sábado, 22 de abril de 2023

A GRANDE OBRA DA CARNE | Sombras raptadas [Cara]

 

 

um dia cala o vento que desce sozinho da montanha

com um gemido humano.

MATSI CHATZILAZAROU

 

LEGADO DE CINZAS (ESTER)

 

Por inúmeros vales deitei teu corpo e eras a rocha, a água rara, o sonho, a lã da fábula. Meus pés acalmavam-se em teu regato, ouro maior do que todos os barrotes com os quais um dia ergui meu reino. Iluminavas o escuro escancarado com teu archote de plumas e o riso dos olhos insuflados pelo espanto com que eu seguia cerzindo nossa caminhada. Imagens davam voltas ao redor de um único enxame de visões, sempre as mesmas e tuas, que me arrastavam de um recanto a outro das vozes que eram deuses se desfazendo de todas as cores e verbos e antigos sabores. E em tudo eras o que perdi: a virtude dos dias.

 

Em que condições se deve julgar um homem?

Remirá pelos ermos de seu banimento, e ali

eliminará de sua memória os atos que o levaram

ao catre? De que valerá o julgamento? A pena

santifica ou martiriza? O martírio sagra ou apenas

suplicia? Imensos os cabelos e a voz profunda,

como jamais se ouvira. Uma pausa medida

e logo seguia: quantas dádivas nos negamos

enquanto condenamos alguém por crimes

dos quais todos somos cúmplices? Sacrifícios

de que ordem resgatam o convívio perdido?

O que esperar de homens que se sentem justos

ao julgarem alheio o que lhes cala tão íntimo?

Quantos a terão ouvido, em sua única visita?

 

Por todo o reino se diz que era ela a seduzir o tempo a encurvar-se e tornar-se as aduelas dos tonéis em que se banhava no mais tinto vinho trazido por suas moças e eunucos. Ela, a pobre ajoelhada diante de todos os reis, as vestes rasgadas, sem estirpe e dona de terra alguma, tornou-se uma entristecida rainha, coberta de pranto e jejum, cinza e lamentação. Dizem que foi ter com muitos servos em quase todas as províncias, e que o próprio rei teria designado alguns a confortá-la. Nada lhe dava livramento ou mínimo socorro. Nada podia extrair de si, tamanho o desterro que lhe reservara pai ou mãe. Isto nunca se sabe.

 

Quantas vezes tua, altíssimo, me caberá ser? Sabes que guardarei silêncio, e que saberei ser tua impassível rainha, enquanto os inimigos se alvoroçam e erguem a cabeça os odiosos. Dizem de mim, de longe se escuta: afastem-na, pois ela o conforta; destruam-na, somente ela o legitima; amedrontem-na, de outra não vem seu vigor imbatível. Serás lembrado, meu rei, como a chama que incendeia as montanhas. Contudo, turva-me a visão tamanho assombro, envenena-me a alma um caldo conturbado. Ontem li um decreto em que me penitencias: para sempre salvo o que me perder estará, perdido será todo aquele que me ouse salvar.

 

Tomo a pedra de tua boca. Não és mais

o poço onde vem beber meu rebanho.

Por sete anos esperei teu entendimento

sobre a terra que carrego em meu ventre.

O que mais, pasto, reserva, manada?

Com quantas mulheres te deitarás,

supondo que estarei em cada uma delas?

Por quantos multiplicarás outros sete anos,

até que te conforte a razão e percebas

que sou apenas aquelas que jamais tiveste?

Que dote desprezível, o teu, marido meu.

Um mistério que não compreendes,

um azar, um capricho de deuses, tudo,

menos a soberba ante o que não mereces.

 

Posso te servir agora, por uma última vez, meu amo? Não te lembrarás de vinho tão apurado, ave mais tenra ou teorema que equivalha ao sorriso com que tempero tua última ceia. Não te assustes, querido, sou eu que me vou. Muitos pratos terás, em mãos de outras servas que te amarão, que tanto amor é o que mais me perturba, crente pedinte, que sempre temeu a fortuna, e agora diante de ti, que a tudo ressuscita, me assusto com meus olhos caídos em luz diante do que nunca pude ver em mim. Não posso senão servir-te por uma última vez que me doa e nunca mais me suplicie.

 

Noites caem sobre a terra como um legado, figuras fortuitas de um desejo que não fora jamais conquistado. Com que propósito passa o tempo? O que espero de um gnomo acaso será o mesmo fruto que me dará a goiabeira? Temos colecionado vultos, cobiça de epígrafes de sombras que dão um falso entendimento acerca de nossa vida: umas promessas solenes, vaidades inconclusas, vulgares desesperações. Se inclinas teu coração para ouvir o que espera de ti o próximo, verás que tua justiça se trai em cada pulso, requebro, susto ou satisfação. Não terás que ir tão longe buscar tua herança. O que te cabe não é um negócio. É tua vida.

