Quando a árvore caiu dos braços da menina
ela se recusou a descer novamente até lá.
ANÔNIMO
BLUE MOUNTAINS
As montanhas estão nuas, bem diante de
meus olhos.
Eu quase posso tocá-las. O azul reflete o
desejo do infinito.
Venha do céu, da terra, do lago, nada
está escrito no abismo.
Tuas mãos realçam o meu corpo, imerso na
vastidão
da camisa branca como uma pequena
obsessão do meio-dia.
Cultivas dinamites em meu ventre, e a
fortuna híbrida do desejo
que soletra meu ser como uma lua
ramificada na pele da noite.
Flores, borboletas, o rosto das casas,
tudo, tudo é azul no olhar do lagarto.
Eu bebo o teu orgasmo cinco vezes, e as
mulheres que saem de mim, todas elas,
mastigam o pasto despenteado de teu
mistério azul.
SOL ENTRANDO PELA JANELA
Os meus lábios buscavam um verbo nos teus.
A manhã não sabia por onde começar a despertar
a preguiça bailarina de teus movimentos.
Os lençóis estavam enramados com uma genealogia franca.
Tudo o que dizíamos uma para a outra
era o mais pleno escândalo da ternura.
O BARQUEIRO
Vistas do alto as nuvens
são como teu corpo
descansando na pradaria.
Tudo o que tenho feito
nos últimos dias é olhar.
Não escuto, não sinto cheiro,
o mundo não fala comigo
sem que permitam meus olhos.
A pele fica quieta, esquece,
por um momento que seja,
a pronúncia sutil do desejo.
Teu corpo descansa em mim,
sob um lençol de nuvens
que vejo da janela do avião.
HEMLOCK HALL
Quando escavei a pele do lago
encontrei
a sombra de uma cadeira de
balanço.
Estava certa de que se escavasse
um pouco mais
alcançaria a tua sombra
descrevendo a paisagem
vivamente impressa na borda do
tempo.
Eu quero te amar aqui, antes de
toda morte.
Sim, a minha avidez convoca teu
amor.
O lago parece ocultar um vulcão
em si.
O céu é um celeiro de relatos
por inventar.
Não quero morrer, porém se um
dia eu morro
não quero morrer em outra parte
do mundo.
THREE SISTERS
As três irmãs se chamam Clara,
Letícia, Sílvia.
Eu fiz amor com todas elas,
enquanto as pedras
embaralhavam os desígnios dessa
imensidão.
A cada orgasmo indagava: por que
nos tratamos
por nomes que ditos ou impressos
parecem trazer
sempre consigo uma história
distinta da nossa?
Quando estamos juntas eu sempre
perco meu nome,
envolta em um plano de taças e
noites avulsas.
Ou sempre sou uma delas, em nome
da trindade.
Às vezes penso que o amor, sendo
o que não se pode
apagar da memória, não deve se
restringir ao mito.
A litania deforma o culto, muda de lugar
a mobília,
o credo desossa a perspectiva de um gozo
melhor…
Quando esses pequenos limites se
multiplicam
Deus chega a mudar de nome por
insuspeito motivo.
Não dei tempo a mim mesma para
ser outra, mas
as três irmãs ali estão,
refeitas pela permanência.
MISÉRIA DO ABISMO
Abri a
tarde de um gole. De alto a baixo, em um segundo, o mundo que me trouxe aqui já
não sabia seu nome. Quando a vastidão é tão acidentada o salto não atinge ponto
algum. É como uma condenação ao abismo. A vida é uma preferência, com sua
harmonia improvável e o golpe de exploração do acaso. Se vou desaparecer aqui,
o verbo simplesmente se esquiva, sem sangue ou esperma, vômito ou lágrima, as
palavras não são vítimas ou cúmplices...
Ainda olho e olho, e não entendo bem o que me trouxe aqui. Uma última
reticência? Ser tragada por ela? Como um ridículo adeus triunfante? A vida não
vai a parte alguma. Nenhuma palavra é a última. Seguimos conversando. Quem sabe
eu descubra o que me trouxe aqui.
JENOLAN CAVES
Havia uma noite debaixo da cama.
