Um livro que descrevesse o homem com
todas as suas anomalias
seria uma obra de arte parecida com uma
estampa japonesa
onde vemos eternamente a imagem da mesma
tartaruga
que foi vista uma única vez e em uma única
hora particular do dia.
MARCEL
SCHWOB
BANHO DAS MODELOS
1.
Silêncio diante de Bacquis.
A tarde assegura-se de que
somente seu corpo dance,
aceso no argumento da nudez
emboscada pelas águas. Olhos
apreciados pelos esgares da luz.
Será este o desafio da fatalidade?
2.
Que vozes do inferno elegem o golpe
a zumbir nas entranhas do poeta?
Emily Dickinson morreu pela beleza.
O que importa o saber sobre a terra?
Um louco decepa as cortesãs, nuas
como saídas do banho, acharam-nas.
Só morremos da máxima vitalidade.
Rimbaud obcecado pelo disparo
de sons que inaugurassem novo ritmo.
– Fiandeira, ensina-me o imprevisível.
Um louco decepa as cortesãs, nuas
como saídas do banho, acharam-nas.
Não foi amarga a vida com Lewis
enquanto tocava a flauta de Carroll.
– Sócrates, fala-me de tua alma,
tão próxima da urna grega de Keats.
Um louco decepa as cortesãs, nuas
como saídas do banho, acharam-nas.
Em um quarto contíguo as deusas
teciam seus motivos para a metáfora.
Cremos nos corpos tocados pelo fogo,
no furor sagrado da moral de Lawrence.
Um louco decepa as cortesãs, nuas
como saídas do banho, acharam-nas.
3.
Nudez roubada da noite mais escura.
A
quais espaços naufragados pertencemos?
Negras
cabeleiras tomadas pelo banho.
Jazem
as juras de amor como uma queda de si mesmas.
Cuido da inocência de meu amo
– orgulhava-se
a
pobre Lais a uma amiga entre bálsamos.
Desce sobre mim seu corpo como o sonho de
um deus,
dizia
Timandra, enferma de sua paixão.
Não vejo outro verso que não seja seu
ardor, chegou
a
escrever Calisto, cujo corpo jamais foi localizado.
A
bela Eufrosina bebia tanto quanto Dylan Thomas.
Onde estamos, minha alma, se não acendo
a gramática da volúpia?
Sabe-se que chorava muito
no
banho com suas criadas.
Sínope
em silêncio sofria
suas
dores secretas como um pressentimento.
Morta
no desespero do fogo, seu corpo desfigurado
gelava
a noite. Lívia foi descrita
como
uma mulher de inteligência invejável,
não
bastasse a perfeição de seu colo que despertara o interesse de inúmeros
pintores.
Quais
os sacrifícios da beleza? O crime assemelha-se a uma visão ininterrupta.
Passamos pelo banho das jovens cortesãs, afeitas a uma
geometria do amor. Com suas cores essas mulheres contemplavam algo mais do que
fábula ou parábola. Dilatavam toda a simetria reinante no corpo de seus
amantes. Foram o bulício de trevas mesmo em almas afeitas à quietude. Cobertas
de crimes, jamais deram sepultura a seus profundos ventres que abrigaram os
equívocos da aventura humana.
4.
A morte não discute seus ossos.
5.
Que vozes regressam ao banho dos
artifícios?
Lábios de vidro, velhas feridas, o lírio
imenso
dos ruídos ao pé da fuga, corpos
abandonados.
6.
Não se trata de uma pobre Lou, do jogo
de suores destilados nos movimentos
do gozo. Saqueamos hoje ventre e vento,
alheios ao infortúnio de toda aliança:
Ouves a filha coroada, a linda menina
confiscada em qualquer casa, como é bela
dançando atiçada por seus pavores…
Traço as sete dores que sua carne
suporta.
Poetas se acham visionários? Neruda
falava em destino das lágrimas. Chavée
impunha lendas a lábios secretos. Como
tratavam suas cortesãs? Não há dúvida
– dissera Char – de que a disciplina
sangra.
