Insistir é um pecado também próprio dos deuses.
ASTHEROS
PRIMEIROS
Os primeiros naufragaram na panela dos
mitos. A água fervente tempestuosa acolhe as derivas mais insuspeitas. Os
minérios do abandono, os seixos do infortúnio. No íntimo borbulhante de seus
milagres podemos rever o futuro de muitas ilusões. Salmos entalhados na
fervura. As imagens cobiçando um tempero melhor. Os primeiros são como o
interlúdio de pontos mágicos que tocamos em nossa alma. Os olhares jejuam
semeando novos vislumbres. Os deuses são as raízes do que porventura
encontramos. Como um cardume de centelhas vorazes. Como o abrigo-cratera do
desejo onde a memória deposita seus ovos. Os primeiros beijam o esquecimento e
se refazem.
ENTREATO CATIVO
• ALVOS
Os alvos repetem a cifra de todas as
transgressões. Os lacres preservam a identidade das vítimas. As gavetas
confiscam o alfabeto para plantar novas pistas. Uma letra para cada ramo de
delitos. Os alvos transitam irreconhecíveis pela sujeira explícita das ruas. Os
fios prenunciam uma grafia sinuosa de perjúrios. O foi não foi das lâminas raspando os cartazes onde se esconde a
assinatura das falsificações. Leitos embriagados com latões de fogo confiscando
a inocência. As bordas reviradas das presunções. A teoria de um abate em pele
de sedução. Os casos insolúveis que fingem mudança de método. Os alvos sorriem
antes que possam anotar o paradeiro de seu cérebro detonado.
• BRINQUEDOS
Os brinquedos devem atravessar os sete
corpos do espelho em suas esperas dilatadas. A casa em que morres é a que
relata a essência de teu ser. As cores salpicadas no extremo de cada espírito
dissecado. As leis refeitas para atender à ausência. Os brinquedos são como
cortinas que nos afastam da pastagem ácida do medo. Os centros líquidos da
aventura insone. Quantas vezes bicamos nossos sexos retalhando o frio e a
medula de um teatro patético. Reunimos os cavalos videntes e devoramos as sete
cavernas do desejo. A consciência caduca antes que tenhamos replantado suas
confidências. O mofo relutante conversa com as silhuetas do último ato. Será
sempre ao pé da despedida que a memória estabelece sua fiança. Os brinquedos
apagam a luz e renascem.
• CAMPOS
Os campos embolsam o prejuízo de nossas
visões. Os reclames da imaginação deslizam pelas ancas da paisagem. As cinzas
acumulam em suas cicatrizes as sementes de árvores que jamais brotarão. Os ovos
escondem a frigideira de seu renascimento. Já não é suficiente um deus para
cada estação. Os campos deslocam as distâncias antes que sejam percorridas.
Como bosques que se deixam devorar por vultos sorrateiros. As vozes imitam um
indecifrável silêncio. As vozes recobram o mistério das sílabas suadas. As
últimas folhas das árvores cegas. A ninguém mais atende um deus indivisível. Os
campos são o alimento precário dos desejos. E neles semeamos a perenidade de
nossas vertigens
• CARTAS
As cartas decepam luzes e com elas tecem
um novo reino de ilusões. As cartas mudam de cor e nos fazem crer em inúmeros
deuses. As cartas são um oráculo inconfessável. Não há como embaralhar seus
ditames sem perder-se no jogo de tantas formas repetidas. A aldeia está cheia
de morte. As cartas embaralham o estômago e a febre dos sobreviventes. Os
mortos tossem e cospem fora suas crenças. Um altar de palhas esconde os espíritos
até que a noite emborque suas chagas. As cartas saem para caçar novos ritos que
caem do céu. O mal emana de todas as figuras assustadas. Pouco importa implorar
pela ressurreição. As cartas estão furiosas e despejam fogo no próprio corpo.
Todos os valores se perdem. Um último deus foge dali. As cartas voltam a ser
árvores.
• CÍRCULOS
Os círculos se perdem dentro de si e
preveem o passado narrado em tintas invisíveis. Fatos mordidos pela amnésia,
cenários de misérias viciadas, guetos de sal. As frases convivem com as
peripécias do esquecimento. Os círculos permitem que o mundo se desfaça de suas
ambivalências. Os homens negam a si mesmos a diversidade de seus cantos. As
farsas com seus deuses domésticos iluminam as árvores enfeitiçadas. Os dias fogem
para sua casa inacabada. Os espelhos despistam toda forma de reconhecimento. Os
círculos jamais retomam a investigação de seus erros. Receita de luzes mortas,
seminário de agonias, desfile de fantasmas. As frases celebram sempre as mesmas
fontes de reminiscências. Repetição de abismos, oráculos, profanações. Os
círculos agonizam em busca de um estado natural para a criação.