Meu amor punha a mão nela antes de
me tocar.
Eu antecipava seus mamilos em meus
lábios.
Ela ria escrevendo no olhar que me
enfeitiçaria a noite inteira.
A noite debaixo da cama era um rio
de lava.
Meu amor plantava estrelas nos meus
olhos fechados.
Na primeira floração de meu orgasmo
a lua cobriu a entrada da caverna.
Eu me deixo abrir por seus dedos até
o abrigo mais íntimo.
Um prenúncio de chuva e anoite
debaixo da cama declara sua deriva incondicional.
A língua de meu amor jamais perderia
essa viagem.
EM PLENO OUTONO
O teu corpo descansava sobre o meu.
Os nossos rios conjugavam
uma pequena história
roubada à porta
de um último beijo.
Por mais abertas que estivessem as janelas
não havia nada lá fora.
Estávamos as duas em repouso
sem que outro nome pudesse conter
as sílabas de nossa luminosidade.
As formas que podemos agora dar a tanto gozo
são como sussurros do intangível.
Teus seios se amoldam aos meus
e o meu coração reconhece em si mesmo
o ritmo penetrante de tua paixão pelo indizível.
UMA ARTE POÉTICA
Eu não sei o que me fez começar a escrever.
Lembro que me beijavas as costas
e me disseste que noite alguma decifraria
tanta intimidade entre duas mulheres.
As tuas palavras revelaram uma lúbrica harmonia
que me levou a buscar uma imagem escrita.
Ao escrever sobre quem amamos
é como entregar-se ao amor de várias maneiras.
A QUEM PERTENCE O ESPELHO
Quando vieste para cá era de noite.
As poucas luzes ciciavam em nossa pele:
tudo ao redor apenas nos espreitava.
Pela manhã é que a vida recobrou sentido.
A nossa era uma ousadia sem temores:
tu me deixavas úmida só com o olhar.
Eu rabiscava na memória do impossível.
Tu me tocavas o íntimo de cada gemido:
eu ainda temia que o sol não pudesse entrar.
Tu me inundavas a carne de inspirações.
Não tínhamos maquiagem para mais nada:
mudaste o tempo em mim e suas reservas.
UMA PÉTALA DE SONHO
Um
dia sonhei que fosse possível que entrasses por ali.
Não
rias quando aponto a porta por onde tanto te esperei.
Os
versos acabam buscando a pena com que querem ser escritos.
Eu
olhava a minha vida soletrando as suas habilidades.
Se
soubesse então escrever não pouparia ansiedade.
Melhor
que tenhas vindo a mim por outra virtude.
Compreendo
hoje que a poesia não pode ser senão hábil prenúncio.
Tu
és a minha coisa em si e o sopro sutil de minha existência.
Estar
aqui recostada a teu corpo enquanto me tocas a nudez
é
como a gênese de um sonho que me ajudas a reconhecer.
PRIMEIRA CRÔNICA DA CRIAÇÃO
Eu
quero a indecência de tuas mãos em meus suspiros.
Quando
caminhávamos em roupas sutis pelas encostas de Palmácea,
a
paisagem abrindo suas virtudes à nossa maneira espontânea,
o
mundo parecia uma vidência que não dava trabalho algum a quem a visse.
A
folhagem da montanha se confundia com a delícia de nossa aprendizagem,
desconhecíamos
os pomares onde a linguagem fazia seus ninhos.
Éramos
a expressão e o fundo de toda a sofreguidão.
O
teu sorriso era lindo e eu me sentia eterna entregue às tuas carícias.
Não
creio que Deus tenha gozado tanto ao ver assim como eu seu mundo refeito.
NO CENTRO DO BOSQUE
Tu me ensinaste a abraçar as árvores.
Em tuas mãos cheguei a ser a paisagem.
Desfolhavas meu corpo entre beijos
e acenavas por detrás de ramos e galhos,
improvisando esconderijos em meus sítios.
Eu me tocava toda buscando onde estavas.
Em ti descobri a minha natureza selvagem.
SEGREDO DA ORAÇÃO
Deus do céu,
eu quero que gozes agora.