 

 

LÁBIOS DA FÉ (MADALENA)

 

Como não lembrar de ti em minhas orações se em teus braços encontrei não a consolação e o gozo prometidos, mas antes uns destroços de tudo o que imaginei um dia poder vir a ser? Deus está em teu corpo, recordo que me dizias, quando me tinhas nua e desaguada em ti. E a todos me exibias: eis nossa querida irmã, que um dia terá com todos os santos. O que fui, senão tua prisioneira, bastarda e incestuosa, crente pusilânime de que o prazer reanima a fé? Rogo à memória que não te esqueça, irmão. Quem sabe assim me recupero ante o suplício que foi haver me entregue aos teus caprichos, certa de que trazias contigo um deus sem dano.

 

Um dia iremos todas daqui, à meia-noite, justo quando te enlevas com a benevolência que te dedicamos, o quinhão de graças a que nos condenas, nós, as tuas mulheres banhadas em fétidas poções de ódio, nós, as negociadas, espancadas, vilipendiadas, todas nós, um dia iremos daqui, à meia-noite. Cada uma delas, por muitas e muitas noites, entoava esse estranho cântico ainda no leito de seu homem (fosse ele rei ou mercador), enquanto se vestiam, a tez enojada com o rito a que há muito vinham se submetendo. Elas, as mulheres de todos os dias (princesas ou escravas), afligidas pela fé, em nome de Deus.

 

Qual é a tua seita, profeta? Diante de qual fé te curvas? Vê bem o que faço: pequenas pedras. Ponho a cabeça entre as mãos e fico horas a imaginar o que leva um homem a esculpir pequenas pedras. Então me falas em dízimo, nobre profeta. Devo confortar tua algibeira por sua benevolência em aceitar minha crença? Louvado sejas, porque tenho olhado por noites enfiadas no tempo para essas pequenas pedras, sem encontrar jamais o sentido de seu entalhe. Estava para seguir teus passos, senhor, quando minha jovem esposa, em sua clara imprudência, indagou pelo sentido de tua algibeira. Uma vez mais pus a cabeça entre as mãos, risível profeta.

 

Que nudez descobrirás? Qual delas profanarás? Até quando deverei sustentar a fé se te mostras desonrando minhas filhas, chagando minhas irmãs? Misturas meu sangue em tantos enlevos e exaltações, que já não sei quantas eu sou, em tantas mulheres desaguada. Deus, meu Deus, quantas serei para ti? Descobrirás a mim ou a ti em tanto leito desfeito? Quantas vezes serei a única, a serva, a estéril, a cega, a última, a pastora, a desterrada, a memória? Quantas vestes eu tiro de mim, e sofro ao te pensar meu pai, irmão, um cunhado, um amigo, sobrinho? Uma nudez sem tamanho se apodera de meu corpo e já não sei quem és, meu Deus, mas temo saber, sim, que não me serás jamais. E então me cubro.

 

Desde que me entendo, resisto à dúvida de teu testamento. Crença e padecimento, não me pus em pranto por qualquer flanco. Jamais. Me encontro entre meus afazeres, tosa, plantio, moenda, orgasmo, já um firme instrumento de tua misericórdia. Prova alguma, por mais contrária, afligirá a causa que é minha e que é tua. Sou tua serva, sim. Tais palavras foram lembradas no enterro daquela que havia sido a mais virtuosa dentre todas as escravas da fé. Escrevera a oração com um punho convicto, longe de toda hesitação. Com igual firmeza, em tortura, teve o corpo dilatado a infiel.

 

Um pouco de luz deverá manter alerta a trama da escuridão. Por um momento apenas haverá importância em não se poder identificar o servo. Nada aflige a cena. Um nome, um gesto, nada. Assim o que julgamos ser a verdade ou a mentira. E tudo o que nos parece ser uma coisa ou outra, torna-se real guardado pelas palavras que lhes são corpo e espírito. Pesa o verbo, sempre o mesmo. Agora o identifico. Tua pele queima meus dedos. Em sua combustão, sucumbem juízo e ciência, apelos de fé, regozijo ante o mistério, preceitos. Como resguardar a palavra sem seu sentido, extraviar o corpo sem dor, a alma sem nela crer? Talvez haja como deleitar-se distante de sua lei.

 

Caem-me os dias como uma lâmina a buscar no corte seu único encanto. O sol, o reinado, a palavra, o testemunho da fé. Esquentar a água para o café não pode ser uma afronta a deus algum. Na isolada chácara em que se reúnem, acaso as leis dão continuidade a seus termos? Cerco-me de galinhas, grãos, utensílios e parte de tudo isto é minha dúvida acerca da variação dos dias. Quantas vezes súdita terei que ser para justificar o dia de um rei? Quanto pão, meu senhor, cabe na boca de tua insana fome? Todo dia esquento a água para o café. Todo dia me pedes para confiar em tua palavra. Sabes o gosto do que faço. Saberei o teu? Ainda assim, não conversas comigo sobre nada.