• CONEXÕES
As conexões migram de um abismo a outro,
como corpos nus mudando de cor. A pele rasgada, o cálculo refeito, os caprichos
aleatórios. O mundo está desaparecendo e tudo o que desejo é voltar a te
encontrar. As tuas dores me mordem enquanto eu atravesso o planeta. As conexões
saboreiam nossa alma. Os nomes arruinados pela solidão, os casebres desertos
por dentro e por fora, os mosquitos impiedosos. As toalhas embebidas de sangue
identificam o padrão dos sacrifícios. A humanidade se arrasta temendo ser
alcançada. As conexões são músculos programados para livrar-se da realidade.
Evitem a linha azul dos boatos. Esqueçam que já estivemos aqui.
• CONFIDÊNCIAS
As confidências desconhecem o motivo de
seus receios e maldades. As maldições não reconhecem os destinos do espanto. Um
coro de árvores desafiando o prumo de um despenhadeiro. Ouvidos terrificados
que o reino da imagem pode ter fim antes que comecem a cantar os vulcões. Os
vilões do começo dos tempos guardam a cinco chaves os segredos do fogo. As
confidências ameaçam dominar as esfinges gêmeas. Quantas vezes rasgamos o
disfarce das quimeras. Quantas mais violamos o labirinto dos salmos. Os
episódios se repetem desesperados por uma antítese. Seus animais pastando os
redemoinhos verdejantes concentrados da irrealidade. As obsessões recomeçam de
onde a frustração as deixou para enterrar. Lanternas amassando a luz para melhor
iluminar o absurdo. As confidências esvaziam todas as suas razões de ser. Eu
minto.
• CRIMES
Os crimes pendem de varais inatingíveis.
Todos já entramos em uma casa e esquecemos o motivo. Os dados possuem faces
imperfeitas e convencem o acaso a ser desleal. Os crimes tornam a vida
falaciosa. Alguns planos rompem o lacre dos desatinos. Impossível desistir
deles. Um acúmulo de peles forma a grande bola que nos leva destino abaixo.
Véus passionais, sopa de alucinações, contratos avulsos. Os crimes são labirintos
encardidos enxertados em sementes de outros labirintos com uma placa de boas vindas à loucura colada no interior
da porta de saída. Os manuscritos estão camuflados com luzes anônimas. Não se
deve cometer nenhum acidente isoladamente. Eles nascem rangendo os dentes
enquanto as chaleiras transbordam ideias alheias. O telepata convence a
multidão a levitar após planejar novos crimes. As luzes insistem em se repetir.
Melhor evitar as discussões insolúveis. Os crimes não batem duas vezes na mesma
porta.
• DEGRAUS
Os degraus soletram o alcance do
impossível. Quanto mais as luzes queimam seu perfil, mais eles se erguem muito
além do que podemos sacrificar. A noite se impõe como uma cascata de
ponta-cabeça. Os números do cedro convidam a decorar o abismo por dentro e por
fora. Os degraus adentram o cortinado das cataratas, multiplicam ao infinito os
horizontes escalados em cada pele da cebola cósmica. O sobe desce das lâminas
rasgando o silêncio e semeando traumas nas delicadas paredes dos casebres
fabulares. Três vultos comiam na minha mão. Seis bustos roçavam a pele em um
corrimão depredado. Os degraus contam uma história que já ninguém quer
recordar.
• DESLIZES
Os deslizes se deslocam pelo interior das
expectativas. Uns são como escolas abandonadas, outros como covis do acaso.
Trapos úmidos de sangue, metais cortados pela ferrugem, fábulas tingidas pelo
esquecimento. Os deslizes não reconhecem a própria imagem no espelho. Os rios
da linguagem arrastam suas queixas como remos escoltados pela vertigem. Os remos
que perderam o prazo de suas funções. As coxas floridas de uma deusa anã
saboreiam as línguas de meu espanto. Os deslizes cavam alçapões indecifráveis.
Mordaças putrefatas do silêncio, bagaços de armadilhas desativadas, cadáveres
enroscados. Os deslizes insistem em ser a prova de que não estivemos aqui.
Apenas eles se ocupam das tarefas que não soubemos cumprir.
• DISFARCES
Os disfarces são um reino suculento com
brilhos nos olhos. As fagulhas inchadas de antigas imagens inacabadas. Tudo se
soma ao instante em que projetamos um abismo a devorar o mundo que habitamos.
Os lacres amarelecidos do conhecimento, a perseverança amorosa da crueldade, as
sábias pernas que as silhuetas utilizam para fugir. Os disfarces são uma
catedral de símbolos que se mordem e reservam à névoa suas melhores prosas. As
estufas sonolentas procuram pelas sucessivas silhuetas que mudam de forma a
cada indagação da memória. Quantos traços podem fazer o serviço de mil imagens.
Quantos saltos conseguem reproduzir o mergulho de uma adaga no olho do espanto.
