No espaço imenso
o que não está por acaso
está por engano.
CRUZEIRO
SEIXAS
1.
Medito sobre teu corpo
enquanto se extingue
uma única vela acesa.
Medito com Píndaro: sonho
de uma sombra o homem.
Vestígios de meu corpo
dentro do teu: bailado
de sombras impossíveis
que se confundem em cena
e se penetram mutuamente.
2.
Lábios de seda,
um plantio dentro da pele.
Se me amordaçasses ainda ouvirias o salmo de
minhas ânsias.
Pequenos lábios do mundo,
algazarra insepulta de falas que são lâminas de
falos e abismos:
uma linguagem de coxas,
trapézio mobiliado pelo desejo.
Lábios perversos que não se negam jamais.
Lençol que aturde os movimentos do sigilo que
acoberta.
Lanterna de lábios lavrando a cena a ser
escrita.
Por vezes o inferno não sabe onde cair:
será deserto como no princípio ou evocado por
débeis ratazanas viciadas na vida eterna de um laboratório?
Mandinga entranhada em cada sílaba,
o que dizem a mesma reza prelúdio gasto
sobretudo do acaso guarda-sóis devassados por falta de uso.
Tocas em mim,
lábios na pélvis no visgo que buscas:
o que haverá de mais visionário que o temor?
Sussurro em teus lábios maiores que punição
alguma me levará ao arrependimento de tocá-los.
Lutuosa harmonia de quantos beijos?
Açoites que planejam mechas em devaneios das
formas que se misturam entre si:
o impossível
lábio único intransitivo que ninguém o culpe por haver agido sozinho.
3.
Como te moves dentro de mim?
Arrasto-me em tua direção e danças
e te desdobras em sombras
que são a própria noite coberta pelo
desejo.
Todos nos deixamos embaraçar
por um atrito de vozes dentro delas,
uma arte de tocaia, ouro de enigmas.
Qual o argumento de tua volúpia?
O que me escreves no corpo
acaso não exagera tua figura?
Onde estará o centro dessa orgia
que levamos a público todas as noites?
O que importa? Danço com tuas sombras
e entrego-me a elas diferente de mim.
4.
O espelho no
canto rabisca tua imagem: um seio abusado sobre a página do livro que te dei: a magia do espelho quebrado é uma
longuíssima viagem sem regresso. O verso de Cruzeiro Seixas parece ter sido
escrito por meu desejo de que estivesses ali. Tão sinuosamente nua que me deixo
iludir pelo jogo de atalhos de teu corpo. O espelho me decifra um sombreado de
vertigens. O olhar provocando adivinhações: onde o pousarás, onde? Deixa-me ler
outro verso ante teus gemidos: no espaço
imenso o que não está por acaso está por engano. O espelho ainda ali,
enquanto gozamos. Suores emanam das páginas de um livro lido ao revés na pele
do espelho. Por vezes não sabemos se estamos chegando ou saindo. O abismo não
tem ponto. Mesmo o descanso de cena é um completo desatino.
5.
Todos os sonhos são interessantes?
O que se passa entre duas realidades
é tanto um inferno quanto um regozijo.
A vida cai pesadamente sobre quem recorda ou
não seus sonhos e ali nesse torvelinho de agruras e desencantos entre minúcias
de êxtases com ou sem consequências não há brevidade entre um abismo e outro e
se está voltando sempre a um engodo intransponível de abandonos e decepções à
paisagem fortuita viciada que sonho algum mais a reivindica.
Quem está aí?
(Segundo Louis
Aragon, era para ser o infinito: quem mais bateria à porta do poeta?)
O disfarce acaso me julga consciente
dessas ações?
O mistério é uma afirmação estética?
6.
Te viras para mim
em dois tempos. Recurvas o corpo de tal forma que ânus e olhos me encaram como
se eu fosse um petisco de tua cobiça. Um riso derramado sobre o rosto e a seda
mínima que te cobre manuscreve fibras do encanto. Te ris. A mão sobre um ombro
desnudo. Fiz várias fotos e me pergunto: por onde começo a corresponder a teu
olhar? Pela insinuação de que tempo e espaço se destorcem diante do desejo ou
porque teus olhos não dispensariam a cena vislumbrada? Mas tudo se dá em dois
tempos. Então a memória não é nada se não volta a concretizar-se. Rio contigo,
e beijo tua bunda deslumbrante.
7.
Onde estás, meu amor?
No engulho de quedas,
na dor de uma máscara sem rosto,
no dilema de espelhos à beira da
cegueira?
Onde estás? A retidão do ser
não corresponde à sinuosidade do
dilema.
O que descubro em ti é parte
do que perco dentro de mim:
ceia de fantasmas, a memória
servindo seus melhores pratos.
Não mora mais ninguém nessa casa.
Não somos mais parte de nada.
Reúno ações em busca de algo perdido.
Onde estás, meu amor?
8.
Compra-a para
teu gozo, disse-me o
pai, desejoso de livrar-se de uma viúva, ainda que sua filha fosse. E o fiz,
sem hesitar. Aqui me tens a teus pés,
senhor, disse-me a filha, disposta a servir à ceifa de aflições que me
velavam o corpo. A doce mulher parecia apegada a seu destino. Mantinha os olhos
vivazes sempre arregalados em busca de algo. Ao banhar-se, no antepasto, entre
óleos e vinhos, mesma doçura. E foi se servindo de tudo à volta, ela própria a
serva incomparável da aquilatada condição. Os olhos saltitantes, por vezes
longínquos, cadentes. Aos poucos compreendi: não era apenas queda ou sedutora
suavidade. Buscavam uma brecha onde voltasse a ser a infatigável dama do
abismo.
