um dia cala o vento
que desce sozinho da montanha
com um gemido humano.
MATSI CHATZILAZAROU
LEGADO DE CINZAS (ESTER)
Por inúmeros
vales deitei teu corpo e eras a rocha, a água rara, o sonho, a lã da fábula.
Meus pés acalmavam-se em teu regato, ouro maior do que todos os barrotes com os
quais um dia ergui meu reino. Iluminavas o escuro escancarado com teu archote
de plumas e o riso dos olhos insuflados pelo espanto com que eu seguia cerzindo
nossa caminhada. Imagens davam voltas ao redor de um único enxame de visões,
sempre as mesmas e tuas, que me arrastavam de um recanto a outro das vozes que
eram deuses se desfazendo de todas as cores e verbos e antigos sabores. E em
tudo eras o que perdi: a virtude dos dias.
Em que condições se deve julgar um
homem?
Remirá pelos ermos de seu banimento, e
ali
eliminará de sua memória os atos que o
levaram
ao catre? De que valerá o julgamento?
A pena
santifica ou martiriza? O martírio
sagra ou apenas
suplicia? Imensos os cabelos e a voz
profunda,
como jamais se ouvira. Uma pausa
medida
e logo seguia: quantas dádivas nos
negamos
enquanto condenamos alguém por crimes
dos quais todos somos cúmplices?
Sacrifícios
de que ordem resgatam o convívio
perdido?
O que esperar de homens que se sentem
justos
ao julgarem alheio o que lhes cala tão
íntimo?
Quantos a terão ouvido, em sua única
visita?
Por todo o reino
se diz que era ela a seduzir o tempo a encurvar-se e tornar-se as aduelas dos
tonéis em que se banhava no mais tinto vinho trazido por suas moças e eunucos.
Ela, a pobre ajoelhada diante de todos os reis, as vestes rasgadas, sem estirpe
e dona de terra alguma, tornou-se uma entristecida rainha, coberta de pranto e
jejum, cinza e lamentação. Dizem que foi ter com muitos servos em quase todas
as províncias, e que o próprio rei teria designado alguns a confortá-la. Nada
lhe dava livramento ou mínimo socorro. Nada podia extrair de si, tamanho o
desterro que lhe reservara pai ou mãe. Isto nunca se sabe.
Quantas vezes
tua, altíssimo, me caberá ser? Sabes que guardarei silêncio, e que saberei ser
tua impassível rainha, enquanto os inimigos se alvoroçam e erguem a cabeça os
odiosos. Dizem de mim, de longe se escuta: afastem-na,
pois ela o conforta; destruam-na, somente ela o legitima; amedrontem-na, de
outra não vem seu vigor imbatível. Serás lembrado, meu rei, como a chama
que incendeia as montanhas. Contudo, turva-me a visão tamanho assombro,
envenena-me a alma um caldo conturbado. Ontem li um decreto em que me
penitencias: para sempre salvo o que me perder estará, perdido será todo aquele
que me ouse salvar.
Tomo a pedra de tua boca. Não és mais
o poço onde vem beber meu rebanho.
Por sete anos esperei teu entendimento
sobre a terra que carrego em meu ventre.
O que mais, pasto, reserva, manada?
Com quantas mulheres te deitarás,
supondo que estarei em cada uma delas?
Por quantos multiplicarás outros sete
anos,
até que te conforte a razão e percebas
que sou apenas aquelas que jamais
tiveste?
Que dote desprezível, o teu, marido
meu.
Um mistério que não compreendes,
um azar, um capricho de deuses, tudo,
menos a soberba ante o que não
mereces.
Posso te servir
agora, por uma última vez, meu amo? Não te lembrarás de vinho tão apurado, ave
mais tenra ou teorema que equivalha ao sorriso com que tempero tua última ceia.
Não te assustes, querido, sou eu que me vou. Muitos pratos terás, em mãos de
outras servas que te amarão, que tanto amor é o que mais me perturba, crente
pedinte, que sempre temeu a fortuna, e agora diante de ti, que a tudo
ressuscita, me assusto com meus olhos caídos em luz diante do que nunca pude
ver em mim. Não posso senão servir-te por uma última vez que me doa e nunca
mais me suplicie.
Noites caem sobre
a terra como um legado, figuras fortuitas de um desejo que não fora jamais
conquistado. Com que propósito passa o tempo? O que espero de um gnomo acaso
será o mesmo fruto que me dará a goiabeira? Temos colecionado vultos, cobiça de
epígrafes de sombras que dão um falso entendimento acerca de nossa vida: umas
promessas solenes, vaidades inconclusas, vulgares desesperações. Se inclinas
teu coração para ouvir o que espera de ti o próximo, verás que tua justiça se
trai em cada pulso, requebro, susto ou satisfação. Não terás que ir tão longe
buscar tua herança. O que te cabe não é um negócio. É tua vida.
