terça-feira, 25 de abril de 2023

A GRANDE OBRA DA CARNE | Tabula rasa

 

 

Insistir é um pecado também próprio dos deuses.

ASTHEROS


 

PRIMEIROS

 

Os primeiros naufragaram na panela dos mitos. A água fervente tempestuosa acolhe as derivas mais insuspeitas. Os minérios do abandono, os seixos do infortúnio. No íntimo borbulhante de seus milagres podemos rever o futuro de muitas ilusões. Salmos entalhados na fervura. As imagens cobiçando um tempero melhor. Os primeiros são como o interlúdio de pontos mágicos que tocamos em nossa alma. Os olhares jejuam semeando novos vislumbres. Os deuses são as raízes do que porventura encontramos. Como um cardume de centelhas vorazes. Como o abrigo-cratera do desejo onde a memória deposita seus ovos. Os primeiros beijam o esquecimento e se refazem.

 

 

 

ENTREATO CATIVO

 

• ALVOS

 

Os alvos repetem a cifra de todas as transgressões. Os lacres preservam a identidade das vítimas. As gavetas confiscam o alfabeto para plantar novas pistas. Uma letra para cada ramo de delitos. Os alvos transitam irreconhecíveis pela sujeira explícita das ruas. Os fios prenunciam uma grafia sinuosa de perjúrios. O foi não foi das lâminas raspando os cartazes onde se esconde a assinatura das falsificações. Leitos embriagados com latões de fogo confiscando a inocência. As bordas reviradas das presunções. A teoria de um abate em pele de sedução. Os casos insolúveis que fingem mudança de método. Os alvos sorriem antes que possam anotar o paradeiro de seu cérebro detonado.

 

• BRINQUEDOS

 

Os brinquedos devem atravessar os sete corpos do espelho em suas esperas dilatadas. A casa em que morres é a que relata a essência de teu ser. As cores salpicadas no extremo de cada espírito dissecado. As leis refeitas para atender à ausência. Os brinquedos são como cortinas que nos afastam da pastagem ácida do medo. Os centros líquidos da aventura insone. Quantas vezes bicamos nossos sexos retalhando o frio e a medula de um teatro patético. Reunimos os cavalos videntes e devoramos as sete cavernas do desejo. A consciência caduca antes que tenhamos replantado suas confidências. O mofo relutante conversa com as silhuetas do último ato. Será sempre ao pé da despedida que a memória estabelece sua fiança. Os brinquedos apagam a luz e renascem.

 

• CAMPOS

 

Os campos embolsam o prejuízo de nossas visões. Os reclames da imaginação deslizam pelas ancas da paisagem. As cinzas acumulam em suas cicatrizes as sementes de árvores que jamais brotarão. Os ovos escondem a frigideira de seu renascimento. Já não é suficiente um deus para cada estação. Os campos deslocam as distâncias antes que sejam percorridas. Como bosques que se deixam devorar por vultos sorrateiros. As vozes imitam um indecifrável silêncio. As vozes recobram o mistério das sílabas suadas. As últimas folhas das árvores cegas. A ninguém mais atende um deus indivisível. Os campos são o alimento precário dos desejos. E neles semeamos a perenidade de nossas vertigens

 

• CARTAS

 

As cartas decepam luzes e com elas tecem um novo reino de ilusões. As cartas mudam de cor e nos fazem crer em inúmeros deuses. As cartas são um oráculo inconfessável. Não há como embaralhar seus ditames sem perder-se no jogo de tantas formas repetidas. A aldeia está cheia de morte. As cartas embaralham o estômago e a febre dos sobreviventes. Os mortos tossem e cospem fora suas crenças. Um altar de palhas esconde os espíritos até que a noite emborque suas chagas. As cartas saem para caçar novos ritos que caem do céu. O mal emana de todas as figuras assustadas. Pouco importa implorar pela ressurreição. As cartas estão furiosas e despejam fogo no próprio corpo. Todos os valores se perdem. Um último deus foge dali. As cartas voltam a ser árvores.

 

• CÍRCULOS

 

Os círculos se perdem dentro de si e preveem o passado narrado em tintas invisíveis. Fatos mordidos pela amnésia, cenários de misérias viciadas, guetos de sal. As frases convivem com as peripécias do esquecimento. Os círculos permitem que o mundo se desfaça de suas ambivalências. Os homens negam a si mesmos a diversidade de seus cantos. As farsas com seus deuses domésticos iluminam as árvores enfeitiçadas. Os dias fogem para sua casa inacabada. Os espelhos despistam toda forma de reconhecimento. Os círculos jamais retomam a investigação de seus erros. Receita de luzes mortas, seminário de agonias, desfile de fantasmas. As frases celebram sempre as mesmas fontes de reminiscências. Repetição de abismos, oráculos, profanações. Os círculos agonizam em busca de um estado natural para a criação.

