quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

ESCRITURA CONQUISTADA | José Kozer (Cuba, 1940)

  


DOIS ENCONTROS

 


1. TROQUEL TROCANTE

 

FM | Você chegou a New York em 1960, ano marcado pelo início do Estado socialista em Cuba, seu país de origem. Nos anos seguintes teríamos, entre outros acontecimentos, a instalação dos mísseis soviéticos em território cubano e o fracasso daquela invasão anticastrista na baía dos Porcos. Entretanto, para você que desembarcava no inferninho contracultural nova-iorquino aos vinte anos de idade, que significado teriam as notícias vindas da ilha? E que impacto inicial teria lhe provocado a entrada em New York, ou seja, em que circunstâncias você saía de Cuba e entrava nos Estados Unidos?

 

JK | É interessante que se comece com uma pergunta política. Parece que na América Latina o escritor está condenado a “meter-se em política”.

Saí de Cuba em 1960, com vinte anos de idade, mais por razões poéticas do que por razões políticas. Não é fácil aclará-las mas, a princípio, a vocação poética pode exigir o movimento para fora, a viagem, a transumância. E sentia que se ficasse em Cuba minha dedicação teria que ser outra, e que a viagem, o traslado, não seria possível. Sou claustrofóbico, tenho essa tendência: e ficar implicava a claustrofobia.

Tinha vinte anos, estava inquieto. La Habana, todo o país, se politizava. Isto não me agrada. Cortázar fala, em certa ocasião, de poder ouvir Bela Bartók sem ter que ouvir os alto-falantes da praça com a voz de Perón. Interessa-me essa ideia, essa outra ideia de cidadania, essa outra pátria.

Sucede então que a revolução estipula: “Aqui se deve estar contra ou a favor da revolução”. Isto, e minha inquietude, decidiram minha saída. Não tenho, é o que me digo, porque estar contra ou a favor. Entendo, claro está, que há momentos em que a radicalização é imprescindível. Porém a radicalização, o extremo, deve ser apenas um momento e não um ideal ou, muito menos, o Ideal. Opino que ser radical é ser irreal, e que é um modo fácil de obviar a vida trocando-a pelo heroico, essa outra banalidade burguesa, essa porcaria de grandezas e mortos e batalhas campais e utopias. O real, o complexo, o viril é a normalidade. Uma revolução permanente me exige algo que não posso dar nem muito menos fazer. Eu aceito a radicalização, a revolução impermanente, momentânea, e estou “disposto a tudo” durante um tempo, contraditoriamente breve, mas realmente radical. Depois, à normalidade: aos arados e ao “deixem-me quieto” para escrever ou quebrar a cara. Para mim o permanente é o impermanente, a sucessão contínua, a vida para adiante, que se acaba, e não a vida unívoca e inequivocamente política e revolucionária.

E assim, pois, me fui. Ao sair de minha pátria (nós não dizemos país, como se diz em muitos países da América Latina), optei pela vida que levava dentro de mim: a da escritura, a da desaforada boêmia, a dos erros da aprendizagem; as notícias dali passaram a ser notícias de jornal, certo que íntimas e dolorosas, porém em última instância, por serem políticas, de menor interesse para mim. Não sou um homem político; e, dentro do homem político que irremediavelmente sou, minha única política se firma em desejar, fervorosamente, que desapareça a política, que se viva sem essa anormalidade demasiado frequente.

Cheguei a New York, trabalhei em Wall Street, casei, falei inglês, deixei de viver em espanhol, fui estudante, me graduei, me tornei professor, me divorciei, tive filhas, tornei a casar, fui feliz e comi perdizes. Nada mais. E 2.300 poemas escritos desde 1970.

 

FM | Você publicou seu primeiro livro aos 32 anos de idade. Como se deu sua entrada na poesia? Como se dá o diálogo entre José Kozer e seus textos? Há uma espécie de planejamento estético que orientaria a feitura de seus poemas?

 

JK | Publiquei tardiamente, por razões puramente circunstanciais. Estava fora de minha pátria, não tinha contatos, não vivia próximo de nenhum mundo editorial. Além do mais, eu que havia começado a escrever muito cedo, com catorze anos de idade, de repente deixei de escrever durante dez anos. Tinha muito o que dizer, não tinha o instrumental de trabalho para dizê-lo. Perdi o idioma, e um poeta sem idioma, o que faz? Bem, seria interessante investigar essa pergunta, ver que tendência para o silêncio pode servir à poesia do futuro. Somente em 1970 recomecei a bombardear com a poesia; só que agora, quase milagrosamente, cada vez que me punha a escrever, escrevia. E essa operação da escritura, que então se reatou, não mais cessou: seu vestígio, repito, são os 2.300 poemas escritos entre 1970 e 1987.

Assim sendo, em nenhuma ocasião planejei ou perpetrei uma estética, nem muito menos um poema. Saem, sucedem, ocorrem: são ocorrências e desdobramentos do inconsciente. Deve haver uma lógica do inconsciente, porém eu não sou o dono dessa lógica, não a manejo, ao contrário, por ela sou manejado. Maneja-me e me faz escrever automaticamente, por assim dizer. Prefiro dizer que me faz escrever incessantemente: disto, sim, me sinto responsável. Peco por grafomania e estou disposto a pagar o alto preço da proliferação, da minuciosidade, do excesso. Sou excessivo: se um anjo descesse do céu a dizer-me que perco meu tempo fazendo poesia lhe daria as graças pela informação e me sentaria a escrever poesia. E de maneira excessiva.

Porém careço de uma orientação estética. Escrevo. E essa escritura é sempre a mesma e sempre (aparentemente) mutante. Troquel trocante.

E como os poemas que saem estão e não estão relacionados entre si, opino que mais que livros tenho (e faço) poemas; e que esses poemas, todos e sucessivamente, são meu livro; um único livro, primeiro e último, que venho fazendo. E fazendo desde esta perversão que em Whitman se manifestou como necessidade de escritura que incluía longas listas de palavras que ia deixando em seus cadernos, listas que fazia, suponho, simplesmente para sentir-se a escrever. Não há nada que me dê maior prazer do que sentir que escrevo, que a pluma e a tinta correm sobre a planície nevada, deixando suas trilhas de bico e garra de pássaro.