Os disfarces discorrem sobre as angustiantes impossibilidades do ser. Suas
dores conduzem o acaso por minas extraviadas. São flores verdes manchadas de
sol. São arcas vazias que descrevem o futuro de seus truques. Os disfarces jamais
se desculpam.
• DÚVIDAS
As dúvidas habitam as encostas
deslizantes da realidade. Os berços miseráveis do abismo. Os pássaros com seus
voos congelados. O horizonte preparando o cativeiro do fogo. Eu vi as pedras
rumando em direção ao mar deserto. A silhueta dos planos refeitos a todo
instante. Meu nome esquartejado percorrendo as cidades devoradas pela névoa. As
dúvidas dormem com um olho aberto, cercadas de imagens prestes a desabar. As
veias asquerosas da desordem oscilam entre palcos. Coros sarcásticos convencem
a cada representação a não confiar de todo em si mesma. Os espelhos viram a
cara para as contradições mais grotescas. Os telhados vagueiam pelas árvores em
busca de proteção. As dúvidas remoem e se calam e se espatifam no chão. Sustos
remarcados nas prateleiras bíblicas do caos. Estardalhaços inesperados por quem
acredita que o verdadeiro fracasso demore a chegar. Um livro com páginas
saltadas. Uma voz surda. Um milagre recostado na chaminé consultando as
estrelas antes de refazer as dúvidas.
• ESCOLHAS
As escolhas desorientam as estopas
jogadas sobre as estradas para estancar o sangramento das ilusões. Até onde
vamos os caminhos preferem não saber. Umas pequenas luzes personificam a crença
no acaso. Eu vim banhar-me na poça de tuas trágicas indecisões. O oceano
recortado como a pele de um amor indecifrável. As escolhas são uma velha casa
repleta de esfinges indigentes. Um abrigo de abruptos eufemismos. Uma escadaria
com lances que desafiam a lógica. Uma analogia subiu pela parede. Veio a chuva
forte e a carregou. As janelas soletram uma mecânica de fugas. Um de nós deve
ficar. O outro sangra a encruzilhada e desaparece na escuridão interna. As
escolhas são uma avaria aceitável. O melhor método de manter o destino na
linha.
• FEITIÇOS
Os feitiços se ramificam pelo espinhaço
das camuflagens. Como fálicas revelações de hábitos abandonados. Os casebres
pontiagudos onde se escondem as dores de proezas satisfeitas. Os feitiços
derretem as chaves de entrada em mundos paralelos e descansam à porta secreta
uma escada de múltiplas direções. Estranho pacto com os cenários que estão
prestes a cair. Os feitiços concebem truques orgíacos e dissociam as cinzas que
julgávamos abomináveis. Simbiose de elementos com poderes distintos. Farsas
agonizantes, figuras escamosas, sodomia apenas rascunhada e outras flores
anônimas da lubricidade. Os feitiços ritualizam tudo que atraem, com seu
cultivo de metamorfoses e as prolongadas vésperas em silêncio onde nos fazem
calçar os sapatos da deriva.
• HARMONIAS
As harmonias felicitam o sol por seu
declínio. Anotemos a distância mais reveladora entre dois pontos sempre ao
acordar. Os dias não sabem sonhar. As harmonias dissecam o mundo impossível até
que ambos se renovem. Leiamos os massacres como uma forma do agora se desculpar
por seus temores. As escadas sacrificam a razão coletiva de suas extensões. As
cordas enforcam as melodias indecisas. As harmonias lavam os pincéis da agonia
e mascam o anagrama ilegível de suas dores. Quanto mais recente mais a história
nos parece inacessível. As harmonias aprendem muito com o deliberado alfabeto
do acaso e relutam em pintar a realidade em sua exata proporção.
• HORAS
As horas queimam nas mãos alheias. Ao
descobrirem de que elas são feitas os pássaros se chocam contra paredes invisíveis.
As horas são desonestas e roubam as lâmpadas da ilusão. Uma vez degoladas elas
afundam em uma travessa de óleo. Os sábios defendem que as horas não devem
durar mais do que o instante em que são percebidas. Contudo, algumas se parecem
tanto entre si que o mundo se perde por não saber contá-las. As horas por vezes
são anônimas e narram uma mentira atrás da outra. Como um rio caudaloso das
farsas, um livro santo atirado à fogueira, um piano que perdera as teclas. As
horas impacientam nascimento e morte, como acrobatas dentro de uma garrafa.
Ninguém nota quando as frases mudam de lábios. Nem mesmo as horas recordam o
quanto foram ensaiados tais truques.