 

• CONEXÕES

 

As conexões migram de um abismo a outro, como corpos nus mudando de cor. A pele rasgada, o cálculo refeito, os caprichos aleatórios. O mundo está desaparecendo e tudo o que desejo é voltar a te encontrar. As tuas dores me mordem enquanto eu atravesso o planeta. As conexões saboreiam nossa alma. Os nomes arruinados pela solidão, os casebres desertos por dentro e por fora, os mosquitos impiedosos. As toalhas embebidas de sangue identificam o padrão dos sacrifícios. A humanidade se arrasta temendo ser alcançada. As conexões são músculos programados para livrar-se da realidade. Evitem a linha azul dos boatos. Esqueçam que já estivemos aqui.

 

• CONFIDÊNCIAS

 

As confidências desconhecem o motivo de seus receios e maldades. As maldições não reconhecem os destinos do espanto. Um coro de árvores desafiando o prumo de um despenhadeiro. Ouvidos terrificados que o reino da imagem pode ter fim antes que comecem a cantar os vulcões. Os vilões do começo dos tempos guardam a cinco chaves os segredos do fogo. As confidências ameaçam dominar as esfinges gêmeas. Quantas vezes rasgamos o disfarce das quimeras. Quantas mais violamos o labirinto dos salmos. Os episódios se repetem desesperados por uma antítese. Seus animais pastando os redemoinhos verdejantes concentrados da irrealidade. As obsessões recomeçam de onde a frustração as deixou para enterrar. Lanternas amassando a luz para melhor iluminar o absurdo. As confidências esvaziam todas as suas razões de ser. Eu minto.

 

• CRIMES

 

Os crimes pendem de varais inatingíveis. Todos já entramos em uma casa e esquecemos o motivo. Os dados possuem faces imperfeitas e convencem o acaso a ser desleal. Os crimes tornam a vida falaciosa. Alguns planos rompem o lacre dos desatinos. Impossível desistir deles. Um acúmulo de peles forma a grande bola que nos leva destino abaixo. Véus passionais, sopa de alucinações, contratos avulsos. Os crimes são labirintos encardidos enxertados em sementes de outros labirintos com uma placa de boas vindas à loucura colada no interior da porta de saída. Os manuscritos estão camuflados com luzes anônimas. Não se deve cometer nenhum acidente isoladamente. Eles nascem rangendo os dentes enquanto as chaleiras transbordam ideias alheias. O telepata convence a multidão a levitar após planejar novos crimes. As luzes insistem em se repetir. Melhor evitar as discussões insolúveis. Os crimes não batem duas vezes na mesma porta.

 

• DEGRAUS

 

Os degraus soletram o alcance do impossível. Quanto mais as luzes queimam seu perfil, mais eles se erguem muito além do que podemos sacrificar. A noite se impõe como uma cascata de ponta-cabeça. Os números do cedro convidam a decorar o abismo por dentro e por fora. Os degraus adentram o cortinado das cataratas, multiplicam ao infinito os horizontes escalados em cada pele da cebola cósmica. O sobe desce das lâminas rasgando o silêncio e semeando traumas nas delicadas paredes dos casebres fabulares. Três vultos comiam na minha mão. Seis bustos roçavam a pele em um corrimão depredado. Os degraus contam uma história que já ninguém quer recordar.

 

• DESLIZES

 

Os deslizes se deslocam pelo interior das expectativas. Uns são como escolas abandonadas, outros como covis do acaso. Trapos úmidos de sangue, metais cortados pela ferrugem, fábulas tingidas pelo esquecimento. Os deslizes não reconhecem a própria imagem no espelho. Os rios da linguagem arrastam suas queixas como remos escoltados pela vertigem. Os remos que perderam o prazo de suas funções. As coxas floridas de uma deusa anã saboreiam as línguas de meu espanto. Os deslizes cavam alçapões indecifráveis. Mordaças putrefatas do silêncio, bagaços de armadilhas desativadas, cadáveres enroscados. Os deslizes insistem em ser a prova de que não estivemos aqui. Apenas eles se ocupam das tarefas que não soubemos cumprir.

 

• DISFARCES

 

Os disfarces são um reino suculento com brilhos nos olhos. As fagulhas inchadas de antigas imagens inacabadas. Tudo se soma ao instante em que projetamos um abismo a devorar o mundo que habitamos. Os lacres amarelecidos do conhecimento, a perseverança amorosa da crueldade, as sábias pernas que as silhuetas utilizam para fugir. Os disfarces são uma catedral de símbolos que se mordem e reservam à névoa suas melhores prosas. As estufas sonolentas procuram pelas sucessivas silhuetas que mudam de forma a cada indagação da memória. Quantos traços podem fazer o serviço de mil imagens. Quantos saltos conseguem reproduzir o mergulho de uma adaga no olho do espanto. Os disfarces discorrem sobre as angustiantes impossibilidades do ser. Suas dores conduzem o acaso por minas extraviadas. São flores verdes manchadas de sol. São arcas vazias que descrevem o futuro de seus truques. Os disfarces jamais se desculpam.