Não me leves tanto assim para longe de tudo.
Não posso falar por tantos abismos.
Louca do céu,
dá-me a realidade de teu sonho.
Toma para ti a volúpia de meus incertos prodígios.
Sou tua,
para que convulsiones o mundo
que criamos com nossas imagens.
A CADA AMOR UM DESAFIO
Todo
amor busca um nome.
Eu
brincava contigo que queria inventar um nome para cada afago teu em meu corpo.
Eras
a minha Elisa quando mergulhavas meus pés na água.
Não
pensava em outro nome que não fosse Clarice enquanto me mordiscavas o pescoço.
Lúcia
me dizia teu olhar quando tua língua me tocava os lábios da vagina.
Infinita
a possibilidade de confundir-te com uma multidão de mulheres em mim.
Não
sabes como ser única?
ENCANTO MUDO
Quando caminhamos pela cidade
todo meu corpo soluça por tuas mãos.
Parece um feitiço que ao estarmos em público
mais me aflige a ausência de tuas carícias.
Juntas inventamos sítios remotos
onde possas tocar meus seios sob a blusa
e me beijes a nuca e me cubras
os pentelhos com o calor de tua mão.
Tu escalas o tumulto de meu desejo.
Floresce em teus dedos esse torvelinho
que me dás a provar em meio à suspeita
de que alguém se aproxima de nós.
Então fingimos não estar ali e rimos.
Eu não poderia existir sem a tua loucura.
AS DORES DO ABAJUR
A
noite inteira em claro.
A
luz do abajur com suas garras desenhando estranhas figuras na parede de nosso
quarto.
Elas
me delatam, mascam meus sentidos.
Elas
me atormentam com suas máscaras, transbordam ficções de onde possas estar.
Mas
não me importa senão que não estejas aqui.
Digo
a mim mesma que não quero habitar o mundo dolorido de tua ausência.
Eu
sei que ainda te amo, porém o abajur
parece
não aceitar que jamais voltará a iluminar a tua nudez colada à minha.
CHAVE ESQUECIDA
Deixei
a câmara sobre o criado-mudo
e
simplesmente desmaiei de cansada.
Após
uma jornada intensa de trabalho
sequer
recordo se me despi ao deitar.
Ao
despertar a Canon estava ao lado de meu corpo nu.
Como
um mistério não costuma andar sozinho, liguei a câmara e me vi fotografada em
pleno sono:
o
corpo nu e docemente variado em posições como se alguém fizera de mim o ensaio
de sua querência.
Ante
a realidade da cena um pensamento me assalta:
quem
esteve aqui e de que maneira entrou?
Vi
a sequência das fotos, excitada pelos detalhes
com
que fui despida, e ali identifiquei uma assinatura:
como
me despias, como me tocavas, como ajeitavas
meu
corpo nu sobre a cama antes de me enlouquecer.
E
então recordei que quando te fostes levaste contigo
as
chaves de meu tesão, mas também as do apartamento.
RELICÁRIO
Ouvimos
Amy
Winehouse a noite toda.
Era
bom como dedilhavas algumas melodias em minha pele.
O
mundo está repleto de violência, meu amor.
Nós
mesmas podemos ser ocasionalmente violentas.
Eu
me sinto feliz aqui coladinha ao teu lado,
mas
sempre tenho medo do que o mundo me aponta.
Eu
tenho que ir à escola, pensar no que quero ser, depurar as gotas do dia.
O
mundo quer a gente já pronta, ali encaixada nele.
Eu
ainda não caibo em mundo algum.
Ainda
sou virgem e adoro que respeites isto em mim.
Eu
quero acreditar em um lugar em que eu me sinta bem.
Nem
posso te dizer: cuida de mim, pois eu
mesma tenho que fazê-lo.
Eu
vou, prometo a mim mesma.
VISLUMBRES ESCALDANTES
DA DISTÂNCIA ENTRE DOIS MUNDOS
Meus olhos crepitam dentro da
pintura de teu corpo avistado à distância.
Bosque vertiginoso aberto com sua
plumagem plena de úmidos sinais vitais.