LÁBIOS DA FÉ (MADALENA)
Como não lembrar
de ti em minhas orações se em teus braços encontrei não a consolação e o gozo
prometidos, mas antes uns destroços de tudo o que imaginei um dia poder vir a
ser? Deus está em teu corpo, recordo
que me dizias, quando me tinhas nua e desaguada em ti. E a todos me exibias: eis nossa querida irmã, que um dia terá com
todos os santos. O que fui, senão tua prisioneira, bastarda e incestuosa,
crente pusilânime de que o prazer reanima a fé? Rogo à memória que não te
esqueça, irmão. Quem sabe assim me recupero ante o suplício que foi haver me
entregue aos teus caprichos, certa de que trazias contigo um deus sem dano.
Um dia iremos todas daqui, à
meia-noite, justo quando te enlevas com a benevolência que te dedicamos, o
quinhão de graças a que nos condenas, nós, as tuas mulheres banhadas em fétidas
poções de ódio, nós, as negociadas, espancadas, vilipendiadas, todas nós, um
dia iremos daqui, à meia-noite. Cada uma delas,
por muitas e muitas noites, entoava esse estranho cântico ainda no leito de seu
homem (fosse ele rei ou mercador), enquanto se vestiam, a tez enojada com o
rito a que há muito vinham se submetendo. Elas, as mulheres de todos os dias
(princesas ou escravas), afligidas pela fé, em nome de Deus.
Qual é a tua
seita, profeta? Diante de qual fé te curvas? Vê bem o que faço: pequenas
pedras. Ponho a cabeça entre as mãos e fico horas a imaginar o que leva um
homem a esculpir pequenas pedras. Então me falas em dízimo, nobre profeta. Devo
confortar tua algibeira por sua benevolência em aceitar minha crença? Louvado
sejas, porque tenho olhado por noites enfiadas no tempo para essas pequenas
pedras, sem encontrar jamais o sentido de seu entalhe. Estava para seguir teus
passos, senhor, quando minha jovem esposa, em sua clara imprudência, indagou
pelo sentido de tua algibeira. Uma vez mais pus a cabeça entre as mãos, risível
profeta.
Que nudez
descobrirás? Qual delas profanarás? Até quando deverei sustentar a fé se te
mostras desonrando minhas filhas, chagando minhas irmãs? Misturas meu sangue em
tantos enlevos e exaltações, que já não sei quantas eu sou, em tantas mulheres
desaguada. Deus, meu Deus, quantas serei para ti? Descobrirás a mim ou a ti em
tanto leito desfeito? Quantas vezes serei a única, a serva, a estéril, a cega,
a última, a pastora, a desterrada, a memória? Quantas vestes eu tiro de mim, e
sofro ao te pensar meu pai, irmão, um cunhado, um amigo, sobrinho? Uma nudez
sem tamanho se apodera de meu corpo e já não sei quem és, meu Deus, mas temo saber,
sim, que não me serás jamais. E então me cubro.
Desde que me entendo, resisto à dúvida
de teu testamento. Crença e padecimento, não me pus em pranto por qualquer
flanco. Jamais. Me encontro entre meus afazeres, tosa, plantio, moenda,
orgasmo, já um firme instrumento de tua misericórdia. Prova alguma, por mais
contrária, afligirá a causa que é minha e que é tua. Sou tua serva, sim. Tais palavras foram lembradas no enterro
daquela que havia sido a mais virtuosa dentre todas as escravas da fé.
Escrevera a oração com um punho convicto, longe de toda hesitação. Com igual
firmeza, em tortura, teve o corpo dilatado a infiel.
Um pouco de luz
deverá manter alerta a trama da escuridão. Por um momento apenas haverá
importância em não se poder identificar o servo. Nada aflige a cena. Um nome,
um gesto, nada. Assim o que julgamos ser a verdade ou a mentira. E tudo o que
nos parece ser uma coisa ou outra, torna-se real guardado pelas palavras que
lhes são corpo e espírito. Pesa o verbo, sempre o mesmo. Agora o identifico.
Tua pele queima meus dedos. Em sua combustão, sucumbem juízo e ciência, apelos
de fé, regozijo ante o mistério, preceitos. Como resguardar a palavra sem seu
sentido, extraviar o corpo sem dor, a alma sem nela crer? Talvez haja como
deleitar-se distante de sua lei.