9.
O corpo está
tomado de véus
que são cortes profundos na pele
e são taças de um desastre
no bosque de teus sonhos:
o corpo folheado com seus recortes de
gozo
e estamparias laminadas que são
rabiscos
na pedra esboçada em teu ventre
e pentelhos de fogo como árvores que
se exibem
ante um derrame de vozes:
o corpo onde estavas quando a noite
entoava ventanias e um olho a
descoberto
engolia toda a paisagem imaginada:
o corpo em ruínas que se estreitam
a recompor vertigens que são nomes
inscritos
em aves rochosas que se chamam coxas
e um tropel de vultos ao passar de
páginas de teu corpo:
por noites te chamo mascando nomes
como um dilema febril a confundir
imagens
como credenciais a evocar rasgos
que anunciam a tormenta da
restauração:
o corpo se refazendo a cada anúncio do
fim.
10.
Agimos com palavras, e caímos em ardil
quando não as prezamos acima de tudo.
Não importa que seja a palavra
empenhada
em um jogo de cartas ou sobre o corpo
de uma puta. Que esteja escrita em
versos
ou em discursos de posse, nada a
diferencia.
A palavra dada antecede qualquer ação,
já o dissera um cavalo pela boca de
Tolstoi.
Construa ou destrua, tudo no homem se
define
por sua palavra. Concebe a Deus e se
põe
acima dele, porque assim está escrito.
E escrito está o que por vezes se
modifica.
Porém irremovível parece restar um
princípio:
a palavra valerá nada se não valer o
homem.
11.
Medito sobre teu corpo
enquanto se extingue
uma única vela acesa.
A sombra de
versos caindo sobre nós, hordas de angústia e dilemas, tuas pernas alucinadas
desenham um mote por onde começar a ruir toda a medida do mundo, sopa de
preâmbulos, chá de reservas, pernas multiplicadas em enlaces e desenlaces, um
clã de cicatrizes a projetar sombras queimantes, erupções de fálicos tormentos,
zona de incidentes vulgares, falas entrecortadas, atores com dificuldades em
relação à trama ensaiada, um pianista bêbado e a namorada encharcada de pó
desentoando a vontade de alguns darem por certo o valor daquela montagem, o
teatro despencando como uma casa abandonada, quedas sangrando de si, umas a
perguntarem-se onde cairemos se não há mais ninguém em parte alguma, e outras
querendo ouvir a mesma canção, vício de viagem, erma travessia de uma parte a
outra, o mundo sem sentido, os próprios versos agora a desabarem, nossos corpos
um único altar, todas as figuras de um sacrifício representadas por nós mesmos,
tu e eu, apenas tu e eu, meto-me em ti, a vela já de todo extinta, e gemes
esvoaçante ante o abismo que redesenhamos, caímos, caímos, os corpos não
vislumbram nada
além da queda,
e apenas assim
te crias dentro de mim,
assim unicamente
me descubro em ti,
os vestígios
somos nós, as sombras somos nós, o amor que temos um pelo outro, o mundo se
resume a uma declaração de amor, não há dúvida, desde que a palavra seja o
altar sagrado dos gestos, da afirmação de tudo quanto sentimos, e em tudo o que
desejamos há uma vertigem de extravios, astucioso dilema, enquanto teu rosto
descansa em minhas coxas indago sobre o que nos leva a escrever, a palavra
gasta, se acaso não deveríamos buscar uma outra forma de expressão, ris e gozas
e choras e te pões a imaginar estranhas figuras que nos visitam enquanto brinco
com teu corpo, em meio a tudo isto sabemos que:
nada,
não sabemos mais nada.
O futuro é apenas uma queda de imagem.
Tudo entre nós não passa de um susto.
As sombras se esgotam em si.
Estamos caindo do nada.
Cada minúcia de
queda é toda ela em seu apogeu.
Haverá uma noite?
Algo com que se
possa contar quando o extravio for tudo? Uma noite que despenque agora sobre
nós a confundir-se com pálpebras pesadas e moinhos de corpos, um absurdo
cálculo da intuição que nos faz sentir dor e se põe a rasgar páginas e páginas
de um livro que julgávamos escrito? Haverá a janela narrativa dos sonhos ou o
beiço sedutor de umas palavras escapadas em silêncio, algo que se anuncie com
aquele estupor do ar de que falava
René Char? Ao que parece, os caminhos se abrem a toque de perdas, o
descobrir-se é um ritmo vertiginoso de desfazimentos, assim te amo, assim me
amas. Medito sobre teu corpo enquanto se extingue uma única vela acesa. A noite
banha-se através dos signos que a martirizam: seja noite,
em oculta pele de palavras
descobertas,
cálice de revelações,
ecos dançarinos
de dobras irreconhecíveis de
corpos sugados pela veneração, viagem excêntrica do enlevo que são débeis
figuras diante do espelho de faces que caminham entre gemidos e estremecem o
vértice de códigos e mensagens mais simples do que a morte que nunca é a mesma
em parte alguma. Um amor assim?,
indagaria o poeta recolhido em seu abandono. Sim, poeta, um amor assim, não um
amor aproximativo, um amor com aspecto igual à queimação de suas vísceras.
Para que a noite caia em seus
vislumbres infernais.
Os rostos não se fazem ouvir de todo,
e queimam-se irritados.
Tanto entusiasmo para reter coisas e
nenhum para equilibrar tal dano.
Vozes gastas em elogio, precária
despedida do ser.
Umas tantas sílabas trêmulas era todo
o espólio da noite concentrada
em desfazer-se de si.
Medito sobre teu corpo
enquanto se extingue
uma
única vela acesa.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
∞
1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
∞
Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
∞
OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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