 

FM | Reinaldo Arenas já declarou, certa vez, que “o maior mérito da denúncia em uma obra literária é o de que a obra seja literária”. Crê que a poesia (por extensão, a própria arte) deva expressar algum ponto de vista?

 

JK | Concordo, nisto, com a opinião de Reinaldo Arenas. E mesmo que a poesia diga e aluda a coisas concretas e tenha, por conseguinte e necessariamente, um ponto de vista, o essencial da poesia não é o ponto de vista, mas sim o ponto de cegueira e de não-vista por onde se mete: digamos, a zona branca, do olho cego, por onde faz sua travessia. Creio nos poemas e não nas opiniões implícitas nos poemas; confio mais no ininteligível do que no expresso. Apoio as palavras do velho Mallarmé quando diz que “a poesia é feita com palavras, não com ideias ou pensamentos”. Em última instância, a poesia não diz nada nem é verdade.

 

FM | Há uma fatalidade implícita no ato de criação de um mundo paralelo (imaginário), inevitavelmente conflitante com o chamado mundo real? A arte, neste sentido, seria então negação da vida?

 

JK | Separar Arte e Vida, sobretudo assim, com maiúsculas, é um vício do século XIX, parte da invenção romântica. Não existe tal separação: um poeta é um cidadão, por mais que possa detestar a função da cidadania. Enquanto cidadão, ganha a vida, vive como pode, come e defeca; e dentro dessa realidade, e com a maior naturalidade, quase sem dar-se conta, faz seus poemas, cumpre com a origem.

O mundo real é o mundo poético. Não se pode separar o mundo real do mundo poético, pois não podem haver nem dois presentes nem duas circunstâncias a um só tempo. Quando faço um poema não sou menos cidadão ou quando dou uma aula não sou menos poeta. Se é que sou cidadão ou poeta.

A vida em um poema é como a vida em uma vida: em ambos casos há epifania, inércia, sujeira. Inseparáveis. Saio pela manhã, a caminho de meu trabalho universitário, ando umas catorze quadras para pegar o ônibus que me leva à universidade. Por esse caminho vejo coisas: árvores, corvos, melros, algum transeunte da madrugada, casas estilo Tudor. E minha imaginação voa; minha imaginação imagina. E pode surgir um verso, inclusive um poema completo durante esse trajeto de catorze quadras, durante essa caminhada rumo ao trabalho. Ou seja, por esse caminho, simbolicamente, os dois trabalhos se reúnem, inseparavelmente.

 

FM | É possível afirmar que a literatura cubana esteja condenada ao barroco? Em que sentido?

 

JK | Nenhuma literatura está condenada a nada. E muito menos a essa questão de gêneros, escolas literárias, modos: isto é coisa do tempo, do momento histórico; isto é máscara. A literatura cubana nem é nem foi exclusivamente barroca, não está nem esteve condenada com exclusividade ao barroco. Isto seria uma condenação: ou seja, por definição, algo que produz a necessidade de romper cadeias, de romper com a condenação. Sucede que Lezama impôs ao estrangeiro sua voz, como se Lezama fosse a voz cubana. Lezama, uma grande voz, não é senão outra voz, outra voz do universal e do universal cubano. Outro poeta, com sua maneira, sua respiração, sua asma, sua grossura, sua formosura católica, ecumênica, familiar. Em Lezama, e não sei quando acabarão por reconhecê-lo, há também um poeta não-barroco, um poeta linear e, por suposto, sumamente legível. O trabalhoso é lê-lo desde sua legibilidade e não desde sua aparente dificuldade. Cuba, como qualquer outro país, tem vivido suas etapas literárias, processo incessante que, como é lógico, continua.

 

FM | E no rol dos autores que acaso teriam lhe influenciado, podemos pensar em Lezama Lima, Virgilio Piñera, Eugenio Florit, Mariano Brull? O que pensa a respeito destes escritores?

 

JK | O tema das influências corresponde à crítica. Dentro do que sei, minha primeira vocação foi Martí, e a este, muito mais à frente, seguiram os simbolistas franceses. Em seguida, veio Lorca e, já em New York e ali pelo final da década de 60, Vallejo, Neruda, Parra. Pois bem, toda escritura é ocultamento (entre outras coisas) e todo escritor oculta os impactos que recebe, que ama, que o agridem. Sinto que a mim me influiu mais um quadro que um poema; e que me influi mais uma ambientação interior, um vermeer espiritual, ou uma palavra repentina e que repentinamente me sobressalta do que, digamos, outro escritor, outro poeta concreto. Com respeito a Lezama Lima, apenas o li, resistindo-lhe amorosamente. Se há coincidências, digamos que de tom, são coincidências, e possivelmente coincidências espanholas e, claro está, cubanas. Talvez exista um tom poético cubano que Lezama captou, não o sei; se existe, é parte, pois, de minha existência, Iniludivelmente.

Penso que em certos momentos a crítica, às vezes tão empobrecedora e míope, sempre necessitada de aclarar, de ditar cátedra, de afirmar-se (por insegura?), cai na vaidade das influências, atribuindo a muitos poetas a energia de um chamado Mestre: e o faz por facilitação e conveniência. E, no caso cubano, Lezama torna-se o gigantesco armazém aonde vão parar os poetas que escrevem de uma maneira, sendo, essa maneira, difícil. Ou seja, se o poeta é difícil é lezamiano. E não há tal coisa: o lezamiano é difícil e não vice-versa, de modo que um poeta difícil é somente um poeta difícil e não, necessariamente, um poeta lezamiano. Porém à crítica lhe é mais fácil dirigir sua energia à explicação e não à surpreendente implicação da misteriosa graça da poesia cuja única influência, se o poeta é autêntico, próximo, é precisamente a misteriosa graça da poesia.

Quero acrescentar que a mim me influi todo o mundo. Me influem todos os demais escritores e todos e cada um dos livros que leio, e as coisas que vejo e observo e sonho. Sou filho de Vallejo, de Lorca, de Buchner, de Trakl, de Stevens, de Munch, de Turner, de Bonnard; sou descendente da Bíblia, da mesma forma que da voz de meu avô na sinagoga. Tudo me afeta, tudo me lacera, tudo me dá vida.