 

 

VORAZ ASCENDÊNCIA (MARIA)

 

Quem pode ouvir-lhe a voz na sinagoga? Quem pode ouvi-lo em si mesmo? Talvez não tenha filhos, mas decerto entre nós estarão sua mãe, irmãs, cunhadas. Ouçamos-lhe a voz. Nos é dada com tamanha sabedoria, que seria uma lástima não questioná-la. Como é possível a um profeta perder a honra justo entre os seus? Em tal crença, o que terá falhado? Ouçamos-lhe a voz. Não pode se resumir a enfermidade e arrependimento. Não, não pode ser apenas julgamento. Os demônios não teriam onde morar, senão em nós. E anjos são tão solitários quanto. Ouçamos-lhe a voz. Quer que nos deitemos todos, irmãos e irmãs, anjos e demônios, a mesma dádiva multiplicada.

 

Sentamos em volta do que se propôs a narrar as realizações que melhor definem nossa época. Palavra bem cuidada, como se em plena ciência da verdade. E ali uma vez mais evocou o anjo cujo desígnio era fecundar as mulheres estéreis. E como preço cabia a tudo o que se fazia, anjo e narrador cuidavam de exigir igual moeda. Exigência sutil, a da fé, em seu invisível santuário. O relato de uma visão pode cessar todo opróbrio. A miséria do mundo se extingue ante o golpe da misericórdia divina. Narrador e personagem garantem a redenção pelo impossível. Meu filho me foi doado pelo esplendor de minha ilusão. Por vezes o vejo como uma dolorosa sombra.

 

Por que então me criaste e povoaste teu mundo com tamanha incidência de minha esterilidade? Quase todos os teus filhos são gerados em amas, escravas, servas, cegas, pastoras, desterradas, mulheres de deus, viciadas, mendigas de si, poucos os que concebi diretamente. Não serei por muito tempo mais tuas inúmeras inomináveis. Me arrasto por mil crenças, me debato, noites a fio, em uma cela tão recolhida do tempo, que jamais a poderás encontrar. E ali tremo e desfaleço, em parte pelo suplício, em parte pelo regozijo, orando ao imaginário, invectivado por ti tantas vezes, sem que desses por conta, trapo loquaz, que não serás Deus enquanto não fores homem.

 

Ergo teu rosto e em pranto desfaz-se a voz de tudo o quanto acreditei ser fôlego de meu ventre. Como pedir aos filhos que retornem ao íntimo do visgo que os viu nascer? Voltem, lindos, voltem. Não mais podem ser meus, queridos. Sepulto a mim mesma. Sinto-me velha demais para seguir meu próprio cortejo. Um parente ceifa a ceia da memória, os mortos não dizem mais nada. Então me pus a respingar remissão, como um desgaste de mim mesma, sem mais um filho que fosse. Pus-me deitada aos pés de um insondável vazio, possível deus de algo. O que mais cumpri ao desfazer-me de mim? Em que me prejudica a dúvida que não a fé?

 

Fome a fome da terra. Homem o que desce de si e cai em fome. De seu nome, o que sobra? Ao não entendê-lo, governam os juízes do nome. Assim os dias tecem reinado e queda. Quando tudo se torna vulgar, qualquer que seja o peso dado como insustentável, convoca-se um conselho de peregrinos. Como casar nossas filhas? Quais novos reinos buscar? Como livrar-se de conquistas sem préstimos? De volta ao pão cuja massa é repartida por infâmia e desamparo. Não vos quero por benevolência. Com os diabos, que tonta a primogênita ao buscar descanso em pleno confronto. Não recolho seus restos. Temos um embarque a reforçar, meu genro e eu.

 

Precisamos de um nome. Devemos uma torre edificar, uma cidade, e nada supera o betume de um nome, sólida argamassa. Os tijolos seremos nós mesmos. Mas precisamos de um nome. E que todos saibam seu significado. Não importa com que idade geramos os filhos, se antes ou depois da grande catástrofe. Importa educar as crianças na mesma linguagem, a de todos, e para isto precisa haver uma. Não darei a esta torre-cidade o nome da outra que a precedeu. Quatro séculos viveu o patriarca, gerando filhos, porém nunca se entenderam entre si. Precisamos, sei, de um nome. Que seja o meu, o teu, outro, mas que falem todos os filhos a mesma língua.

 

Tuas palavras me confortam e sou quantas são as tuas palavras. Sei que sou o refúgio de uma vertigem sublimada. Esteve comigo dias atrás uma irmã mais nova, arrancada de seus filhos. Crianças foram tiradas de mães, entregues aos mares, aos prostíbulos, a Deus. O que é astúcia ou falsidade quando se perde tudo? Nenhum valor escapa à angústia de seu extravio. O que mais aborrece a fé? Não há mesmo escudo suficiente para o que seja. Tive meus sobrinhos vendidos conforme a palavra que tanto nos amparou, uma chama que parecia irradiar a mais nobre esperança. Serás tanto minha escória que temes teu juízo?