 

• DÚVIDAS

 

As dúvidas habitam as encostas deslizantes da realidade. Os berços miseráveis do abismo. Os pássaros com seus voos congelados. O horizonte preparando o cativeiro do fogo. Eu vi as pedras rumando em direção ao mar deserto. A silhueta dos planos refeitos a todo instante. Meu nome esquartejado percorrendo as cidades devoradas pela névoa. As dúvidas dormem com um olho aberto, cercadas de imagens prestes a desabar. As veias asquerosas da desordem oscilam entre palcos. Coros sarcásticos convencem a cada representação a não confiar de todo em si mesma. Os espelhos viram a cara para as contradições mais grotescas. Os telhados vagueiam pelas árvores em busca de proteção. As dúvidas remoem e se calam e se espatifam no chão. Sustos remarcados nas prateleiras bíblicas do caos. Estardalhaços inesperados por quem acredita que o verdadeiro fracasso demore a chegar. Um livro com páginas saltadas. Uma voz surda. Um milagre recostado na chaminé consultando as estrelas antes de refazer as dúvidas.

 

• ESCOLHAS

 

As escolhas desorientam as estopas jogadas sobre as estradas para estancar o sangramento das ilusões. Até onde vamos os caminhos preferem não saber. Umas pequenas luzes personificam a crença no acaso. Eu vim banhar-me na poça de tuas trágicas indecisões. O oceano recortado como a pele de um amor indecifrável. As escolhas são uma velha casa repleta de esfinges indigentes. Um abrigo de abruptos eufemismos. Uma escadaria com lances que desafiam a lógica. Uma analogia subiu pela parede. Veio a chuva forte e a carregou. As janelas soletram uma mecânica de fugas. Um de nós deve ficar. O outro sangra a encruzilhada e desaparece na escuridão interna. As escolhas são uma avaria aceitável. O melhor método de manter o destino na linha.

 

• FEITIÇOS

 

Os feitiços se ramificam pelo espinhaço das camuflagens. Como fálicas revelações de hábitos abandonados. Os casebres pontiagudos onde se escondem as dores de proezas satisfeitas. Os feitiços derretem as chaves de entrada em mundos paralelos e descansam à porta secreta uma escada de múltiplas direções. Estranho pacto com os cenários que estão prestes a cair. Os feitiços concebem truques orgíacos e dissociam as cinzas que julgávamos abomináveis. Simbiose de elementos com poderes distintos. Farsas agonizantes, figuras escamosas, sodomia apenas rascunhada e outras flores anônimas da lubricidade. Os feitiços ritualizam tudo que atraem, com seu cultivo de metamorfoses e as prolongadas vésperas em silêncio onde nos fazem calçar os sapatos da deriva.

 

• HARMONIAS

 

As harmonias felicitam o sol por seu declínio. Anotemos a distância mais reveladora entre dois pontos sempre ao acordar. Os dias não sabem sonhar. As harmonias dissecam o mundo impossível até que ambos se renovem. Leiamos os massacres como uma forma do agora se desculpar por seus temores. As escadas sacrificam a razão coletiva de suas extensões. As cordas enforcam as melodias indecisas. As harmonias lavam os pincéis da agonia e mascam o anagrama ilegível de suas dores. Quanto mais recente mais a história nos parece inacessível. As harmonias aprendem muito com o deliberado alfabeto do acaso e relutam em pintar a realidade em sua exata proporção.

 

• HORAS

 

As horas queimam nas mãos alheias. Ao descobrirem de que elas são feitas os pássaros se chocam contra paredes invisíveis. As horas são desonestas e roubam as lâmpadas da ilusão. Uma vez degoladas elas afundam em uma travessa de óleo. Os sábios defendem que as horas não devem durar mais do que o instante em que são percebidas. Contudo, algumas se parecem tanto entre si que o mundo se perde por não saber contá-las. As horas por vezes são anônimas e narram uma mentira atrás da outra. Como um rio caudaloso das farsas, um livro santo atirado à fogueira, um piano que perdera as teclas. As horas impacientam nascimento e morte, como acrobatas dentro de uma garrafa. Ninguém nota quando as frases mudam de lábios. Nem mesmo as horas recordam o quanto foram ensaiados tais truques.

 

• IDEIAS

 

As ideias prosperam quanto mais são rejeitadas. Um boato escapa pela janela. Uma mentira se esconde atrás da cristaleira. As ideias nem sempre são belas ou mesmo sinceras. Um tabuleiro contém mil jogos e um engodo de regras. À noite saímos para plantar cadáveres no deserto. As memórias podem acabar a qualquer instante, como ovos abandonados. Um naufrágio de corpos que não chegaram a nascer. As ideias seguem uma dieta de esquecimentos. São como sonhos que não conseguem dormir. As psicoses cedo fugiram de casa. Asilo sepulto de líquidas obsessões amorosas. As ideias querem guardar segredo do que não foi possível encarnar. Jamais diga à mente que ela deve se manter aberta.

 

• INTRUSOS

 

Os intrusos batem à porta e não percebemos quando saem. O mundo lá dentro parece improvável de onde quer que seja visto. Não sabemos quantas pedras são retiradas do caminho. Os móveis se arrastam como se buscassem o alçapão onde as luzes se escondem. Os intrusos tatuam corpos confusos na pele do inesperado. Dobram os varais em gavetões suspensos. As janelas não reconhecem as figuras fugidias ou o credo de suas dobradiças. Uma constelação de enigmas revoa quase rente ao telhado. Não se sabe quem chegou primeiro. A surpresa não revela seus planos. O piano mudo inconfessável. As espigas com seus dentes caídos. Os intrusos entram e saem, antes que a porta refaça suas orações.