Caem-me os dias
como uma lâmina a buscar no corte seu único encanto. O sol, o reinado, a
palavra, o testemunho da fé. Esquentar a água para o café não pode ser uma
afronta a deus algum. Na isolada chácara em que se reúnem, acaso as leis dão
continuidade a seus termos? Cerco-me de galinhas, grãos, utensílios e parte de
tudo isto é minha dúvida acerca da variação dos dias. Quantas vezes súdita
terei que ser para justificar o dia de um rei? Quanto pão, meu senhor, cabe na
boca de tua insana fome? Todo dia esquento a água para o café. Todo dia me
pedes para confiar em tua palavra. Sabes o gosto do que faço. Saberei o teu?
Ainda assim, não conversas comigo sobre nada.
VORAZ ASCENDÊNCIA (MARIA)
Quem pode
ouvir-lhe a voz na sinagoga? Quem pode ouvi-lo em si mesmo? Talvez não tenha
filhos, mas decerto entre nós estarão sua mãe, irmãs, cunhadas. Ouçamos-lhe a
voz. Nos é dada com tamanha sabedoria, que seria uma lástima não questioná-la.
Como é possível a um profeta perder a honra justo entre os seus? Em tal crença,
o que terá falhado? Ouçamos-lhe a voz. Não pode se resumir a enfermidade e
arrependimento. Não, não pode ser apenas julgamento. Os demônios não teriam
onde morar, senão em nós. E anjos são tão solitários quanto. Ouçamos-lhe a voz.
Quer que nos deitemos todos, irmãos e irmãs, anjos e demônios, a mesma dádiva
multiplicada.
Sentamos em volta
do que se propôs a narrar as realizações que melhor definem nossa época.
Palavra bem cuidada, como se em plena ciência da verdade. E ali uma vez mais evocou
o anjo cujo desígnio era fecundar as mulheres estéreis. E como preço cabia a
tudo o que se fazia, anjo e narrador cuidavam de exigir igual moeda. Exigência
sutil, a da fé, em seu invisível santuário. O relato de uma visão pode cessar
todo opróbrio. A miséria do mundo se extingue ante o golpe da misericórdia
divina. Narrador e personagem garantem a redenção pelo impossível. Meu filho me
foi doado pelo esplendor de minha ilusão. Por vezes o vejo como uma dolorosa
sombra.
Por que então me
criaste e povoaste teu mundo com tamanha incidência de minha esterilidade?
Quase todos os teus filhos são gerados em amas, escravas, servas, cegas,
pastoras, desterradas, mulheres de deus, viciadas, mendigas de si, poucos os
que concebi diretamente. Não serei por muito tempo mais tuas inúmeras
inomináveis. Me arrasto por mil crenças, me debato, noites a fio, em uma cela
tão recolhida do tempo, que jamais a poderás encontrar. E ali tremo e
desfaleço, em parte pelo suplício, em parte pelo regozijo, orando ao
imaginário, invectivado por ti tantas vezes, sem que desses por conta, trapo
loquaz, que não serás Deus enquanto não fores homem.
Ergo teu rosto e
em pranto desfaz-se a voz de tudo o quanto acreditei ser fôlego de meu ventre.
Como pedir aos filhos que retornem ao íntimo do visgo que os viu nascer?
Voltem, lindos, voltem. Não mais podem ser meus, queridos. Sepulto a mim mesma.
Sinto-me velha demais para seguir meu próprio cortejo. Um parente ceifa a ceia
da memória, os mortos não dizem mais nada. Então me pus a respingar remissão,
como um desgaste de mim mesma, sem mais um filho que fosse. Pus-me deitada aos
pés de um insondável vazio, possível deus de algo. O que mais cumpri ao
desfazer-me de mim? Em que me prejudica a dúvida que não a fé?
Fome a fome da
terra. Homem o que desce de si e cai em fome. De seu nome, o que sobra? Ao não
entendê-lo, governam os juízes do nome. Assim os dias tecem reinado e queda.
Quando tudo se torna vulgar, qualquer que seja o peso dado como insustentável,
convoca-se um conselho de peregrinos. Como
casar nossas filhas? Quais novos reinos buscar? Como livrar-se de conquistas
sem préstimos? De volta ao pão cuja massa é repartida por infâmia e
desamparo. Não vos quero por benevolência. Com os diabos, que tonta a
primogênita ao buscar descanso em pleno confronto. Não recolho seus restos.
Temos um embarque a reforçar, meu genro e eu.