 

 

SILENTES SUPLÍCIOS (MARTA)

 

Com o que afianças meus débitos? Carneiros, moendas, eunucos, pequenas naus. Ao ter-me um de teus opressores, espoja-se o velhaco entre suores e uns óleos fétidos de seus hábitos, rindo e tossindo o porco verme sicário diante de meu infortúnio. E leva dali consigo a posse de uma escuna ou de um carnaubal. Em trapos rogo a Deus que me poupe do sentido abjeto de sua retidão. Para o abismo é que dirigimos nossos passos. Vejo teus olhos profundamente tristes, tomados de dor e vexame. Preparo-me uma vez mais, banho e adornos aos cuidados de duas moças que tiveram a língua decepada. Qual fé leva em conta a dor de quem a professa?

 

De que te lembras? Fui conduzida ao leito em que se mostrava vulto solene ante a morte. Insistiu: de que te lembras? Entre olhares quebrados pela dor e surpresos com a cena, nada encontrei por dizer, exceto a letra de meu próprio espanto. No entanto, a voz, no que ainda possuía de mais firme, soava: de que te lembras? E desta vez esclarecia tratar-se mesmo de um último pedido: tu és, entre todas, a que jamais esquece. Já não me lembro de nada. Então me digas, de que te lembras? Assim o terei guardado, meu rei, que até o sopro final da vida prezou a memória. Eis do que me lembro.

 

Que me valha a fome de teu ser e tantos livros às costas. Por onde te arrasta evoco teu nome. És a grande errância que me ilude. Será tua a virtude de a tudo experimentar, sem que nada falte ou sobre, padecendo ou regozijando-se por tais desígnios. Bem sei o quanto podes ser todas elas, as mulheres de que necessito e que me negam a igreja por mim fundada. Não me pedes jamais aflição ou dádiva. Te entregas a teus livros, a manuscrevê-los como uma fortuna secreta. Nunca te vi em lágrimas e meu gozo recebes como uma bênção. Me anima ser o princípio de tua escrita, embora me valha mais o gozo.

 

Todos os que retornamos agora do enterro, de alguma maneira o sabemos: não há dor tão veemente quanto o desfazer-se do ímpeto de tocar o tambor. Como prosternar-se ante uma perda tamanha? Lágrimas tamborilam e possuem um ritmo próprio. De onde caem tantas mulheres? Como pode ser o paraíso, descrito em textos muitos, um velar da alegria? Qual morte? Nada, nada me impede o toque do corpo no espírito, o ribombar do que se espera de si e se enfrenta com vigor. Então não choremos tão consternadamente. O morto decerto lamenta muito mais por nós. À morte lhe cabe mais tambor do que pranto.

 

Irei com este homem, o cântaro sobre meu ombro, sem que o perceba. Que anunciem a quem couber: irei com este homem. Noites serão as noites que passarei a fingir aquela que ele sonha para si. Espírito mais amargo, decerto, não haverá texto que o mostre. Mas digam a todos que vou quase sorrindo, com o cântaro sobre o ombro, ciente apesar de que fortuna ali jamais encontrarei. Peço que não indaguem nunca por tal escolha, pois de nada servirá dizer que um dia sonhei com meu corpo sendo enterrado por este com quem agora me caso. Um pacto talvez com o que queria de mim, mais cedo ou tarde.

 

Que te cales e apenas me escutes, por todos os dias em que aqui estiveres. Não me terás a repetir o que bem sei poderás aprender por teus próprios cuidados. Se não o fazes, decerto que em tua longínqua terra alguém o entenderá. Porém não estás em tua pátria, e aqui terás que seguir o que se decreta, sendo minhas as ordens que indicam ser tua tarefa acompanhar-me as servas por tantos recantos quanto venham as mesmas a percorrer, não deixando de relatar o que lhes passou ao final de cada turno. E que sejas o mais breve nos relatos, pois tua voz não me soa bem, embora reconheça a fidelidade dos castrados.

 

E surgiram tantas, agarradas aos ramos da fé, padioleiras gentis, servas de seu desamparo. Nada ilude mais do que o inconcebível, dogma de bastardos, desprezíveis, estéreis, uns coxos, vilipendiados, réus de sua própria parvoíce, párias de reino algum, toda a sorte de coitados, a grande tralha humana dos inválidos, a quem umas resignadas tolas dedicaram a eloquência de sua fé. Não se pode acreditar em demasia. Em nossa vida tão reles, nada suporta o excesso, a imensa dor que se apodera de tudo aquilo que já não podemos conter. Será nossa tarefa fazer com que essas almas padeçam menos, que não se lastimem tanto de serem o que são.

 

 

ÁTRIO DAS PALAVRAS (RAQUEL)

 

Deito-me contigo e o que ouço não passa de estatutos, pobres tábuas de um coração que há muito não se entrega ao que não seja acordo, mandamento, selada ordenança. Que riquezas buscam as palavras em teu ser? Quais preceitos pretendes ensinar com lábios tão medidos, testemunhos tão repisados? Como posso esconder tua palavra em meu íntimo? Bem vês que trago comigo um leque de inquietas indagações. Assim deveria ser com teus caminhos que se querem purificados. Meu corpo se enrosca no teu e logo se desfaz o laço que tanto poderia durar. Acaso não vês que tanta norma ilude o veio do que almejas?