Bosque atapetado pela mão dedicada
dos afagos.
Uma aranha visita o par de seios
montanhosos da visitante noturna e deixa neles o mel de seu relicário amoroso.
A aranha dos dias dentro das noites.
A pele avultando as marcas por onde
passa a aranha a caminho do biombo abissal de tuas pernas.
Aranha morando em teus cílios, nos
casebres suntuosos de teu desejo, na voragem alucinada de teus pelinhos, por
toda a relva ansiosa de teu corpo.
Aranha que bebe teus rios, tuas
estrelas soluçantes, teus enredos de floresta acidentada.
Os olhos nus com que me vês
disfarçado em tantas patas.
As luzes acesas em teus portos, em
tua carne de ilha sequiosa pela visita da aranha dos tempos mais recônditos,
dos barcos voadores, de minhas patas que rastejam tua pele em busca do mistério
de tantos gêiseres.
Aranha que percorre as nuvens de teu
gozo, as sombras de teus gemidos, o lacre do abismo com que me atiças um cesto
de encarnações.
Não tens ideia de quantas somos esta
noite, esta manhã colecionada por tuas noites, esses vapores sangrentos que me
fazes beber, essas vozes que surgem do íntimo de teu sexo acobertado pela
paixão cravejada de delícias, essas luzes que saltam de sua sombra frondosa, a
música que vou buscar nos bastidores de tua carne flamejante.
A aranha misteriosa que entra por
teu ventre e descobre uma trilha apegada a ele por onde quem sabe um dia venha
a sair o beijo negro que soluças como uma nova lei de teu bosque, o unguento de
tua língua curando as minhas patas, o ouro úmido de teus lábios.
A tua boca guardando o meu segredo
crescido unicamente para o reconhecimento de teu ser.
A tua saliva que bem sabe escorrer
por minhas patas quando abocanhas docemente cada uma delas antes que te
penetrem a escuridão do desejo.
A aranha que prenuncia a cascata
inesgotável de tuas pérolas.
As patas dos dias dentro das noites.
A tua caverna cintilante onde decido
minerar a suspeita de todos os mistérios do mundo.
ENCONTRO COM O ARQUIVISTA
Se consegues vir agora e olhar bem dentro,
um rio se espalha pela terra. Nós duas somos
grandes o suficiente para cruzar as margens
desse enigma empoleirado na miséria do ser.
A minha vida começou a rabiscar uns signos
famintos desde quando pesquei a tua sombra
na paisagem embaraçosa de meus vislumbres.
Levei ao fogo delicadas evidências, desejosa
de um nome que fosse o meu e o teu, acesos
ao ponto de um tempero comum, a ilusão
da viagem precisa entre delicados extremos.
CHEIA DE NOITE
Eu te esperei a noite inteira,
o meu desejo rondando a tua ausência,
cabana enluarada
com sua botija ao pé da sala.
Deves ter chegado eu já dormida,
exausta de tanto sonhar contigo.
Mesmo assim a minha pele ressequida
se refaz salpicada por tua saliva
e a tua língua ressuscita
o que há de bom em mim.
Quando eu me entrego
ao teu enredo vulcânico,
o meu corpo é teu e nos tornamos
uma só,
como um segredo
afinado de boca em boca.
Vem me olhar o céu em voo lascivo,
minha sonata com suas ervas delirantes,
minha chuva rosada.
Deixo escapar o teu nome:
rio que me bebe…
Vem me salgar a noite até que o mar espume.
Vem me foder até que a alma transborde.
LENDA DO ASSOALHO
Os dias continuam se desprendendo do calendário.
São como cicatrizes com asas e o alpiste secreto
que dá à plumagem uma cor impossível de olhar.
As minhas cores também se animam quando penso
em nossos dias disfarçadas de aves bicando o céu.
Ficamos bêbadas com o balanço da cadeira no ombro
espelhado do jardim e caímos pelo chão enquanto
todos permanecem de pé. As nossas asas imersas
na letra manuscrita do voo aviam o endereço da queda
impresso na pedra gasta. A tua voz sobre a minha,
como um cartão postal engatinhando, um pecado
amoroso repartido entre amigas ou a sorte lacrada
em uma boca devorando outra. Eu te ajudo a sair,
temos a sorte de estar presentes na vida de cada uma.