Porém onde seus corpos foram decepados?
7.
Em qualquer momento revela-se tua queda,
seja na máscara da volúpia, no desânimo
de certas horas guardadas longe de si ou…
Desfigura-se a eternidade em tuas
imagens.
Acesso de excessos ao redor da mesma dor.
Há haveres infernais? Suspeita o poeta de
que seus versos expõem o revés de toda
moral?
Os amores de Catulo, os tiros de Rimbaud.
A poesia recolhe o ressoar de suas
sombras.
Partilha consigo as indomáveis
contradições
que elegeram as cortesãs por seus
mistérios.
A fidelidade ao prazer leva consigo o
tormento
tanto quanto a eternidade ama o instante.
8.
– Que diz meu corpo sangrado, doce
Mileto?
Nenhum amor tão dedicado considera
desfeita a lenda de sua solidão, por mais
atroz.
Como as deixamos entregues a suas águas!
Um louco decepa as cortesãs, nuas
como saídas do banho, acharam-nas.
• O ESCULTOR
Abraço o esplendor da pedra invocada.
Indefeso deixo-me caído sobre a pele
cujo rosto está por trás e não o conheço.
Recitas tua nudez diante de mim,
réptil a que deram cabo o horror
e a beleza de uma mesma forma.
Espanta-me o primeiro naco nas mãos
sem que o recorde haver escrito.
Bem sabes: o que te falta é meu alicerce.
Demônios ocupam o emblema da pedra.
Signos saídos do êxtase do olhar.
Aves bicando a malha do céu.
Aqui se encerra o livro em paz e tem
lugar (em ti) o conflito do estilo.
• A CORTESÃ
Um Corpo provido de línguas que abre
caminho e fere tudo o que produz, uma irresistível forma recurvada chorando a
dor chamejante da solidão. Um corpo que é o portal de todo júbilo, do fogo que
se faz súplica incessante e prevalece o corte, a tempestade, a destruição. Um
corpo que nos guarda de ser o que somos, que nos conhece por tantos nomes e que
não para de enganar-se. Um corpo a proferir suas chamas (enlevos, miragens) e
que sinta-se puro ainda que cego o espelho da pureza. Um remo recoberto de
musgo em cujo corpo mutila-se a inscrição de um caminho sagrado. Um corpo que
não seja mais completo do que os demais.
• O TABELIÃO
Um
nome para as partes de teu corpo que emitem fogo,
outro
para o rosto que se guarda de tais chamas.
Um
nome que seja para o guia de tuas pernas flutuantes,
e
outro mais para os campos que evitam tua morada.
Todos
estarão felizes com seus nomes. Uns com mais de um,
outros
a ponto de perdê-lo. O nome os torna quase perfeitos.
Aponta-me
um deus sem nome e disto me encarrego.
Serão
belos ou tristes, enfaixados ou traídos pela corte,
violentos
ou angustiados. Há os que se sentem únicos
e
julgam-se renascidos a cada vez que o nome é pronunciado.
Mesmo
sendo iguais, os nomes também são distintos.
Distribuo-os
carregados de ilusões. Fábulas ou decretos,
rubrica
de tudo o que somos ou rejeitamos. Não te protege
o
inferno do nome certo, traje com que entras em cena.
• A PAPISA
Iluminados os corpos, a lê-los convidado
fui.
Trouxe comigo um rabino e a dúvida acerca
da origem da queda. A dor nos abandona
na medida da glória de seu capinzal
solene.
Estamos aqui para o inferno e não há
medidas
de seu vaticínio. Quando muito acentuamos
o próprio fim, desejado com oculta
precisão.
Não nos libera o desejo de algo que
sabemos.
Corpos sangram e luzem e gozam e somem.
Nada pode a dor de um contra o altar de
todos.
• O ARTISTA
Sopra-nos
o vento a música de seu fulgor:
um
elo de ecos, um verso de Gonzalo Rojas,
a
espinha do universo no piano
de
Thelonius Monk em Memories of you.
Lugar
metafísico onde tudo combina
com
seu diverso e outro latejo.
Em
um desses momentos por onde cruzamos
as
gélidas ruas de Kafka,
a
alma esplende em metamorfoses.
Por
ali nos indagamos do equívoco do enigma:
–
por que tudo é sempre o mistério do vir a ser,
a
almofada do maravilhoso, seu estalo de trevas.
Sons
de palavras: letras que surgem
do
obscuro ritmo entrelaçado de nossos nomes
–
do entreato da sagrada miséria às minúcias de nossa queda,
a
um só tempo dialética e mundana.
Livros
de sons: a voz deixada no oco da tradição,
notas
do prodígio que é seguir vivendo
lendo
o misterioso nas páginas de Bataille Blake Benn.
Por
ali nos indagamos e a tinta não cessa não cessa.
• O ENTALHADOR
Não havia nada dentro da noite: túmulo,
êxtase, sexo mordido, luz esquiva,
paixão emboscada, um triste suspiro fora de órbita.
Certas noites se multiplicam de pé
sobre a extensão de suas próprias formas
e não nos deixam entrar sem que esvaziemos
os bolsos da ilusão. Por mais
que vaguemos por ali não há nada:
memória moída, desengano, luxúria afogada,
dor, uma tensão mínima que ligue um desastre a outro,
ao menos que assuste sem motivo algum,
nenhum disfarce de limite. Como suportar
algo que não vai além de si mesmo?
Mas quantos temos ido? Entalhar sombras
é uma frustração da arte. Não se desnuda o outro,
nada se desloca, de queda em queda,
silêncio em silêncio, vazio em vazio.
Não vejo nada de mim em meu tempo,
diz
o entalhador, ao tossir e vitimar-se por dentro.
A arte nunca aceita a própria avaria.
Sabemos que há fantasmas suficientes
para que nenhuma noite se sinta só.
Para muitos o espelho não passa de um muro.
• O ESCRAVO
Ergo o olhar sobre a árvore visível,
escolha difícil em vista da quietude
de suas folhas: alarde de espelhos
em uma manhã sem ventos. Síncope
risível de abraços entre ser e tempo.
Um ritmo binário consome o homem,
escravo do alvo e da tensão do arco.
Réplica de uma dor lapidada à beira
da imagem ideal de todos os arcos:
guarda consigo o relâmpago e a guia.
• O INDIGENTE
O
poeta é exigido por uma angústia vital:
aquela
do desenlace em si de uma nova
transparência
a partir de toda a opacidade
de
sua vida. Tudo nele busca o desespero
iluminado
das formas, sua convulsão
precipitada
sobre a beleza das imagens
aterradoras.
Refere-se o poeta sempre
ao
outro que ainda não conseguiram tocar
suas
débeis figuras. Indigente do instante
e
do conhecimento do mistério, concebe
para
si a tarefa de escrever um livro
impossível:
o da personificação da morte.
Dissolve-se
na matéria de suas metáforas,
misturado
à visão do livro findo inacabado.
• O AGRIMENSOR
O
poeta cai de suas metáforas. Ensaiamos
o
enigma comum de situação e lugar, porém
não
suportamos o peso das coisas que em nós
se
preparam. Sempre ignoramos o espetáculo
de
nossas ruínas, distinto cenário onde atua
o
homem como o verme da própria espécie.
Ainda
que se renove o poeta com suas perdas,
resta
um raminho ausente, uma corda, uma visão
da
beleza, uma ilusão do ser, algo que torna
incessante
a queda e o poema um código de falhas.
Na
cena que se retrata, o mesmo súbito relâmpago:
–
O que fiz de ti? – Eis o livro
decomposto
em
repetições. Hamlet encharcado de ilusões.
Haverá
sempre algo ali, impossível de se seguir.
• A TRAPEZISTA
Comigo inconfessável no nascimento da
imagem.
Recortada em silêncio e pelo abismo
imantada.
Um ponto e outro, o fulgor de sua
essência,
engano que contribui à profundeza de
outro e mais.
Estava ali, tão gasta quanto uma carta
marcada.
Acampada no silêncio, à espreita, no
arbusto
entreaberto de seu fortuito destino.
Travada
por certo vício de epifanias, deveria
sorrir, em sua
brancura intocável, diabólica miséria das
joias.
Saboreia-me paisagem de sua múltipla
origem.
Ousa estar sempre inversa, irrestituível.
Usa-me,
ao deslocar realidades impulsivas,
ocultos arcos
que não pude afinar. Decerto quer mais de
mim
que a imagem latente de seus recortes em
vício.
• O FRASISTA
A árvore vermelha de
Mondrian é o princípio da discórdia.
Não
lhe anula a espontaneidade a consciência do gozo.
Um
poema não cai do inferno nem se arma contra o leitor.
O
bailado das formas enamora-se da agulha dos sentidos.
Mondrian
nos diz que o equilíbrio exige muito do desvario.
A
sensualidade de uma imagem definindo-se pelo quadrante
de
sua ambiguidade voraz. Traços caem como frases,
tornam
quase tudo real. Pintura única: a deformação cabível
do
quanto somos dentro da esfera pervertida do tempo.
• O CARTÓGRAFO
Resplenda um mito, seu nome vago.
Manchas do ser, fuligem, contemplação.
Reino fugaz de formas, fulgor mutante.
Sua sombra concentrada na memória
define a cartografia do abismo, a queda
abismada pelo equívoco da matéria.
Arquivo de sombras, zelos e fraudes,
a imagem duplica-lhe a horda de vultos,
errância fantasmagórica de conceitos.
Não importa Klee ou Bacon, anotações
sutis do assombro. Da própria cauda
cuida a memória, Uroboros regurgitada
a cada confronto com a matéria do ser.
• O PEREGRINO
Como ocorre o verso? O mal da poesia,
de onde provém? Olha a velha dor,
a sombra, vê que nos assombra tanto
ardor.
Furtivas serpentes da imagem, um milharal
de luas.
⎼
Se não tiramos do nada não é criação, disse-me
a disforme criatura que há semanas
pousava
aos fundos de uma taberna, nu ardendo em
frio.
Não passa de débil visagem a arte hoje
aceita,
vertigem do duplo, delírio do outro
anunciado.
Para livrar-se de tal letargia há apenas
que criar.
DIABO NO CORPO
Escondo o teu corpo entre chamas. Em
minucioso voo, rascunho de sombras. Romanesco o deboche das formas. Escondo teu
corpo do hálito trivial de axiomas gastos. Memória ilegível e suas dores
sublimadas pela escrita Teu corpo escondo de uma aborrecida saga de excrementos
da linguagem. Carne e verbo estão sujeitos e se rebelam. Em diferentes lugares
saturam, supuram…
O desejo é sempre vítima da retórica. Compartilhas
comigo o sabor que trazes de outras bocas e te desfazes entre páginas. Monótono
é o esquecimento deliberado. Escondo teu corpo da letra eleita. Por trás de
toda transgressão a angústia um vagido de espelhos, reflexos contíguos, uma
fábula castanha de pelos, poltronas, gemidos, imagens líquidas do efêmero. Por
trás do corpo não há quase nada. Rascunhos do céu e do inferno, chagas
impressas em nome do pai, do filho, do espírito santo.
Por trás do corpo apenas a memória sangra
e se esvai. Uma rapsódia de fugas, retalhos, sofismas. A contínua viagem
barroca do destino. Teu corpo torna toda lógica imprópria. Acaba ou não acaba
em si? O que rouba de mim em seu desvario e esgotamento? Argumento episódico da
mobília do ser, narrativa libidinosa da morte, um belisco, o feitiço sonoro do
orgasmo. Tuas frases banhando-me o rosto de espanto. Por onde me chegas,
supliciada suplicante? Tudo no amor se converte em súplica? De que sangra o
espírito?
Carnes mobiliando a memória, assídua mão
que desfere gemidos (fendas abusos nichos luxúria teatro sagaz), fábula de
degraus propiciados ao pastiche. A viagem do corpo concentra-se em uma ironia, convergente
paradoxo do lírico e do trágico – a luz a venda o quadro vivo a orgia o cinema
mecânico do desvario eterno talhado instante… Teu corpo como um crime
esporádico, falha ordinária, intruso episódio, hóstia consagrada – o verbo
complacente, o paradigma da troca, a luxúria certa da sintaxe, o lance
promíscuo dos dados, os sinais ditados pela ascese, a perversão do prazer.
Teu corpo não faz mais sentido. Cai de
sua própria ânsia. Dirige-se a sombras, variedades ficcionais, vitrines. Não o
decifra ou insufla mais carne ou espírito. Não há mais letra encarnada ou
sentido ambíguo. Tento escondê-lo de previsível gramática. De um rosário de
carnes pende o silêncio. Resíduos de sua colheita ritual discursiva enunciada, em
ti o roubo perde seu nome próprio, o sexo decaído na mão, a cesura do desejo, a
fraude das mil vidas do espírito. Teu corpo é apenas truque: o que nos falta e
a memória inventa a passar melhores dias. Terás mesmo um princípio? De que te
guardo? Obscena a linguagem retoma a cena da angústia esboçada entre esgotos,
rimas, fastios.
Não és nada [só agora entendo], e és toda
a metáfora de que me ocupo.
ÓLEO DE TREVAS
1.
Muito longe como estás, erguido já
o reino de tua ausência, o pranto
pelos ermos arrastados da memória.
Tua sombra arde na fria noite,
uma queda a cada nome provocado:
Devo deixar uma canção – doce voz
em seu mantra – para que esta terra
me encontre quando tudo houver perdido.
Pouco agora de cinzas o que se entrega
ao vento, palavras gastas, voz queimada.
Antes que a dor trace outro círculo de
giz
a caminho de tua ausência, uns lábios
tristes ressoam [meus, teus, de quem
seriam então?]: poucos versos me desafiam.
2.
Sob a língua da ausente descanso um
último segredo, que lhe possa evocar
tais zelos: o que vai tornando teus dias
um precipício, um domínio de ínsulas
na própria carne, a túnica de trevas
do errante amor. Como alcançar a origem
das palavras, o esboço glorioso da fuga
na trama de sua incógnita instância?
Que mundo aceitar em nome de seus ardis?
De silêncio é feita a chaga da palavra,
a obscura cela em que se aguarda o ensaio
de toda ausência. Retorço-me na quebra
de tais dons, o que vai tornando
meus dias um precipício guardado em si.
3.
Fundo do ser, qual será? Que nobre
entulho
orgulha-se da soalheira de seus derrames?
Engendra quais cicatrizes o delírio no
espelho?
O que for, o que somos, temos aceito,
corpos
caindo em círculos, miséria
desencontrada,
rios de mármore, parágrafos em soluços,
batismo daquilo que vemos, o que nos cabe?
Nódoa que afirma o crime na oculta
criatura
que nos persegue, deforma, ímpeto da
forma
que a pedra respira em canto, a
repetir-se
não sendo mais que lágrima, urina,
orfandade
da areia guardada no verso, torpe
memória,
quais sombras roem, ao caírem do espelho,
a memória em soluços do que ainda vemos?
4.
Lágrima tua, a primeira em meu sonho.
Um pouco a dor repousa em sua taça
de silêncio. Todos os escritos contidos
no inferno da memória – cantavas
a todo instante a morte que me tecia
–,
no delito cruel do tempo, na insólita
trama de nossas vidas. Lágrima escura
do mundo, onde pressente o destino
culminar sua fortuna. Lamento oculto
da noite preparada em teu sonho.
Amor de presságios, lágrima impura.
Que cena me alcança agora? Palco
de sombras ao golpe de tua ausência:
um último verso preparo, antes de ti.
5.
Apega-se ao enxame de aparições a dama
fortuita, em fúrias insana, volátil em
seus
passos, nos voleios de reconhecimento.
Estranhos os deuses da corrosão,
espectros
da evidência, rasgos sazonais, páginas,
rugas, corpos celestes, o que mais
teremos?
Tudo tomado em mímica, mudos gotejos,
um flagelo de epifanias. Treva indivisa,
o que torna-se rapina em cada letra, no
sal
internado no pranto, estuário de agonias.
Quem nos chama no oceano do nome?
Deserdar a própria sorte, há que fazê-lo?
Ermas as figuras proféticas, suas
túnicas,
pouco escapamos do abraço róseo do nada.
6.
Dentro da memória se guarda o amor
silencioso das cinzas. Um mar secreto
que nos invade em insistentes dobras
do tempo. Provo de tua imortalidade,
um cinema tecido entregue a orações:
dá-me teu amor, oh dá-me teu amor.
Lembra-me o poeta que a dor não
passa de um minuto. Nada se iguala
ao vento de tua voz, festa de sombras.
Outro corpo que se esboça em plena dor.
Capela severa do mar dentro da qual
escrevemos e os versos nunca retornam.
Secreto vínculo com o destino – oh dá-me –
que não se encontra nunca em casa.
7.
Domínio inconstante de febres, um sinal
misterioso da alma urdindo tua ausência
para tornar a invadir-me. Toma-me o sangue
e nada se altera: o futuro não se guarda
no amor? – Tarde caindo no restaurante.
Contive teu corpo muito além da solidão.
Uma dor de ecos tecia seus mananciais.
Quanto de silêncio voa diante de nós
e não conhecemos sua voz. Aquário de
raízes.
Dentro de uma lâmpada se projeta radiante
a memória do amor, incêndio que é um rio
dentro do fogo que nos banha uma única
vez.
Devolve-nos o bosque a dor do pássaro,
o altar desfeito, a insidiosa luz na cela
vazia.
8.
Invisíveis se arrastam os volumes
de tua ausência por entre os dias
com insustentável equilíbrio, lenta
caravana de objetos por entre as ruínas
de uma dor imóvel. Linhas de ossos,
elétricas em seus sinais, fervores agudos
em sombras de mármore ou sílex.
Paisagem dilatada pela frase ressoante:
– o
que escreves é pedra convertida
em secreta agonia. Dor da pedra
em soneto cinzelada. Flor do amor caído
em trapos. Firma-te gesso na ausência
de outra carne. Modelo em ti minha
própria
queda. Mãos de nada. Branco ideograma.
9.
Sombra saturada de outras sombras,
ferida de memória na última pele do
canto.
Perigo de letras caindo em outras mãos,
entre assombros escritos em pleno vácuo.
Tábuas cobertas de limo enquanto a alma
entregue aos tecidos ondulantes da dor,
ausência lavrada em tremores, vísceras
que são esboços de outro verbo. Versão
do sonho rompido em tréguas: rio
que sangra em mim, tudo em ti deságua.
Tais cenas roídas no espelho não retornam
com as páginas. São partes da vida
os rostos que não lembramos e o limo
de outra alma que retemos em plena queda.
10.
Dentro do que pude vê-las, desramadas
ao vento e na graça lasciva das sombras,
quantas foram ali, em ruídos esquivos,
na lida revolta do verbo? Quantas dentro
do sumo invisível do canto, tenebroso
pomar de afagos? Golpe de números,
ilusão recortada em tintas. Como sabê-las
no júbilo da ausência, inclinadas sempre
em goles, vislumbres, sopros e venenos?
Como retê-las em átomos refeitos do gozo?
Dar-lhes nomes, rogá-las, doar-lhes o fio
obscuro dos pronomes, prenúncio e átrio
de horrores? Torná-las cúmplices frívolas
dos suores humanos e suas fugas remidas?
11.
Desramadas as imagens, olhos sem templos,
perde-se a alma em quê? O homem não vai
além
do orgulho da pena. Ingênuo o ar da
troça,
corroendo a matéria já desfeita em si.
Exaustos
dramas, engodos, afrescos do inferno, os
versos
lentos. Dentro do que pude vê-los,
quantos
lidam com a lenda que inspeciona o caos?