 

Até quando posso confiar em tuas palavras?
Me pedes que busque a salvação em teu nome,
que me desfaleça, aguarde, vagueie, me deixe
esquecer por todos. Iludo-me crendo na visão
de teus encantos, e atenta sigo teus preceitos.
Para os desenganados, devo abrir covas largas.
E entrego meu corpo a todos que o necessitem.
Uma vez mais padeço e aguardo e me torno
nada, uma réstia, uma sombra perturbada,
até que me canse e indague pelos sete prantos
de minha alma exânime: um dia me consolarás?
Abro a mão e persigo as trilhas de meu destino.
Perco-me ali tantas vezes, que já não distingo
meu único suplício: quando me consolarás tu?

 

O que me cumpre fazer senão ouvir palavras de tua resignação e ensino? O que é justo não se guarda de toda justiça. O que é ímpio cabe em sua própria impiedade. O que exortas acaso não é o mesmo que admoestas? Quais as más obras? Releio pergaminhos, intrigo-me entre provérbios. A que taça te referes como sendo tua, se o sangue é meu? Cumpro aqui o derrame de uma perda anunciada, padeço tanta mácula em meu corpo, em minha alma. Chego a pensar que não suportas tua doutrina e queres a mim impingir. Não és juiz de nada. Nem me tornarás tua vítima, padre. Sento-me para te ouvir, mas não dizes outra coisa senão a pedra de teu reino.

 

Um pequeno silêncio se abria no tempo. À maneira de um salmo ou de um epigrama? Ouve tua voz, vigília da noite, uma súplica impossível de se atender. No alvor da manhã requeres o que não repartes com ninguém. Quantas palavras estão tomadas de malícia? Apenas aquelas que proferem teu coração. Tu és louvor e ironia concentrados na baba de um discurso que corrói os testemunhos daquilo que fundas. De que ris? Manuscritos rotos dão conta de um clamor frustrado, um trapo de memória. Quantas vezes pedi a ti, meu rei, que levasses em conta o desvelo dessas vozes silenciosas que não te aceitam.

 

Longas as manhãs refletidas sobre o apego de tua alma ao pó. Meu corpo quebrado pelo açoite de gozos, descaminhos descritos em tudo o que julgamos aprender, palavras que são a maravilha e o infortúnio, a água e o fôlego interrompido. Como ser fiel a ti, sem que me envergonhe disto? Perene aflição consome tudo de mim. Já não sei o quanto te mereço ou o que posso vir a ser descrendo de tanto enlevo, obscuro arrebatamento. Minha carne padece de tantas leis, tratados que não a vivificam, trilhas que a distanciam do âmago que um dia poderia alcançar. Minha carne não crê em ti, indigente deus.

 

Confundem-se esquecimento e desprezo. O que ordeno se investe de valor consumível. Ri-me de suas palavras enquanto o banhava. Como nenhum outro, sabia molestar-me, com seus suores que pareciam não me levar em conta. Angústia e adversidade são pedras de um jogo que busca a fidelidade última do engano. E me exibias as costas para que o lavasse, a pele consumida em falsa retidão. Quão pequena sou ante o furor de um rei que adquiriu a esposa em troca de um porto que deu aos inimigos a conquista de parte de seu próprio reino? Sua lei é a verdade. Sua justiça, não nos cabe dúvida, será eterna.

 

Sonho contigo e de longe escuto repetidas vezes teu nome. Aquilo que indigna reanima, li em uma tábua que recusava o preceito de que alguma terra fosse inóspita ao plantio. Imprecações não criam regras. O que tenho arranco de mim mesma. Assaltam-me tuas palavras tomadas por uma espera cega, a fé no que viria de uma maneira ou de outra. Estive entre traças, gafanhotos e azinhavre. Lutei contra pulgas, desamores, reprimendas. Tudo me caía por terra e algo ainda me iludia: os dias que virão. Não virão nunca ou deixarão de vir jamais. Ideia mais tola crer no homem como domínio absoluto do que lhe cerca.

 

 

ÚLTIMOS VISLUMBRES (RUTE)

 

Tenho que esperar que te salves.
Disto depende minha própria vida.
Trilho tua causa como um tormento,
ajusto regozijo e despojo como fios
que unem testemunhos e preceitos.
Aos que amam tua lei, digo que sim,
que sigam com as tuas ordenanças.
Aos que se julgam tolos na discórdia,
insisto que refaçam seu pensamento.
E dissuado uns poucos que tropeçam
ante os mandamentos de teu saber.
Deito-me diante de ti todas as noites.
Abro meus caminhos. Sou toda tua.
E ponho-me a esperar que te salves.

 

Sim, ele esteve comigo, duas ou três vezes, não me recordo de todo. Dói-me sabê-lo morto. Pior ainda assim como me dizes. Quando o vi pela primeira vez, estava exausto de uma larga caminhada. Tinha algumas feridas nos ombros e no peito. Lembro haver comentado que eu houvesse contido minha curiosidade. [Chora] Nunca lhe perguntei nada. Seu corpo era tão doce, a um tempo sereno e cheio de mistério. Não haveria jamais outro homem assim. Não. [As lágrimas lhe tomam o rosto] O que queres, afinal? [Pausa] O que diabos isto importa agora? Sempre soube que jamais o teria para mim. Que descanse em paz, não sendo de ninguém.