• IDEIAS
As ideias prosperam quanto mais são
rejeitadas. Um boato escapa pela janela. Uma mentira se esconde atrás da
cristaleira. As ideias nem sempre são belas ou mesmo sinceras. Um tabuleiro
contém mil jogos e um engodo de regras. À noite saímos para plantar cadáveres
no deserto. As memórias podem acabar a qualquer instante, como ovos
abandonados. Um naufrágio de corpos que não chegaram a nascer. As ideias seguem
uma dieta de esquecimentos. São como sonhos que não conseguem dormir. As
psicoses cedo fugiram de casa. Asilo sepulto de líquidas obsessões amorosas. As
ideias querem guardar segredo do que não foi possível encarnar. Jamais diga à
mente que ela deve se manter aberta.
• INTRUSOS
Os intrusos batem à porta e não
percebemos quando saem. O mundo lá dentro parece improvável de onde quer que
seja visto. Não sabemos quantas pedras são retiradas do caminho. Os móveis se
arrastam como se buscassem o alçapão onde as luzes se escondem. Os intrusos
tatuam corpos confusos na pele do inesperado. Dobram os varais em gavetões
suspensos. As janelas não reconhecem as figuras fugidias ou o credo de suas
dobradiças. Uma constelação de enigmas revoa quase rente ao telhado. Não se
sabe quem chegou primeiro. A surpresa não revela seus planos. O piano mudo
inconfessável. As espigas com seus dentes caídos. Os intrusos entram e saem,
antes que a porta refaça suas orações.
• INVERSÕES
As inversões rebobinam a queda de seus
fonemas. Os farelos desaparecem quando transportados de uma arapuca a outra dos
escombros da realidade. As mesas dobram as pernas em sua viagem a caminho do
banquete. Como salvar os mitos que chegaram antes da hora. Os instrumentos
cortantes que matam a sede no alambique das entranhas. As inversões aceitam
qualquer forma que lhes sejam amputadas. Como o olhar que descasca as cartas
avulsas da catarse. Santuário de sátiros com suas autópsias perversas e a
digressão de tantos falos surrados. As inversões raspam os círculos durante a
noite e pela manhã devolvem ao aquário um ramalhete de escamas. Somente o acaso
assimila suas perturbações.
• LARVAS
As larvas nos visitam e trazem em si o
milagre da despedida. Cada palavra aguarda que a mão se abra e dela salte a
chave com que as sílabas naveguem de um corpo a outro. Cai, cai, enigma, na
palma da minha mão. As larvas cumprem suas elétricas viagens, ensinando as
metáforas a respirar e se unirem aos peixes ao final de cada refeição. Os muros
cavam os próximos passos assim como a mão conquista as mais altas prateleiras.
As larvas cantarolam antes da chuva. A imagem perdida evoca suas pequenas
sereias. Casebres esvoaçantes na tempestade. Ruínas arbitrárias da angústia. As
larvas se livram de seu pescado descomunal. Os peixes invisíveis perseguem as
chaminés das cidades que afugentamos. O enigma perde a conta de seus favos.
• MANCHAS
As manchas guardam em seu casulo os
gráficos do abismo. As cores ilusórias do absurdo. As formas serpenteadas das
pistas que confundem o interior dos corpos. Os símbolos ensinam as manchas a
mudarem as coisas de lugar. Como as visões que acordam distante do ninho em que
são abrigadas ao crepúsculo. Uma sofreguidão de viscosas escaramuças no sobrado
de tuas coxas. As mesas ocultas com seu tráfico de pães. As escadas que se
perderam por estradas pouco ambiciosas. Os credos desacreditados que não foram
reimpressos. As manchas acumulam a crueldade da história. Com suas pequenas
pétalas metálicas conspiram em nome da inversão de todos os valores.
• MAPAS
Certos mapas são folhas de uma árvore
indecifrável ou a palma de uma mão decepada escondida à vista de todos. A
esperança é um perigo para os tolos. Os mapas por vezes são apenas faróis
submersos em poças de sangue. As sobras de um quebra-cabeça deixam entrever um
alfabeto devorado pelos peões de outro jogo. A vida não acaba aqui. Haverá
sempre uma esquina que não cruzamos ou os destroços de um semáforo que não
houve tempo de domar. O silêncio cravado na jugular dos sonhos. Certos mapas
são como pequenas esferas dispersas no espinhaço da alegoria. Qualquer que seja
o ângulo de que são vistos não revelam senão a farsa de seus dogmas. Os mais
audazes são escritos ao contrário, prontos a tornar a aventura uma gema de
vultos antecipados. As coordenadas cobram um alto preço por sua invisibilidade.
Certos mapas descansam no fundo do mar, até que os flamingos se empanturrem de
algas e comecem a dançar. E constantemente mudam de lugar.