 

• INVERSÕES

 

As inversões rebobinam a queda de seus fonemas. Os farelos desaparecem quando transportados de uma arapuca a outra dos escombros da realidade. As mesas dobram as pernas em sua viagem a caminho do banquete. Como salvar os mitos que chegaram antes da hora. Os instrumentos cortantes que matam a sede no alambique das entranhas. As inversões aceitam qualquer forma que lhes sejam amputadas. Como o olhar que descasca as cartas avulsas da catarse. Santuário de sátiros com suas autópsias perversas e a digressão de tantos falos surrados. As inversões raspam os círculos durante a noite e pela manhã devolvem ao aquário um ramalhete de escamas. Somente o acaso assimila suas perturbações.

 

• LARVAS

 

As larvas nos visitam e trazem em si o milagre da despedida. Cada palavra aguarda que a mão se abra e dela salte a chave com que as sílabas naveguem de um corpo a outro. Cai, cai, enigma, na palma da minha mão. As larvas cumprem suas elétricas viagens, ensinando as metáforas a respirar e se unirem aos peixes ao final de cada refeição. Os muros cavam os próximos passos assim como a mão conquista as mais altas prateleiras. As larvas cantarolam antes da chuva. A imagem perdida evoca suas pequenas sereias. Casebres esvoaçantes na tempestade. Ruínas arbitrárias da angústia. As larvas se livram de seu pescado descomunal. Os peixes invisíveis perseguem as chaminés das cidades que afugentamos. O enigma perde a conta de seus favos.

 

• MANCHAS

 

As manchas guardam em seu casulo os gráficos do abismo. As cores ilusórias do absurdo. As formas serpenteadas das pistas que confundem o interior dos corpos. Os símbolos ensinam as manchas a mudarem as coisas de lugar. Como as visões que acordam distante do ninho em que são abrigadas ao crepúsculo. Uma sofreguidão de viscosas escaramuças no sobrado de tuas coxas. As mesas ocultas com seu tráfico de pães. As escadas que se perderam por estradas pouco ambiciosas. Os credos desacreditados que não foram reimpressos. As manchas acumulam a crueldade da história. Com suas pequenas pétalas metálicas conspiram em nome da inversão de todos os valores.

 

• MAPAS

 

Certos mapas são folhas de uma árvore indecifrável ou a palma de uma mão decepada escondida à vista de todos. A esperança é um perigo para os tolos. Os mapas por vezes são apenas faróis submersos em poças de sangue. As sobras de um quebra-cabeça deixam entrever um alfabeto devorado pelos peões de outro jogo. A vida não acaba aqui. Haverá sempre uma esquina que não cruzamos ou os destroços de um semáforo que não houve tempo de domar. O silêncio cravado na jugular dos sonhos. Certos mapas são como pequenas esferas dispersas no espinhaço da alegoria. Qualquer que seja o ângulo de que são vistos não revelam senão a farsa de seus dogmas. Os mais audazes são escritos ao contrário, prontos a tornar a aventura uma gema de vultos antecipados. As coordenadas cobram um alto preço por sua invisibilidade. Certos mapas descansam no fundo do mar, até que os flamingos se empanturrem de algas e comecem a dançar. E constantemente mudam de lugar.

 

• MARÉS

 

As marés se escondem em um dos três copos emborcados sobre a mesa. Tambores disfarçam as variações de seus enigmas. Os números são contados como uma digressão fabular. As marés evitam que nos reconheçamos naquilo que eventualmente somos. Elas nos chamam a atenção para os tremores demoníacos do espírito. As marés não oram por nós e a cada curva do olhar atracam em outro porto. Os copos bebem a ilusão das marés. Um hálito frio percorre o acidente de nossos vislumbres. Os tambores fazem a mesa levitar e rugem como uma ribanceira. Um credo imprevisível na goela de seus ritmos. Os números tangendo os três copos de metal em distintas direções. As marés são o mais surrado e antigo de nossos truques de mão.

 

• MILAGRES

 

Os milagres são martelados por todo o cenário. Alguns são engolidos por pequenas caixas negras de madeira que protegem o mundo de tantos mistérios. Dos lábios de invisíveis sinos jorram uma melodia agônica. Os milagres contemplam a realidade cada vez que esta entra em cena com sua máscara de peles humanas. As cortinas se recolhem amedrontadas. Sempre que serrada a realidade perde a parte do meio de seu corpo sinuoso. Os milagres engolem espadas e pequenas adagas brotam de sua carne como diabos alados que distraem a atenção do público para que ninguém identifique a origem dos truques. A noite atua como uma deusa decepada e introduz no último ato a morte pendida do teto. Disparos, gritos, falsas alegorias. Digressões palitando os dentes da realidade. Os sinos repetindo um mantra desfalecido. Os milagres nunca estão em seu lugar, quando deles precisamos. Os milagres estão por toda parte. Não são algo de que a realidade possa se livrar.