 

O que tenho a te dizer o farei por uma única vez. Que não te açoite o arrependimento por não teres dado ouvido a minhas súplicas. Põe-te atento, meu senhor, ao livro de registro de crônicas. Ali verás que foste arrolado inúmeras vezes, e em todas elas na condição de traidor de teu povo. Os que te denunciam decerto são os mesmos que vêm atentando contra tua vida, e mesma ainda a razão de tudo isto. Um homem não tem a quem agradar ou honrar senão a si mesmo. E se o faz, torna-se súdito, desamparado de toda dignidade. Eis o que te digo, então, marido: de nada valerá tua aliança a um judeu, pois todos cairão, de uma forma ou de outra, e consigo te arrastarão, sempre.

 

Se crês em mim, que entres em minha casa. Por muito tempo a lenda tinha por tal frase sua chave única. Dois frades, havendo salvo uma rameira de um impiedoso apedrejamento, foram por ela convidados a visitar-lhe a casa. A recusa pôs em dúvida a candura da mulher, acusada de roubo de ovelhas cujo sangue bebia em adivinhações. Em toda a larga peregrinação dos frades, dádiva alguma voltaram a alcançar. Foram vítimas de troças e truculências, subornos e prevaricações. Morto um deles, o outro retornou à aldeia onde vivia a rameira, que o acolheu repisando: Se crês em mim, que entres em minha casa.

 

Não te aborreças comigo, tecelã. Admiro tuas cobertas, a púrpura eloquente das saias, a fronteira que cozes entre o que vislumbras e realizas. Leio em teu olhar o que não está na maciez dos tecidos. Bem sei que estarias melhor em teus mistérios se outras fossem as vestes ou mesmo se estivesses sem elas. Que levo comigo, hábil tecelã, senão títulos e dobrões? O que vale tudo isso a um nobre se não encontra quem cirza seus prazeres? Já me dirás que serves a Deus e a teu esposo. Deus habita a nobreza e o clero, e a ambos roga ósculos teu marido. Não hesites, comigo somarás ao que já é teu o que mais desejares.

 

Ao abrir a boca e arquejar, saltam-lhe dentro insondáveis códigos que são o fio e a trilha de todas as quedas. O que há ali? Salamandras regurgitadas rumorejam algo sobre as asas arrancadas, salafrários saem como de uma festa, mancas tartarugas ainda com o mundo às costas e um cortejo de instrumentos desafinados, sim – como esquecer? –, por ali também vi passar uns párocos sombrios que arrastavam pelos pés jovens nuas resignadas em um estranho êxtase, o sexo às escâncaras com peixes fosforescentes iluminando a passarela estendida a cada arquejo. O que há ali? Não será assim com todas elas, prenúncio de benevolente sabedoria na língua?

 

Com o que me esmagas? Ao me enroscar em teus braços, me pões a girar por todo um tablado de lisonjas. Simples serva do mal, outra coisa não serei? Saudai minha entrega, a doutrina de escândalos de meus ritmos. Saudai, gracioso parceiro, pois sou também tua graça, flâmula, carta, mandato, o que mais te avoluma o dote, desejoso tesoureiro meu, pássaro bicando minhocas. Como podes ver, com tão singelas dissensões me esmagas. Rogo-vos então a saúde para que comportes a guarda de tantos mistérios, a urna que possa recolher evangelho e pregação de tua profecia. Me esmagas? O que é de ti quando me largas?

 

 

DESTINO DOS NOMES (SARA)

 

O nome repetido, aos pedaços ou por inteiro, vezes inúmeras, quem saberia prever, estancar? Aqui se indaga demais, e talvez por terra se vá muito do que jamais seria obtido por consulta. Um ventre fruteiro é tudo de que precisa um rei. Povoar a terra em seu mistério único, a fonte de tanta desventura que não comunga, em prato ou templo, com a fartura que se mostra e logo se torna invisível, uma fagulha do desejo, quase uma pena por se estar tão distante do que se vê. Meu nome repetido, no acorda, acorda, cântico que se lava em degraus, escadarias de açoite, se me bates tanto cego, nada prevejo, alma e pó, nem mesmo tua ruína, a dispensar-me o augúrio.

 

A quantas recomendar? Quantas deverão ser saudadas? Quais as dignas, as que têm sido o amparo de muitos? Daremos um único nome a todas elas. As que trabalham por nós. Somos os amados, guerreiros, apóstolos, parentes, cúmplices. Sabemos a diferença entre o ósculo e o escândalo. Recomendamos às mais astutas, às que aprenderam a arte da lisonja, doutas na doutrina da concórdia. Serão elas saudadas como uma lua brilhante banhando o reino. Não poderiam mesmo ter mais de um nome, na pregação e na guarda de nossos segredos. Assim como lhes demos o dom da obediência, um dia será delas toda a glória fugidia.