• MARÉS
As marés se escondem em um dos três copos
emborcados sobre a mesa. Tambores disfarçam as variações de seus enigmas. Os
números são contados como uma digressão fabular. As marés evitam que nos
reconheçamos naquilo que eventualmente somos. Elas nos chamam a atenção para os
tremores demoníacos do espírito. As marés não oram por nós e a cada curva do
olhar atracam em outro porto. Os copos bebem a ilusão das marés. Um hálito frio
percorre o acidente de nossos vislumbres. Os tambores fazem a mesa levitar e
rugem como uma ribanceira. Um credo imprevisível na goela de seus ritmos. Os
números tangendo os três copos de metal em distintas direções. As marés são o
mais surrado e antigo de nossos truques de mão.
• MILAGRES
Os milagres são martelados por todo o
cenário. Alguns são engolidos por pequenas caixas negras de madeira que
protegem o mundo de tantos mistérios. Dos lábios de invisíveis sinos jorram uma
melodia agônica. Os milagres contemplam a realidade cada vez que esta entra em
cena com sua máscara de peles humanas. As cortinas se recolhem amedrontadas.
Sempre que serrada a realidade perde a parte do meio de seu corpo sinuoso. Os
milagres engolem espadas e pequenas adagas brotam de sua carne como diabos
alados que distraem a atenção do público para que ninguém identifique a origem
dos truques. A noite atua como uma deusa decepada e introduz no último ato a
morte pendida do teto. Disparos, gritos, falsas alegorias. Digressões palitando
os dentes da realidade. Os sinos repetindo um mantra desfalecido. Os milagres
nunca estão em seu lugar, quando deles precisamos. Os milagres estão por toda
parte. Não são algo de que a realidade possa se livrar.
• MIRAGENS
As miragens cruzam incêndios e outras
tempestades, com uma mesma suspeita às costas. Os cabides retalhados da
angústia. As sobras de horizontes dissipados. O vestuário de alegorias órfãs.
Os caminhos mudam de endereço com suas bússolas calcinadas e o diapasão das
falsas identidades. As miragens apostam na roleta seus últimos recursos.
Alquimia emperrada pelos farelos do mito. A caixa negra dos sonhos revela o
instante em que nos ausentamos de cena. Os desastres silenciosos quaram ao sol
os argumentos de suas hipérboles. Fardos que especulam a resistência dos
sentidos. As miragens recusam a compra de novos crepúsculos. Aqueles que mastigam
o olhar são as últimas moedas da imaginação. Não vemos senão a confissão gasta
de suas perversões.
• NOITES
As noites por vezes se assustam com o que
veem com seus olhos rasgados. Os mosaicos arrancados de uma história esquecida.
Os peixes se debatendo em pedras soltas. Como letras descamadas divergindo das
conchas carnudas dos enigmas. As noites promulgam uma mutação perene de
predicados. As carnes fugidias de tantos sexos esculpidos. Os ninhos
embriagados da volúpia. As trapaças vulgarizadas de tantas pernas ensopadas.
Nódoas que armazenam uma ortografia de clamores. As noites amolam facas à
espera do mênstruo de suas mulheres. As origens desertas identificadas no
polígrafo. Os hóspedes devastados que:
• NUANCES
As nuances mitigam a antimoral de todas
as fábulas. O clero salpicado de volúpias. Os rabiscos-fátuos das infâncias
relutantes. O cartel de sonhos invertidos. A última casa em cada rua abriga
sempre o espanto. Um ninho de relíquias ainda não confrontadas. Até onde a
vista alcança o mundo recusa um segundo diagnóstico. As nuances reverberam as
inesperadas faces do jogo. As casas mudam de rua como entidades preparadas para
arguir a realidade e amputar o roteiro de suas elipses. A fraude dos paradoxos.
A nudez encapsulada em acrílico. A desforra malsucedida da melancolia. As
nuances avultam a recorrência dos erros mais tenazes. Mantemos intocáveis os
intervalos em nossa vida. Acentuamos os hábitos dissolventes do significado dos
nomes que nos escolheram. Em nome da cal que devasta o rastro das deduções.
• PÂNTANOS
Os pântanos remoem as confissões de suas
impossíveis transições. A noite será sempre a mesma, alheia ao barro em que são
refeitas as suas circunstâncias. Amarro a tua nudez no eixo do mundo com seus
desejos entrelaçados. Um risco correndo por dentro de outro representa a busca
da chaleira perdida. Os pântanos aparecem com frequência quando o mundo se
revira dentro de uma mulher à deriva. Aventura disfarçada em um rebanho de
pirâmides. As lápides de um gráfico irregular onde as árvores se banham como
deusas amotinadas. Um de nós queria vir mais vezes aqui. Abismos simétricos.
Teu corpo rebocando os rastros da devassidão. Os pecados da agulha amaldiçoam
as ânsias mortas. Os pântanos regurgitam o capinzal de suas orações. Ninguém entra
ou sai. As escadas tropeçam em seus vultos agachados.
• PECADOS
Os pecados têm por hábito confundir a
época em que vivem com os cenários emoldurados nas paredes do dormitório.