 

• MIRAGENS

 

As miragens cruzam incêndios e outras tempestades, com uma mesma suspeita às costas. Os cabides retalhados da angústia. As sobras de horizontes dissipados. O vestuário de alegorias órfãs. Os caminhos mudam de endereço com suas bússolas calcinadas e o diapasão das falsas identidades. As miragens apostam na roleta seus últimos recursos. Alquimia emperrada pelos farelos do mito. A caixa negra dos sonhos revela o instante em que nos ausentamos de cena. Os desastres silenciosos quaram ao sol os argumentos de suas hipérboles. Fardos que especulam a resistência dos sentidos. As miragens recusam a compra de novos crepúsculos. Aqueles que mastigam o olhar são as últimas moedas da imaginação. Não vemos senão a confissão gasta de suas perversões.

 

• NOITES

 

As noites por vezes se assustam com o que veem com seus olhos rasgados. Os mosaicos arrancados de uma história esquecida. Os peixes se debatendo em pedras soltas. Como letras descamadas divergindo das conchas carnudas dos enigmas. As noites promulgam uma mutação perene de predicados. As carnes fugidias de tantos sexos esculpidos. Os ninhos embriagados da volúpia. As trapaças vulgarizadas de tantas pernas ensopadas. Nódoas que armazenam uma ortografia de clamores. As noites amolam facas à espera do mênstruo de suas mulheres. As origens desertas identificadas no polígrafo. Os hóspedes devastados que:

 

• NUANCES

 

As nuances mitigam a antimoral de todas as fábulas. O clero salpicado de volúpias. Os rabiscos-fátuos das infâncias relutantes. O cartel de sonhos invertidos. A última casa em cada rua abriga sempre o espanto. Um ninho de relíquias ainda não confrontadas. Até onde a vista alcança o mundo recusa um segundo diagnóstico. As nuances reverberam as inesperadas faces do jogo. As casas mudam de rua como entidades preparadas para arguir a realidade e amputar o roteiro de suas elipses. A fraude dos paradoxos. A nudez encapsulada em acrílico. A desforra malsucedida da melancolia. As nuances avultam a recorrência dos erros mais tenazes. Mantemos intocáveis os intervalos em nossa vida. Acentuamos os hábitos dissolventes do significado dos nomes que nos escolheram. Em nome da cal que devasta o rastro das deduções.

 

• PÂNTANOS

 

Os pântanos remoem as confissões de suas impossíveis transições. A noite será sempre a mesma, alheia ao barro em que são refeitas as suas circunstâncias. Amarro a tua nudez no eixo do mundo com seus desejos entrelaçados. Um risco correndo por dentro de outro representa a busca da chaleira perdida. Os pântanos aparecem com frequência quando o mundo se revira dentro de uma mulher à deriva. Aventura disfarçada em um rebanho de pirâmides. As lápides de um gráfico irregular onde as árvores se banham como deusas amotinadas. Um de nós queria vir mais vezes aqui. Abismos simétricos. Teu corpo rebocando os rastros da devassidão. Os pecados da agulha amaldiçoam as ânsias mortas. Os pântanos regurgitam o capinzal de suas orações. Ninguém entra ou sai. As escadas tropeçam em seus vultos agachados.

 

• PECADOS

 

Os pecados têm por hábito confundir a época em que vivem com os cenários emoldurados nas paredes do dormitório. Bosques incendiados pela escuridão, o descuidado pleonasmo dos vícios solitários, as pálpebras indescritíveis de contraditórios risos. Uma tempestade de escamas muda a face errante do tempo. Os pecados se reúnem em severa busca de recompor os ardis dissipados. As casas se curvam em oratório, as casas conjugadas – as mesmas –, sim, com uma exuberância de sete orgasmos, elas, as casas furtando as imagens da inocência. Os pecados elegem o apóstolo de suas vertigens indecifráveis. Nevoeiros facultam o emprego de envelhecidas obstinações. Pedregulhos desesperados da realidade. A torre onde caducam os ideais. Os pecados mordem a própria cauda.

 

• PÉROLAS

 

As pérolas voam de um cubículo a outro nas arestas gastas do cenário movediço. Deusas que se despem no interior de lágrimas, mudam de aquário em um mesmo nado. Virgens que, em audacioso suspense, iludem a plateia acerca de suas ânsias pegajosas. As pérolas guardam para si seus melhores segredos, como animais desaparecidos na tempestade. Ocultam partes de seus corpos como uma manada de elefantes dentro de uma aveludada caixa negra. São atrizes que se fazem passar por descargas elétricas ou mulheres serradas ao meio enquanto dançam. As pérolas são o grande triunfo da noite. Cortinas que encobrem as duas metades da realidade. As pérolas descem rapidamente até o subterrâneo do último truque e não regressam dali jamais.

