos ocultos de teu bosque, os
pássaros mais velhos
do mundo… A morte será mesmo um
destino? Não
creio. A vida não é somente uma terra
de sombras,
nem a fome uma fonte de ossos
golpeados. O que
morre em mim afinal morre em todos.
Onde começam
os mortos de cada um? Leva-me contigo
ao inferno
de tua língua, para queimar ali as
feridas do tempo.
22.
Um homem
repetindo o nome da amada até a vastidão de sua vertigem é uma forma sinuosa
dos extravios. As raízes de um homem assim fazem ondular as cerimônias do vazio
até que suas vozes tenham desfolhado os enxames de assombros que testemunham a
presença do desejo. Nada mais transcorre sem que este homem chegue a seu
deserto mais perfeito. É uma torrente de centelhas e escamas, uma varanda
ardente de desastres. Não há como transformar em palavras os tentáculos do
silêncio, nem mesmo em línguas de luz as chagas implacáveis da escuridão. Um
homem assim não se converte em nada, até que toque o dulcíssimo rumor florescido
de suas tempestuosas aflições.
23.
Uma mulher
caminhando sobre os vestígios ignorados de sua própria linguagem é como um
versículo detido para averiguações. Não há jogo de palavras que não reconheça
as faíscas de seu exílio, as trêmulas interrogações do carvão dessa cativa
caminhada. O que se passa em sua forma intangível é implacável. Uma mulher
assim é uma cadeia de pétalas do inexplicável aproximando-se das fibras dos
tambores da terra. Sua febre é um estrondo de milagres e também uma chuva de
medulas. Nada mais transcorre em seus caminhos sem que o converta em novo
enigma. Uma mulher assim é o próprio corpo do sonho.
24.
Há que esquecer tudo sem tornar-se
louco. Há um ponto extremo em nossos atos, um horror insondável de adentrar o
território sombrio da vontade criminosa. É uma expressão fugidia de nossa
vaidade. Tudo se dá em seu ponto extremo, em seu ponto de transfusão. A morte é
uma elaboração necessária da vida. Não há outro sentido na separação de nossos
corpos. O rigor das perdas é o mesmo do reconhecimento primordial do ser.
Nenhuma dúvida acerca das aberrações da razão. É cômica a tragédia do amor? São
obscenos os domínios sagrados de seu romantismo? Seja qual for o limite da dor,
não há sacrifício possível nem efusão de seus esforços. Quero retornar a teus
braços, meu amor, porém não há dissimulação possível de minha condição que não
seja a evocação de tua angústia. Não é demasiada tua nudez de sentidos. Não
importa a loucura dos esquecimentos. Este livro é o único método de nosso reencontro.
25.
A poesia é uma
escritura de desventuras, um tipo de alarde que volta a palavra contra quem a
escreve. É uma árvore que só regressa graças à queda de suas folhas preciosas.
Não posso com o cadáver de minha amada nas visões da poesia. Fecho os olhos e a
agonia volta a ser livre. Não há rumores de crônicas, falas comuns, falsos
testemunhos, teatro de sombras. Para regressar às estranhas propriedades da
vida não é possível repetir o mesmo jogo de alucinações de seus dias. Quem
existe em mim? Um amor que faz encarnar o tempo em sua matéria visível, um doce
archote que penetra os sonhos e faz renascer as tábuas de seus atributos
extasiados. Uma das sombras dolentes de nossa escrita: a rapidez da eternidade.
Como desgarrar o amor do dano terrível do tempo? Uma longitude de quedas, o
logro das formas atrozes das reminiscências? O que se passa com a memória do
amor? Onde os suores malditos da carne? A luz cheia de teu corpo aos pés de meu
gozo? Uma pele crescente de golpes a cada firmamento de teus beijos? O
orgulhoso ramo de tuas vertigens dentro de mim?
26.