Bosques incendiados pela escuridão, o descuidado pleonasmo dos vícios solitários,
as pálpebras indescritíveis de contraditórios risos. Uma tempestade de escamas
muda a face errante do tempo. Os pecados se reúnem em severa busca de recompor
os ardis dissipados. As casas se curvam em oratório, as casas conjugadas – as
mesmas –, sim, com uma exuberância de sete orgasmos, elas, as casas furtando as
imagens da inocência. Os pecados elegem o apóstolo de suas vertigens
indecifráveis. Nevoeiros facultam o emprego de envelhecidas obstinações. Pedregulhos
desesperados da realidade. A torre onde caducam os ideais. Os pecados mordem a
própria cauda.
• PÉROLAS
As pérolas voam de um cubículo a outro
nas arestas gastas do cenário movediço. Deusas que se despem no interior de
lágrimas, mudam de aquário em um mesmo nado. Virgens que, em audacioso
suspense, iludem a plateia acerca de suas ânsias pegajosas. As pérolas guardam
para si seus melhores segredos, como animais desaparecidos na tempestade.
Ocultam partes de seus corpos como uma manada de elefantes dentro de uma
aveludada caixa negra. São atrizes que se fazem passar por descargas elétricas
ou mulheres serradas ao meio enquanto dançam. As pérolas são o grande triunfo
da noite. Cortinas que encobrem as duas metades da realidade. As pérolas descem
rapidamente até o subterrâneo do último truque e não regressam dali jamais.
• POSTIGOS
Os postigos desapareceram antes do tempo,
Infectados pela palavra de Deus. Convertidos em pedras ocas, aos poucos se
amofinaram nas prateleiras de ritos esfumados. As lendas tropeçaram em garrafas
de areia com seus mitos embaralhados, os semblantes rasgados, os cantos
apagados. Os postigos foram depenados como abrigos de palha puída. Tramas de
relâmpagos embriagados e queixosos. A grande mãe com suas vestes queimadas
cambaleando entre a sífilis e a ayahuasca de tantas orgias induzidas. Deus
ordenhara os rebanhos da fé. As mulheres choraram a noite inteira, mascando o
milho podre do luto. Ao final de cada cerimônia gritaram para que fossem por
Ele abandonadas. Os postigos tanto fizeram a terra ressuscitar que já não havia
mais uma semente sob a casca dos acidentes demarcados. Sem que se soubesse mais
a distinção entre noite e dia uma canoa vazia atravessa o rio sombrio. Os
postigos não perdoam a Deus. Ninguém herdará a terra.
• PROFECIAS
As profecias bordam falos nos lençóis da
paisagem. As pedras suspiram como encomendas do fogo. Os búfalos corrigem a
tabuada dos deuses. Os homens fecham as portas para impedir que lhes escapem os
vultos. As vozes vão de um palco a outro, procurando conforto para seus
pesadelos. As lágrimas na página alteram
o destino das sentenças. Os riscos difamam a mais ambígua das ambições. As
ilusões confessam seus vislumbres impertinentes. As profecias se perdem por
entre os pastos da avareza e um rebanho de nuvens desfiguradas. Os dízimos
inocentam a profanação dos túmulos. Os verbos se sentem culpados e apedrejam um
bestiário pagão. As profecias cavalgam para bem longe, onde o êxodo reduz o
mundo a silhuetas náufragas. Fim do que virá.
• RELEVOS
Os relevos descerram a cortina e o
primeiro ato engasga, finge passar mal, distrai a atenção do público, enquanto
esferas dentadas recortam o cenário pelas margens. Os vultos assumem uma pele
da cor da terra. As luzes batem as asas aturdidas. As falas não cabem nos lábios
dos personagens. Os relevos enovelam o roteiro até que sejam outros os
atributos da emoção. Uma figura central retira do interior de uma caixa de
abstrações a origem fluente daquela descontinuidade. O portão se desloca de um
canto a outro do muro. Uma vez iluminadas as cenas enfrentam novos vestígios
simbólicos. Os relevos camuflam as perspectivas. Ao inferno o inventor da
ratoeira. O céu permanece apenas entrevisto. Quem compra um selo, cumpre a
viagem primordial.
• RESERVAS
As reservas são a astúcia do tempo. O
minério faiscante da matéria que ocultamos em nossa intimidade. Os amantes
dormem em uma palha de lendas. As formas se multiplicam no centro de cada
orgasmo. O corpo atravessa a catástrofe dos sentidos. As reservas não se
renovam senão no extravio de suas fiações. O despenhadeiro delicado dos fusos.
A urna esvaziada do júbilo. A peneira das proporções. Com quantas
escadas-caracóis chegamos ao arrebatamento do caos. Os rios batem em retirada.