 

FM | A poesia vence a morte?

 

JK | Nada vence a morte. Nada a vence em um sentido presente e concreto. Se a sua pergunta implica se depois de minha morte minha obra é válida, se esta me perpetua, pois bem: que me perpetue. Porém eu estarei mortinho e acalorado. Disforme e lápide e a mim quem quiser que me leia. Preferia não ter que morrer. Não quero ser o rei dos mortos mas sim o pastor mais pobre da terra, como disse Aquiles a Odisseu. A função da poesia não é vencer a morte nem a função dos poemas é perpetuar seu autor. A poesia é um ato apenas levemente funcional, apenas levemente catártico: carece de ulterioridade, é presente, presença, repetição efêmera no efêmero, fato e esquecimento, graça e desaparecimento.

Exatamente como a morte. Todo poema, a um certo nível, está tocado pela graça da morte: caso contrário não seria verdadeiro, posto que o verdadeiro não pode esguelhar a morte.

 

FM | Comer e escrever poemas. Tem conseguido fazer as duas coisas sem que uma destrua a outra?

 

JK | Perfeitamente. Eu sou um homem prático. Tenho uma família, levo uma vida normal, me administro. Minhas filhas comem, em casa levamos uma vida frugalmente burguesa, limpa, muito alegre e tranquila. Sem luxos e sem espaventos, dentro das medidas que um salário de professor e alguns horários profissionais impõem. Minha situação prática é boa; às vezes desejo mais, desejo largar-me daqui, ter dinheiro para viver ruralmente e não ter que ensinar, malgastar forças do ditoso (em cubano esta palavra, neste contexto, significa horrível) ensino. Porém não posso me queixar, seria abominável queixar-me: tenho tido sorte; uma sorte profissional, uma grande sorte matrimonial e minha casa está em ordem. Por isto, para mim New York não é o inferno que pode ser para outros, mais visionários que eu, menos práticos e normais que eu; para outros mais Artaud que eu. Para mim, New York é uma casa em Forest Hills onde durmo, como, embriago-me, converso, calo, vivo furtiva e silenciosamente: para escrever escrever escrever.

Não me considero um homem astuto mas, sim, tenho alguma astúcia: a de ordenar-me para escrever. Sacar tempo ao tempo, digamos, para as coisas da escritura, para reaparecer em um cenário de silêncio e habitação, de repente escrevendo um poema.

 

FM | Tentamos inutilmente dissimular a agonia do real com uma excessiva dose de obsessão pelo objetivo. A poesia, que é por natureza uma fonte de subjetividades, como se move em meio a esse ricochete frenético de simulações e banalidades que é a era em que vivemos?

 

JK | Toda época tem sua dose forte e imensa de mediocridade, de filisteísmo, de imundície: toda época é preponderantemente mediocridade e banalidade. A poesia acolhe e recolhe também essa banalidade, essa imundície de seu momento histórico: o faz, resistindo. E, a partir desta perspectiva de resistência, exclama, reclama: se impõe. Impõe-se, expondo (refiro-me à frase atribuída a Paul Celan, que dizem que disse: “A poesia não impõe, expõe”). E enche o mundo de suas “subjetividades inventoras, simuladoras, fingidoras” (recordemos o famoso verso de Pessoa).

 

FM | Você já tem dez livros publicados. Como poderíamos situar sua obra no âmbito da poesia cubana?

 

JK | Se minha poesia entra no âmbito da poesia cubana e, supostamente, no âmbito da poesia, que é o que todo poeta preferiria, rompendo barreiras nacionais e efêmeras, é coisa que não sei, nem saberei: nem é coisa que me corresponda saber ou dizer.

Sendo assim, creio que a respeito da trajetória cubana há algo em meu trabalho que não se encaixa de todo com o cubano. Esse algo, suponho, tem a ver com meus numerosos exílios: o da personalidade, o de ser um cubano (primeira e última geração) de pais judeus, o de ser um judeu de origem ashkenazi na cidade de La Habana, o de ser filho de um polaco ateu e comunista e filho de uma checa burguesa e de pais judeus ortodoxos: esses exílios que implicam, desde o início, uma voz dupla, uma voz no árido terreno da sarça ardente e no tropical terreno da umidade, do cipó e do desaforado crescimento; voz onde se reúnem a perpetuidade, suponho, a ancestral voz de meus antepassados e a atual e ancestral voz de minha pátria de nascimento que, em um sentido misterioso, é, ao mesmo tempo, pátria de nascimento e de adoção. E, em seguida, o desenraizamento, a saída, o não voltar nunca a ver Cuba, o levar mais anos em New York do que os que vivi em minha pátria. Tudo isto se junta para fazer de meu trabalho algo aparentemente menos cubano do que o dos outros cubanos, algo menos referencialmente cubano e que talvez tenha muito a ver com o cubano atual, com o cubano novo que é uma espécie de cubano judeu, de mulato judeu, de híbrido múltiplo e desenraizado, que perambula e deriva por toda a terra, conhecendo finalmente a diáspora, mãe nutritiva e verdadeira de toda criação. Agora o cubano é Joyce ou é Proust em seu quarto macio entre painéis de cortiça. Agora o cubano deixou de ter uma voz e uma experiência unívocas e tem vozes, máscaras, experiências. Neste sentido, estamos por ver qual será o resultado literário desta nova experiência, da experiência de viver entre eslavos, orientais, entre norte-americanos e entre outros latino-americanos. Em Cuba eu nunca vi um porto-riquenho ou um dominicano; nunca vi um mexicano ou um equatoriano; nunca vi um uruguaio ou um argentino. Em New York, tenho visto até paraguaios.

 

FM | Desde Padres y otras profesiones (1972) até El carrilón de los muertos (1987), sua obra mais recente, quais modificações e sedimentações ocorreram em sua poesia?

 

JK | A reta tornou-se estilhaços. A linha se bifurcou e, bifurcando-se, entrou em outras bifurcações e itinerários. Se encheu de parênteses, de rupturas, de vazios; a linha pôs-se a ziguezaguear, a arquejar.