Precisamos de um
nome. Devemos uma torre edificar, uma cidade, e nada supera o betume de um
nome, sólida argamassa. Os tijolos seremos nós mesmos. Mas precisamos de um nome.
E que todos saibam seu significado. Não importa com que idade geramos os
filhos, se antes ou depois da grande catástrofe. Importa educar as crianças na
mesma linguagem, a de todos, e para isto precisa haver uma. Não darei a esta
torre-cidade o nome da outra que a precedeu. Quatro séculos viveu o patriarca,
gerando filhos, porém nunca se entenderam entre si. Precisamos, sei, de um
nome. Que seja o meu, o teu, outro, mas que falem todos os filhos a mesma
língua.
Tuas palavras me
confortam e sou quantas são as tuas palavras. Sei que sou o refúgio de uma
vertigem sublimada. Esteve comigo dias atrás uma irmã mais nova, arrancada de
seus filhos. Crianças foram tiradas de mães, entregues aos mares, aos
prostíbulos, a Deus. O que é astúcia ou falsidade quando se perde tudo? Nenhum
valor escapa à angústia de seu extravio. O que mais aborrece a fé? Não há mesmo
escudo suficiente para o que seja. Tive meus sobrinhos vendidos conforme a
palavra que tanto nos amparou, uma chama que parecia irradiar a mais nobre esperança.
Serás tanto minha escória que temes teu juízo?
SILENTES SUPLÍCIOS (MARTA)
Com o que
afianças meus débitos? Carneiros, moendas, eunucos, pequenas naus. Ao ter-me um
de teus opressores, espoja-se o velhaco entre suores e uns óleos fétidos de
seus hábitos, rindo e tossindo o porco verme sicário diante de meu infortúnio.
E leva dali consigo a posse de uma escuna ou de um carnaubal. Em trapos rogo a
Deus que me poupe do sentido abjeto de sua retidão. Para o abismo é que
dirigimos nossos passos. Vejo teus olhos profundamente tristes, tomados de dor
e vexame. Preparo-me uma vez mais, banho e adornos aos cuidados de duas moças
que tiveram a língua decepada. Qual fé leva em conta a dor de quem a professa?
De que te lembras? Fui conduzida ao leito em que se mostrava
vulto solene ante a morte. Insistiu: de
que te lembras? Entre olhares quebrados pela dor e surpresos com a cena,
nada encontrei por dizer, exceto a letra de meu próprio espanto. No entanto, a
voz, no que ainda possuía de mais firme, soava: de que te lembras? E desta vez esclarecia tratar-se mesmo de um
último pedido: tu és, entre todas, a que
jamais esquece. Já não me lembro de nada. Então me digas, de que te lembras? Assim o terei guardado, meu rei,
que até o sopro final da vida prezou a memória. Eis do que me lembro.
Que me valha a
fome de teu ser e tantos livros às costas. Por onde te arrasta evoco teu nome.
És a grande errância que me ilude. Será tua a virtude de a tudo experimentar,
sem que nada falte ou sobre, padecendo ou regozijando-se por tais desígnios.
Bem sei o quanto podes ser todas elas, as mulheres de que necessito e que me
negam a igreja por mim fundada. Não me pedes jamais aflição ou dádiva. Te
entregas a teus livros, a manuscrevê-los como uma fortuna secreta. Nunca te vi
em lágrimas e meu gozo recebes como uma bênção. Me anima ser o princípio de tua
escrita, embora me valha mais o gozo.
Todos os que
retornamos agora do enterro, de alguma maneira o sabemos: não há dor tão
veemente quanto o desfazer-se do ímpeto de tocar o tambor. Como prosternar-se
ante uma perda tamanha? Lágrimas tamborilam e possuem um ritmo próprio. De onde
caem tantas mulheres? Como pode ser o paraíso, descrito em textos muitos, um
velar da alegria? Qual morte? Nada, nada me impede o toque do corpo no
espírito, o ribombar do que se espera de si e se enfrenta com vigor. Então não
choremos tão consternadamente. O morto decerto lamenta muito mais por nós. À
morte lhe cabe mais tambor do que pranto.
Irei com este
homem, o cântaro sobre meu ombro, sem que o perceba. Que anunciem a quem
couber: irei com este homem. Noites serão as noites que passarei a fingir
aquela que ele sonha para si. Espírito mais amargo, decerto, não haverá texto
que o mostre. Mas digam a todos que vou quase sorrindo, com o cântaro sobre o
ombro, ciente apesar de que fortuna ali jamais encontrarei. Peço que não
indaguem nunca por tal escolha, pois de nada servirá dizer que um dia sonhei
com meu corpo sendo enterrado por este com quem agora me caso. Um pacto talvez
com o que queria de mim, mais cedo ou tarde.