Os desertos preparam a cama dos amantes. As migalhas se tornam um relevo
espelhado onde mergulham as aves em busca do sol. As reservas desconhecem em
que ano se esvaem. São cordas espirituais que se emaranham e o humor negro das
lâmpadas.
• ROSTOS
Os rostos se banham de névoa ao
reprisarem seus erros. Os dias estão feios como as panelas no fogão. Ela
confessou haver recebido dinheiro para falsificar o crepúsculo. Uma pena de
morte refaz o pássaro cego da justiça. Ela não me disse que havia pensado em
mim enquanto empanava seu destino. Os rostos recortam as expressões da dúvida.
São como luzes minguantes e esqueletos angustiados. A pasta de amendoim distrai
o tempo na despensa. Ela me escreveu uma carta se desculpando por tudo o que
não tivemos. Não pude lê-la antes que me matasse. Os rostos resmungam enquanto os
dias tropeçam em insetos dissecados e a gordura anônima da solidão. Não se deve
dar tanto crédito à verdade.
• RUÍNAS
As ruínas renascem em camas sujas com
seus ossos em permanente desequilíbrio. Algumas estátuas relutam em sair de
lugar, porém acabam por aceitar viver outro personagem longe dali. As paredes
se contraem imitando a memória de seus antepassados. A grande mesa ao centro
reabastece as vasilhas do banquete denunciado. As ruínas picotam os moldes do
vestuário de toda uma época. Cozinham as sobras de histórias contadas ao cair
da tarde. Os lampiões apagam as chagas sobre rachaduras e outros manuscritos da
implosão. Os sons agônicos cavalgam o espinhaço das obras desfeitas. Cada pedra
se comprime até a debandada de seus núcleos. As vísceras repovoam o horizonte
aturdido. As ruínas copiam truques gastos. Nada de novo trazem a um mundo em
perene desistência de dotes.
• SOMBRAS
As duas sombras foram arrastadas ao
centro do palco, com suas vestes rasgadas e sangue nas correntes. Súbito era
dinamitado um ninho de assombros. Enganado pelo cartaz que anunciava dramática
tortura de dois criminosos, o público reagia desconfortável àquela metáfora
impiedosa. As duas sombras em silêncio erguiam os braços buscando alguma
clemência. Por vezes a morte mal disfarça a simplicidade de uma xícara jogada
pela janela. A morte com seus leques de seda desacata os planos de fuga. Uma
jornada incomparável leva a mão a cobrir o olhar. As duas sombras percebem que
tudo não passou de um truque e que o cenário esteve sempre vazio e o teatro
fora há muito abandonado.
• SUBVERSÕES
As subversões imprimem um batalhão de
livros por onde passam. Descrevem o imperativo do mundo ao sacralizar a deriva.
Recrutam as letras sorrateiras e os algarismos intolerantes. As casas se disfarçam
para atender aos caprichos de cada tabuleiro. As cartas se deixam vincar em uma
das pontas para o imediato reconhecimento de suas intenções. As subversões
estrangulam os manuscritos anatômicos. A razão oscila entre dentes sangrados e
olhares enevoados. Impossível rastrear as alegorias que mancam em direções
distintas. O enigmático número de hóstias – 381 – que soletra ao contrário a
idade da infância oracular. O clero guarda segredo de suas profanações. O
inferno parece haver mudado de endereço. As subversões amassam os anjos
famintos. Os demônios rogam por um naco de fanatismo. Os livros ensinam a
cobiça a criar modos. A realidade perde seus disfarces no mercado. Não há
corpos suficientes para tanto pecado descrito. Melhor acoitar no coração o
capítulo apócrifo das subversões. Resignadamente.
• TÁBUAS
As tábuas copiam os dilemas da água suja.
A noite retorcida com seus diagramas depostos. Agulhas infiltradas no
enchimento de velhas almofadas. Rios empoeirados, cavernas do sol, sonhos
enevoados. As tábuas ratificam os enigmas da areia. Meu nome tatuado no dorso
de teu espírito. Três vezes eu vim cavar sob suas árvores nítidas. Como se
cravasse um olho a mais na percepção. O infinito imolado dos símbolos. As
tábuas regurgitam as antigas leis. Por aqui ninguém passa, sem antes repetir
algum nome esquecido. A relva polida denuncia os pincéis de sua profanação. Uma
nova substância ressurge sem que o tempo se manifeste. Tudo é possível. As
rotas podem ser escritas por todos. As tábuas não negam a cumplicidade da
ferrugem.
• TEMPOS
Os tempos extraem de seus túneis
alegóricos um inesperado tapete da criação. Os vultos perseguem a paliçada dos
labirintos. As cartas que não puderam ser escritas. O baile sempre adiado dos
oráculos. As moitas silenciam sobre os abismos que abrigam. Os tempos se esvaem
como túmulos insones. A ferrugem insondável das chaves retorcidas. Os pesos
emporcalhados de segredo impedindo as folhas mais brancas de voar. Céu que vem
de longe, estrada de comer poeira, poleiro de destroços. Os tempos consultam os
verbos antes de qualquer resíduo. Nada deve restar em sua coleira extraviada.