Esta, simbolicamente, é a modificação que sofreu meu trabalho. Do modo mais natural e feliz; ou seja, quase sem dar-me conta e, naturalmente, sem que o tenha proposto. Um amigo me perguntava há pouco se era necessário escrever de modo tão arrevesado. Lhe respondi: nada disto é forçado, tudo isto é natural. A escritura é mimética: em meu caso o arrevesamento ou a densidade respondem a uma matéria densa e arrevesada que não se dobra, que é avara e que o poeta, eco de ecos, quer entregar tal e qual, indomável, densa, arrevesada. Isto é tudo: não há uma aposta pelo difícil, mas sim um afazer naturalmente difícil.

 

FM | Fale-nos deste novo livro que sairá em Barcelona. Em que sentido você me diz que ele é uma espécie de continuação de La rueca de los semblantes (1980) e La garza sin sombras (1985)?

 

JK | Daí que o livro que fará este ano as Ediciones del Mall, de Barcelona, um desses poucos editores que ainda restam, dispostos a seguir publicando, e em esmeradíssimas e cuidadas, realmente belas edições, uma dose de livros de poesia… seja um livro onde desemboca a dificuldade a que me refiro em minha resposta anterior.

La rueca de los semblantes é ainda preciosista no sentido de que ali, creio, o estético vence o espiritual. Em La garza sin sombras o espiritual e o estético se unificam. O novo livro tem um título que implica, na realidade, a presença de dois livros. Chama-se Díptico e, como em todo díptico, há dois painéis: um, que é um livro, se chama Carece de causa; o outro painel (livro) intitula-se De donde oscilan los seres en sus proporciones. Este livro satura, extrema os anteriores; e satura e leva a seu extremo toda a trajetória de dez livros que conformam minhas publicações.

A partir deste livro há um amplo material inédito onde se desenvolve uma poesia que creio reage ante esse processo de saturação que recolhe o livro que Ediciones del Mall publicará este ano. E reage procurando uma maior espiritualidade, no sentido de ascese, de despojamento, de lavagem e, caso queira, de purgação e laxativa. De fato, nos últimos meses os poemas se tornam mais breves, menos enredados, menos retorcidos; menos jângal e menos cipó. Tendem, desejam uma velha e nova linearidade: aspiram a uma simplicidade que, supostamente, não constitui nem um simplismo nem uma simplificação mecanicista.

Além disto, nada mais sei. Temos que ver qual poema escreverei hoje ou amanhã.

 

FM | Gostaria de retornar à ilha, ou pensa, como Cabrera Infante, que para vocês, exilados, isto jamais será possível?

 

JK | Claro que gostaria de regressar a Cuba, e creio que, depois da morte, regressarei. Se isto é possível ou não depende das circunstâncias. Quisera ver algo parecido ao que sucedeu na Espanha por ocasião da morte de Franco. Não algo idêntico, mas sim parecido, e em princípio esta é a única possibilidade cordial que reconheço para minha pátria. E poderia acontecer. Há muita gente de boa vontade ali e aqui. Às vezes os escritores não são essa gente de boa vontade, mas tampouco devem ser os escritores os que façam a ponte do regresso. A história é longa, regressará. Não necessariamente a uma monarquia ou a um estado socialista ou a um estado capitalista: poderia acontecer que regressemos, pela primeira vez na história de minha pátria, a um país que se chama Cuba.

 

 

2. LER E ESCREVER

 

FM | A suntuosidade de imagens, a voracidade do verbo, os resíduos de uma saga familiar – em que consiste o estilo Kozer? Imitação, aparência, perversão – que espécie de relação sua escrita mantém com o mundo à sua volta?

 

JK | Um estilo Kozer? Melhor diria um ocultamento Kozer. Uma capacidade de escrever roubando, collageando e recompondo o alheio, preenchendo vazios. Uma maneira voraz de fazer, não enquanto desejo nem vontade, mas sim como necessidade: estar na escritura é para mim estar no irremediável. Escrever é não suicidar-se. Escrever é nutrir-se para defecar. O mundo que me rodeia está por momentos gritando para tornar-se escritura; tomo - reativamente - uma de suas esquírolas e torno-a poema.

 

FM | Considera a poesia um exercício de ordenamento das palavras, a construção de momentos que nada poderiam significar sem o manejo das palavras?

 

JK | A poesia é um desordenar de palavras que pretende fazer-se ordenado. A pretensão de ordem, o poema, é o presente que nos damos para sobreviver e, de alguma maneira, assistir na sobrevivência de uma Ordem. Esta sucessão, que é um sucesso, sucede e desaparece. Quem escreve o faz a partir de uma ordem, a ordem de um poema, e esquece: desaparece.

 

FM | A utopia é o tema central de nossa existência? Há uma utopia da escrita? De onde partem os poemas?

 

JK | Utopia? Esse é o não lugar; o poema ou o momento perecedouro que nos toca viver é espaço, lugar. Por consequência, não é utópico. Deseja-se a utopia? Inútil desejar. Inútil desejar o lugar utópico político ou poético ou transcendente. Não há. Só há efêmera efeméride e desaparição: fato, fatalidade, instante. Golpe e ausência, leve eco (relativo). Os poemas surgem, em certa medida, da ontológica necessidade de emparelhar-se com o vazio e tentar, paradoxalmente, desde esse emparelhamento, sacar matéria sólida, carne e letra. Os poemas se fazem preenchendo interstício.

 

FM | Algumas vozes críticas referem-se à notável fusão de esplendor verbal e coloquialismo em sua poesia. Há também referências a uma ausência de relato, assim como à utilização da mesma técnica do collage. Que aspectos melhor definem sua poética?

 

JK | Eu observo, claro que a posteriori, que meus poemas necessitam de linguagens várias e outras; pode haver uma linha mesclada e mestiça que sobrepõe coloquialismo e esplendor verbal (isso é muito cubano), porém suspeito que ausculto continuamente outras possibilidades, digamos que intersticiais, onde a linguagem varia segundo cada um dos instantes da necessidade de escritura, e que esse variar ocorre no poema e no momento de sua criação, tanto como ocorre no mundo dos sonhos e da vigília, com seus inesperados deslocamentos e abruptas mudanças de direção. Estamos falando de filosofia e uma voz nos chama a merendar: e viveram abruptamente dois momentos, duas necessidades; para isto necessitam de duas linguagens, intercalando-se.