 

Haverá sempre uma mesma ágora de dúvidas: de onde surge o nome, o que forma o juízo, o que alegra e aflige o espírito, qual a fidelidade benigna, a misericórdia mais terna… Um oráculo subvertido em diletante jogo, o mesmo sempre. O que pode haver de retidão ante a ansiedade? Não importa que eu seja uma letra, um nome, uma mulher, não. Meu desamparo conforma teu deleite. Jamais serei temida ou louvada. O que tenho comigo são os teus mandamentos. Queres que eu sangre, ria, lamente, ah senhor, tens tudo já contigo, por que diabos humilhar ainda mais a mim? Que importa agora a ágora, se o que esperas do que sou já o tens definido?

 

O que te peço? Que assines teu nome aqui, onde aponto a ordem, a tinta, a santa mesa. Que nome queres? Os nomes não dizem nada. Já te falei dos limites da perfeição e seu revés. Minhas palavras estão firmadas no céu. Para sempre permanecerás em meu leito. Em angústia foi se transtornando todo gozo. Sempre me repetia as mesmas falas, provérbios da soberba, do desvario. Quantos de si ousaria fundar sem que um suplantasse o outro? Até quando seria o cafetão de si mesmo? O homem mal sobrevive ao acaso. Tamanha conjectura tem sido o enfado real de lamúrias e traições. Como não tens nome? Pois te arrumo um já.

 

Apenas uma parte de teu nome pude conhecer e com ela deitar-me por cem noites, azeite e mel na pedra do tempo. Uma parte que seja, com ela se faz uma vida, com seu plano de açoites e dores na cela, imensa e nenhuma, em que te guardas da outra metade que ainda virá, o sabes, reclamar ouro e forno. Agora que te vejo por inteira, pronuncio teu nome com a parte que o afirma. Passado e presente na prosa eloquente que os une. Tantos receios caídos por terra, um martírio de vozes em tua pele, sintomas, suores, sinais, simetrias, a sinuosidade contida, que uma letra, não mais do que uma, pode tornar fervente, corpo ungido ao espírito, a seu apetite imenso.

 

Escava a areia de teu próprio nome.
Há ali letras demais e nenhum filho.
Desfaz-te do acúmulo que te soterra.
Mas não te apresses em temores.
Será tua a água sagrada, novo reino
encontrarás em outro ventre,
por mais que avilte o texto, a lenda
que entre lágrimas no catre cuidas.
Escava, desenterra o que sobra em ti,
que é também o que falta à duração
de teus melhores dias, a prenhez
do pasto em que sacias as mil dores
de um povo que se perde no nome
sem que lhe decifre jamais o enigma.

 

Quantos são teus nomes? Quantas máscaras adornando rostos e lendas, confundindo reis e súditos? Uma deusa a que te assemelhas quase todos os povos possuem. Para muitos, és a fecundidade, o júbilo da vegetação e do ser. Porém todas as tuas origens, como teu próprio nome, são arbitrárias. De onde vens, quase deusa, ilusória? Reia, Cibele, Astarte, Afrodite, Ishtar, e que lugar terias entre nós, se nunca sabemos em que rosto estás, qual teu corpo, cheiro e destino? Nenhum povo soube entender a extensão de teu mistério. Senhora de todos, dama a mais errante, que importa quem sejas? Teu verdadeiro nome para sempre está perdido.

 

 


 

 



A GRANDE OBRA DA CARNE

A poesia de Floriano Martins

  

1991 Cinzas do sol 

1991 Sábias areias 

1994 Tumultúmulos 

1998 A outra ponta do homem 

1998 Autorretrato 

1998 Os miseráveis tormentos da linguagem e as seduções do inferno nos instantes trágicos do amor de Barbus & Lozna 

2003-2017 Floração de centelhas [com Beatriz Bajo]

2004 Antes da queda 

2004 Lusbet & o olho do abismo abundante 

2004 Prodígio das tintas 

2004 Rastros de um caracol 

2004 Sombras raptadas [Coroa] 

2004 Sombras raptadas [Cara] 

2004-2015 Estudos de pele 

2004-2017 Mecânica do abismo 

2005 A queda 

2005 Extravio de noites 

2006 A noite em tua pele impressa 

2006 Duas mentiras 

2006-2007 Autobiografia de um truque 

2007 Teatro impossível  

2008 Sobras de Deus

2008 Blacktown Hospital Bed 23 

2009-2010 Efígies suspeitas 

2010 Joias do abismo 

2010-2011 Antes que a árvore se feche 

2012 O livro invisível de William Burroughs

2012-2014 Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]