 

• POSTIGOS

 

Os postigos desapareceram antes do tempo, Infectados pela palavra de Deus. Convertidos em pedras ocas, aos poucos se amofinaram nas prateleiras de ritos esfumados. As lendas tropeçaram em garrafas de areia com seus mitos embaralhados, os semblantes rasgados, os cantos apagados. Os postigos foram depenados como abrigos de palha puída. Tramas de relâmpagos embriagados e queixosos. A grande mãe com suas vestes queimadas cambaleando entre a sífilis e a ayahuasca de tantas orgias induzidas. Deus ordenhara os rebanhos da fé. As mulheres choraram a noite inteira, mascando o milho podre do luto. Ao final de cada cerimônia gritaram para que fossem por Ele abandonadas. Os postigos tanto fizeram a terra ressuscitar que já não havia mais uma semente sob a casca dos acidentes demarcados. Sem que se soubesse mais a distinção entre noite e dia uma canoa vazia atravessa o rio sombrio. Os postigos não perdoam a Deus. Ninguém herdará a terra.

 

• PROFECIAS

 

As profecias bordam falos nos lençóis da paisagem. As pedras suspiram como encomendas do fogo. Os búfalos corrigem a tabuada dos deuses. Os homens fecham as portas para impedir que lhes escapem os vultos. As vozes vão de um palco a outro, procurando conforto para seus pesadelos.  As lágrimas na página alteram o destino das sentenças. Os riscos difamam a mais ambígua das ambições. As ilusões confessam seus vislumbres impertinentes. As profecias se perdem por entre os pastos da avareza e um rebanho de nuvens desfiguradas. Os dízimos inocentam a profanação dos túmulos. Os verbos se sentem culpados e apedrejam um bestiário pagão. As profecias cavalgam para bem longe, onde o êxodo reduz o mundo a silhuetas náufragas. Fim do que virá.

 

• RELEVOS

 

Os relevos descerram a cortina e o primeiro ato engasga, finge passar mal, distrai a atenção do público, enquanto esferas dentadas recortam o cenário pelas margens. Os vultos assumem uma pele da cor da terra. As luzes batem as asas aturdidas. As falas não cabem nos lábios dos personagens. Os relevos enovelam o roteiro até que sejam outros os atributos da emoção. Uma figura central retira do interior de uma caixa de abstrações a origem fluente daquela descontinuidade. O portão se desloca de um canto a outro do muro. Uma vez iluminadas as cenas enfrentam novos vestígios simbólicos. Os relevos camuflam as perspectivas. Ao inferno o inventor da ratoeira. O céu permanece apenas entrevisto. Quem compra um selo, cumpre a viagem primordial.

 

• RESERVAS

 

As reservas são a astúcia do tempo. O minério faiscante da matéria que ocultamos em nossa intimidade. Os amantes dormem em uma palha de lendas. As formas se multiplicam no centro de cada orgasmo. O corpo atravessa a catástrofe dos sentidos. As reservas não se renovam senão no extravio de suas fiações. O despenhadeiro delicado dos fusos. A urna esvaziada do júbilo. A peneira das proporções. Com quantas escadas-caracóis chegamos ao arrebatamento do caos. Os rios batem em retirada. Os desertos preparam a cama dos amantes. As migalhas se tornam um relevo espelhado onde mergulham as aves em busca do sol. As reservas desconhecem em que ano se esvaem. São cordas espirituais que se emaranham e o humor negro das lâmpadas.

 

• ROSTOS

 

Os rostos se banham de névoa ao reprisarem seus erros. Os dias estão feios como as panelas no fogão. Ela confessou haver recebido dinheiro para falsificar o crepúsculo. Uma pena de morte refaz o pássaro cego da justiça. Ela não me disse que havia pensado em mim enquanto empanava seu destino. Os rostos recortam as expressões da dúvida. São como luzes minguantes e esqueletos angustiados. A pasta de amendoim distrai o tempo na despensa. Ela me escreveu uma carta se desculpando por tudo o que não tivemos. Não pude lê-la antes que me matasse. Os rostos resmungam enquanto os dias tropeçam em insetos dissecados e a gordura anônima da solidão. Não se deve dar tanto crédito à verdade.

 

• RUÍNAS

 

As ruínas renascem em camas sujas com seus ossos em permanente desequilíbrio. Algumas estátuas relutam em sair de lugar, porém acabam por aceitar viver outro personagem longe dali. As paredes se contraem imitando a memória de seus antepassados. A grande mesa ao centro reabastece as vasilhas do banquete denunciado. As ruínas picotam os moldes do vestuário de toda uma época. Cozinham as sobras de histórias contadas ao cair da tarde. Os lampiões apagam as chagas sobre rachaduras e outros manuscritos da implosão. Os sons agônicos cavalgam o espinhaço das obras desfeitas. Cada pedra se comprime até a debandada de seus núcleos. As vísceras repovoam o horizonte aturdido. As ruínas copiam truques gastos. Nada de novo trazem a um mundo em perene desistência de dotes.

 

• SOMBRAS

 

As duas sombras foram arrastadas ao centro do palco, com suas vestes rasgadas e sangue nas correntes. Súbito era dinamitado um ninho de assombros. Enganado pelo cartaz que anunciava dramática tortura de dois criminosos, o público reagia desconfortável àquela metáfora impiedosa. As duas sombras em silêncio erguiam os braços buscando alguma clemência. Por vezes a morte mal disfarça a simplicidade de uma xícara jogada pela janela. A morte com seus leques de seda desacata os planos de fuga. Uma jornada incomparável leva a mão a cobrir o olhar. As duas sombras percebem que tudo não passou de um truque e que o cenário esteve sempre vazio e o teatro fora há muito abandonado.