Que te cales e
apenas me escutes, por todos os dias em que aqui estiveres. Não me terás a
repetir o que bem sei poderás aprender por teus próprios cuidados. Se não o
fazes, decerto que em tua longínqua terra alguém o entenderá. Porém não estás
em tua pátria, e aqui terás que seguir o que se decreta, sendo minhas as ordens
que indicam ser tua tarefa acompanhar-me as servas por tantos recantos quanto
venham as mesmas a percorrer, não deixando de relatar o que lhes passou ao
final de cada turno. E que sejas o mais breve nos relatos, pois tua voz não me
soa bem, embora reconheça a fidelidade dos castrados.
E surgiram
tantas, agarradas aos ramos da fé, padioleiras gentis, servas de seu desamparo.
Nada ilude mais do que o inconcebível, dogma de bastardos, desprezíveis,
estéreis, uns coxos, vilipendiados, réus de sua própria parvoíce, párias de
reino algum, toda a sorte de coitados, a grande tralha humana dos inválidos, a
quem umas resignadas tolas dedicaram a eloquência de sua fé. Não se pode
acreditar em demasia. Em nossa vida tão reles, nada suporta o excesso, a imensa
dor que se apodera de tudo aquilo que já não podemos conter. Será nossa tarefa
fazer com que essas almas padeçam menos, que não se lastimem tanto de serem o
que são.
ÁTRIO DAS PALAVRAS (RAQUEL)
Deito-me contigo
e o que ouço não passa de estatutos, pobres tábuas de um coração que há muito
não se entrega ao que não seja acordo, mandamento, selada ordenança. Que
riquezas buscam as palavras em teu ser? Quais preceitos pretendes ensinar com
lábios tão medidos, testemunhos tão repisados? Como posso esconder tua palavra em
meu íntimo? Bem vês que trago comigo um leque de inquietas indagações. Assim
deveria ser com teus caminhos que se querem purificados. Meu corpo se enrosca
no teu e logo se desfaz o laço que tanto poderia durar. Acaso não vês que tanta
norma ilude o veio do que almejas?
Até quando posso confiar em tuas
palavras?
Me pedes que busque a salvação em teu nome,
que me desfaleça, aguarde, vagueie, me deixe
esquecer por todos. Iludo-me crendo na visão
de teus encantos, e atenta sigo teus preceitos.
Para os desenganados, devo abrir covas largas.
E entrego meu corpo a todos que o necessitem.
Uma vez mais padeço e aguardo e me torno
nada, uma réstia, uma sombra perturbada,
até que me canse e indague pelos sete prantos
de minha alma exânime: um dia me
consolarás?
Abro a mão e persigo as trilhas de meu destino.
Perco-me ali tantas vezes, que já não distingo
meu único suplício: quando me consolarás
tu?
O que me cumpre
fazer senão ouvir palavras de tua resignação e ensino? O que é justo não se
guarda de toda justiça. O que é ímpio cabe em sua própria impiedade. O que
exortas acaso não é o mesmo que admoestas? Quais as más obras? Releio
pergaminhos, intrigo-me entre provérbios. A que taça te referes como sendo tua,
se o sangue é meu? Cumpro aqui o derrame de uma perda anunciada, padeço tanta
mácula em meu corpo, em minha alma. Chego a pensar que não suportas tua
doutrina e queres a mim impingir. Não és juiz de nada. Nem me tornarás tua
vítima, padre. Sento-me para te ouvir, mas não dizes outra coisa senão a pedra
de teu reino.
Um pequeno
silêncio se abria no tempo. À maneira de um salmo ou de um epigrama? Ouve tua
voz, vigília da noite, uma súplica impossível de se atender. No alvor da manhã
requeres o que não repartes com ninguém. Quantas palavras estão tomadas de
malícia? Apenas aquelas que proferem teu coração. Tu és louvor e ironia
concentrados na baba de um discurso que corrói os testemunhos daquilo que
fundas. De que ris? Manuscritos rotos dão conta de um clamor frustrado, um
trapo de memória. Quantas vezes pedi a ti, meu rei, que levasses em conta o
desvelo dessas vozes silenciosas que não te aceitam.
Longas as manhãs
refletidas sobre o apego de tua alma ao pó. Meu corpo quebrado pelo açoite de
gozos, descaminhos descritos em tudo o que julgamos aprender, palavras que são
a maravilha e o infortúnio, a água e o fôlego interrompido. Como ser fiel a ti,
sem que me envergonhe disto? Perene aflição consome tudo de mim. Já não sei o
quanto te mereço ou o que posso vir a ser descrendo de tanto enlevo, obscuro
arrebatamento. Minha carne padece de tantas leis, tratados que não a vivificam,
trilhas que a distanciam do âmago que um dia poderia alcançar. Minha carne não
crê em ti, indigente deus.
Confundem-se esquecimento e desprezo.
O que ordeno se investe de valor consumível.
Ri-me de suas palavras enquanto o banhava. Como nenhum outro, sabia
molestar-me, com seus suores que pareciam não me levar em conta. Angústia e
adversidade são pedras de um jogo que busca a fidelidade última do engano. E me
exibias as costas para que o lavasse, a pele consumida em falsa retidão. Quão
pequena sou ante o furor de um rei que adquiriu a esposa em troca de um porto
que deu aos inimigos a conquista de parte de seu próprio reino? Sua lei é a
verdade. Sua justiça, não nos cabe dúvida, será eterna.
Sonho contigo e
de longe escuto repetidas vezes teu nome. Aquilo
que indigna reanima, li em uma tábua que recusava o preceito de que alguma
terra fosse inóspita ao plantio. Imprecações não criam regras. O que tenho
arranco de mim mesma. Assaltam-me tuas palavras tomadas por uma espera cega, a
fé no que viria de uma maneira ou de outra. Estive entre traças, gafanhotos e
azinhavre. Lutei contra pulgas, desamores, reprimendas. Tudo me caía por terra
e algo ainda me iludia: os dias que virão. Não virão nunca ou deixarão de vir
jamais. Ideia mais tola crer no homem como domínio absoluto do que lhe cerca.
ÚLTIMOS VISLUMBRES (RUTE)
Tenho que esperar que te salves.
Disto depende minha própria vida.
Trilho tua causa como um tormento,
ajusto regozijo e despojo como fios
que unem testemunhos e preceitos.
Aos que amam tua lei, digo que sim,
que sigam com as tuas ordenanças.
Aos que se julgam tolos na discórdia,
insisto que refaçam seu pensamento.
E dissuado uns poucos que tropeçam
ante os mandamentos de teu saber.
Deito-me diante de ti todas as noites.
Abro meus caminhos. Sou toda tua.
E ponho-me a esperar que te salves.
Sim, ele esteve comigo, duas ou três
vezes, não me recordo de todo. Dói-me sabê-lo morto. Pior ainda assim como me
dizes. Quando o vi pela primeira vez, estava exausto de uma larga caminhada.
Tinha algumas feridas nos ombros e no peito. Lembro haver comentado que eu
houvesse contido minha curiosidade. [Chora] Nunca lhe perguntei nada. Seu corpo era tão
doce, a um tempo sereno e cheio de mistério. Não haveria jamais outro homem
assim. Não. [As lágrimas lhe tomam o rosto] O que queres, afinal? [Pausa]
O que diabos isto importa agora? Sempre soube que jamais o teria para mim. Que
descanse em paz, não sendo de ninguém.
O que tenho a te
dizer o farei por uma única vez. Que não te açoite o arrependimento por não
teres dado ouvido a minhas súplicas. Põe-te atento, meu senhor, ao livro de
registro de crônicas. Ali verás que foste arrolado inúmeras vezes, e em todas
elas na condição de traidor de teu povo. Os que te denunciam decerto são os
mesmos que vêm atentando contra tua vida, e mesma ainda a razão de tudo isto.
Um homem não tem a quem agradar ou honrar senão a si mesmo. E se o faz,
torna-se súdito, desamparado de toda dignidade. Eis o que te digo, então,
marido: de nada valerá tua aliança a um judeu, pois todos cairão, de uma forma
ou de outra, e consigo te arrastarão, sempre.
Se crês em mim, que entres em minha
casa. Por muito tempo a lenda tinha por tal
frase sua chave única. Dois frades, havendo salvo uma rameira de um impiedoso
apedrejamento, foram por ela convidados a visitar-lhe a casa. A recusa pôs em
dúvida a candura da mulher, acusada de roubo de ovelhas cujo sangue bebia em
adivinhações. Em toda a larga peregrinação dos frades, dádiva alguma voltaram a
alcançar. Foram vítimas de troças e truculências, subornos e prevaricações.
Morto um deles, o outro retornou à aldeia onde vivia a rameira, que o acolheu
repisando: Se crês em mim, que entres em
minha casa.