Ajuda-me também a ser completamente infantil.
NÉVOA NA ESCADARIA
A febre tem esse nome visitado ao acaso.
Se eu espalho meu corpo pela casa e quero
que me devotes a tua vida momentânea
a acariciar meus pentelhos, aproximar o céu
do convívio com meus mamilos, debulhar
gemidos no milharal…, hum, tens que vir.
Toca-me bem aqui, em minha vida obsessiva.
Tens que criar em mim uma espécie nova.
Não me importam mais os vícios de roleta,
que sejamos mulheres ou que sintas falta
de um homem em mim para te preencher.
Somos a única forma possível de amor
entre nós duas. Lá fora um estranho mundo
segue composto de anúncios & denúncias.
O mundo não muda nunca, desfigurado
ou refeito, é sempre um simulacro nosso.
ARRANHANDO O GRANDE VIDRO
Quando vi a cidade pela primeira vez
o teu corpo veio sobre o meu suspenso.
Sons se ramificavam como veias saltadas
em uma música repleta de instrumentos
cujas notas as formigas e as cigarras liam
como uma partitura há muito esquecida.
Estiveste aqui comigo em outra floração?
É bom sentir como te buscas fora de si,
como descreves uma relva em teu corpo
e fazes de mim a tua cidade iluminada.
Através de teus olhos os rostos ganham
outra feição a cada invenção da imagem.
Assim como o teu rosto, tens um nome
com outros entalhes, repleto de verbos
que sabem a forma quando amas ou não.
Seja vidro ou diamante, queda ou voo,
suor ou sono, sabes como eu te esqueço.
Calibro vultos até que o norte se desfaça.
Não voltarás jamais a outra cidade igual.
A AMANTE DADÁ
A
noite abriu uma cratera.
A
tua camisa branca no varal.
O
sol fazendo bailar a sombra de tua mão em meu ventre enquanto me depilas.
Dou
risadas quando me dizes é noite e
vejo o sol de esguelha, ou quando a minha pele treme de frio e insistes que
nosso convidado não tarda em chegar.
As
pontes redigiram uma cartilha de vícios: quem
me cruza quem me cruza quem me.
Eu
estava realmente interessada em cruzar o teu nome.
Chega
ou não chega, eu não saberei nunca com quem jantar.
Anda,
o que estamos fazendo é juntar dois mundos.
Eu
quero tornar os homens sensíveis.
À PROCURA DE SI MESMA
Suspeito
que somos levadas à devoção
pelo
abismo entre o lábio e sua sombra.
Tu
és o espectro entrelaçado em mim,
o
que sou antes que se anime o enigma
ou
se ressalte o tesão de meus lábios
pela
herança hermética de tua nudez.
Sob
o assalto de tuas figuras demoníacas
leio
a pintura teatral do quanto me abres.
Não
vem mais ninguém, eu só queria
que
me tocasses bem aqui, já sabes.
Eu
não represento sequer a mim mesma,
por
mais que ame o quanto me amas.
Um dia eu disse eu sou a
tua menina
e
desde então não sabes viver sem isto.
EM MINHA SOLIDÃO
Uma
noite passada dentro de outra.
Como
uma fábula que não se reconhece senão na magia de outro argumento.
Eu
rabisquei o teu nome em minha pele como se o mar pudesse apagá-lo a qualquer
instante.
Eu
não quero um único beijo teu que não me seja dado aqui, onde me tens toda nua
sem saber quem sou.
Tampouco
eu sei de mim e descobri-lo pode custar mais que um beijo.
Não
me deixes vagando no balanço de um convés imaginário, sem conter a expansão da
angústia.
Uma
noite soluça em meu ombro.
Outra
geme cúmplice das pernas.
Eu
me toco inteira buscando o abrigo de tuas mãos.
Disfarça-me
de tudo, menos de mim mesma, pois não quero voltar por aqui quando já tiveres
ido embora.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
∞
1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
∞
Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
∞
OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
∞
Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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