 

• SUBVERSÕES

 

As subversões imprimem um batalhão de livros por onde passam. Descrevem o imperativo do mundo ao sacralizar a deriva. Recrutam as letras sorrateiras e os algarismos intolerantes. As casas se disfarçam para atender aos caprichos de cada tabuleiro. As cartas se deixam vincar em uma das pontas para o imediato reconhecimento de suas intenções. As subversões estrangulam os manuscritos anatômicos. A razão oscila entre dentes sangrados e olhares enevoados. Impossível rastrear as alegorias que mancam em direções distintas. O enigmático número de hóstias – 381 – que soletra ao contrário a idade da infância oracular. O clero guarda segredo de suas profanações. O inferno parece haver mudado de endereço. As subversões amassam os anjos famintos. Os demônios rogam por um naco de fanatismo. Os livros ensinam a cobiça a criar modos. A realidade perde seus disfarces no mercado. Não há corpos suficientes para tanto pecado descrito. Melhor acoitar no coração o capítulo apócrifo das subversões. Resignadamente.

 

• TÁBUAS

 

As tábuas copiam os dilemas da água suja. A noite retorcida com seus diagramas depostos. Agulhas infiltradas no enchimento de velhas almofadas. Rios empoeirados, cavernas do sol, sonhos enevoados. As tábuas ratificam os enigmas da areia. Meu nome tatuado no dorso de teu espírito. Três vezes eu vim cavar sob suas árvores nítidas. Como se cravasse um olho a mais na percepção. O infinito imolado dos símbolos. As tábuas regurgitam as antigas leis. Por aqui ninguém passa, sem antes repetir algum nome esquecido. A relva polida denuncia os pincéis de sua profanação. Uma nova substância ressurge sem que o tempo se manifeste. Tudo é possível. As rotas podem ser escritas por todos. As tábuas não negam a cumplicidade da ferrugem.

 

• TEMPOS

 

Os tempos extraem de seus túneis alegóricos um inesperado tapete da criação. Os vultos perseguem a paliçada dos labirintos. As cartas que não puderam ser escritas. O baile sempre adiado dos oráculos. As moitas silenciam sobre os abismos que abrigam. Os tempos se esvaem como túmulos insones. A ferrugem insondável das chaves retorcidas. Os pesos emporcalhados de segredo impedindo as folhas mais brancas de voar. Céu que vem de longe, estrada de comer poeira, poleiro de destroços. Os tempos consultam os verbos antes de qualquer resíduo. Nada deve restar em sua coleira extraviada. Nada deve selar a pedra moída dos presságios.

 

• TREVAS

 

As trevas replantam o horizonte com seu rebanho de árvores negras. As sementes do fogo ascendem até a íntima vastidão da luz. A cada cor corresponde uma mística não anunciada. As trevas se impregnam nos cabelos ondulados do vento. As tempestades copiam a letra tenebrosa da razão. Os truques desaparecem sem que decifremos seus trajes. As trevas adaptam a fantasia mundana do caos. As similaridades do abismo se coçam como símios antevendo o próprio degredo. Eu muitas vezes tornei incompreensível a tua escura noite. O nervo exposto da melancolia. A adaga submersa na planície de teus receios. Os lagartos pintados quem foi que os pintou. As trevas guardam um prato de ilusões para quando a fome der o primeiro suspiro.

 

• TRILHOS

 

Os trilhos são uma fábula cuja origem se desconhece. As primeiras tintas descascadas do palco revelam a existência de uma antiga rede de transporte que evocava a luxúria das almas que hoje estão perdidas. O mundo se tornou intangível. Não se pode tocar sequer o nome de quem desejamos. Os trilhos são a catarse de uma civilização impossível. Exílios desmilinguidos. Confundem-se as portas de entrada e saída. Espelhos desmemoriados. As silhuetas foram banidas para um covil de carícias relutantes. Os trilhos um dia chegaram a ser a única perspectiva de vida no planeta.

 

• VERBOS

 

Os verbos ressuscitam a cópia de seus fracassos e salgam a pele dos planos impronunciáveis. Uma noite e três sapos fervilham no caldeirão dos suplícios reciclados. Na frase seguinte, cometemos o mesmo erro. Custódia de nódulos e suas consequências previsíveis. Lemos as taças escaldadas de cada promessa. Os verbos adoram repetir-se, como uma sucessão de assombros, desterro improvisado de imagens, a queda de um vislumbre permanente. Vultos depois as aves mergulham em um lago vulcânico. Voltamos a compreender que não houve trégua entre os mecanismos da imaginação. Os verbos retalham os manuscritos de seu resgate. Nada deve durar tanto quanto o cadáver da linguagem. As falhas na pedra, o sangue gotejando no abismo, a plumagem ressecada dos cativeiros. O tempo aprende a repetir-se com os verbos.