Nada deve selar a pedra moída dos presságios.
• TREVAS
As trevas replantam o horizonte com seu
rebanho de árvores negras. As sementes do fogo ascendem até a íntima vastidão
da luz. A cada cor corresponde uma mística não anunciada. As trevas se
impregnam nos cabelos ondulados do vento. As tempestades copiam a letra
tenebrosa da razão. Os truques desaparecem sem que decifremos seus trajes. As
trevas adaptam a fantasia mundana do caos. As similaridades do abismo se coçam
como símios antevendo o próprio degredo. Eu muitas vezes tornei incompreensível
a tua escura noite. O nervo exposto da melancolia. A adaga submersa na planície
de teus receios. Os lagartos pintados quem foi que os pintou. As trevas guardam
um prato de ilusões para quando a fome der o primeiro suspiro.
• TRILHOS
Os trilhos são uma fábula cuja origem se
desconhece. As primeiras tintas descascadas do palco revelam a existência de
uma antiga rede de transporte que evocava a luxúria das almas que hoje estão
perdidas. O mundo se tornou intangível. Não se pode tocar sequer o nome de quem
desejamos. Os trilhos são a catarse de uma civilização impossível. Exílios
desmilinguidos. Confundem-se as portas de entrada e saída. Espelhos
desmemoriados. As silhuetas foram banidas para um covil de carícias relutantes.
Os trilhos um dia chegaram a ser a única perspectiva de vida no planeta.
• VERBOS
Os verbos ressuscitam a cópia de seus
fracassos e salgam a pele dos planos impronunciáveis. Uma noite e três sapos
fervilham no caldeirão dos suplícios reciclados. Na frase seguinte, cometemos o
mesmo erro. Custódia de nódulos e suas consequências previsíveis. Lemos as
taças escaldadas de cada promessa. Os verbos adoram repetir-se, como uma
sucessão de assombros, desterro improvisado de imagens, a queda de um vislumbre
permanente. Vultos depois as aves mergulham em um lago vulcânico. Voltamos a
compreender que não houve trégua entre os mecanismos da imaginação. Os verbos
retalham os manuscritos de seu resgate. Nada deve durar tanto quanto o cadáver
da linguagem. As falhas na pedra, o sangue gotejando no abismo, a plumagem
ressecada dos cativeiros. O tempo aprende a repetir-se com os verbos.
• VERTIGENS
As vertigens escalam o sol na terceira
manhã antes de desaparecerem da terra. Não há enigma maior do que a duração do
próprio enigma. As últimas casas viram pó e a rainha medita sobre seus erros no
catre. Quantas vezes ela esteve a ponto de decretar o fim das classificações.
As vertigens escondem pelas dobras do espaço seus cadernos de mecânica
infalível. Em uma das incontáveis páginas o rascunho de um mundo sem
fronteiras. A caprichosa anatomia da luxúria. A autópsia das farsas. O alto
cabide de onde saltam os dramas vulgares e os orgasmos de encomenda. As
vertigens adernam. A rainha copula com suas flores de cacto. O sol reluta em
despregar-se da paisagem. As últimas casas renascem do pó. Suadas.
• VÍTIMAS
As vítimas anotam em seu diário, quantas
vezes foram esfaqueadas. Relatos sujos de amores infiltrados. Quartos arrastados
de uma escada a outra. A tinta impregnada de sêmen e asco. Cinco bonecas se
encontram para cerzir os trapos da noite passada. As vítimas duram o tempo de
uma conspiração. Em seguida imitam um relâmpago e não servem para mais nada.
Como hóstias guardadas para o arrependimento. As vítimas pagam um café barato
para que as febres refaçam seu destino. As mais frias delatam seus remorsos.
Outras ensinam as cicatrizes a mudar de calçada. Relatos embaralhados se
confundem embaixo das camas improvisadas. As vítimas com que nos ocupamos de
viver.
ÚLTIMOS
Os últimos são uma pancada seca furtando
aos lábios o enxame de outras esferas. As vozes perderam o zumbido de seus
fantasmas. As espadas bailam sempre aos pares. Um ritual de centelhas que
sonham com sinistras pensões. Uma vida lacrada semeando mistérios por onde
pisa. Outra queimando o arsenal de sua natureza relutante. Os últimos ensaiam
seus mórbidos suicídios. Repetem os truques mais vulgares esperando que a
reconstituição de um crime seja a raiz invisível de sua ressurreição. Uma
exultação de archotes demarca as pistas inóspitas. Os últimos rasgam a anágua
de suas amantes e as entopem com o sêmen corrosivo da impunidade.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
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1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
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Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
∞
OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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