 

FM | Entre essas vozes críticas a que me refiro anteriormente há uma que tem se detido de maneira admirável e aprofundada em sua obra: o espanhol Jorge Rodríguez Padrón. Em seu livro Del ocio sagrado chama a atenção para uma reiteração temática em sua poesia: a oferenda, o celebratório. O poético e o religioso encontram-se indissociáveis em sua concepção?

 

JK | Olha, eu creio que Jorge vê muito claramente minha necessidade mais profunda e, vendo-a, a reconhece nos textos que faço. Vivo desde menino no último susto. E, como não sei o que fazer, escrevo, que mais ou menos é o que posso fazer. Não digo que seja o que sei fazer, somente o que creio poder fazer. E o faço a partir de todo um aparato (verbal) que tende ao iniludível, a morte. E quem diz morte e teme, adere como lapa ou mofo ao misterioso que de alguma maneira encara a religião. Evidentemente, não a religião oficial e institucionalizada, mas sim a intenção religiosa que brota do horror, do momento atônito diante da possibilidade do nada, a grande obra.

 

FM | Ao contrário de muitos poetas, que afirmam não ler muita poesia, você encontra na leitura de poemas uma grande fonte de diálogos. Até que ponto sua dicção encontra-se impregnada de tais leituras? A leitura de poesia resulta em grande fonte de influências?

 

JK | Por parte. Não leio muita poesia, mas sim que em certas etapas leio alguma poesia desordenadamente. Um exemplo: nestes dias li uma égloga de Horácio (a primeira), uns poemas de Seferis e releio algo de Keats. Mas leio essas coisas de maneira crepitante. Ou seja, de repente entra-me o repente da poesia e leio. Pego Keats, leio em voz alta, e detenho-me em um ponto porque aquilo me afeta a tal extremo que se não deixo de ler, morro. Exagero? Certamente. Ninguém morre de ler poesia. Porém não exagero, pois da mesma forma como podes morrer montado sobre uma fêmea, o coração pode faltar-te na intensidade da leitura do Endímion de Keats (que não é para mim um grande poema). Ou pode suceder que pego um livro de poemas e, ao começar a ler, ao segundo verso, há algo que me surpreende, e quase sem dar-me conta, ponho-me a escrever meu próprio poema. Um último ponto: ler os outros estimula o meu; estimula e interfere. Às vezes, o que faço é evitar ler poesia em castelhano, afeta-me demasiado e me influi demasiado. É mais fácil para mim ler em voz alta poesia em outros idiomas, principalmente o inglês.

 

FM | Segundo suas palavras, seu “erro estratégico é escrever demasiado”. Exatamente em que sentido considera prejudicial esta natureza excessivamente prolífera de sua escritura?

 

JK | Bem, é um dizer como outro qualquer, outro modo de chamar a atenção. Faz de conta que se trata de uma perversão. Saber e, no entanto, fazer. Indo contra, contradizendo-se. Estrategicamente, escrever (publicar) menos é útil: apoia a obra, glorifica-a, criando lenda, mistério, boêmia para seu autor. Porém essa funcionalidade do distante e inacessível me incomoda. Estou presente, falo muito, escrevo muito, publico, respondo, emboço-me. Consequentemente, farto e canso o provável leitor. Bem, o que se vai fazer. Se o fadigo e se farta de mim, pois então que leia Lope.

 

FM | Após a publicação de Carece de causa (1988), você confessou algo em torno de que ali se encerrava uma etapa em sua poesia. “Talvez com este livro tudo tenha terminado”. Que novo caminho se abriu desde então?

 

JK | Desde Carece de causa me repito e me repito. E depois me repito. E de tanto em tanto, entre uma e outra repetição, encontro um desviozinho, um caminho estreito e pobre, quase estéril, onde logo vejo a possibilidade de algo em aparência distinto. E instintivamente o tomo e esqueço. Estive experimentando, por assim dizer, com séries de autorretratos, com minha própria descarnada velhice esquelética e rumbeira, e com poemas que tendem a ser mais breves. Porém volto a insistir, não somente em que não sei nada nem que entendo o que faço, mas também que o único que faço é fazer um poema hoje, outro passado amanhã, e acumulá-los. Não há livro, não há obra, não há totalidade; não há antes ou depois de Carece de causa (isto carece de causa): só há poemas, poemas e mais poemas.

 

FM | Em crítica escrita em torno deste mesmo livro, Bernd Dietz assinala que “é possível que o maior desafio da poesia moderna, desde o início do século XIX até hoje, resida em buscar um novo papel para o Eu no discurso poético, eludindo o antropocentrismo sem desvirtuar a situação do indivíduo que dá nome a sua experiência e convoca seus mortos”. Concorda com ele? Até que ponto sua poesia teria vencido tal desafio?

 

JK | Concordo. Minha trajetória implica, desde o princípio, não desejar ser eu; ao mesmo tempo, só soube, tristemente, ser eu; cair uma e outra vez na armadilha do eu. E isto, do ponto de vista vital, psicanalítico, político, pessoal, relacional, funcional e, claro, nos próprios poemas, espelhos de toda a merda própria do eu. Com o passar do tempo, de tanto desvirtuar esse eu prepotente e antropoide, ao menos consegui seduzi-lo à fragmentação, a uma torpeza que quase o dissolve. Os poemas dos últimos anos refletem esse eu desmembrado, inutilizado; um eu ao qual a linguagem confunde, desordena e se desembaraça de si mesma.

 

FM | Concordo com você que o século XX seja o século do exílio e, por extensão, o século da mestiçagem. Por outro lado, lamento que essa torrente mestiça, dolorosa e sombria, não tenha ainda força suficiente para fundar uma igualdade entre os povos. Decerto que a experiência do exílio lapida com mais veemência a expressão poética. O poeta, por sua posição à margem da sociedade, jamais se privará de sua condição de exilado permanente. Isto acaso não lhe faculta mais liberdade ao fundar seu próprio presente?