 

• VERTIGENS

 

As vertigens escalam o sol na terceira manhã antes de desaparecerem da terra. Não há enigma maior do que a duração do próprio enigma. As últimas casas viram pó e a rainha medita sobre seus erros no catre. Quantas vezes ela esteve a ponto de decretar o fim das classificações. As vertigens escondem pelas dobras do espaço seus cadernos de mecânica infalível. Em uma das incontáveis páginas o rascunho de um mundo sem fronteiras. A caprichosa anatomia da luxúria. A autópsia das farsas. O alto cabide de onde saltam os dramas vulgares e os orgasmos de encomenda. As vertigens adernam. A rainha copula com suas flores de cacto. O sol reluta em despregar-se da paisagem. As últimas casas renascem do pó. Suadas.

 

• VÍTIMAS

 

As vítimas anotam em seu diário, quantas vezes foram esfaqueadas. Relatos sujos de amores infiltrados. Quartos arrastados de uma escada a outra. A tinta impregnada de sêmen e asco. Cinco bonecas se encontram para cerzir os trapos da noite passada. As vítimas duram o tempo de uma conspiração. Em seguida imitam um relâmpago e não servem para mais nada. Como hóstias guardadas para o arrependimento. As vítimas pagam um café barato para que as febres refaçam seu destino. As mais frias delatam seus remorsos. Outras ensinam as cicatrizes a mudar de calçada. Relatos embaralhados se confundem embaixo das camas improvisadas. As vítimas com que nos ocupamos de viver.

 

 

 

ÚLTIMOS

 

Os últimos são uma pancada seca furtando aos lábios o enxame de outras esferas. As vozes perderam o zumbido de seus fantasmas. As espadas bailam sempre aos pares. Um ritual de centelhas que sonham com sinistras pensões. Uma vida lacrada semeando mistérios por onde pisa. Outra queimando o arsenal de sua natureza relutante. Os últimos ensaiam seus mórbidos suicídios. Repetem os truques mais vulgares esperando que a reconstituição de um crime seja a raiz invisível de sua ressurreição. Uma exultação de archotes demarca as pistas inóspitas. Os últimos rasgam a anágua de suas amantes e as entopem com o sêmen corrosivo da impunidade.

 

 

 

 

 



A GRANDE OBRA DA CARNE

A poesia de Floriano Martins

  

1991 Cinzas do sol 

1991 Sábias areias 

1994 Tumultúmulos 

1998 A outra ponta do homem 

1998 Autorretrato 

1998 Os miseráveis tormentos da linguagem e as seduções do inferno nos instantes trágicos do amor de Barbus & Lozna 

2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]

2004 Antes da queda 

2004 Lusbet & o olho do abismo abundante 

2004 Prodígio das tintas 

2004 Rastros de um caracol 

2004 Sombras raptadas [Coroa] 

2004 Sombras raptadas [Cara] 

2004-2015 Estudos de pele 

2004-2017 Mecânica do abismo 

2005 A queda 

2005 Extravio de noites 

2006 A noite em tua pele impressa 

2006 Duas mentiras 

2006-2007 Autobiografia de um truque 

2007 Teatro impossível  

2008 Sobras de Deus

2008 Blacktown Hospital Bed 23 

2009-2010 Efígies suspeitas 

2010 Joias do abismo 

2010-2011 Antes que a árvore se feche 

2012 O livro invisível de William Burroughs

2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]

2013 Anatomia suspeita da realidade 

2013 My favorite things [com Manuel Iris]

2013 O piano andou bebendo 

2013 Sonho de uma última paixão 

2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória 

2014 Mobília de disfarces 

2014 O sol e as sombras 

2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil 

2015 Enigmas circulares 

2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]

2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]

2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]

2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]

2016 A mais antiga das noites 

2016 A vida acidental de Aurora Leonardos 

2016 Altares do caos 

2016 Breve história da magia 

2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]

2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos 

2017 O livro desmedido de William Blake

2017 Antigas formas do abandono 

2017 Labirintos clandestinos 

2017 Manuscrito das obsessões inexatas  

2017 O mais antigo dos dias 

2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]

2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra 

2018 Atlas revirado 

2018 Tabula rasa 

2018 Vestígios deleitosos do azar 

2021 Las mujeres desaparecidas

2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]

2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]

2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]

2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]

2023 A casa de Lenilde Fablas

2023 Caligrafias do espírito

2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]

2023 Inventário da pintura de uma época

2023 Letras del fuego [con Susana Wald]

2023 Representação consentida

2023 Primeiro verão longe de casa 


 

 

1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]

2013-2017 Manuscritos


 

 

Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.


 

 

OBRA POÉTICA PUBLICADA

 

Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.

Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.

Alma em chamasFortaleza: Letra & Música, 1998.

Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.

Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.

Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.

Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.

La noche impresa en tu pielTrad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.

Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.

Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.

Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.

A alma desfeita em corpoLisboa: Apenas Livros, 2009.

Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.

Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.

Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.

Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.

Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.

Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.

O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.

A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.

Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.

A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.

Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.

Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.

Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.

El frutero de los sueñosWilmington, USA: Generis Publishing, 2023.

Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.


 

 

Agulha Revista de Cultura

Criada por Floriano Martins

Dirigida por Elys Regina Zils

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/

1999-2024 

 


 

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