2013 Anatomia suspeita da realidade 

2013 My favorite things [com Manuel Iris]

2013 O piano andou bebendo 

2013 Sonho de uma última paixão 

2013-2015 Breviário dos animais fabulosos fugidos da memória 

2014 Mobília de disfarces 

2014 O sol e as sombras 

2014-2015 Reflexões sobre o inverossímil 

2015 Enigmas circulares 

2015 Improviso para dois pianos [com Farah Hallal]

2016 Cine Azteka [com Zuca Sardan]

2016 Circo Cyclame [com Zuca Sardan]

2016 Trem Carthago [com Zuca Sardan]

2016 A mais antiga das noites 

2016 A vida acidental de Aurora Leonardos 

2016 Altares do caos 

2016 Breve história da magia 

2016-2017 Convulsiva taça dos desejos [com Leila Ferraz]

2016-2017 Obra prima da confusão entre dois mundos 

2017 O livro desmedido de William Blake

2017 Antigas formas do abandono 

2017 Labirintos clandestinos 

2017 Manuscrito das obsessões inexatas  

2017 O mais antigo dos dias 

2017-2020 A volta da baleia Beluxa [com Zuca Sardan]

2017-2022 Nenhuma voz cabe no silêncio de outra 

2018 Atlas revirado 

2018 Tabula rasa 

2018 Vestígios deleitosos do azar 

2021 Las mujeres desaparecidas

2021 Museu do visionário [com Berta Lucía Estrada]

2021 Naufrágios do tempo [com Berta Lucía Estrada]

2022 As sombras suspensas [com Berta Lucía Estrada]

2022 Las resurrecciones íntimas [com Berta Lucía Estrada]

2023 A casa de Lenilde Fablas

2023 Caligrafias do espírito

2023 Huesos de los presságios [con Fernando Cuartas Acosta]

2023 Inventário da pintura de uma época

2023 Letras del fuego [con Susana Wald]

2023 Representação consentida

2023 Primeiro verão longe de casa 


 

 

1991-2023 Mesa crítica [Prefácios, posfácios, orelhas]

2013-2017 Manuscritos


 

 

Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. A grande obra da carne – título emprestado de um de seus livros, é uma biblioteca desenvolvida como espaço paralelo dentro da Agulha Revista de Cultura, a partir de uma ideia do próprio Floriano Martins, de modo a propiciar acesso gratuito a toda a sua produção poética.


 

 

OBRA POÉTICA PUBLICADA

 

Cinzas do sol. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Sábias areias. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1991.

Tumultúmulos. Rio de Janeiro: Mundo Manual Edições, 1994.

Ashes of the sun. Translated by Margaret Jull Costa. The myth of the world. Vol. 2The Dedalus Book of Surrealism. London: Dedalus Ltd., 1994.

Alma em chamasFortaleza: Letra & Música, 1998.

Cenizas del sol [con Edgar Zúñiga]. San José, Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2001.

Extravio de noites. Caxias do Sul: Poetas de Orpheu, 2001.

Estudos de pele. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.

Tres estudios para un amor loco. Trad. Marta Spagnuolo. México: Alforja Arte y Literatura A.C., 2006.

La noche impresa en tu pielTrad. Marta Spagnuolo. Caracas: Taller Editorial El Pez Soluble, 2006.

Duas mentiras. São Paulo: Edições Projeto Dulcinéia Catadora, 2008.

Sobras de Deus. Santa Catarina: Edições Nephelibata, 2008.

Teatro imposible. Trad. Marta Spagnuolo. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2008.

A alma desfeita em corpoLisboa: Apenas Livros, 2009.

Fuego en las cartas. Trad. Blanca Luz Pulido. Huelva, España: Ayuntamiento de Punta Umbría, Colección Palabra Ibérica, 2009.

Autobiografia de um truque. São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2010.

Delante del fuego. Selección y traducción de Benjamín Valdivia. Guanajuato, México: Azafrán y Cinabrio Ediciones, 2010.

Abismanto [com Viviane de Santana Paulo]. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

O livro invisível de William Burroughs. Natal: Sol Negro Edições, 2012.

Lembrança de homens que não existiam [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2013.

Em silêncio [com Viviane de Santana Paulo]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.

Overnight medley [com Manuel Iris]. Trad. ao espanhol (Juan Cameron) e ao inglês (Allan Vidigal). Fortaleza: ARC Edições, 2014.

O sol e as sombras [com Valdir Rocha]. São Paulo: Pantemporâneo, 2014.

A vida inesperada. Fortaleza: ARC Edições, 2015.

Circo Cyclame [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

O iluminismo é uma baleia [com Zuca Sardan]. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

Espelho náufrago. Lisboa: Apenas Livros, 2017.

A grande obra da carne. Fortaleza: ARC Edições, 2017.

Tabula rasa [com Valdir Rocha]. Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Antes que a árvore se feche (poesia reunida). Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Tríptico da agonia [com Berta Lucía Estrada]. Fortaleza: ARC Edições, 2021.

Las mujeres desaparecidas. Santiago, Chile: LP5 Editora, 2021.

Un día fui Aurora Leonardos. Quito: Línea Imaginaria Ediciones, 2022.

El frutero de los sueñosWilmington, USA: Generis Publishing, 2023.

Sombras no jardim. Fortaleza: ARC Edições, 2023.


 

 

Agulha Revista de Cultura

Criada por Floriano Martins

Dirigida por Elys Regina Zils

https://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/

1999-2024 

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário