quarta-feira, 26 de abril de 2023

A GRANDE OBRA DA CARNE | Prodígio das tintas

 

 

Um livro que descrevesse o homem com todas as suas anomalias

seria uma obra de arte parecida com uma estampa japonesa

onde vemos eternamente a imagem da mesma tartaruga

que foi vista uma única vez e em uma única hora particular do dia.

MARCEL SCHWOB

 

BANHO DAS MODELOS

 

1.

 

Silêncio diante de Bacquis.

A tarde assegura-se de que

somente seu corpo dance,

aceso no argumento da nudez

emboscada pelas águas. Olhos

apreciados pelos esgares da luz.

Será este o desafio da fatalidade?

 

2.

 

Que vozes do inferno elegem o golpe

a zumbir nas entranhas do poeta?

Emily Dickinson morreu pela beleza.

O que importa o saber sobre a terra?

Um louco decepa as cortesãs, nuas

como saídas do banho, acharam-nas.

 

Só morremos da máxima vitalidade.

Rimbaud obcecado pelo disparo

de sons que inaugurassem novo ritmo.

– Fiandeira, ensina-me o imprevisível.

Um louco decepa as cortesãs, nuas

como saídas do banho, acharam-nas.

 

Não foi amarga a vida com Lewis

enquanto tocava a flauta de Carroll.

– Sócrates, fala-me de tua alma,

tão próxima da urna grega de Keats.

Um louco decepa as cortesãs, nuas

como saídas do banho, acharam-nas.

 

Em um quarto contíguo as deusas

teciam seus motivos para a metáfora.

Cremos nos corpos tocados pelo fogo,

no furor sagrado da moral de Lawrence.

Um louco decepa as cortesãs, nuas

como saídas do banho, acharam-nas.

 

3.

 

Nudez roubada da noite mais escura.

A quais espaços naufragados pertencemos?

Negras cabeleiras tomadas pelo banho.

Jazem as juras de amor como uma queda de si mesmas.

Cuido da inocência de meu amo – orgulhava-se

a pobre Lais a uma amiga entre bálsamos.

Desce sobre mim seu corpo como o sonho de um deus,

dizia Timandra, enferma de sua paixão.

Não vejo outro verso que não seja seu ardor, chegou

a escrever Calisto, cujo corpo jamais foi localizado.

A bela Eufrosina bebia tanto quanto Dylan Thomas.

Onde estamos, minha alma, se não acendo

a gramática da volúpia? Sabe-se que chorava muito

no banho com suas criadas.

Sínope em silêncio sofria

suas dores secretas como um pressentimento.

Morta no desespero do fogo, seu corpo desfigurado

gelava a noite. Lívia foi descrita

como uma mulher de inteligência invejável,

não bastasse a perfeição de seu colo que despertara o interesse de inúmeros pintores.

Quais os sacrifícios da beleza? O crime assemelha-se a uma visão ininterrupta.

Passamos pelo banho das jovens cortesãs, afeitas a uma geometria do amor. Com suas cores essas mulheres contemplavam algo mais do que fábula ou parábola. Dilatavam toda a simetria reinante no corpo de seus amantes. Foram o bulício de trevas mesmo em almas afeitas à quietude. Cobertas de crimes, jamais deram sepultura a seus profundos ventres que abrigaram os equívocos da aventura humana.

 

4.

 

A morte não discute seus ossos.

 

5.

 

Que vozes regressam ao banho dos artifícios?

Lábios de vidro, velhas feridas, o lírio imenso

dos ruídos ao pé da fuga, corpos abandonados.

 

6.

 

Não se trata de uma pobre Lou, do jogo

de suores destilados nos movimentos

do gozo. Saqueamos hoje ventre e vento,

alheios ao infortúnio de toda aliança:

Ouves a filha coroada, a linda menina

confiscada em qualquer casa, como é bela

dançando atiçada por seus pavores…

Traço as sete dores que sua carne suporta.

Poetas se acham visionários? Neruda

falava em destino das lágrimas. Chavée

impunha lendas a lábios secretos. Como

tratavam suas cortesãs? Não há dúvida

– dissera Char – de que a disciplina sangra.

Porém onde seus corpos foram decepados?

 

7.

 

Em qualquer momento revela-se tua queda,

seja na máscara da volúpia, no desânimo

de certas horas guardadas longe de si ou…

Desfigura-se a eternidade em tuas imagens.