 

JK | Todos, por Deus, estamos exilados, porque todos, por Deus, temos que morrer. O exílio político não é mais do que uma perversa manifestação: o homem se diverte em perseguir o homem e em exilá-lo, para esquecer seu próprio e miserável exílio. Cada patriarca tem seu outono, e ali o vemos entreter-se com seu gado e suas galinhas, e suas mamãezinhas mandonas. O que faz o poeta é assumir a fundo e irremediavelmente a condição geral de exílio. E, ao assumi-la, entra em sua liberdade, como bem vês e manifestas em tua pergunta. Pois bem, essa liberdade não só é fundacional, mas também que, sendo presente, é santidade. Não há outra coisa para a vida espiritual; e não há outra possibilidade profunda para a poesia. Porém encontrar liberdade, em princípio, é tarefa terrível, que implica ao mesmo tempo um contínuo afastar-se e não estar, que tem que seguir de mãos dadas com um contínuo estar com os demais. Porém não com os demais em abstração, mas sim enquanto ação. Minha mulher Guadalupe e eu agora empenhamos toda a nossa energia e habilidade em conseguir um dinheiro suficiente para podermos ir de New York e deitar os restos em um pequeno lugar que temos na montanha, em um povoado da Andaluzia chamado Torrox. Ali me sinto muito mais livre do que em New York, e me sinto duplamente livre. Estou “com os pobres da terra”, como dizia Martí e entre eles aprendo e a eles ensino minhas coisas; e estou situado em um espaço mediterrâneo de luz e azul e espaço, onde realmente respiro. Ou seja, onde não faço nada. Somente, como as crianças, ler e escrever. 





 

    

 


Poeta, tradutor, ensaísta, artista plástico, dramaturgo, FLORIANO MARTINS (Brasil, 1957) é conhecido por haver criado, em 1999, a Agulha Revista de Cultura, veículo pioneiro de circulação pela Internet e dedicado à difusão de estudos críticos sobre arte e cultura. Ao longo de 23 anos de ininterrupta atividade editorial, a revista ampliou seu espectro, assimilando uma editora, a ARC Edições e alguns projetos paralelos, de que são exemplo “Conexão Hispânica” e “Atlas Lírico da América Hispânica”, este último uma parceria com a revista brasileira Acrobata. O trabalho de Floriano também se estende pela pesquisa, em especial o estudo da tradição lírica hispano-americana e o Surrealismo, temas sobre os quais tem alguns livros publicados. Como artista plástico, desde a descoberta da colagem vem desenvolvendo, com singular maestria, experiências que mesclam a fotografia digital, o vídeo, a colagem, a ensamblagem e outros recursos. Como ele próprio afirma, o magma de toda essa efervescência criativa se localiza na poesia, na escritura de poemas, na experiência com o verso, inclusive a prosa poética, da qual é um dos grandes cultores. Escritura Conquistada é um complemento aos projetos: Atlas Lírico da América Hispânica (revista Acrobata) – poemas traduzidos para o português – e Conexão Hispânica (Agulha Revista de Cultura) – estudos críticos sobre poetas. Nesta terceira linha, também dedicada à tradição lírica na América Hispânica, encontramos juntos os ensaios, entrevistas e prólogos assinados por Floriano Martins. Parte significativa desse material – as entrevistas – compõe o volume homônimo, Escrita Conquistada, publicado em 2018.


1874-1942 José María Eguren (Perú) A POESIA DE JOSÉ MARÍA EGUREN

1893-1948 Vicente Huidobro (Chile) LA COSECHA VERTIGINOSA DE LA IMAGEN POÉTICA

1899-1986 Jorge Luis Borges (Argentina) AS ENTREVISTAS COM JORGE LUÍS BORGES

1903-1958 César Moro (Perú) CÉSAR MORO ENTRE AMIGOS

1903-1973 Aldo Pellegrini (Argentina) SOBRE SURREALISMO

1904-1973 Pablo Neruda (Chile) A POESIA DE PABLO NERUDA

1910-1996 Enrique Molina (Argentina) OS COSTUMES ERRANTES DE ENRIQUE MOLINA

1912-2002 Pablo Antonio Cuadra (Nicaragua) POESÍA: EL ENSAYO DE LO INEFABLE

1915-1995 Enrique Gómez-Correa (Chile) TESTIMONIOS DE UN POETA EXPLOSIVO

1915-2001 Juan Liscano (Venezuela) LA EXPRESIÓN DE LO ESENCIAL

1917-2011 Gonzalo Rojas (Chile) A POESIA DE GONZALO ROJAS

1919-1974 Eunice Odio (Costa Rica) LAS VERTIENTES DEL FUEGO

1920-1994 Freddy Gatón Arce (República Dominicana) LA HUMANIDAD SECRETA DE LOS ABISMOS

1920-1999 Olga Orozco (Argentina) RETRATO-RELÂMPAGO DE OLGA OROZCO

1920-2004 Fernando Charry Lara (Colombia) PASIÓN Y REFLEXIÓN DE LA POESÍA

1921-2004 Javier Sologuren (Perú) UNA POÉTICA DE LA LEVEDAD

1921-2007 Otto-Raúl González (Guatemala) GUATEMALA Y SUS VOCES OCULTAS

1921-2010 Amanda Berenguer (Uruguay) VIAJES INCESANTES DEL LENGUAJE

1923-2013 Álvaro Mutis (Colombia) A POESIA DE ÁLVARO MUTIS

1924-2018 Claribel Alegría (Nicaragua) RECUERDOS DE LA REALIDAD

1924-2021 Manuel de la Puebla (Puerto Rico) MEMORIA POÉTICA DE UN PAÍS

1927 Carlos Germán Belli (Perú) PRECIOSOS MISTERIOS DE LA EXPERIENCIA POÉTICA

1927-2000 Francisco Madariaga (Argentina) “SOY SÓLO UN PEÓN DEL PLANETA”

1927-2010 Rolando Toro (Chile) A POESIA DE ROLANDO TORO

1927-2019 Ludwig Zeller (Chile) EL SURREALISMO EN LA MESA (Part. Susana Wald)

1928 Graciela Maturo (Argentina) LAS VANGUARDIAS EN ARGENTINA

1929-2016 Américo Ferrari (Perú) EL RECORTE SAGRADO DE LAS PALABRAS

1930-2011 Roberto Sosa (Honduras) HONDURAS EN SU AMBIENTE POÉTICO

1930-2018 José Guillermo Ros-Zanet (Panamá) ENCUENTROS Y DESENCUENTROS

1931 Juan Calzadilla (Venezuela) HUMOR Y SÍNTESIS EN EL ACTO CREADOR

1931-2016 Jorge Ariel Madrazo (Argentina) EL POEMA COMO CUERPO VIVO

1932 Circe Maia (Uruguay) UNA VOZ A TRAVÉS DEL TIEMPO

1932 Pedro Lastra (Chile) DEL ESPEJO A LA MULTIPLICACIÓN DE LAS VOCES

1932-2004 Marosa di Giorgio (Uruguay) DIÁLOGO SIN PAUSA

1932-2013 Carlos M. Luis (Cuba) DOS ENCUENTROS

1932-2019 Thelma Nava (México) SOBRE LA REVISTA PÁJARO CASCABEL

1933-2009 Alfredo Silva Estrada (Venezuela) INSCRIPCIONES EN EL ESPACIO POÉTICO

1933-2023 Manuel Mora Serrano (República Dominicana) DOS ENCUENTROS

1934-2014 Gerardo Deniz (México) RECORTES DE UNA IRONÍA APASIONADA

1934-2021 Rodolfo Alonso (Argentina) LA RIQUEZA ABANDONADA DE LA POESÍA

1937 Miguel Grinberg (Argentina) UNA MIRADA EN LAS VANGUARDIAS

1937-2020 Rodrigo Pesántez-Rodas (Ecuador) EL ECUADOR DE LAS LUCES

1938 Fernando Palenzuela (Cuba) CONVERSA SOBRE LA REVISTA ALACRÁN AZUL

1938-2008 Eugenio Montejo (Venezuela) ANOTACIONES DE LA PERMANENCIA DEL CANTO

1939 José Roberto Cea (Honduras) CASI UN TESTAMENTO POÉTICO

1939-2014 Ulises Estrella (Ecuador) SOBRE LAS REVISTAS PUCUNA E LA BUFANDA DEL SOL

1940 Francisco Morales Santos (Guatemala) DOS ENCUENTROS

1940 Gustavo Pereira (Venezuela) “AL DIABLO LOS VERSOS”

1940 José Kozer (Cuba) DOIS ENCONTROS

1940 Jotamario Arbeláez (Colombia) EXTRAVAGANCIAS POÉTICAS DEL NADAÍSMO

1941 Hildebrando Pérez Grande (Perú) LAS VANGUARDIAS EN EL PERÚ

1941 Luis Alberto Crespo (Venezuela) RESONANCIAS DEL ESPÍRITU POÉTICO

1943 Eduardo Mitre (Bolivia) LA RAZÓN ARDIENTE DE LA POESÍA

1944 Armando Romero (Colombia) DOS POETAS, CUATRO ENCUENTROS

1944 Francisco Proaño Arandi (Ecuador) DOS ENCUENTROS

1944 Renée Ferrer (Paraguay) DOS ENCUENTROS

1945 Harold Alvarado Tenorio (Colombia) POESIA & OUTRAS ESPÉCIES

1946 Carlos Vásquez-Zawadzki (Colombia) LAS VANGUARDIAS EN COLOMBIA

1946 Guido Rodríguez Alcalá (Paraguay) LAS VANGUARDIAS EN PARAGUAY

1947 Juan Cameron (Chile) LAS VANGUARDIAS EN CHILE

1947 Juan Carlos Mieses (República Dominicana) DETRÁS DE LAS PALABRAS Y LOS RITMOS

1947 Susana Giraudo (Argentina) LA POESÍA Y SUS NOMBRES INFINITOS

1948 Helen Umaña (Honduras) LAS VANGUARDIAS EN HONDURAS

1948 Miguel Espejo (Argentina) LAS VANGUARDIAS EN ARGENTINA

1948-2022 Alfredo Fressia (Uruguay) EN LAS FISURAS DE LA MIMESIS

1950 Alfonso Velis Tobar (El Salvador) LAS VANGUARDIAS EN EL SALVADOR 

1950 Soledad Alvarez (República Dominicana) LAS VANGUARDIAS EN LA REPÚBLICA DOMINICANA

1950-2018 Enrique Verástegui (Perú) O MOTOR DO DESEJO

1951 Carlos Francisco Monge (Costa Rica) DOS ENCUENTROS

1951 Jesús David Curbelo (Cuba) LAS VANGUARDIAS EN CUBA

1952 David Cortés Cabán (Puerto Rico) LAS VANGUARDAS EN PUERTO RICO

1952 Julio del Valle-Castillo (Nicaragua) LAS VANGUARDIAS EN NICARAGUA

1952 Martin Jamieson (Panamá) LAS VANGUARDIAS EN PANAMÁ

1952 Orlando José Hernández (Puerto Rico) LAS VANGUARDAS EN PUERTO RICO

1954 Ernestina Elorriaga (Argentina) DOS POETAS EN UNA MESA DE LUZ

1955 Berta Lucía Estrada (Colombia) UNA MESA VERTICAL

1955 Carlos Barbarito (Argentina) A POESIA DE CARLOS BARBARITO

1955 Mónica Salinas (Uruguay) LAS VANGUARDIAS EN EL URUGUAY

1956 Gary Daher Canedo (Bolivia) SITIO DONDE AGUARDA UN CÁNTARO

1957 Alejandro Bruzual (Venezuela) LAS VANGUARDIAS EN VENEZUELA

1957 Homero Carvalho Oliva (Bolívia) LAS VANGUARDIAS EN BOLIVIA

1957 Luis Bravo (Uruguay) LAS VANGUARDIAS EN EL URUGUAY

1958 Adriano Corrales Arias (Costa Rica) LAS VANGUARDIAS EN COSTA RICA

1958 Beatriz Hausner (Chile) CAMINHOS DO SURREALISMO

1958 José Ángel Leyva (México) DOS ENCUENTROS

1958 José Carr (Panamá) LAS VANGUARDIAS EN PANAMÁ

1958 Nicasio Urbina (Nicaragua) LAS VANGUARDIAS EN NICARAGUA

1958 Omar Castillo (Colombia) DIÁLOGO ENTRE DOS POETAS

1958 Rodolfo Häsler (Cuba) EN BUSCA DE LO IMPOSIBLE

1960 José Mármol (República Dominicana) LA OTREDAD SORPRENDIDA DEL POETA

1960 Vilma Tapia Anaya (Bolivia) DOS ENCUENTROS

1961 Enrique de Santiago (Chile) LAS VANGUARDIAS EN CHILE

1962 Arturo Gutiérrez Plaza (Venezuela) LAS VANGUARDIAS EN VENEZUELA

1962 Raúl Serrano Sánchez (Ecuador) LAS VANGUARDIAS EN ECUADOR

1963 Pedro Xavier Solis (Nicaragua) LAS VANGUARDIAS EN NICARAGUA

1963-2016 Gonzalo Márquez Cristo (Colombia) CORRESPONDENCIAS ENTRE POESÍA Y ACCIÓN

1965 Jorge Fernández Granados (México) LAS VANGUARDIAS EN MÉXICO

1969 Luis Alvarenga (El Salvador) LAS VANGUARDIAS EN EL SALVADOR

1972 Gabriel Chávez Casazola (Bolívia) LAS VANGUARDIAS EN BOLIVIA

1972 Xavier Oquendo Troncoso (Ecuador) DIÁLOGO EN EL CENTRO DEL MUNDO

1973 Carolina Zamudio (Argentina) LA ILUSIÓN TRANSITORIA DE LOS ESPACIOS

1973 Ricardo Venegas (México) LA POESÍA DE RICARDO VENEGAS

1974 Fabricio Estrada (Honduras) LAS VANGUARDIAS EN HONDURAS

1974 Javier Payeras (Guatemala) LAS VANGUARDIAS EN GUATEMALA

1983 Manuel Iris (México) LAS VANGUARDIAS EN MÉXICO

1984 Alex Morillo Sotomayor (Perú) LAS VANGUARDIAS EN PERÚ


 


 

 

OBRA ENSAÍSTICA PUBLICADA

 

El corazón del infinito. Tres poetas brasileños. Trad. Jesús Cobo. Toledo: Cuadernos de Calandrajas, 1993.

Escritura conquistada. Diálogos com poetas latino-americanos. Fortaleza: Letra & Música, 1998.

Escrituras surrealistas. O começo da busca. Coleção Memo. Fundação Memorial da América Latina. São Paulo. 1998.

Alberto Nepomuceno. Edições FDR. Fortaleza. 2000.

O começo da busca. O surrealismo na poesia da América Latina. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2001.

Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra América. San José de Costa Rica: Ediciones Andrómeda, 2004.

Un nuevo continente. Antología del Surrealismo en la Poesía de nuestra AméricaCaracas, Venezuela: Monte Ávila Editores, 2008.

A inocência de pensar. Coleção Ensaios Transversais. São Paulo: Escrituras, 2009.

Escritura conquistada. Conversaciones con poetas de Latinoamérica2 tomos. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana. 2010.

Invenção do Brasil – Entrevistas [edição virtual]. São Paulo: Editora Descaminhos, 2013.

Esfinge insurrecta – Poesía en Chile [edição virtual, em coautoria com Juan Cameron]. Fortaleza: ARC Edições, 2014.

Un poco más de surrealismo no hará ningún daño a la realidad. México: UACM – Universidad Autónoma de la Ciudad de México, 2015.

Sala de retratos. São Paulo: Opção Editora, 2016.

Um novo continente – Poesia e Surrealismo na América. Fortaleza: ARC Edições, 2016.

Valdir Rocha e a persistência do mistério. Fortaleza: ARC Edições, 2017.

Laudelino Freire. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2018.

Escritura conquistada – Poesía hispanoamericana. Fortaleza: ARC Edições, 2018.

Visões da névoa: o Surrealismo no Brasil. Natal: Sol Negro Edições, 2019.

120 noites de Eros. Fortaleza: ARC Edições, 2020.

 

TRADUÇÕES

 

Poemas de amor, de Federico García Lorca. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.

Delito por dançar o chá-chá-chá, de Guillermo Cabrera Infante. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 1998.

Nós/Nudos, de Ana Marques Gastão (edição bilíngue). Lisboa: Gótica, 2004.

A condição urbana, de Juan Calzadilla (edição bilíngue). Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2005.

Dentro do poema – Poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959, Org. Eduardo Langagne. Fortaleza: Edições UFC, 2009.

A aventura literária da mestiçagem, de Pablo Antonio Cuadra (em parceria com Petra Ramos Guarinon). Fortaleza: Edições UFC, 2010.

III novelas exemplares & 20 poemas intransigentes, de Vicente Huidobro & Hans Arp. Natal: Sol Negro Edições/São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2012.

Sobre Surrealismo, de Aldo Pellegrini (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2013.

Memória de Borges – Um livro de entrevistas (2 volumes). São Pedro de Alcântara: Edições Nephelibata, 2013.

Bronze no fundo do rio, de Miguel Márquez (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2014.

Tremor de céu, de Vicente Huidobro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2015.

Costumes errantes ou a redondeza da terra, de Enrique Molina (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2016.

Reino de silêncio, de Mía Gallegos (edição bilíngue). Teresina: Kizeumba Edições, 2019.

Traduções do universo, de Vicente Huidobro. Natal: Sol Negro Edições, 2016.

O álcool dos estados intermediários, de Gladys Mendía. Santiago: LP5 Editora, 2020.

A tartaruga equestre, de César Moro (edição bilíngue). Natal: Sol Negro Edições, 2021.

 

  

 

Agulha Revista de Cultura

Criada por Floriano Martins

Dirigida por Elys Regina Zils

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