Não há sonho: Inumerável: senão a emanação
dos tormentos de tua ausência. A poesia
não é um simulacro dos instantes em que
falamos
de amor. Ninguém envelhece se acaso não
estremece
do mesmo tremor que a morte. É uma imagem
abrasada de extinção, um tipo de veneno
proverbial.
Não conheço os escrivães de nossa aventura,
porém maldigo suas repetidas histórias acerca
do amor:
os escândalos desesperados, o teatro de
crimes,
umas estúpidas narrações da solidão sem
sombras,
os filmes de recordações do Paraíso perdido…
O amor não cabe em sua própria verdade. As
vozes
desse drama incessante chegam a seus
labirintos
e ali ficam sem saber o que fazer. Não há
argumento
e o filme prossegue sem o pavor de sua
culminação.
Quem é o suplicante? Barbus? Lozna? O poeta?
Em todos estes casos, pode o amor com a rota
das transgressões? A eternidade é uma palavra
só.
Não há cópias de seus descuidos nem faz
diferença
que Eros tenha sido atormentado até a eclosão
de seus últimos suspiros. É uma desprezível
mudança
de cena. Todas as putas de diretores
reconhecem
em suas coxas triunfantes as horas de
deslocamentos
da realidade, a trama que revela uma sediciosa
catástrofe em todo amor. Uma mulher caída
em meus braços e logo ausente de tudo. Palavra
desperta
nos lábios e logo o silêncio. Não é uma
questão
de súplica e sim que não é mais perfeita a
inocência.
27.
Quando encontro
teu corpo, doce amor, a vida inteira é uma maldição, é como ausentar-se de seu
drama comum, seu mercado de sentidos, sistema único de quedas. Ninguém poderá
decifrar o que sinto, o enigma das horas passadas dentro de ti: Inumerável:
percorrendo ramos e ramos de tua vastidão gozosa. Não há loucura mais perfeita
que o desenho de tua árvore. O tempo? O trabalho da arte consiste em negá-lo.
Nada posso sem teu sorriso, confesso. As coisas que não se ajustam a teu reino
desgraçadamente não desapareceram. Os signos traçados a fogo na carne respondem
agora ao impacto dos danos. Não há imperfeição suficiente nem pesadelo tão
funesto que faça desaparecer por completo a fonte dos desequilíbrios. O amor
não fere como uma dor que floresce, mas sim como o grunhido do desconhecido no
centro da noite. Sua dor é a poderosa chama que move o mundo. Não foram em vão
as outras mortes e os versos que reinaram no silêncio úmido das tumbas. A queda
do amor é o sobressalto da matéria.
28.
Um dos fragmentos
de Heráclito: as maiores mortes
alcançam as maiores sortes. Quem somos,
no momento em que esgotamos nossa humanidade? Morremos pela beleza? Elege o
amor sua própria pena? Barbus acreditou ver em seu coração uma descida até as
parábolas fugidias da paixão. Quem poderia indicar-lhe cada minuto de sua
brutal fragilidade?
Vi todo o mistério da alma.
Andávamos pelas ruas e este homem
luminoso e meu,
entranhado dos versos de Artaud
– a
vida sem limites persiste não obstante em ser –
preparava com buliçoso rigor cada aventura
de nossos dias.
Meu corpo e o seu
deslizavam pelos ramos do tempo, suas criaturas de fogo dentro de mim. Ríamos
das novas versões da dor, do nada. Meu amor me dizia: o sofrimento: Inumerável: tem uma pele muito
fina. Onde me vês? Atenta que vou estar
aqui em todos os goles de nossa existência.
Barbus foi um homem embriagado pela
invencibilidade.
Por incontáveis vezes éramos
os amantes
submarinos dos versos de Murilo Mendes.
Em seus escritos e beijos toda a
miséria do mundo
decaía. Meu amor e o estrondo da
doçura.