Acesso de excessos ao redor da mesma dor.

Há haveres infernais? Suspeita o poeta de

que seus versos expõem o revés de toda moral?

Os amores de Catulo, os tiros de Rimbaud.

A poesia recolhe o ressoar de suas sombras.

Partilha consigo as indomáveis contradições

que elegeram as cortesãs por seus mistérios.

A fidelidade ao prazer leva consigo o tormento

tanto quanto a eternidade ama o instante.

 

8.

 

– Que diz meu corpo sangrado, doce Mileto?

Nenhum amor tão dedicado considera

desfeita a lenda de sua solidão, por mais atroz.

Como as deixamos entregues a suas águas!

Um louco decepa as cortesãs, nuas

como saídas do banho, acharam-nas.

 

 

 

AMULETOS NOSTÁLGICOS

 

• O ESCULTOR

 

Abraço o esplendor da pedra invocada.

Indefeso deixo-me caído sobre a pele

cujo rosto está por trás e não o conheço.

Recitas tua nudez diante de mim,

réptil a que deram cabo o horror

e a beleza de uma mesma forma.

Espanta-me o primeiro naco nas mãos

sem que o recorde haver escrito.

Bem sabes: o que te falta é meu alicerce.

Demônios ocupam o emblema da pedra.

Signos saídos do êxtase do olhar.

Aves bicando a malha do céu.

Aqui se encerra o livro em paz e tem

lugar (em ti) o conflito do estilo.

 

• A CORTESÃ

 

Um Corpo provido de línguas que abre caminho e fere tudo o que produz, uma irresistível forma recurvada chorando a dor chamejante da solidão. Um corpo que é o portal de todo júbilo, do fogo que se faz súplica incessante e prevalece o corte, a tempestade, a destruição. Um corpo que nos guarda de ser o que somos, que nos conhece por tantos nomes e que não para de enganar-se. Um corpo a proferir suas chamas (enlevos, miragens) e que sinta-se puro ainda que cego o espelho da pureza. Um remo recoberto de musgo em cujo corpo mutila-se a inscrição de um caminho sagrado. Um corpo que não seja mais completo do que os demais.

 

• O TABELIÃO

 

Um nome para as partes de teu corpo que emitem fogo,

outro para o rosto que se guarda de tais chamas.

Um nome que seja para o guia de tuas pernas flutuantes,

e outro mais para os campos que evitam tua morada.

Todos estarão felizes com seus nomes. Uns com mais de um,

outros a ponto de perdê-lo. O nome os torna quase perfeitos.

Aponta-me um deus sem nome e disto me encarrego.

Serão belos ou tristes, enfaixados ou traídos pela corte,

violentos ou angustiados. Há os que se sentem únicos

e julgam-se renascidos a cada vez que o nome é pronunciado.

Mesmo sendo iguais, os nomes também são distintos.

Distribuo-os carregados de ilusões. Fábulas ou decretos,

rubrica de tudo o que somos ou rejeitamos. Não te protege

o inferno do nome certo, traje com que entras em cena.

 

• A PAPISA

 

Iluminados os corpos, a lê-los convidado fui.

Trouxe comigo um rabino e a dúvida acerca

da origem da queda. A dor nos abandona

na medida da glória de seu capinzal solene.

Estamos aqui para o inferno e não há medidas

de seu vaticínio. Quando muito acentuamos

o próprio fim, desejado com oculta precisão.

Não nos libera o desejo de algo que sabemos.

Corpos sangram e luzem e gozam e somem.

Nada pode a dor de um contra o altar de todos.

 

• O ARTISTA

 

Sopra-nos o vento a música de seu fulgor:

um elo de ecos, um verso de Gonzalo Rojas,

a espinha do universo no piano

de Thelonius Monk em Memories of you.

Lugar metafísico onde tudo combina

com seu diverso e outro latejo.

Em um desses momentos por onde cruzamos

as gélidas ruas de Kafka,

a alma esplende em metamorfoses.

Por ali nos indagamos do equívoco do enigma:

– por que tudo é sempre o mistério do vir a ser,

a almofada do maravilhoso, seu estalo de trevas.

Sons de palavras: letras que surgem

do obscuro ritmo entrelaçado de nossos nomes

– do entreato da sagrada miséria às minúcias de nossa queda,

a um só tempo dialética e mundana.

Livros de sons: a voz deixada no oco da tradição,

notas do prodígio que é seguir vivendo

lendo o misterioso nas páginas de Bataille Blake Benn.

Por ali nos indagamos e a tinta não cessa não cessa.

 

• O ENTALHADOR

 

Não havia nada dentro da noite: túmulo,

êxtase, sexo mordido, luz esquiva,

paixão emboscada, um triste suspiro fora de órbita.

Certas noites se multiplicam de pé

sobre a extensão de suas próprias formas

e não nos deixam entrar sem que esvaziemos

os bolsos da ilusão. Por mais

que vaguemos por ali não há nada:

memória moída, desengano, luxúria afogada,

dor, uma tensão mínima que ligue um desastre a outro,

ao menos que assuste sem motivo algum,

nenhum disfarce de limite. Como suportar

algo que não vai além de si mesmo?

Mas quantos temos ido? Entalhar sombras

é uma frustração da arte. Não se desnuda o outro,

nada se desloca, de queda em queda,

silêncio em silêncio, vazio em vazio.

Não vejo nada de mim em meu tempo, diz

o entalhador, ao tossir e vitimar-se por dentro.

A arte nunca aceita a própria avaria.

Sabemos que há fantasmas suficientes

para que nenhuma noite se sinta só.

Para muitos o espelho não passa de um muro.

 

• O ESCRAVO

 

Ergo o olhar sobre a árvore visível,

escolha difícil em vista da quietude

de suas folhas: alarde de espelhos

em uma manhã sem ventos. Síncope

risível de abraços entre ser e tempo.

Um ritmo binário consome o homem,

escravo do alvo e da tensão do arco.

Réplica de uma dor lapidada à beira

da imagem ideal de todos os arcos:

guarda consigo o relâmpago e a guia.

 

• O INDIGENTE

 

O poeta é exigido por uma angústia vital:

aquela do desenlace em si de uma nova

transparência a partir de toda a opacidade

de sua vida. Tudo nele busca o desespero

iluminado das formas, sua convulsão

precipitada sobre a beleza das imagens

aterradoras. Refere-se o poeta sempre

ao outro que ainda não conseguiram tocar

suas débeis figuras. Indigente do instante

e do conhecimento do mistério, concebe

para si a tarefa de escrever um livro

impossível: o da personificação da morte.

Dissolve-se na matéria de suas metáforas,

misturado à visão do livro findo inacabado.

 

• O AGRIMENSOR

 

O poeta cai de suas metáforas. Ensaiamos

o enigma comum de situação e lugar, porém

não suportamos o peso das coisas que em nós

se preparam. Sempre ignoramos o espetáculo

de nossas ruínas, distinto cenário onde atua

o homem como o verme da própria espécie.

Ainda que se renove o poeta com suas perdas,

resta um raminho ausente, uma corda, uma visão

da beleza, uma ilusão do ser, algo que torna

incessante a queda e o poema um código de falhas.

Na cena que se retrata, o mesmo súbito relâmpago:

O que fiz de ti? – Eis o livro decomposto

em repetições. Hamlet encharcado de ilusões.

Haverá sempre algo ali, impossível de se seguir.

 

• A TRAPEZISTA

 

Comigo inconfessável no nascimento da imagem.

Recortada em silêncio e pelo abismo imantada.

Um ponto e outro, o fulgor de sua essência,

engano que contribui à profundeza de outro e mais.

Estava ali, tão gasta quanto uma carta marcada.

Acampada no silêncio, à espreita, no arbusto

entreaberto de seu fortuito destino. Travada

por certo vício de epifanias, deveria sorrir, em sua

brancura intocável, diabólica miséria das joias.

Saboreia-me paisagem de sua múltipla origem.

Ousa estar sempre inversa, irrestituível. Usa-me,

ao deslocar realidades impulsivas, ocultos arcos

que não pude afinar. Decerto quer mais de mim

que a imagem latente de seus recortes em vício.

 

• O FRASISTA

 

A árvore vermelha de Mondrian é o princípio da discórdia.

Não lhe anula a espontaneidade a consciência do gozo.

Um poema não cai do inferno nem se arma contra o leitor.

O bailado das formas enamora-se da agulha dos sentidos.

 

Mondrian nos diz que o equilíbrio exige muito do desvario.

A sensualidade de uma imagem definindo-se pelo quadrante

de sua ambiguidade voraz. Traços caem como frases,

tornam quase tudo real. Pintura única: a deformação cabível

do quanto somos dentro da esfera pervertida do tempo.

 

• O CARTÓGRAFO

 

Resplenda um mito, seu nome vago.

Manchas do ser, fuligem, contemplação.

Reino fugaz de formas, fulgor mutante.

Sua sombra concentrada na memória

define a cartografia do abismo, a queda

abismada pelo equívoco da matéria.

Arquivo de sombras, zelos e fraudes,

a imagem duplica-lhe a horda de vultos,

errância fantasmagórica de conceitos.

Não importa Klee ou Bacon, anotações

sutis do assombro. Da própria cauda

cuida a memória, Uroboros regurgitada

a cada confronto com a matéria do ser.

 

• O PEREGRINO

 

Como ocorre o verso? O mal da poesia,

de onde provém? Olha a velha dor,

a sombra, vê que nos assombra tanto ardor.

Furtivas serpentes da imagem, um milharal de luas.

Se não tiramos do nada não é criação, disse-me

a disforme criatura que há semanas pousava

aos fundos de uma taberna, nu ardendo em frio.

Não passa de débil visagem a arte hoje aceita,

vertigem do duplo, delírio do outro anunciado.

Para livrar-se de tal letargia há apenas que criar.

 

DIABO NO CORPO

 

Escondo o teu corpo entre chamas. Em minucioso voo, rascunho de sombras. Romanesco o deboche das formas. Escondo teu corpo do hálito trivial de axiomas gastos. Memória ilegível e suas dores sublimadas pela escrita Teu corpo escondo de uma aborrecida saga de excrementos da linguagem. Carne e verbo estão sujeitos e se rebelam. Em diferentes lugares saturam, supuram…

 

O desejo é sempre vítima da retórica. Compartilhas comigo o sabor que trazes de outras bocas e te desfazes entre páginas. Monótono é o esquecimento deliberado. Escondo teu corpo da letra eleita. Por trás de toda transgressão a angústia um vagido de espelhos, reflexos contíguos, uma fábula castanha de pelos, poltronas, gemidos, imagens líquidas do efêmero. Por trás do corpo não há quase nada. Rascunhos do céu e do inferno, chagas impressas em nome do pai, do filho, do espírito santo.

 

Por trás do corpo apenas a memória sangra e se esvai. Uma rapsódia de fugas, retalhos, sofismas. A contínua viagem barroca do destino. Teu corpo torna toda lógica imprópria. Acaba ou não acaba em si? O que rouba de mim em seu desvario e esgotamento? Argumento episódico da mobília do ser, narrativa libidinosa da morte, um belisco, o feitiço sonoro do orgasmo. Tuas frases banhando-me o rosto de espanto. Por onde me chegas, supliciada suplicante? Tudo no amor se converte em súplica? De que sangra o espírito?

 

Carnes mobiliando a memória, assídua mão que desfere gemidos (fendas abusos nichos luxúria teatro sagaz), fábula de degraus propiciados ao pastiche. A viagem do corpo concentra-se em uma ironia, convergente paradoxo do lírico e do trágico – a luz a venda o quadro vivo a orgia o cinema mecânico do desvario eterno talhado instante… Teu corpo como um crime esporádico, falha ordinária, intruso episódio, hóstia consagrada – o verbo complacente, o paradigma da troca, a luxúria certa da sintaxe, o lance promíscuo dos dados, os sinais ditados pela ascese, a perversão do prazer.

 

Teu corpo não faz mais sentido. Cai de sua própria ânsia. Dirige-se a sombras, variedades ficcionais, vitrines. Não o decifra ou insufla mais carne ou espírito. Não há mais letra encarnada ou sentido ambíguo. Tento escondê-lo de previsível gramática. De um rosário de carnes pende o silêncio. Resíduos de sua colheita ritual discursiva enunciada, em ti o roubo perde seu nome próprio, o sexo decaído na mão, a cesura do desejo, a fraude das mil vidas do espírito. Teu corpo é apenas truque: o que nos falta e a memória inventa a passar melhores dias. Terás mesmo um princípio? De que te guardo? Obscena a linguagem retoma a cena da angústia esboçada entre esgotos, rimas, fastios.

 

Não és nada [só agora entendo], e és toda a metáfora de que me ocupo.

 

ÓLEO DE TREVAS

 

1.

 

Muito longe como estás, erguido já

o reino de tua ausência, o pranto

pelos ermos arrastados da memória.

Tua sombra arde na fria noite,

uma queda a cada nome provocado:

Devo deixar uma canção – doce voz

em seu mantra – para que esta terra

me encontre quando tudo houver perdido.

Pouco agora de cinzas o que se entrega

ao vento, palavras gastas, voz queimada.

Antes que a dor trace outro círculo de giz

a caminho de tua ausência, uns lábios

tristes ressoam [meus, teus, de quem

seriam então?]: poucos versos me desafiam.

 

2.

 

Sob a língua da ausente descanso um

último segredo, que lhe possa evocar

tais zelos: o que vai tornando teus dias

um precipício, um domínio de ínsulas

na própria carne, a túnica de trevas

do errante amor. Como alcançar a origem

das palavras, o esboço glorioso da fuga

na trama de sua incógnita instância?

Que mundo aceitar em nome de seus ardis?

De silêncio é feita a chaga da palavra,

a obscura cela em que se aguarda o ensaio

de toda ausência. Retorço-me na quebra

de tais dons, o que vai tornando

meus dias um precipício guardado em si.

 

3.

 

Fundo do ser, qual será? Que nobre entulho

orgulha-se da soalheira de seus derrames?

Engendra quais cicatrizes o delírio no espelho?

O que for, o que somos, temos aceito, corpos

caindo em círculos, miséria desencontrada,

rios de mármore, parágrafos em soluços,

batismo daquilo que vemos, o que nos cabe?

Nódoa que afirma o crime na oculta criatura

que nos persegue, deforma, ímpeto da forma

que a pedra respira em canto, a repetir-se

não sendo mais que lágrima, urina, orfandade

da areia guardada no verso, torpe memória,

quais sombras roem, ao caírem do espelho,

a memória em soluços do que ainda vemos?

 

4.

 

Lágrima tua, a primeira em meu sonho.

Um pouco a dor repousa em sua taça

de silêncio. Todos os escritos contidos

no inferno da memória – cantavas

a todo instante a morte que me tecia –,

no delito cruel do tempo, na insólita

trama de nossas vidas. Lágrima escura

do mundo, onde pressente o destino

culminar sua fortuna. Lamento oculto

da noite preparada em teu sonho.

Amor de presságios, lágrima impura.

Que cena me alcança agora? Palco

de sombras ao golpe de tua ausência:

um último verso preparo, antes de ti.

 

5.

 

Apega-se ao enxame de aparições a dama

fortuita, em fúrias insana, volátil em seus

passos, nos voleios de reconhecimento.

Estranhos os deuses da corrosão, espectros

da evidência, rasgos sazonais, páginas,

rugas, corpos celestes, o que mais teremos?

Tudo tomado em mímica, mudos gotejos,

um flagelo de epifanias. Treva indivisa,

o que torna-se rapina em cada letra, no sal

internado no pranto, estuário de agonias.

Quem nos chama no oceano do nome?

Deserdar a própria sorte, há que fazê-lo?

Ermas as figuras proféticas, suas túnicas,

pouco escapamos do abraço róseo do nada.

 

6.

 

Dentro da memória se guarda o amor

silencioso das cinzas. Um mar secreto

que nos invade em insistentes dobras

do tempo. Provo de tua imortalidade,

um cinema tecido entregue a orações:

dá-me teu amor, oh dá-me teu amor.

Lembra-me o poeta que a dor não

passa de um minuto. Nada se iguala

ao vento de tua voz, festa de sombras.

Outro corpo que se esboça em plena dor.

Capela severa do mar dentro da qual

escrevemos e os versos nunca retornam.

Secreto vínculo com o destino – oh dá-me

que não se encontra nunca em casa.

 

7.

 

Domínio inconstante de febres, um sinal

misterioso da alma urdindo tua ausência

para tornar a invadir-me. Toma-me o sangue

e nada se altera: o futuro não se guarda

no amor? – Tarde caindo no restaurante.

Contive teu corpo muito além da solidão.

Uma dor de ecos tecia seus mananciais.

Quanto de silêncio voa diante de nós

e não conhecemos sua voz. Aquário de raízes.

Dentro de uma lâmpada se projeta radiante

a memória do amor, incêndio que é um rio

dentro do fogo que nos banha uma única vez.

Devolve-nos o bosque a dor do pássaro,

o altar desfeito, a insidiosa luz na cela vazia.

 

8.

 

Invisíveis se arrastam os volumes

de tua ausência por entre os dias

com insustentável equilíbrio, lenta

caravana de objetos por entre as ruínas

de uma dor imóvel. Linhas de ossos,

elétricas em seus sinais, fervores agudos

em sombras de mármore ou sílex.

Paisagem dilatada pela frase ressoante:

o que escreves é pedra convertida

em secreta agonia. Dor da pedra

em soneto cinzelada. Flor do amor caído

em trapos. Firma-te gesso na ausência

de outra carne. Modelo em ti minha própria

queda. Mãos de nada. Branco ideograma.

 

9.

 

Sombra saturada de outras sombras,

ferida de memória na última pele do canto.

Perigo de letras caindo em outras mãos,

entre assombros escritos em pleno vácuo.

Tábuas cobertas de limo enquanto a alma

entregue aos tecidos ondulantes da dor,

ausência lavrada em tremores, vísceras

que são esboços de outro verbo. Versão

do sonho rompido em tréguas: rio

que sangra em mim, tudo em ti deságua.

Tais cenas roídas no espelho não retornam

com as páginas. São partes da vida

os rostos que não lembramos e o limo

de outra alma que retemos em plena queda.

 

10.

 

Dentro do que pude vê-las, desramadas

ao vento e na graça lasciva das sombras,

quantas foram ali, em ruídos esquivos,

na lida revolta do verbo? Quantas dentro

do sumo invisível do canto, tenebroso

pomar de afagos? Golpe de números,

ilusão recortada em tintas. Como sabê-las

no júbilo da ausência, inclinadas sempre

em goles, vislumbres, sopros e venenos?

Como retê-las em átomos refeitos do gozo?

Dar-lhes nomes, rogá-las, doar-lhes o fio

obscuro dos pronomes, prenúncio e átrio

de horrores? Torná-las cúmplices frívolas

dos suores humanos e suas fugas remidas?

 

11.

 

Desramadas as imagens, olhos sem templos,

perde-se a alma em quê? O homem não vai além

do orgulho da pena. Ingênuo o ar da troça,

corroendo a matéria já desfeita em si. Exaustos

dramas, engodos, afrescos do inferno, os versos

lentos. Dentro do que pude vê-los, quantos

lidam com a lenda que inspeciona o caos?

Estamos desaparecendo, dos lábios julgo haver

ouvido de uma delas. O que são? Névoas

da ramagem, o que faz com que caiam em si

e se desfaçam. Também os sentidos decaindo

hostilizam a própria queda. O que seremos,

naquilo que roemos? Tábuas ossos ramos,

ao menos um livro além de toda melancolia.

 

12.

 

Sumário voo de pequenas formas

dentro do vazio, miséria visível.

Áspera fortuna da luz que há

de nos tocar enquanto sejamos

os despojos de suas sombras.

Pele enrugada da idêntica pergunta

que tece há milênios em sua rota:

que gosto mantemos pela imagem

do homem cruzando seu abismo?

Que ouro do ser lapida em seu voo?

 

13.

 

Poetas duelam com o instante.

Sangram a memória enfurecida

em secretos golpes de agonia.

Não invocam senão quedas

ardendo em golpes giratórios.

Paisagem trêmula em seus gritos

oscilados em tristes vozes,

artificiais como a dor do tempo.

Duram o que dura a zelosa estampa

da glória mais alta dos acidentes.

 

14.

 

Algo nos torna mais que forma

dissolvida ou transfigurada

na matéria de nossos deslizes.

Respiro tua esquiva semelhança,

abres tua casa ao sigilo do nada.

Um grito imóvel, uma noite fixa

em seus próprios olhos, a terra

ilusória por trás de toda imagem.

O que refletimos não sabemos

se mera justiça ou dura asfixia.

 

15.

 

Wei Yin Wu temia que as trevas

fossem o desenho do coração,

que fosse a dor a casa do homem

e sangue a duração de seu êxodo.

Novos nomes doava a formas

já desfeitas em súbita memória.

O próprio rosto não reconhecia,

nem mesmo o fulgor de seu olhar.

Indagava atônito sobre a luz do dia,

certo de seus racimos ainda visíveis.

 

16.

 

Havia um poeta ali, bem ao lado

de uma górgona em lábios carmins,

dizendo-se entre o objeto e a palavra.

Traduzia o clamor da catástrofe,

agarrado às letras que havia salvo.

Por toda a parte, das cinzas

às cinzas, sussurros de areias e grifos

na recolha do mais óbvio da cena.

Sou a semente do visível [sua voz].

Seremos ainda feitos de letras?

 

17.

 

Algumas fotografias sobre a mesa,

irrecuperáveis dejetos do instante.

Ao limpar a casa o poeta se indaga:

– Só nos resta a raiz do cantar?

Dilui-se em dura duração de datas,

dopado pelo rigor da noite. Pedra

de luz que o capta em ocioso deslize

ao redor das sombras que tramam

para que não amanheça o cantor.

Visíveis os vestígios de cada limite.

 

18.

 

A caminho do abismo a palavra

indaga a suas letras: – o que busca

aquela que cai sobre si mesma?

Somos o centro do olho, a página

que muda à lei de sua consumição.

Dispersa-nos a pompa, a fraude

de imagens que não descarnam

a arquitetura que nos decompõe.

Espelho de cicatrizes solitárias,

buscamos a alma desfeita em corpo.

 

19.

 

Dentro do que vemos, prefiguradas pedras

em suas cavidades ígneas, quais pastores

se revelam no monólogo das súplicas?

Que seiva cessa na imitação do que lemos?

Pródiga a imagem que as envolve, lúbrico

o rastejo da língua, imensa a evidência.

Do paradoxo, o que saberemos? Das roídas

gravuras de seus corpos, cuja exaustão

derrama-se em desígnio de frêmitos, seios,

devassados papiros, proclama de ancas,

agulhas de sons e crivadas faces da angústia

de um tempo incomum, saberemos o quê?

Ao nome apega-se a voraz criatura, tomada

pelo livro das lamúrias, lido fora do leito.

 

20.

 

À luz das palavras de René Char

saímos a recolher alguns versos:

– somente as marcas fazem sonhar.

Não se sabe como um deus entra

em repouso ao toque de dois corpos.

O que invade a memória é o centro

de sua desolação. Devoro as sombras.

Crio as tuas carnes abertas ao vazio.

Tudo em ti me retrai e me nega.

Meu ser é a tua matéria caída em si.

 

RIGOR OCULTO

 

Por teus pelos, laminada figura, um labirinto atiçar, contido em cachos e sinuosas trilhas derramadas na planície arenosa da memória, copiosa e cálida, emaranhada em grácil épica a cavar e escavar buscando enlevo na frágua de outras ramagens esquecidas, libérrimas de si, um tufo de gozos, um tesouro fragmentado pela delicadeza com que se deixa roubar, texto cerzido, metáfora ungida, fios da volúpia enroscados em toda a trama do corpo, teu, sábia alucinada, acre ainda não palmilhado da loucura, guia fortuita do que perturba e anima, castra e repara, a perda do nome, o súbito levante do paradoxo, mulheres atracadas no pênis de eróticos rituais, o roubo da dor, seus homens tolos desmaiados ao pé da página, gatunos pífios, crimes sem letras, gramática empírica de mil-nenhuma combinações, modelos os mais céleres de encomenda a fugitivos ou angustiados pela desforra, caça ao lume de pelos de teu silêncio, em meio à rasura de gritos dos olhares, o púbis elegante como uma arqueada simpatia,

escolhe, descreve, nomeia,

clausura, ordena a mínima fruição de suas sombras,

ordenha a simetria da frase,

a cerimônia que se quer sempre última na troca de prazeres, a linguagem se despindo roçando a língua com seus meneios, última epifania manifesta por trás de cada peça que cai, as meninas com suas coxas florindo suspensões, seus pares mordendo a cena, ofegantes, picturais declínios, a mais rude sedução descrita e séculos e séculos esbatidos, buscando a nuança do irrisório, a máquina de cores, a poética atroz das cenas, retábulos do lugar-comum, feira de morfemas confessos, parricidas, a viagem escandida de teu púbis sobrando fraseado na noite de apóstrofes tardias, afloradas falas, virtudes da ironia, literatura de bolso que enuncia as falhas da fruição, os textos suicidas, a escrita de teu sexo vagando ruas, arruinando rusgas romanescas, luzes altas e espelhos retrovisores passam por ti, no espaço real que teu sexo ocupa, nicho da sedução estratificada, banquete mimético, orgia do ditado, recortados cenários segundo um fetiche de classes, sofrida religião do pesar, recolha de gozos e camarins divididos, os pálidos lábios tocados com a língua que pode lhes venerar ou devorar, crime da vacilação, pelos aborrecidos com a tipografia de umas dúvidas, confesso-as minhas, mercadoria taxada, a carne e a submissão, vítimas do espelho, cadeiras, velas, a seda barroca, deboche de tramas, ordem mínima do roubo de imagens, exigência insatisfeita, gigolôs do léxico fulminado pelo gozo,

teu cenário é uma impossibilidade,

um púbis desnudo inundando a pintura noturna das ruas,

texto devorado por sua retórica,

o sexo ali tão sujeito precário ao incesto de meus sentidos, fantasia desmontada pela crueza das virtudes localizadas, cito teu corpo, as migalhas de um relato de sombras insidiosas, és a louca à distância, o revés da agonia reverencial, do bom-tom dos vassalos pintados, libertinos de motel, por teus pelos se alarga a noite, vasta solidão propícia à iluminação, cesura da reiteração, o que beber, o que comer, nenhum corpo a ser escondido, seus lábios dançantes, sábios regentes, chacoalhando mínimas deferências, escrita refeita a partir das citações, louca confessa, os pelos líricos entrançando ironia e orgasmo, uma máquina de cores, uma escrita de cenas, o crime por identificação, o poema, o púbis salientando a noite, o preço dela, o meu, o de todos nós, nenhuma linguagem se despe à toa, em lâminas passas, passamos todos, trono servil, a frase que nos toca, toca-nos apenas por sermos seu ditado imperfeito.

 


 

 



A GRANDE OBRA DA CARNE

A poesia de Floriano Martins

  

1991 Cinzas do sol 

1991 Sábias areias 

1994 Tumultúmulos 

1998 A outra ponta do homem 

1998 Autorretrato 

1998 Os miseráveis tormentos da linguagem e as seduções do inferno nos instantes trágicos do amor de Barbus & Lozna 

2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]

2004 Antes da queda 

2004 Lusbet & o olho do abismo abundante 

2004 Prodígio das tintas 

2004 Rastros de um caracol 

2004 Sombras raptadas [Coroa] 

2004 Sombras raptadas [Cara] 

2004-2015 Estudos de pele 

2004-2017 Mecânica do abismo 

2005 A queda 

2005 Extravio de noites 

2006 A noite em tua pele impressa 

2006 Duas mentiras 

2006-2007 Autobiografia de um truque 

2007 Teatro impossível  

2008 Sobras de Deus

2008 Blacktown Hospital Bed 23 

2009-2010 Efígies suspeitas 

2010 Joias do abismo 

2010-2011 Antes que a árvore se feche 

2012 O livro invisível de William Burroughs

2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]

2013 Anatomia suspeita da realidade 

2013 My favorite things [com Manuel Iris]

2013 O piano andou bebendo 

2013 Sonho de uma última paixão 

2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória 

2014 Mobília de disfarces 

2014 O sol e as sombras 

2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil 

2015 Enigmas circulares 

2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]

2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]

2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]

2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]

2016 A mais antiga das noites 

2016 A vida acidental de Aurora Leonardos 

2016 Altares do caos 

2016 Breve história da magia 

2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]

2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos 

2017 O livro desmedido de William Blake

2017 Antigas formas do abandono 

2017 Labirintos clandestinos 

2017 Manuscrito das obsessões inexatas  

2017 O mais antigo dos dias 

2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]

2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra 

2018 Atlas revirado 

2018 Tabula rasa 

2018 Vestígios deleitosos do azar 

2021 Las mujeres desaparecidas

2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]

2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]

2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]

2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]

2023 A casa de Lenilde Fablas

2023 Caligrafias do espírito

2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]

2023 Inventário da pintura de uma época

2023 Letras del fuego [con Susana Wald]

2023 Representação consentida

2023 Primeiro verão longe de casa 


 

 

1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]

2013-2017 Manuscritos


 

 

Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.


 

 

OBRA POÉTICA PUBLICADA

 

Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.

Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.

Alma em chamasFortaleza: Letra & Música, 1998.

Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.

Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.

Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.

Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.

La noche impresa en tu pielTrad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.

Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.

Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.

Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.

A alma desfeita em corpoLisboa: Apenas Livros, 2009.

Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.

Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.

Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.

Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.

Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.

Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.

O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.

A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.

Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.

A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.

Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.

Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.

Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.

El frutero de los sueñosWilmington, USA: Generis Publishing, 2023.

Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.


 

 

Agulha Revista de Cultura

Criada por Floriano Martins

Dirigida por Elys Regina Zils

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/

1999-2024 

 


 

 


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