Não te aborreças
comigo, tecelã. Admiro tuas cobertas, a púrpura eloquente das saias, a
fronteira que cozes entre o que vislumbras e realizas. Leio em teu olhar o que
não está na maciez dos tecidos. Bem sei que estarias melhor em teus mistérios
se outras fossem as vestes ou mesmo se estivesses sem elas. Que levo comigo,
hábil tecelã, senão títulos e dobrões? O que vale tudo isso a um nobre se não
encontra quem cirza seus prazeres? Já me dirás que serves a Deus e a teu
esposo. Deus habita a nobreza e o clero, e a ambos roga ósculos teu marido. Não
hesites, comigo somarás ao que já é teu o que mais desejares.
Ao abrir a boca e
arquejar, saltam-lhe dentro insondáveis códigos que são o fio e a trilha de
todas as quedas. O que há ali? Salamandras regurgitadas rumorejam algo sobre as
asas arrancadas, salafrários saem como de uma festa, mancas tartarugas ainda
com o mundo às costas e um cortejo de instrumentos desafinados, sim – como
esquecer? –, por ali também vi passar uns párocos sombrios que arrastavam pelos
pés jovens nuas resignadas em um estranho êxtase, o sexo às escâncaras com
peixes fosforescentes iluminando a passarela estendida a cada arquejo. O que há
ali? Não será assim com todas elas, prenúncio de benevolente sabedoria na
língua?
Com o que me
esmagas? Ao me enroscar em teus braços, me pões a girar por todo um tablado de
lisonjas. Simples serva do mal, outra coisa não serei? Saudai minha entrega, a
doutrina de escândalos de meus ritmos. Saudai, gracioso parceiro, pois sou
também tua graça, flâmula, carta, mandato, o que mais te avoluma o dote,
desejoso tesoureiro meu, pássaro bicando minhocas. Como podes ver, com tão singelas
dissensões me esmagas. Rogo-vos então a saúde para que comportes a guarda de
tantos mistérios, a urna que possa recolher evangelho e pregação de tua
profecia. Me esmagas? O que é de ti quando me largas?
DESTINO DOS NOMES (SARA)
O nome repetido,
aos pedaços ou por inteiro, vezes inúmeras, quem saberia prever, estancar? Aqui
se indaga demais, e talvez por terra se vá muito do que jamais seria obtido por
consulta. Um ventre fruteiro é tudo de que precisa um rei. Povoar a terra em seu
mistério único, a fonte de tanta desventura que não comunga, em prato ou
templo, com a fartura que se mostra e logo se torna invisível, uma fagulha do
desejo, quase uma pena por se estar tão distante do que se vê. Meu nome
repetido, no acorda, acorda, cântico
que se lava em degraus, escadarias de açoite, se me bates tanto cego, nada
prevejo, alma e pó, nem mesmo tua ruína, a dispensar-me o augúrio.
A quantas
recomendar? Quantas deverão ser saudadas? Quais as dignas, as que têm sido o
amparo de muitos? Daremos um único nome a todas elas. As que trabalham por nós.
Somos os amados, guerreiros, apóstolos, parentes, cúmplices. Sabemos a
diferença entre o ósculo e o escândalo. Recomendamos às mais astutas, às que
aprenderam a arte da lisonja, doutas na doutrina da concórdia. Serão elas
saudadas como uma lua brilhante banhando o reino. Não poderiam mesmo ter mais
de um nome, na pregação e na guarda de nossos segredos. Assim como lhes demos o
dom da obediência, um dia será delas toda a glória fugidia.
Haverá sempre uma
mesma ágora de dúvidas: de onde surge o nome, o que forma o juízo, o que alegra
e aflige o espírito, qual a fidelidade benigna, a misericórdia mais terna… Um
oráculo subvertido em diletante jogo, o mesmo sempre. O que pode haver de
retidão ante a ansiedade? Não importa que eu seja uma letra, um nome, uma
mulher, não. Meu desamparo conforma teu deleite. Jamais serei temida ou
louvada. O que tenho comigo são os teus mandamentos. Queres que eu sangre, ria,
lamente, ah senhor, tens tudo já contigo, por que diabos humilhar ainda mais a
mim? Que importa agora a ágora, se o que esperas do que sou já o tens definido?
O que te peço?
Que assines teu nome aqui, onde aponto a ordem, a tinta, a santa mesa. Que nome
queres? Os nomes não dizem nada. Já te
falei dos limites da perfeição e seu revés. Minhas palavras estão firmadas no
céu. Para sempre permanecerás em meu leito. Em angústia foi se transtornando
todo gozo. Sempre me repetia as mesmas falas, provérbios da soberba, do
desvario. Quantos de si ousaria fundar sem que um suplantasse o outro? Até
quando seria o cafetão de si mesmo? O homem mal sobrevive ao acaso. Tamanha
conjectura tem sido o enfado real de lamúrias e traições. Como não tens nome?