Estamos desaparecendo, dos lábios julgo haver
ouvido de uma delas. O que são? Névoas
da ramagem, o que faz com que caiam em si
e se desfaçam. Também os sentidos
decaindo
hostilizam a própria queda. O que
seremos,
naquilo que roemos? Tábuas ossos ramos,
ao menos um livro além de toda
melancolia.
12.
Sumário voo de pequenas formas
dentro do vazio, miséria visível.
Áspera fortuna da luz que há
de nos tocar enquanto sejamos
os despojos de suas sombras.
Pele enrugada da idêntica pergunta
que tece há milênios em sua rota:
que gosto mantemos pela imagem
do homem cruzando seu abismo?
Que ouro do ser lapida em seu voo?
13.
Poetas duelam com o instante.
Sangram a memória enfurecida
em secretos golpes de agonia.
Não invocam senão quedas
ardendo em golpes giratórios.
Paisagem trêmula em seus gritos
oscilados em tristes vozes,
artificiais como a dor do tempo.
Duram o que dura a zelosa estampa
da glória mais alta dos acidentes.
14.
Algo nos torna mais que forma
dissolvida ou transfigurada
na matéria de nossos deslizes.
Respiro tua esquiva semelhança,
abres tua casa ao sigilo do nada.
Um grito imóvel, uma noite fixa
em seus próprios olhos, a terra
ilusória por trás de toda imagem.
O que refletimos não sabemos
se mera justiça ou dura asfixia.
15.
Wei Yin Wu temia que as trevas
fossem o desenho do coração,
que fosse a dor a casa do homem
e sangue a duração de seu êxodo.
Novos nomes doava a formas
já desfeitas em súbita memória.
O próprio rosto não reconhecia,
nem mesmo o fulgor de seu olhar.
Indagava atônito sobre a luz do dia,
certo de seus racimos ainda visíveis.
16.
Havia um poeta ali, bem ao lado
de uma górgona em lábios carmins,
dizendo-se entre o objeto e a palavra.
Traduzia o clamor da catástrofe,
agarrado às letras que havia salvo.
Por toda a parte, das cinzas
às cinzas, sussurros de areias e grifos
na recolha do mais óbvio da cena.
Sou a semente do visível [sua voz].
– Seremos
ainda feitos de letras?
17.
Algumas fotografias sobre a mesa,
irrecuperáveis dejetos do instante.
Ao limpar a casa o poeta se indaga:
– Só nos resta a raiz do cantar?
Dilui-se em dura duração de datas,
dopado pelo rigor da noite. Pedra
de luz que o capta em ocioso deslize
ao redor das sombras que tramam
para que não amanheça o cantor.
Visíveis os vestígios de cada limite.
18.
A caminho do abismo a palavra
indaga a suas letras: – o que busca
aquela que cai sobre si mesma?
Somos o centro do olho, a página
que muda à lei de sua consumição.
Dispersa-nos a pompa, a fraude
de imagens que não descarnam
a arquitetura que nos decompõe.
Espelho de cicatrizes solitárias,
buscamos a alma desfeita em corpo.
19.
Dentro do que vemos, prefiguradas pedras
em suas cavidades ígneas, quais pastores
se revelam no monólogo das súplicas?
Que seiva cessa na imitação do que lemos?
Pródiga a imagem que as envolve, lúbrico
o rastejo da língua, imensa a evidência.
Do paradoxo, o que saberemos? Das roídas
gravuras de seus corpos, cuja exaustão
derrama-se em desígnio de frêmitos,
seios,
devassados papiros, proclama de ancas,
agulhas de sons e crivadas faces da
angústia
de um tempo incomum, saberemos o quê?
Ao nome apega-se a voraz criatura, tomada
pelo livro das lamúrias, lido fora do
leito.
20.
À luz das palavras de René Char
saímos a recolher alguns versos:
– somente as marcas fazem sonhar.
Não se sabe como um deus entra
em repouso ao toque de dois corpos.
O que invade a memória é o centro
de sua desolação. Devoro as sombras.
Crio as tuas carnes abertas ao vazio.