Porém o que fazer
hoje com os despojos da memória? Sempre dirão os amantes desgarrados: não
tivemos tempo para chamar a atenção dos vazios infernais que rondaram nossa
intimidade. Agora, há umas palavras de Cesare Pavese que iluminam as entranhas
do inferno: verás a morte e
ela terá teus olhos. Pelas noites de
inquietude e oferendas carnais Barbus me dizia todo o poema.
Onde vamos? Pela mistura do sangue,
pelas vísceras do ar, o que será dos
amantes que fomos?
Nossas desordens amorosas ilustradas
pelos vícios,
pelo gozo doloroso dos temores.
Tudo na imortalidade, meu querido, é
sarcástico.
São banais os
estudos da vertigem. E o que será do amor, se não pode ficar entre nós, entre
nossa carne compartilhada? A linguagem putrefacta da memória de suas velhas
imagens. Que podem escrever os poetas acerca do desespero fatal das palavras em
liberdade? É vergonhoso o serviço que presta o homem a seu próprio abismo. Os
infernos arrastam a si mesmos com calcinado rigor.
Que dirão os poetas? Com que indignada
inteligência
encerrar a aventura da mediocridade?
Por quais novas páginas andará a
máquina de fazer excessos
e tornar possível as relações
improváveis?
A morta sou eu. Por isto estou nos
talhos do vazio.
E estou também
com Gonzalo Rojas: Deus não me serve. Não sou o espelho de ninguém, nem
prestígio de sombras ou a pureza dos vãos. Não posso ser, Barbus, teu ideograma
preferível da morte. Que podem os poetas contra a velocidade de nossa inércia?
Que temos entre as mãos, senão umas miseráveis elegias? O homem chora, bem no
centro de sua perfeita agonia.
É um negócio de corpos e soluços,
vícios e tumbas.
Não é uma questão de justiça.
Dorme, meu querido.
A morta sou eu.
OUTRAS VOZES
Misteriosa árvore da vastidão nosso amor.
Não há vertigem desabitada em suas escrituras
nem haverá revelação sem o frescor da renúncia.
O amor é uma partilha que acaricia os corpos
em sua perplexidade de esplendores:
cidade
desnuda
de regressos: sopro das cicatrizes da palavra.
O amor [nosso] não é semelhante à matéria radiante
de sua caligrafia de transparências,
sequer
ao ruído da letra
na fidelidade prefigurada pelo silêncio e o
tropel
inumerável de seus alfarrábios,
sequer
ao sacramento
das disciplinas do rapto e o marco inatingível
da linguagem e seus enigmas e volutas que nada
ocultam.
Este livro não é um reflexo venturoso do olhar
[meu]
nem o regresso de um parêntese a outro
no
desamparo do mundo.
Tudo em nós foi firmando seus sentidos em uma
rotação
fumegante de intempéries e sua obscura crônica
de nostalgias.
Somente os destroços desvelam a noite
inesquecível.
Não é um desenho injusto dos tormentos e suas
seduções.
Não se trata de dizer: a poesia é uma cisão de
mananciais.
Passamos por tudo, na folhagem de nosso amor –
curva dos acidentes – brasas estranhas de umas
canções
– seus frutos em chamas – bosque queimante –
chaga estridente.
Não há tempo para a poesia recolher todas as
dores.
Por que cantar então a morte do amor?
O mundo cai das horas, as coisas mudaram de
lugar
como os móveis do espírito, uma pedra aberta
é a um só tempo o tempo de gozar e sofrer, os
heróis
caídos do muro e suas cicatrizes de diamantes,
a vastidão
do inferno em uns olhos que simplesmente
recolhem
as configurações da manhã, os meteoros do
sonho.
Qual é a matéria real do humano? Qual a forma
dos vermes da linguagem?
Os
poetas falam de vigília
e sonho e alquimia e liberdade e uma queda
seca tem celebrado
seus nascimentos e naufrágios.
Não há provas do amor: tudo é risível nos
argumentos.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
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1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
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Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
∞
OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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