Pois te arrumo um já.
Apenas uma parte
de teu nome pude conhecer e com ela deitar-me por cem noites, azeite e mel na
pedra do tempo. Uma parte que seja, com ela se faz uma vida, com seu plano de
açoites e dores na cela, imensa e nenhuma, em que te guardas da outra metade
que ainda virá, o sabes, reclamar ouro e forno. Agora que te vejo por inteira,
pronuncio teu nome com a parte que o afirma. Passado e presente na prosa
eloquente que os une. Tantos receios caídos por terra, um martírio de vozes em
tua pele, sintomas, suores, sinais, simetrias, a sinuosidade contida, que uma
letra, não mais do que uma, pode tornar fervente, corpo ungido ao espírito, a
seu apetite imenso.
Escava a areia de teu próprio nome.
Há ali letras demais e nenhum filho.
Desfaz-te do acúmulo que te soterra.
Mas não te apresses em temores.
Será tua a água sagrada, novo reino
encontrarás em outro ventre,
por mais que avilte o texto, a lenda
que entre lágrimas no catre cuidas.
Escava, desenterra o que sobra em ti,
que é também o que falta à duração
de teus melhores dias, a prenhez
do pasto em que sacias as mil dores
de um povo que se perde no nome
sem que lhe decifre jamais o enigma.
Quantos são teus
nomes? Quantas máscaras adornando rostos e lendas, confundindo reis e súditos?
Uma deusa a que te assemelhas quase todos os povos possuem. Para muitos, és a
fecundidade, o júbilo da vegetação e do ser. Porém todas as tuas origens, como
teu próprio nome, são arbitrárias. De onde vens, quase deusa, ilusória? Reia,
Cibele, Astarte, Afrodite, Ishtar, e que lugar terias entre nós, se nunca
sabemos em que rosto estás, qual teu corpo, cheiro e destino? Nenhum povo soube
entender a extensão de teu mistério. Senhora de todos, dama a mais errante, que
importa quem sejas? Teu verdadeiro nome para sempre está perdido.
∞
A GRANDE OBRA DA CARNE
A poesia de Floriano Martins
1991 Cinzas do sol
1991 Sábias areias
1994 Tumultúmulos
1998 Autorretrato
2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]
2004 Antes da queda
2004 Lusbet & o olho do abismo abundante
2004 Prodígio das tintas
2004-2015 Estudos de pele
2004-2017 Mecânica do abismo
2005 A queda
2005 Extravio de noites
2006 A noite em tua pele impressa
2006 Duas mentiras
2006-2007 Autobiografia de um truque
2007 Teatro impossível
2008 Sobras de Deus
2008 Blacktown Hospital Bed 23
2009-2010 Efígies suspeitas
2010 Joias do abismo
2010-2011 Antes que a árvore se feche
2012 O livro invisível de William Burroughs
2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]
2013 Anatomia suspeita da realidade
2013 My favorite things [com Manuel Iris]
2013 Sonho de uma última paixão
2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória
2014 Mobília de disfarces
2014 O sol e as sombras
2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil
2015 Enigmas circulares
2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]
2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]
2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]
2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]
2016 A vida acidental de Aurora Leonardos
2016 Altares do caos
2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]
2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos
2017 O livro desmedido de William Blake
2017 Antigas formas do abandono
2017 Manuscrito das obsessões inexatas
2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]
2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra
2018 Atlas revirado
2018 Tabula rasa
2018 Vestígios deleitosos do azar
2021 Las mujeres desaparecidas
2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]
2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]
2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]
2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]
2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]
2023 Inventário da pintura de uma época
2023 Letras del fuego [con Susana Wald]
2023 Primeiro verão longe de casa
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1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]
2013-2017 Manuscritos
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Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.
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OBRA POÉTICA PUBLICADA
Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.
Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.
Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2. The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.
Alma em chamas. Fortaleza: Letra & Música, 1998.
Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.
Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.
Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.
Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.
La noche impresa en tu piel. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.
Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.
Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.
Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.
A alma desfeita em corpo. Lisboa: Apenas Livros, 2009.
Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.
Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.
Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.
Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.
Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.
Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.
O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.
A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.
Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.
Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.
A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.
Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.
Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.
Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.
Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.
El frutero de los sueños. Wilmington, USA: Generis Publishing, 2023.
Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.
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Agulha Revista de Cultura
Criada por Floriano Martins
Dirigida por Elys Regina Zils
https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/
1999-2024
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