Tudo em ti me retrai e me nega.
Meu ser é a tua matéria caída em si.
RIGOR OCULTO
Por teus pelos, laminada figura, um
labirinto atiçar, contido em cachos e sinuosas trilhas derramadas na planície
arenosa da memória, copiosa e cálida, emaranhada em grácil épica a cavar e
escavar buscando enlevo na frágua de outras ramagens esquecidas, libérrimas de
si, um tufo de gozos, um tesouro fragmentado pela delicadeza com que se deixa
roubar, texto cerzido, metáfora ungida, fios da volúpia enroscados em toda a
trama do corpo, teu, sábia alucinada, acre ainda não palmilhado da loucura,
guia fortuita do que perturba e anima, castra e repara, a perda do nome, o
súbito levante do paradoxo, mulheres atracadas no pênis de eróticos rituais, o
roubo da dor, seus homens tolos desmaiados ao pé da página, gatunos pífios,
crimes sem letras, gramática empírica de mil-nenhuma combinações, modelos os
mais céleres de encomenda a fugitivos ou angustiados pela desforra, caça ao
lume de pelos de teu silêncio, em meio à rasura de gritos dos olhares, o púbis
elegante como uma arqueada simpatia,
escolhe, descreve, nomeia,
clausura,
ordena a mínima fruição de suas sombras,
ordenha a simetria
da frase,
a cerimônia que se quer sempre última na
troca de prazeres, a linguagem se despindo roçando a língua com seus meneios,
última epifania manifesta por trás de cada peça que cai, as meninas com suas
coxas florindo suspensões, seus pares mordendo a cena, ofegantes, picturais
declínios, a mais rude sedução descrita e séculos e séculos esbatidos, buscando
a nuança do irrisório, a máquina de cores, a poética atroz das cenas, retábulos
do lugar-comum, feira de morfemas confessos, parricidas, a viagem escandida de
teu púbis sobrando fraseado na noite de apóstrofes tardias, afloradas falas,
virtudes da ironia, literatura de bolso que enuncia as falhas da fruição, os
textos suicidas, a escrita de teu sexo vagando ruas, arruinando rusgas
romanescas, luzes altas e espelhos retrovisores passam por ti, no espaço real
que teu sexo ocupa, nicho da sedução estratificada, banquete mimético, orgia do
ditado, recortados cenários segundo um fetiche de classes, sofrida religião do
pesar, recolha de gozos e camarins divididos, os pálidos lábios tocados com a
língua que pode lhes venerar ou devorar, crime da vacilação, pelos aborrecidos
com a tipografia de umas dúvidas, confesso-as minhas, mercadoria taxada, a
carne e a submissão, vítimas do espelho, cadeiras, velas, a seda barroca,
deboche de tramas, ordem mínima do roubo de imagens, exigência insatisfeita, gigolôs
do léxico fulminado pelo gozo,
teu cenário é uma impossibilidade,
um
púbis desnudo inundando a pintura noturna das ruas,
texto devorado por
sua retórica,
o sexo ali tão sujeito precário ao
incesto de meus sentidos, fantasia desmontada pela crueza das virtudes
localizadas, cito teu corpo, as migalhas de um relato de sombras insidiosas, és
a louca à distância, o revés da agonia reverencial, do bom-tom dos vassalos
pintados, libertinos de motel, por teus pelos se alarga a noite, vasta solidão
propícia à iluminação, cesura da reiteração, o que beber, o que comer, nenhum
corpo a ser escondido, seus lábios dançantes, sábios regentes, chacoalhando
mínimas deferências, escrita refeita a partir das citações, louca confessa, os
pelos líricos entrançando ironia e orgasmo, uma máquina de cores, uma escrita
de cenas, o crime por identificação, o poema, o púbis salientando a noite, o
preço dela, o meu, o de todos nós, nenhuma linguagem se despe à toa, em lâminas
passas, passamos todos, trono servil, a frase que nos toca, toca-nos apenas por
sermos seu ditado imperfeito.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
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1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
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Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
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OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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